sábado, 30 de abril de 2011

SÃO BASÍLIO DE CESARÉIA


Basílio nasceu em Cesaréia da Turquia, antiga Capadócia, no ano 329. Pertencia a uma família de santos. Seu avô morreu mártir na perseguição romana. Sua avó era Santa Macrina e sua mãe, Santa Amélia. A irmã, cujo nome homenageia a avó, era religiosa e se tornou santa. Também, seus irmãos: São Pedro, bispo de Sebaste e São Gregório de Nissa, e seu melhor amigo São Gregório Nazianzeno, são honrados pela Igreja. 
Bispo, Confessor e Doutor da Igreja, recebeu o título de Pai dos monges do Oriente, assim como São Bento é considerado o Patriarca dos monges do Ocidente
São Basílio de Cesaréia da Capadócia, na Ásia Menor, é de uma família de santos. Sua avó paterna foi Santa Macrina, a Antiga, que confessou a fé em Jesus Cristo durante a perseguição de Maximiano Galério. Seus pais foram São Basílio, o Velho, e Santa Emília, filha de um mártir. De seus nove irmãos, mais três foram elevados à honra dos altares: Santa Macrina, a Jovem, São Gregório de Nissa e São Pedro de Sebaste. Basílio, seu irmão Gregório de Nissa e seu amigo Gregório Nazianzeno formam o trio chamado “os três capadocianos”.
Basílio nasceu em Cesaréia no final do ano 329. Seu pai era advogado e professor, vinha de família rica e considerada latifundiária, da região do Ponto. Sua mãe era de família nobre da Capadócia. O menino foi entregue aos cuidados da avó Macrina, para a primeira educação. Afirmará ele depois: “Nunca mais olvidei as fortes impressões que faziam à minha alma ainda tenra as palavras e os exemplos dessa santa mulher”. Para defender-se da acusação de heterodoxia, afirmará: “Jamais traí a fé. Como a recebi ainda menino sobre os joelhos de minha avó Macrina, assim a prego e assim a ensinarei até o meu último alento”.
São Basílio estudou inicialmente com o pai, depois em Cesaréia, Constantinopla e Atenas. Nas duas últimas, teve como condiscípulo São Gregório Nazianzeno, a quem se uniu em estreita amizade, e a quem devemos muitos dados de sua vida.

Cristão não só de nome, mas de fato
São Gregório atesta no panegírico de seu amigo: “Ambos tínhamos as mesmas aspirações; íamos atrás do mesmo tesouro, a virtude. Só conhecíamos dois caminhos: o da igreja e o das escolas públicas. Não tínhamos nenhuma ligação com os estudantes que se mostravam grosseiros, impudentes ou desprezavam a religião, e evitávamos os que tinham conversas que poderiam nos ser prejudiciais. Tínhamo-nos persuadido de que era ilusão mesclar-se com os pecadores sob pretexto de procurar convertê-los, e deveríamos temer sempre que nos comunicassem seu veneno. Nossa santificação era nosso grande objetivo, e o de sermos chamados e sermos efetivamente cristãos. Nisso fazíamos consistir toda nossa glória”.(1)

Mundanismo, vanglória e sua conversão
Em Cesaréia passou por uma “conversão”. Embora tivesse sempre levado vida muito regular, procurando sempre a vontade de Deus, os aplausos e louvores que recebia eram tantos que, segundo seu irmão Gregório de Nissa, isso deixou traços de mundanismo e auto-suficiência no jovem professor, que sentiu a vertigem da vanglória. Mas em casa, vendo o exemplo de sua irmã Macrina, que levava a vida austera de virgem consagrada, impressionou-se: “Comecei a despertar como de um sonho profundo, a abrir os olhos, a ver a verdadeira luz do Evangelho e a reconhecer a vaidade da sabedoria humana”. Só então, conforme costume da época, foi batizado e recebeu a ordem sacra de Leitor. Resolveu então vender tudo o que tinha, dando o produto aos pobres, e fazer-se monge.

Ordenador e legislador do monacato no Oriente
Desejava fazer tudo da melhor maneira possível. Resolveu então viajar pela Síria, Mesopotâmia e Egito para visitar os vários cenobitas desses lugares a fim de adquirir um conhecimento profundo dos deveres do gênero de vida que tinha adotado. É preciso notar que a vida religiosa em comum dava seus primeiros passos e ainda não havia aparecido quem a ordenasse, como fez depois São Bento no Ocidente.
Se a impureza de corpo chocava Basílio, muito mais a de alma. Por isso era implacável contra toda heresia ou doutrina dúbia. Tinha um profundo horror ao arianismo, então triunfante até no trono imperial.
Voltando a Cesaréia, recomeçou a colaborar com o bispo local Dianey, a quem muito admirava. Mas, como este entrou numa espécie de acordo com os arianos, rompeu com ele e retirou-se para o reino do Ponto, onde já se haviam fixado sua mãe e irmã. Elas tinham fundado um convento feminino às margens do Íris. Na margem oposta Basílio fundou um convento masculino, que dirigiu durante quatro anos. Nele ingressaram também seu amigo Gregório Nazianzeno e seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro de Sebaste.
O governo que Basílio exercia no mosteiro era muito suave, todo ele de exemplo mais do que de palavras. Sua doçura e paciência eram a toda prova. Os monges levantavam-se antes do despontar do dia, para louvar a Deus com a oração e canto de salmos. Liam os Livros Sagrados e alternavam a oração com o estudo, dedicando-se, nos tempos livres, ao trabalho manual. De quando em quando Basílio os reunia para ouvir suas dúvidas ou propostas, e os orientava no caminho da perfeição. Surgiu assim sua obra Regras Maiores e Menores, suma de catequese monacal, indispensável no desenvolvimento da vida cenobítica. Graças a São Basílio Magno, a vida em comunidade iria afinal firmar-se no cristianismo, dando base ao movimento monacal que forjou depois a Idade Média. “Se [São Basílio] não criou o monaquismo oriental, infundiu-lhe uma vida nova quando se achava ameaçado de um grande perigo: o de tornar-se uma sociedade de trabalhadores que rezam, ou de rezadores que se matam à força de penitências”.(2) Em todo caso, ficou ele conhecido como o pai do monasticismo do Oriente, como São Bento o é do Ocidente.

