quinta-feira, 7 de julho de 2011

FORMAÇÃO HUMANA

ESCOLHER( ELEGER)

Quem decide a tua vida?



O acto de escolher a minha vida vai ser o acto mais consciente, livre e esta escolha é que vai fundar a minha identidade adulta.

Eleger não é uma tarefa fácil, mas resulta de uma alegria passada, isto é uma vida pré-vivida.

Esta escolha é única, isto é, cada escolha é única devido as características próprias pessoais e irrepetíveis - é uma escolha inédita.

Nascemos geneticamente organizados. A vida vai-se programando em muitas circunstâncias, desde os factores económicos, sociais, políticos e culturais.

A nossa vida é controlada muitas das vezes pela sociedade de consumo. Não podemos programar a nossa vida neste âmbito.

A publicidade( TV, Mass Média e outros meios de comunicação) decidem os nossos interesses, onde vamos dirigir os nossos gostos. Cria os nossos gostos ou desejos. Da mesma maneira a MODA decide como vamos vestir e a cultura decide como vamos valorar a nossa vida. Assim como o meu clã influi na minha vida.

Na nossa decisão temos muita influência:- sociedade de consumo; publicidade; moda; cultura; a família; factores económicos, sociais e outros.

As vezes também a família pode nos manipular na nossa escolha e as vezes nos ajudar a caminhar. Por outro lado a dependência aprendida na família pode criar mais o confortável na pessoa, isto é quando a família cobre a pessoa ou o filho. Esta dependência não nos permite sermos donos de nós mesmos, neste caso autónomos. A pessoa não se sente livre de fazer uma escolha. É necessário que a pessoa não se deixe levar como papel pelas correntes que são os outros, portanto que vão diluindo a nossa vida.

Perguntar-me quem decide a minha vida é identificar o controlo da minha própria vida. Nesta resposta complexa não podemos pôr de fora aquela área que não conhecemos( o inconsciente) que também vai influir neste todo conjunto de decisões.

A tarefa de construir um « EU», particular para toda a vida é uma extensão da consciência, é resgatar aquilo que eu sou e o que quero ser, quer nebulosas e escuras sempre luto para a minha auto-confirmação.

A consciência permite-me escolher e ser o que quero ser. Esta tarefa leva a um diálogo com a realidade entre o eu real e o eu ideal. A minha vida não é um acontecimento individual, isolado, interior se não uma encruzilhada social, onde se dão muitas influências.

Os principais obstáculos que dificultam a minha decisão são: - O autoritarismo e a permissidade.

O autoritarismo é o poder decisivo que nos manipula, nos suplanta, isto é toma o nosso lugar.

A permissidade nos rouba os modelos de referência que necessitamos para escolher. Esta permissidade abandona-nos aos movimentos; apresenta-se como confiança. E esta confiança leva-nos a uma desorientação daquilo que necessitamos de escolher. Nos lança a fazer coisas que não são boas.





A quem dou o poder de decidir a minha vida?

O importante é que eu próprio leve ou pego o controlo para decidir a minha vida.

Não deixar que os outros ou os superiores decidam para a minha vida.



O RISCO DE ESCOLHER

Escolher é um arriscar, porque ainda não temos a certeza daquilo que escolhemos.

Aparece- nos o temor de errar, de nos sentir culpados de fazer mal as coisas e isso traz angústia.

Neste processo de escolher também encontramos fantasmas que as vezes nos espantam no nosso caminhar. Um deles é o desejo a omnipotência e a outra realidade limitada que nos faz imaginar que estamos indefesos, são as circunstâncias externas que nos guiam.

Escolher nos ajuda a perceber, a valorar, estabelecer prioridades e de saber qual é a coisa boa. Comprometer-se com aquilo que escolhemos.

Escolher algo é ser alguém, isto é, a nossa escolha nos personaliza, dá-nos uma característica peculiar, dá-nos uma identidade e dentro da escolha vem a renúncia daquilo que existe na nossa escolha.

As vezes somos condicionados com as expectativas dos outros, que nos paralisam na nossa escolha conduzindo-nos a não viver a vida com alegria.

Escolher permite-nos dizer aos outros onde é que vamos. Quando nos deixamos levar pelos outros , é não querermos decidir-se.