Sua firmeza contra os arianos e a “Basilíada”
Em 370, ficando vacante a diocese, o povo de Cesaréia escolheu Basílio para preenchê-la. “A notícia dessa escolha provocou uma satisfação extraordinária em Santo Atanásio, e ele anunciou a partir daí as vitórias que São Basílio alcançaria sobre a heresia reinante”.(3) Com efeito, protegidos pelo imperador, uma minoria de bispos sufragâneos de Basílio, adeptos do arianismo, deram-lhe muito trabalho. Mas, com anos de tacto, “temperando sua correção com a consideração e sua gentileza com a firmeza”, no dizer de São Gregório Nazianzeno, conseguiu vencer seus oponentes.
Para socorrer as misérias materiais de uma cidade grande como Cesaréia, Basílio nela fundou, em grande terreno que lhe fora dado pelo imperador, uma verdadeira cidade da caridade, que passou a ser conhecida como “Basilíada”. Diz São Gregório que essa obra “pode ser contada entre as maravilhas do mundo, tal é o grande número de pobres e de doentes que ali são recebidos, tanto são admiráveis a ordem e o asseio com os quais trata-se das diversas necessidades dos infelizes”. O conjunto tinha hospital, albergue e escola para jovens. Homens e mulheres tinham pavilhões separados. Amplos jardins os dividiam, e no centro estava espaçosa igreja.

Moeda da época do Imperador Valente
O Imperador Valente era de um temperamento muito violento, e para evitar um choque na execução dos decretos de exílio dos bispos católicos, quis ele mesmo visitar as várias cidades do Império. Mas em Cesaréia, dada a grande personalidade de São Basílio, quis preparar o terreno. Mandou então que alguns bispos arianos fossem conversar com Basílio, para ver se conseguiam levá-lo a aderir à heresia. Este não só não quis ouvi-los, mas os excomungou.
O prefeito Modesto chamou então o bispo recalcitrante. Com boas palavras, tentou induzi-lo a aceitar a heresia ariana. Como Basílio nem lhe desse ouvidos, ameaçou-o gradativamente com confiscação de bens, exílio, tormentos e morte. São Gregório, que estava presente, descreve a cena:
— Ameaçai-me de qualquer outra coisa, porque nada disso me impressiona,” respondeu-lhe Basílio.
— Que dizes!?
— Aquele que nada tem, está a coberto do confisco. Não tenho senão alguns livros e os trapos que visto; imagino que não sois zeloso de m’os tirar. Quanto ao exílio, não vos será fácil condenar-me: é o Céu, e não o país em que habito que eu considero minha pátria. Eu temo pouco os tormentos. Meu corpo está num tal estado de magreza e de fraqueza, que não poderá sofrer por muito tempo. O primeiro golpe terminará minha vida e minhas penas. Temo ainda menos a morte, que me parece um favor. Ela me reunirá mais cedo ao meu Criador, por Quem somente vivo.
O imperador não teve êxito maior. Por isso resolveu entregar-lhe logo a ordem de exílio. Mas a Providência velava. Essa noite mesmo o príncipe imperial Valentiniano Gálata, de seis anos, foi acometido por uma febre tão violenta, que os médicos se confessaram impotentes para qualquer coisa. A imperatriz fez notar ao marido que isso era uma justa punição por ter exilado o Bispo, e insistiu em que o chamasse para curar o filho. Basílio ainda não tinha partido. Mal chegou ao palácio, o menino começou a melhorar. Afirmou ao imperador que o menino sararia, contanto que ele prometesse educá-lo na verdadeira religião, a católica. A condição tendo sido aceita, o Bispo rezou junto ao leito do menino, que ficou instantaneamente curado.
Entretanto, pressionado pelos bispos arianos, Valente não manteve sua palavra. Pelo contrário, fez batizar logo o menino por um dos bispos hereges. O menino teve uma imediata recaída e morreu pouco depois.
O terrível golpe não converteu o imperador, que condenou novamente Basílio ao exílio. Quando lhe trouxeram a ordem para assinar, a haste de bambu que lhe servia de caneta quebrou-se em sua mão. Outra haste foi trazida, e teve o mesmo fim. Uma terceira também quebrou-se. Quando Valente fez vir uma quarta, seu braço foi tomado de tremor e de uma agitação extraordinária. Apavorado, ele rasgou a ordem e deixou o arcebispo em paz.
São Basílio, declarado “Magno” e “Doutor da Igreja”, faleceu no dia 1º de janeiro de 379.

I. VIDA E OBRA DE LORENZO GHIBERTI

Lorenzo di Cione Ghiberti é um Pintor italiano renascentista que nasceu em Florença em1378 e morreu na mesma cidade a 1º de Dezembro de 1455. Era filho de Ser Bonaccorto Ghiberti um artista treinado e o goldsmith, que treinaram seu filho no comércio do ouro. Estudou na oficina florentina do ourives Bartoluccio, nome pelo qual era conhecido Bartoli di Michele e deixou temporariamente Florença para trabalhar em Pesaro, como pintor de Sigismondo Malatesta. Portanto, ele começou sua carreira como pintor, origem que mais tarde evidencia em seus baixos-relevos com planos traçados picturalmente.
Em 1400 foi-lhe encomendada a pintura de murais numa sala do palácio de Pandolfo Malatesta, deslocando-se assim o artista para Pesaro. No ano seguinte (1401), «achava-se em Rimini, decorando afrescos para o palácio dos Malatesta, quando foi animado a entrar no concurso para a segunda porta do baptistério de San Giovanni pertencente ao conjunto da Catedral de Florença, Santa Maria del Fiore»[1].
De facto, foi neste ano que se deu o célebre concurso para as portas da face Norte do Batistério de Florença, e ele regressou a Florença para se candidatar à execução da segunda porta do batistério daquela cidade que completaria a executada em 1338 por Andrea Pisano.   Participaram neste concurso algumas das figuras mais relevantes deste tempo, como Filippo Brunelleschi e Jacopo della Quercia, mas foi Ghiberti que ganhou . O tema em relevo que apurou o finalista foi o Sacrifício de Isaac, conservando-se no Museo del Bargello de Florença os exemplares de Ghiberti e de Brunelleschi. Ghiberti, apesar de ser o mais novo dos concorrentes e de ainda patentear alguma influência gótica, demonstrou já possuir a inspiração clássica (apesar de só visitar a cidade de Roma por volta dos anos 1425/1430) que serviria de rumo ao Renascimento[2] e as qualidades técnicas que lhe granjeariam fama.
Para a sua devida conclusão estas portas em bronze demoraram vinte e um anos (entre 1403 e 1424) e contêm uma iconografia alusiva ao Novo Testamento, inserida em vinte e oito painéis quadrilobados e com as cabeças de quarenta e oito profetas nas molduras. Depois de finalizar estas, encomendaram-lhe outras portas para o mesmo Baptistério pela guilda Arte di Calimala. Por outro lado, foi aceitando outras encomendas, como desenhos para peças de ourivesaria e joalharia, vitrais para a catedral de Florença e mitras de papas, assim como as estátuas monumentais em bronze de S. João Batista (executada entre 1412 e 1415), S. Mateus (de 1419 a 1422) e S. Estêvão (de 1425 a 1429) para igreja das guildas em Orsanmichele.
Entre 1420 e 1427 fez os relevos do Baptismo de Jesus e S. João Batista perante Herodes em bronze da Fonte Baptismal de Siena, entre 1425 e 1427 a placa do túmulo de Leonardo Dati e entre 1432 e 1442 os quatro relevos do relicário de S. Zenóbio, que se encontram ambos na catedral florentina, e o Museo Nazionale alberga outro escrínio com decoração da sua autoria, o dos santos Protus, Jacinto e Nemésio também chamado Urna dei Tre Martiri (encomendado em 1427 por Cosimo di Medici).
As segundas portas do Baptistério efectuadas por Ghiberti entre 1428 e 1452 (e que, pela excelência de execução foram apelidadas de "Portas do Paraíso" por Miguel Ângelo, segundo a tradição) foram esculpidas em dez painéis que, por sua vez, apresentaram temáticas do Antigo Testamento de iconografia talvez inspirada pelo humanista Leonardo Bruni. Mais uma vez se fizeram presentes as cabeças de vinte e quatro profetas, assim como o mesmo número de estatuetas em nichos, numa composição que prima por uma técnica mais evoluída, pelo emprego da perspectiva, por um marcado classicismo e pela complexa narrativa que apresentam.
A importância de Ghiberti cresceu de tal modo que se tornou o maior artista do seu tempo em Florença, possuindo uma oficina que empregou muitos artistas, entre os quais Benozzo Gozzoli, Masolino da Panicale e Donatello, e que foi continuada pelo seu filho Vittorio depois da sua morte a 1º de Dezembro de 1455.
Este artista deixou escrita uma autobiografia, a primeira conhecida de um artista ocidental, inserida num tratado técnico-artístico incompleto em três tomos, denominado Commentarii. Ele acompanhou o princípio do Renascimento na sua cidade nativa como um escultor em bronze, da mesma maneira que Masaccio na arte de pintar e Brunelleschi em arquitectura.

II. A PORTA DO PARAISO
A “Porta do Paraíso” é feita de bronze, com patina dourada como a segunda porta, é composta por cinco baixos-relevos rectangulares em cada um dos dois batentes da porta. Localizada no baptistério de Florença, a “Porta do Paraíso” (1425-1452) é dividida em 10 painéis que representam histórias do Antigo Testamento, com esculturas de personagens bíblicos e retratos de artistas contemporâneos adornando a moldura dos painéis. Nela há uma busca de realidade, de pitoresco, uma técnica de representar o espaço tridimensional e uma execução requintada que superam a da segunda porta e a tornam a obra-prima da arte de Lorenzo Ghiberti. O primeiro baixo-relevo apresenta a criação de Adão e Eva, a desobediência do casal ao Criador e a expulsão do Paraíso. Na “Porta do Paraíso”, os melhores baixos-relevos são os do “Sacrifício de Isac” e do “encontro da rainha de Sabá com o rei Salomão, sobretudo esse último graças a sóbria elegância com que Lorenzo Ghiberti cria uma unidade de visão através da perspectiva linear de ponto de fuga central que enquadra os personagens, arrumados em grupos simétricos, mas sem monotonia, no espaço arquitectural.
O projecto foi entregue a Lorenzo Ghiberti em 1425, pela Corporação dos Mercantes. A perfeição da sua execução, seja pelo admirável uso do buril ou pela finura do desenho arquitectónico, recebeu de Michelangelo o apelido de “Porta do Paraíso”.