A maturidade da pessoa vai no querer, no dever fazer, no poder fazer e no ser capaz de fazer aquilo que desejo ser.

O caminho da personalização no âmbito de escolher, vai acabar com a nossa decisão e autonomia da nossa própria pessoa. Se a pessoa não escolhe, são os outros que escolhem por ele e somente a pessoa arranja maneiras para sobreviver.

Por isso é preciso pensar na vida e sonhar nela, isto é ver aquilo que eu sou chamado a viver. A vida vivida é uma experiência que emerge ou nasce nas mesmas experiências vividas.

Assim podemos nos auto- afirmar que a vida é nossa e nós somos a nossa vida. E isso nos leva a eleição do nosso compromisso.

Escolher a minha vida também escolho a minha coerência de viver a minha própria vida.



O que estou a escolher na minha vida?

Escolho ser meu corpo, a minha sexualidade e os meus valores. Com isto eu escolho o argumento da minha vida e o meu guião; isto é coisas que vão pautando a minha vida.

A vida é um projecto, uma tarefa, uma chamada ou um dom.

Escolher a minha vida supõe eleger a quem hei-de dar a vida.

A minha vida é minha, eu posso geri-la.

Escolher a minha vida exige dizer Sim ou Não.

Escolher a própria vida é escolher o caminho da felicidade.

Escolher a minha vida é ter uma causa pela qual se vive incluindo morrer.

A perfeição é uma incapacidade para eleger, isto é, querer tudo perfeito.

Eleger é ser ou estar ciente das minhas capacidades, motivações e valores.

Escolher é uma forma de amar.

Na nossa vida só temos único momento para escolher, que é o momento da juventude. Se perdemos esta fase para escolher ou escolhemos bem ou mal.





QUESTIONÁRIO

Que projecto de Vida me permitirá amar lucidamente a minha própria vida e a dos outros?

Lembra uma escolha que tu consideras errónea, errada.

Imaginas naquela altura quando estavas a escolher, que conhecimentos tiveste naquela altura da tua escolha?

Que informação tinhas sobre esta escolha? Que precessões tinhas?

Quais foram as necessidades que te empurraram a esta escolha ou decisão?

Que outras alternativas vias a sua frente?

Olhas com precisão a pessoa que eras naquela altura. O que aprendeste desta decisão?

O que sabes agora que naquela altura não sabias.





SUPERAÇÃO CONSTANTE DA NOSSA PESSOA



Cada um deve lutar para conseguir a superação de si.

A pessoa humana é capaz de se superar onde está com as suas próprias capacidades no seu ambiente e com as suas limitações em que se encontra.

Superar-se é crescer; é desenvolver-se duma maneira contínuo, isto é de uma maneira integral em todas áreas da nossa existência.

Toda pessoa é perfectível, isto é não somos perfeitos , mas podemos chegar a ser perfeitos e toda a pessoa é capaz de melhorar e de desenvolver todas as capacidades inatas.

Temos todos o direito e a obrigação de sermos melhores e de desenvolvermos.

Superar-se não quer dizer ser inteligente, rico ou famoso, popular ou aberto, simpático. Quando crescemos com a ideia de que superar é ultrapassar o outro, acontecem duas coisas: Se o outro tem mais capacidades que eu, fico frustrado e se eu tenho mais que o outro vou pisando o outro.

Superar-se é vencer-se a si próprio, competir consigo mesmo, e em suma é esforçar-se de render.

Superar-se é conhecer-se assim próprio, aceitar as próprias limitações, vencer as próprias debilidades. Esse conhecer-se nos permite ver os nossos valores ou as nossas qualidades.

Superar-se permite-nos verificar as nossas potencialidades. Descobrir as próprias potencialidades é encontrar o caminho para se conhecer.

Devemos aproveitar todas as oportunidades que temos em nossa frente para a nossa realização.

Ver o lugar que me corresponde na sociedade, uma parte própria minha que é inrepetível.

Superação é a realização plena do nosso ser em todos os aspectos que envolvem a nossa vida. A superação não tem limites. A pessoa que acha não ser capaz de se superar é uma pessoa que não se realiza, que não cresce.

Há princípios biológicos que dizem: - Aquele que não se melhora se deteriora.