III. CONTEXTO ECONÓMICO E POLÍTICO DE FLORENÇA
O século XV, que em italiano se designa quattrocento, foi o século do renascimento florentino. Neste período, Florença «era uma das mais prósperas cidades italianas. Os negociantes e financeiros, apreciadores das belas-artes, criaram à sua volta um ambiente favorável aos artistas»[3].
Entre as famílias que eram mais ricas destacam-se os Médicis, os novos controladores do governo da cidade tornando-se mecenas generosos. Desde modo, sob o seu governo, Florença transformou-se na capital das artes, trabalhando nela inúmeros arquitectos, escultores e pintores famosos.
Portanto, a cidade de Florença reunia, no século XV, condições que favoreceram o desenvolvimento da cultura, uma vez que se tinha tornado um dos activos e prósperos centros comerciais da Itália.
Por outro lado, entre os Estados autónomos italianos estabeleceu-se uma verdadeira rivalidade uma vez que todos pretendiam possuir os bonitos palácios e igrejas, assim como os artistas e os pensadores mais célebres.
Por fim, na Itália abundavam os vestígios da arte grego-romana, que mais tarde viria inspirar muitos artistas. Outrossim, as bibliotecas dos mosteiros conservavam as cópias de muitas obras da antiguidade, estudadas pelos intelectuais com mais aproximação.

IV. FACTORES INFLUENTES DE LORENZO GHIBERTI
Os artistas renascentistas, tal como humanistas, tinham uma profunda paixão pela Antiguidade grego-romana. Desde modo, os arquitectos renascentistas puseram de parte a arquitectura gótica, isto é, bárbara da época medieval e inspiraram-se nas formas da arquitectura clássica, grego-romana, caracterizada pelo equilíbrio e a harmonia das proporções. A ser assim, em muitas vezes, a escultura e a pintura foram, igualmente, buscar inspiração à cultura da Grécia e da Roma antigas. Esta inspiração nos modelos clássicos constitui a característica fundamental da arte renascentista.

V. A FAMA DE LORENZO BHIBRTI
Lorenzo Ghiberti foi um escultor e fundidor em metal italiano que conseguiu impor, sobre as influências góticas, os novos postulados estéticos inspirados no mundo clássico que caracterizariam a arte renascentista do período Quattrocento (1400-1499) e cuja principal obra foi lavrar as monumentais portas de bronze do baptistério de Florença.
Ghiberti é um dos grandes nomes da escultura religiosa italiana do século XV. Pois, «pertence já ao primeiro renascimento (século XV), que a uma aguda expressão do elemento individual e característico no homem e na natureza sabe aliar um alto sentido de beleza»[4] e, «como arquitecto dirigiu a construção da cúpula da catedral de Florença. Seus escritos, conhecidos pelo nome Comentários são importantes para a história da arte»[5]
Ele tornou-se primeiramente famoso quando ganhou a competição 1401 para o primeiro jogo das portas de bronze para Baptistério da catedral em Florença. Brunelleschi estava o corredor acima. A planta original era para que as portas descrevam cenas do Antigo Testamento e a parte experimental era Sacrifício de Isaac. Entretanto, a planta foi mudada para descrever cenas do Novo Testamento.
Ghiberti analisa a obra dos melhores pintores do século XIV por ele conhecidos e a sua própria, comentando as portas do baptistério de Florença. Procura um julgamento crítico baseado em sua consciência de artista, o que torna o primeiro crítico dos tempos modernos. Esta crítica permite-lhe reconhecer lucidamente o mérito de artistas como Giotto.
BIBLIOGRAFIA
DANIS, M. E. et al, História 8, Editorial O Livro, Lisboa, 19976.
Dicionário Enciclopédico das Religiões, Vol. 1, Editora Vozes, Petrópolis, 1995.
Enciclopédia Mirador Internacional, Vol 10, Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, São Paulo – Rio de Janeiro (Brasil), 1981.
SCHLESINGER, H. et Pe Humberto PORTO, Líderes Religiosos da humanidade, Vol. 1, Edições Paulinas, São Paulo, 1986.


[1] Enciclopédia Mirador Internacional, Vol 10, Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, São Paulo – Rio de Janeiro (Brasil), 1981, p. 5323.
[2] «Em termos gerais, por definição o Renascimento foi um movimento artístico, científico e literário que floresceu na Europa no período correspondente entre à Baixa Idade Média e o início da Idade Moderna, do século XIII ao XVI, com o berço na Itália e tendo em Florença e Roma como seus dois centros mais importantes. Dentre suas inovações mais importantes está o desenvolvimento da perspectiva com ponto de fuga, usada desde então largamente na arte para criar a ilusão de profundidade e distância, e, cronologicamente, pode ser dividido em quatro períodos: Duocento (1200-1299), Trecento (1300-1399), Quattrocento (1400-1499) e Cinquecento (1500-1599)» (http://www.angelfire.com/art2/roberto/).
[3] Maria E. DANIS et al, História 8, Editorial O Livro, Lisboa, 1997, p. 70.
[4] Hugo SCHLESINGER et Pe Humberto PORTO, Líderes Religiosos da humanidade, Vol. 1, Edições Paulinas, São Paulo, 1986, p. 556.
[5] Dicionário Enciclopédico das Religiões, Vol. 1, Editora Vozes, Petrópolis, 1995, p. 1163.