A superação pessoal não é algo que se adquire num dia para o outro, mas é algo contínuo. Cada hora, cada minuto, cada dia, cada ano, precisamos de se superar.

Temos que mudar para melhorar, mas sempre cientes que vamos encontrar defeitos. Isto é, a medida que tentamos superar numa área, descobrimos outras debilidades o defeito que também vão precisar de se superar e assim sucessivamente.



SUPERAÇÃO CONSTANTE



A superação não deve lograr-se num dia ou numa semana. E a superação absoluta nunca se consegue. Porém, é uma actividade que nos leva toda vida. Mudamos certamente para melhorar.

É necessário a pessoa fazer uma lista dos valores que tem conseguido a parte, também os defeitos. Porque isso ajudará a pessoa ase dar conta dos defeitos procurando assim superá-las. Portanto é difícil descobrir esses defeitos. Até quando os outros nos dão a conhecer ficamos chateados.

É importante nos dar conta que não podemos melhorar ou separar tudo ao mesmo tempo. Porém aqui surge a necessidade de fazer o projecto da vida, isto é, fazer uma reflexão de mim mesmo e tentar ultrapassar os defeitos que achamos possuir.

Para tal é necessário fazer o propósito simples e pouco a pouco ir analisando as coisas até conseguir superar uma das dificuldades.

Quando a pessoa vai aperfeiçoando a superação de uma dificuldade cria o hábito de ser melhor. Evitando as condutas negativas e repetindo as condutas positivas que possuir para ganhar este hábito de melhorar. Para melhorar, devemos ser honestos connosco próprio não justificando as nossas falhas, mas sim, procurando dar-se conta.

Não se pode superar a sós. Precisamos procurar um amigo ou uma pessoa adulta que lhe preocupe o nosso desenvolvimento e que nos ajuda a superar. É preciso me envolver na minha própria superação, não só mas também na superação dos outros. A superação nos ajuda a viver com alegria esta vida que possuímos . Isso nos traz uma motivação, alegria, uma maneira mais séria de resolver os nossos problemas.

Idade: não há idade para superação, mas é importante começar cedo, o que é melhor é superarmos para podermos ajudar a nossa família, amigos, os nossos pais, a nossa comunidade, o nosso país criticando o que não está bem. Para o meu país se superar é preciso primeiro eu me superar para dar a conhecer aos outros.

Superar-se é crescer de uma maneira integral, contínua e sem limite. Não se trata de ser melhor, mas procurar mudar a nossa maneira de ser. A superação é uma carreira longa que dura toda a nossa vida.









OS OITO( 8 ) ASPECTOS DA SUPERAÇÃO



Nós podemos nos superar em todos os aspectos, em todas as dimensões da nossa existência; no aspecto físico, intelectual, moral, espiritual, social, económico, estético, emocional e afectivo.

EXEMPLOS: No aspecto físico, como eu pratico o desporto desenvolvendo o meu corpo. No aspecto afectivo, desenvolver uma capacidade de amor, amar ser amado no relacionamento com os outros. No aspecto social, desenvolver a capacidade d ir ao encontro dos outros. No aspecto estético, desenvolver as inclinações de arte ou seja no apreciamento das obras ou dos feitos dos outros. No aspecto moral, desenvolver a capacidade de escolher o bem ou o mal. No aspecto espiritual, desenvolver a dimensão espiritual, saber descobrir a presença de Deus nos outros e desenvolver este reconhecimento de Deus na nossa vida quotidiana. Na superação moral é desenvolver o cumprimento dos deveres nos nossos habitates.
A grande preocupação na superação é a maturidade e o equilíbrio. Se não fizermos assim a vida fica desbalançada.



1º- Aspecto Físico

Este aspecto inclui higiene, alimentação, exercícios, o andar limpo, saber se apresentar no meio das pessoas, embora pobre e sem exagero. Saber organizar-se, cuidar das suas coisas e dos outros, não permitindo que os apetites ou impulsos instintivos governem a nossa vida. Mas sim sabermos nos controlar, isto não significa se reprimir, mas sim, ser eu que comando os meus instintos.



2º- Aspecto Afectivo

É uma das maiores riquezas que esta capacidade de se relacionar com os outros, experimentar amar os outros e ser amado. Esta afectividade é uma força de energia, que determina o empenho ou o esforço que a pessoa tem nos seus afazeres. Falar da parte afectiva não estamos a falar da genitalidade, porém esta genitalidade faz parte da afectividade. A dimensão afectiva é a parte mestra da nossa vida. Ela comanda o nosso relacionamento com os outros e com o ambiente. Esta parte bem desenvolvida traz-nos a felicidade.

A maturidade afectiva nos ajuda a controlar os nossos impulsos sexuais. A afectividade é uma parte da dimensão humana. Dentro deste âmbito, o nosso estado de ânimo rege a nossa vivência. Não julgar os actos dos outros pela simpatia. Por exemplo, uma pessoa é simpática e faz uma coisa má eu tolero, defendendo, apoiando-lhe pelas más coisas que ele faz, porque é meu amigo. Fazendo isto estamos a destruir o nosso companheiro. A crítica, falta de reconhecimento, louvores não me façam desistir dos meus esforços. Não desistir dos nossos esforços porcausa das críticas que às vezes recebemos da parte dos outros, ou por falta de reconhecimento daquilo que realizamos. Não vivo pelos louvores dos outros, mas sim pelos meus esforços pessoais.









3º- Aspecto Social

Ter ambições legítimas, isto é, boas e bem intencionadas. Por exemplo, ambicionar manter a minha identidade cultural, viver ou ser um membro responsável e consciente no meu país, na minha família e me comprometer ao bem de todos. E tentar assumir os meus deveres e obrigações para o meu bem e o bem dos outros. Ser curioso em procurar aperfeiçoar as coisas. A nossa reocupação neste âmbito deve ser a busca do bem comum.



4º -Aspecto económico

Uso racional e equilíbrio, isto é, antes que eu gaste, tenho de reflectir quando vou gastar e o que vou comprar, sempre com os olhos abertos com o consumismo exagerado, e não se apaixonar com imposições ocidentais. A felicidade não depende daquilo que temos, mas a atitude com que nos aproximamos das coisas. Há pessoas que tem tudo mas são infelizes. Há muitas pessoas ao longo das suas histórias que viveram felizes, não terem tudo mas porque tiveram uma atitude de se aproximar nas coisas. Descobriram o segredo da vida que não está somente no ter, mas no saber agradecer por aquilo que tem, empenhando-se em ter algo amais.



5º- Aspecto Estético

Se gostar a si próprio se aceitando como nasceu. Não se envergonhar por ser preto ou deficiente, feio ou pobre. Sempre andar organizado, exteriormente assim como na limpeza da nossa vivenda. E saber apreciar a beleza e as coisas dos outros.



6º- Aspecto Intelectual

Saber analisar do que acontece a nossa volta. Desenvolver a capacidade da inteligência, saber reflectir e avaliar os problemas. Saber julgar o que é bom e saber discernir algo que é mau e que parece mau mas bom. Saber fazer leitura de coisas úteis o que nos estimula a ser criativos.



7º- Aspecto Moral

Ser honesto, coerente na minha maneira de pensar e de actuar perante factos concretos, harmonizando as minhas actividades.



8º- Aspecto Espiritual

Descobrir a necessidade, ter relação com Deus e com Jesus descobrindo aquilo que humanamente é difícil de alcançar e sentir-se comprometido no desenvolvimento pessoal. Reconhecer que a vida só a Deus pertence. E saber agradecer a pessoa que nos concedeu.



A CORTESIA

Objectivo: Nos dar conta dos resultados positivos de tratar bem os outros.

A palavra cortesia, vem da corte que era a maneira que os membros do rei se tratavam. Era uma maneira de delicadeza, de respeito para tratar alguém.

Como educação, a cortesia se usa no mesmo sentido, isto porque uma pessoa bem educada revela a cortesia, um nível de tratar as pessoas.

As vezes somos pouco corteses no respeito aos outros sem nos dar conta. A cortesia é o reconhecimento do valor e respeito da identidade do outro. Segundo diz um ditado: Não faças o outro o que não queres que te façam.

Tratar os outros como tu gostarias que as pessoas te tratassem. Somos pessoas racionais e vivemos numa sociedade com normas e leis que regulam o nosso comportamento e a nossa maneira de tratar os outros.