LORENZO GHIBERTI

1º ANIVERSÁRIO SACERDOTAL DO Pe MULUTA

Lágrimas sólidas caem nos meus olhos
Como chuva de granizo que molha os meus sonhos.
Sinto os sentimentos que se afloram nos sentidos
Quando relembro com nostalgia os tempos idos.

Mastigo saudades amargas
Na doce melancolia que mergulha
A longevidade da vida que escolta
Esta dor benévola que comungas.

Dez, três letras moribundas
Que exprimem loucuras infindas:
Docilidade vocacional,
Esperança inquebrantável
Zelo apostólico e pastoral.

Não sei dizer nada
Neste nada que me mata
E engasga-me a garganta
Deste encanto que me encanta.

Pe Muluta, feliz aniversário
Que a sua vida seja sempre um santuário
Ecoando santidade e abnegação
Numa auto-imolação.

Bem-haja Pe Muluta!
O sacerdócio nos documentos do Magistério da Igreja



Por Muanamosi Matumona
(Jornadas Teológicas de Maputo) 

Introdução

Há bem pouco tempo, o mundo viveu, testemunhou, o encerramento do Ano Sacerdotal, decretado por Papa Bento XVI em Junho de 2008. Foi uma caminhada muito interessante e oportuna que permitiu a todos os presbíteros revigorarem o dom que receberam no dia da sua ordenação. Curiosamente, tudo decorreu numa altura em que o mundo era “bombardeado” por notícias menos boas, que faziam referência à série de escândalos protagonizada por alguns membros do clero, sobretudo na Europa e na América. Mesmo assim, o “Ano Sacerdotal” foi também encarado como um tempo de purificação, de lições maravilhosas, e de convite para um exame de consciência, no sentido de cada padre assumir um compromisso para uma mudança radical, rumo a uma fidelidade invejável.
Sobre o tema anunciado, “O sacerdócio nos documentos do Magistério da Igreja”, como não podia deixar de ser, a nossa reflexão vai basear-se, fundamentalmente, no ensino da hierarquia. Todavia, seria bom começar com temas considerados polémicos, antes de partilharmos o que o Magistério diz sobre isto.
São, pois, estas três questões que dominam a actualidade, constituindo alguns debates teológicos muito acalorados:
1. Ordenação de mulheres;
2. Ordenação de catequistas ou leigos comprometidos (homens casados);
3. A celebração da eucaristia sem pão nem vinho.
Depois de tratarmos destas questões, apreciaremos a posição do Magistério sobre estes assuntos. É mesmo a posição do Magistério que deve ser observada e respeitada para que a “eclesiologia de comunhão” seja bem vivida, em todos os horizontes.

I - TEMAS POLÉMICOS

Como já assinalamos nos parágrafos anteriores, os três temas referenciados são muito polémicos e sensíveis. Mas servem de objecto para a nossa reflexão.

1.1. Ordenação  de mulheres

Quando a Igreja Anglicana decidiu, no princípio da década de 90, admitir as mulheres ao sacerdócio, alguns, ou muitos teólogos católicos, alargaram os horizontes das suas investigações, reflectindo seriamente sobre esta questão. Houve, naturalmente, posições a favor e contra, e foram evocados princípios bíblicos e eclesiológicos que contratariavam esta decisão da hierarquia da Igreja anglicana.
Na verdade, pouquíssimos adeptos católicos assumiram-se a favor desta nova “eclesiologia anglicana”. Sobre esta matéria, vou basear-me principalmente no estudo que o teólogo espanhol Jaume Fontbona, que nem apoia, nem contraria esta ideia. Apenas chegou a frisar que na perspectiva dos teólogos católicos, esta matéria não é uma questão mais urgente para a Igreja [Jaume Fontbona 2009: 17]. Porém, Jaume Fontbona reconheceu que para uma abordagem completa, o assunto- a ordenação de mulheres - deve ser considerado, pelo que merece um espaço considerável no mundo das investigações coentíficas, mesmo que não seja um assunto urgente e importante [Fontbona 2009: 15].

1.2. Ordenação de homens casados

É outro debate que preocupa as comunidades. Já foi levantado por alguns teólogos, especialmente dos Camarões e Congo. Também em Angola levantou-se pelo menos uma voz que fez referência a esta questão, partindo da experiência pastoral dos catequistas que assistem as comunidades na ausência dos missionários...
O camaronês Jean-Marc Ela é um autor que mais se destaca nas suas reivindicações... Com uma linguagem picante, questiona o futuro da Igreja em África, levantando a questão dos ministérios nestes termos:
 O cristianismo em África  é dominado pelo Ocidente, pois este influencia com seu pensamento, suas instituições e suas tradições... Deve-se perguntar se uma igreja branca no mundo dos negros pode assegurar as condições para o enraizamento da fé e do Evangelho em África. Na medida em que as igrejas de África sofrem de subdesenvolvimento da teologia, o peso cultural do cristianismo latino ainda pesa fortemente na prática e nas orientações da pastoral. Daí, o conformismo que assegura não só o fixismo intelectual, mas, sim, o resultado de uma alienação mental” [Ela 1980: 129].
Este “desabafo” influencia todo o pensamento deste autor, que sobre a ordenação de homens casados assume uma posição a favor, frisando que o sacedocio ministerial, como é encarado pelo Ocidente, não se enquadra bem na realidade eclesial africana. Por isso, ainda segundo Ela, é de questionar o porquê da não admissão dos casados ao sacerdocio, facto que priva muitas comunidades do sacramento da eucaristia, que é essencial para a vida cristã...
Para o angolano Afonso Teka, que foi Vigário Geral da Diocese do Uíje e  primeiro bispo de Mbanza Kongo (faleceu de acidente de helicóptero, em 1992), em Angola, enquanto padre, na sua tese de licenciatura em Pastoral, defendida na Bélgica, em 1984, sustentava que as comunidades cristãs na Diocese do Uíge são assíduas na escuta da palavra, na oração, mas são comunidades sem fracção do pão, pois há catequeses que passam muito tempo sem participar na celebração eucarística por falta de ministros ordenados, enquanto lá abundam catequistas piedosos, e com uma boa formação... Afonso Teka admite a “contradição entre a doutrina da Igreja e a realidade da fé nas nossas comunidades” [Afonso Teka 2003: 199].
É de parafrasear Afonso Teka, que faz referência às primeiras comunidades cristãs, segundo Lucas:
Coerente com esta visão exemplar na primeira comunidade, a doutrina da Igreja é, no plano de ideias, duma clareza indiscutível: não se pode conceber uma comunidade cristã que não tenha como raiz e como eixo a celebração eucarística. Mas, na prática concreta, as nossas comunidades, reconhecidas a todos os títulos como cristãs, estão, de facto, privadas deste Dom que, à luz da actual disciplina eclesiástica, resulta como privilégio reservado às comunidades felizardas que, graças à sua multissecular experiência cristã, estão dotadas da presença permanente do sacerdote ordenado segundo os cânones que exigem a graça do celibato como condição sine qua non” [Teka 2003: 199-200].