Ser tratado com dignidade e respeito, é o nosso direito. Mas devemos usar a reciprocidade sem limites. É necessário revisar a nossa experiência vivida, isto é, o nosso comportamento. É trato cortes delicado para minha família e para minha comunidade em geral. Segundo um ditado o cortes não tira o valor corajoso, isto é tomar decisões se possível nos momentos oportunos.

O ser cortes é actuar com sinceridade, simplicidade e com naturalidade( espontaneidade), não adoptar um trato de aparente bondade. O nosso trato exterior deveria de ser o reflexo do trato interior.

Quando notamos ou percebemos a pessoa alterada, por trabalhos, cansaço ou outros motivos, sempre actuaremos compreendendo o outro, com prudência, com trato de modo a lhe aliviar o sentimento. Temos que aprender a nos pôr no sapato do outro, isto é ver a realidade do outro, o seu ambiente que lhe rodeia, seu carácter e ler vários caracteres da pessoa para tentar compreender-lhe. Tratar de não usar palavrões, de não perder controlo ficando demasiado agitado.

Quando eu me encontro perturbado, nervoso, frustrado como reajo? Fecho as portas para não receber conselhos dos outros? A pessoa tem a capacidade de escolher a sua reacção. Custa trabalho.

Uma maneira de poder viver a cortesia seria conhecer as pessoas e ter amor ou apresso aos outros. Quanto mais conhecermos as pessoas que estão connosco, o modo de ser de cada um, como reage, o nosso trato será mais afável, mais compreensivo e mais acolhedor.

Como me arrisco conhecer pessoas que não são da minha região, da minha cultura? Com este conhecimento aos outros nos leva a interessar-se a eles. O trato aos outros enriquece muito, aprendemos muito e também crescemos. Também encontramos defeitos que devemos evitar.

Procurar que o relacionamento com os outros seja mestre da nossa superação e seja o meio do nosso crescimento. Certamente é muito difícil manter a serenidade, o equilíbrio no relacionamento com os outros. Mas sempre devemos tentar.

Segundo um ditado: Quem se zanga, perde. Porque rompemos o diálogo onde podíamos crescer. E devemos evitar pôr etiquetas nas pessoas, isto é, dizendo que esta pessoa é má ou é bom. Deixar que a pessoa manifeste a sua bondade ou maldade. Na realidade não há pessoas boas nem más. Todos temos estes dois princípios. A perfeição não existe no mundo. Único perfeito é Deus.

A cortesia é uma maneira difícil de tratar os outros, porque as vezes deparamo-nos com pessoas agressivas ou antipáticas. Perante esta situação devemos entrar com um trato cortes. Visto que estas pessoas podem mudar com este nosso trato cortes. E para isto devemos estar sempre dispostos a ajudar e a servir os nossos vizinhos. Tendo em conta que algumas vezes eu posso precisar desta ajuda como eles. E sempre procurar criar um ambiente de amizade e um bom relacionamento com todos.



A CORTESIA COM OS DESCONHECIDOS

A primeira ( 1ª ) norma é a cortesia. Esta deve ser a nossa primeira coisa a sair de nós, uma atitude cortes.

O primeiro símbolo da cortesia é a saudação e também o aproximar os outros com alegria.

Seguidamente atender com gosto os convites que nos são feitas sem esquecer as nossas obrigações.

Depois partilhar com os outros os momentos difíceis, isto é, visitar os doentes, dar bom conselho aquele que se desvia, consolar os tristes e participar nos funerais.

A cortesia com os outros está baseada no respeito à dignidade humana. E a cortesia nos facilita no relacionamento com os outros e nos enriquece a vivermos felizes na vida. A cortesia não quer dizer ser dócil de mais. Mas sim saber actuar com responsabilidade com os outros.



























































A ALEGRIA



Existem falsas alegrias, cheia de barulho que é para chamar atenção aos outros e existe alegria inventada parta esquecer a nossa consciência; aqui está dentro aquele que gosta troçar os outros.



O QUE É REALMENTE A ALEGRIA



É um estado de ânimo nascido do optimismo realista, baseado em fatos concretos quer para nós quer para os outros. Isto significa que na vida podemos triunfar.

A alegria chega por viver e actuar rectamente.