Continuando, Afonso Teka defende uma resposta normal a esta questão, considerando a celebração dominical, pois é uma reunião que só encontra a sua significação plena, e só tem eficácia, na celebração da Eucaristia. A afirmação conciliar que considera a assembleia eucarística como centro da comunidade cristã, tomada a sério no contexto das nossas comunidades, conduz necessariamente a uma conclusão: nega-se a qualificação cristã à totalidade das nossas comunidades, admite-se a incoerência entre uma teologia justificavativa de uma determinada disciplina eclesiástica ao celibato e ao modelo de sacerdocio forjado pelo Concilio do trento e a vida real das nossas comunidades. Admite-se a privação sistemática do inestimável dom da eucaristia, pelo que a instituição precipitada dos diáconos permanentes e dos catequistas não resolve nada, pois estes só podem distribuir a comunhão, não estando capacitados para consagrar as espécies...  [Teka 2003: 200-2001].


1.3. Celebração da Eucaristia sem pão nem vinho

Outro ponto que surge em destaque neste mesmo contexto das investigações teólogicas tem a ver com a hipótese da celebração da “eucaristia sem pão nem vinho”. Isto é, celebrar a eucaristia recorrendo aos produtos locais, ou seja, frutos da terra e do trabalho do homem africano... Tudo indica que este dossier mantém também uma relação com o ministério ordenado, pois, é o sacerdote que é chamado a consagrar o pão e o vinho.
Há bastante que este assunto vem sendo debatido. Já nos anos 70, um grupo de teólogos propunha a possibilidade de os sacerdotes, em África, celebrar este sacramento com os produtos locais como milho, mandioca, vinho de palmeira, etc... Mas quais são os argumentos apurados para defender esta posição ? São estes: argumento eclesial, teólogico, litútrgico e pastoral.
Vejamos:
Argumento eclesial: compete à Igreja alterar esta prática, autorizando o recurso aos produtos locais. A hierarquia tem poder para isso, aliás como já o demonstrou ao longo da história...
Argumento teólogico: para a validade do sacramento da eucaristia, o mais importante é a consagração, mediante a qual o pão se transforma no corpo de Cristo, e o vinho em sangue de Cristo. É o processo da transubstanciação que está em jogo...
Argumento Pastoral: onde dificilmente aparecem vinho e trigo, não se pode privar a comunidade da eucaristia...
Argumento litúrgico: na celebração eucarística, o povo apresenta os frutos da terra e do trabalho do homem... Ora, a videira e o trigo não são verdadeiramente frutos da terra e do homem africano, enquanto a eucaristia integra-se no projecto criador de Deus; e na liturgia celebra-se a criação e a redenção  [Dagens 1980: 399]. Neste sentido, se os campos de milho, sorgo, madioca, banana e palmeiras, em terras africanas, germinam para a glória de Deus, é justo que estes frutos sejam considerados na celebração eucarística, para que a tradução da mesma fé se faça através de diferentes sinais [Ela 1985: 77-78].  
Sobre esta questão, o célebre téologo camaronês Jean-Marc Ela afirma:
Ora, num acto essencial onde toda a fé da Igreja está em jogo, os cristãos africanos vivem a sua experiência de salvação em Jesus Cristo numa situação de dependência [...] A este nível, a eucaristia é, na vida da Igreja, o lugar da nossa alienação quotidiana” [Ela, Le cri, 10.12].

II - OS ENSINAMENTOS DO MAGISTÉRIO

Focados os pontos anteriores, agora vamos recorrer aos ensinamentos do Magistério sobre o sacerdócio, que são os dados essenciais que devem ser bem digeridos por nós, como membros da Igreja, reconhecendo, desde já, o papel do Magistério nas investigações teológicas - e não só: não há verdadeira teologia sem Magistério, como também não há teologia sem fé. Daí, a importância destas duas realidades em teologia: Fé e Magistério, sabendo também que que ambos se apoiam na revelação divina.

2.1. Carta sobre o sacerdócio reservado aos varões

Para já, sobre a ordenação de mulheres, recorde-se que em 1997, na sequência do “barulho” que foi levantado pelos anglicanos, João Paulo II dirigiu a todos os fiéis da Igreja Católica Romana a Carta Apostólica sobre a ordenação sacerdotal reservada apenas aos varões, que também contou com o contributo da Congregação da Doutrina da Fé, que tratou do assunto, frisando claramente o “não” à ordenação sacerdotal de mulheres”, à luz do documento Inter insigniores do ano de 1976.
Nesta época, saiu a lume o documento da já referida congregação, intitulado “O sacramento da ordem e a mulher”, que foi comentado pelos génios como Joseph Ratzinger, T. Bertone, Von Baltasar, Martimort, Descamps, etc... Independentemente da diversidade e da riqueza dos argumentos e perspectivas, a conclusão final foi esta: não à ordenação de mulheres na Igreja Católica. E razões não faltam para esta posição, sabendo desde já que o Direito Canónico, no seu cânon 1024, falando dos requisitos para receber o sacramento da ordem, sublinha: “Só varão baptizado pode receber validamente a sagrada ordenação”. Evidentemente, este cânon teve os seguintes fundamentos: cristológico, bíblico e pastoral, pontos que  os teólogos evocam para sustentar a sua tese que nega a ordenação sacerdotal de mulheres.
Argumento cristológico: o sacerdocio ministerial tem como exemplo o próprio Cristo, varão, que teve apóstolos também homens, como o demonstra a bíblia; argumento teólogico: o magistério sustenta que a exclusão de mulheres do sacerdócio ministerial está em harmonia com os designíos de Deus para a sua Igreja [João Paulo II 1997: 225].
É de reter:
Em virtude do meu ministério de confirmar na fé os homens (Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem de modo nenhum a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal a mulheres. E este decreto deve ser considerado como definitivo para todos os fiéis da Igreja” [João Paulo 1997: 225].
O Magistério determinou esta regra que julga ser conveniente e oportuna. E os teólogos continuam a investigar sobre a matéria, aprofundando os argumentos para defender a posição oficial da Igreja, recorrendo também aos dados das ciências humanas. Sobre esta questão, não há muitas difuldades, pois a maioria dos estudiosos comungam esta ideia. Mas recomendam outro estudo e iniciativas para confirmar a valorização do papel da mulher na Igreja para evitar erros e má interpretação sobre esta questão pertinente  e actual [Fontobana 2009: 17].

2.2. Ordenação de casados e a questão da matéria eucaristíca: o Direito Canónico em acção

Sobre estes problemas, não é preciso ir muito longe, pois o Direito Canónico já deu soluções breves, directas e práticas.
Vejamos, em primeiro lugar, o cânon 924 sobre a matéria eucarística:
O santo sacrifício eucarístico deve ser celebrado com pão e vinho, ao qual se deve juntar um pouco de água. O pão deve ser de trigo, e recentemente confeccionado e sem qualquer risco de se corromper. O vinho deve ser natural, e de uva”.
Sobre a ordenação sacerdotal, falando de alguns impedimentos, toca o problema sobre a ordenação dos casados, no cânon 1041:
São impedidos de receber as ordens sacras:... Aquele que contraiu o matrimónio, mesmo civil” (Cânon 1041 §3).

III. IDENTIDADE E O LUGAR DO SACERDÓCIO NA IGREJA

Todos os pontos focados remetem-nos, necessariamente, para a consulta dos documentos da Igreja...

3.1. Documentos de referência

Sem entrar em grandes investigações teólogicas e eclesiológicas, para consolidar o que foi dito até agora sobre o peso do Magistério na Igreja e em teologia, vale a pena falar do sentido do sacerdócio, tendo como bases os documentos de referência do Magistério sobre este tema. Sublinhe-se que para recolher dados mais aprofundados e coerentes, basta recorrer ao Vaticano II, que apresenta uma “teologia do sacerdócio ministerial” muito bem delineada, que serve de fonte indispensável para debater este assunto.
Nele, pode-se pegar, especialmente, os seguintes documentos:  A Constituição Dogmática “Lumen Gentium” - Sobre a Igreja, A Constituição Dogmática “Dei Verbum” - Sobre a Divina Revelação,  A Constituição “Sacrosanctum Concilium” - Sobre a Sagrada Liturgia, Decreto “Christus Dominus” -  Sobre o Múnus Pastoral dos Bispos na Igreja, o Decreto “Presbyterorum Ordinis” - Sobre o Ministério e a Vida dos presbíteros; Decreto Ad Gentes - A Actividade missionária da Igreja. Para além destes documentos do Vaticano II, pode se consultar outros de grande referência, por exemplo a Exortação Apostólica Pós-sinodal de João Paulo II “Pastores dabo vobis”, de 25 de  março de 1992.

2.2. Quem é o sacerdote na óptica do Magistério da Igreja?

Fizemos referência aos documentos especiais onde podemos encontrar ensinamentos válidos sobre o sacerdócio ministerial. Mesmo pegando apenas o Vaticano II, nos documentos acima citados, há conclusões imediatas e seguras.
Na Constituição Dogmática “Lumen Gentium” - Sobre a Igreja, encontramos raízes para uma sã eclesiologia, onde o sacerdócio ministerial está bem enqudrado, pois o presbítero é membro da Igreja e trabalha em função desta mesma Igreja que, mediante o sacramento da ordem, deu-lhe o poder de exercer o seu múnus, surgindo como colaboradores directos dos bispos: sem a comunhão com a heirarquia não há sacerdócio. Aliás, no dia da ordenação, o sacerdote promete comunhão e obediência ao bispo que lhe ordena. Sem estes fundamentos, não há sacerdócio ministerial.
O documento sublinha ainda:
Os presbíteros são chamados ao serviço do povo de Deus, como prudentes cooperadores da ordem episcopal e seus auxiliares organicamente unidos, constituem  com o bispo um único presbitério, ao qual são confiadas diversas funções” [LG 28].
Neste sentido, o sacerdote deve cultivar a santidade para ser guiado pelo Espírito de Deus, seguindo a Cristo pobre, humilde e carregado com a cruz para merecer participar na sua glória. Deve ainda enveredar  pelo caminho da fé viva, que gera a esperança e opera pela caridade, que deve orientar a sua missão, vivendo como Cristo Bom Pastor. A vivência dos conselhos evangélicos - obediência, castidade, e pobreza - é fundamental. O sucesso do ministério depende da forma como o sacerdote vive estes conselhos... [LG 41-42].
A Constituição Dogmática “Dei Verbum” - Sobre a Divina Revelação, por seu turno, destaca o seguinte: o sacerdote bebe de uma fonte segura que é a Sagrada Escritura, que ele deve proclamar e viver, servindo-se de modelo para a comunidade. O padre é homem da pregação, porque alimenta os seus fiéis com a Palavra de Deus.
A Constituição “Sacrosanctum Concilium” Sobre a Sagrada Liturgia não está em silêncio sobre esta matéria. Neste sentido, sabe-se:
Sem sacerdotes, de facto, a Igreja não poderia viver aquela fundamental obediência que está no próprio coração da sua existência e da sua missão na história – a obediência à ordem de Jesus: ‘Ide, pois, ensinai todas as nações’ (Mt 28, 19) e ‘Fazei isto em Minha memória” (Lc 22, 19; Cf. 1Cor 11, 24), ou seja, a ordem de anunciar o Evangelho e de renovar todos os dias o sacrifício do Seu Corpo entregue e do Seu sangue derramado pela vida do mundo” [Pastores dabo vobis 1].
É com razão que se declara que para realizar a sua grande obra, Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas acções litúrgicas. Está presente no Sacrifício da Missa quer na pessoa do ministro, oferecendo-se agora pelo ministério dos sacerdotes, é o mesmo que então se ofereceu na cruz  [LG 7].
O Decreto “Christus Dominus” - Sobre o Múnus Pastoral dos Bispos na Igreja realça no seu número 28 que todos os presbíteros, diocesanos e religiosos, participam e exercem com o bispo o sacerdócio único; por conseguinte estão constituidos colaboradores diligentes da ordem episcopal. Todavia, na cura de almas, têm o primeiro lugar os sacerdotes diocesanos, por estarem encardinados ou ligados a uma igreja particular e consagrarem-se plenamente ao seu serviço, para apascentarem uma parte do rebanho do Senhor. Constituem, pois, um único presbitério e uma única família cujo Pai é o Bispo.
O Decreto “Presbyterorum Ordinis” - Sobre o Ministério e a Vida dos presbíteros, como o próprio título o indica, fala da essência do sacerdote. O decreto aponta para o presbítero como homem de oração, na medida em que é o centro da eucaristia a que ele preside, sabendo desde já que esta celebração eucarística é, pois, o centro da assembleia dos fiéis [PO 5].
Outro ponto pertinente é este:
Na edificação da comunidade cristã, os presbíteros nunca servem qualquer ideologia ou facção humana, mas, como, pregoeiros do Evangelho e pastores da Igreja, trabalham pelo incremento espiritual do Corpo de Cristo” [PO 6].
Penetrando no espírito do Decreto Ad Gentes - A Actividade missionária da Igreja, o Magistério recomenda aos presbíteros o espírito missionário, pois a Igreja é univeral, sem negar o lugar da igreja particular na sua mssão evangelizadora.

Conclusão

Ainda muito se pode dizer sobre este tema, pois o Magistério tem se pronunciado bastante sobre o sacerdócio ministerial. Todavia, não duvidemos: o que foi aqui dito serve para “tocar” as nossas consciências, para que entendamos o que a Igreja define para que o ministério sacerdotal seja fecundo.
Quando vão circulando muitas correntes teólogicas, o mais importante é ouvir a voz do Magistério, pois, sem isto não há uma verdadeira teologia nem um sacerdócio autêntico.
Peçamos a São Maria Vianey e a S. Pio X para que ajudem todo o mundo a entender o mistério e a riqueza do ministério sacerdotal.

Maputo, 18/08/2010.

BIBLIOGRAFIA
a) Documentos do Magistério
CÓDIGO DE DIREITO DE CANÓNICO.
CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II.
JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores Dabo Vobis, 1992.
IDEM, Carta Apostólica sobre a ordenação sacerdotal reservada apenas aos varões, 1997.
b) Obras e artigos
DAGENS, CLAUDE, L’eucharistie sacrement du monde nouveau, in CL n. 5 (1980) 391-402.
ELA, JEAN-MARC, Le cri de l’homme africaim. Questions aux crhétiens et aux églises d’Afrique, Karthala, Paris 1980.
IDEM, Ma foi d’africain, Karthala, Paris 1985.
FONTBONA, JAUME, Ministerio ordenado, Ministerio de comunión, Ed. CPL, Barcelona 2009.
NOTHOMB, DOMINIQUE, Une eucharistie sans pain ni vain? Elémentes de réflexion pour un problème pastoral, in NRT 105 (1983), 69-79.
IDEM, Ordonner prêtres des animateurs (mariés) de Communauté de Base?, in RAT 7 (1983), 181-203.
TEKA, AFONSO, Construtores do Reino. Reflexão sobre a acção evangelizadora dos Catequistas na Diocese do Uíje (Angola), Ed. Missionários Capuchinhos, Pádua 2003.
 

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