A verdadeira alegria não é barulhenta, não fere aos que sofrem, não choca a maneira de se expressar.

DITADO:

Ao mau tempo, boa cara.

Portanto, a alegria é contagiosa. A Alegria comunica felicidade.

Quando estamos contentes, felizes, fazemos melhor os nossos trabalhos. Todas as nossas dificuldades são superadas. A Alegria se manifesta exteriormente, se sente, se verifica.

O nosso sorriso com alguém traz paz interior. Devemos sorrir em todos os momentos para ajudar os outros. Sorrir para estimular os outros, compreender –os nos seus triunfos. Sorrir para levantar aqueles que se sentem abatidos.

A Alegria é imprescindível com os outros, atrai o afecto e facilita a comunicação.





COMO CONSERVAR A ALEGRIA

Ter uma consciência limpa e um amor profundo a tudo aquilo que nos rodeia.

A Alegria nos dará a fortaleza com o qual vamos resolver as nossas dificuldades.

Quando alguém nos pede ajuda devemos ajudar com um sorriso.

A Alegria sincera faz recobrar à paz às pessoas terminando com um gesto que simboliza que podemos renovar ( apertar as mãos ou beijar os outros ).





QUANDO PODEMOS ADQUIRIR UMA ALEGRIA FUNDA?

 Termos paz interior, uma harmonia entre o que pensamos e fazemos ;

 Quando cumprimos com as nossas responsabilidade ou deveres;

 O gosto pela missão cumprida;

 Termos rectidão de intenção, isto é quando fazemos as coisas para o nosso bem e para o bem dos outros;

 Viver com desprendimento, isto é sabermos dar lugar as coisas materiais tendo em conta que a nossa felicidade não está nela;

 Sabermos desfrutar do bom ou do bem que tem a vida ( não tomar demasiada formalidade às coisas);

Mudar a acção para modificar a emoção( quando a gente está cansada pretendemos levantar-se tarde para recuperar enquanto pioramos com a preguiça).



A alegria se contagia e dá um sorriso a nossa vida, se manifesta num bom estado de ânimo, nos dá a fortaleza.



Quando deixamos que o espírito santo habite no nosso coração é um dos grandes dons que comunica e é grande auxílio para viver a alegria humana e nos ajuda a descobrir Deus. Vem esta tranquilidade e paz no nosso coração que contagia o amor e provoca uma alegria.



Não é uma alegria que simplesmente mostra os outros mas quando me encontro solitário fico triste.







O DIÁLOGO



OBJECTIVO: Nos dar conta que é importante dar tempo para dialogar com as pessoas mais próximas ou amigos.



O DIÀLOGO é a coisa muito importante e é o meio pelo qual serve para nos conhecer e resolver as nossa questões. É necessário comunicar, partilhar para crescer. Aqui podem existir alguns condicionalismos que facilitam o diálogo e outros que podem fechar.

O diálogo nos facilita amar as outras pessoas que vamos conhecendo ao longo da nossa vivência.

A única maneira de nos conhecer é dialogando com os outros. Enquanto melhor conheço o outro vai ser mais fácil o compreender, os seus gostos, afectos, sentimentos, etc.

A única maneira de conservar a amizade é o diálogo. Quando falta o diálogo, a amizade torna-se fria.



Além de nos aproximar, o diálogo é também o reconhecimento e a apreciação das qualidades do outro. Não só estar ciente dos defeitos do outro, a ignorância sobre os outros é que faz que tenhas felicidade fracassada. É preciso me dar conta que devo ser mais simples para com os outros.

O objectivo do diálogo não é tentar que o outro mude. Mas sim que a pessoa se dê conta onde deve mudar.

Um grande obstáculo para lograr o diálogo é o ORGULHO. Porque muitas das vezes vamos ao encontro dos outros inchados de orgulho. Também estas atitudes orgulhosas além de facilitar a mudança no outro, entorpecem.



O perigo do diálogo além de nos ajudar, se torna uma acusação. Para evitar isso devemos:

Conhecer e amar as pessoas com os seus tais defeitos.

Dialogar com desejo de aprender.

Ter muito claro o nosso objectivo.

E saber autocriticar-se

.

DITADO:

Nem toda a verdade é para ser dita.



Existe nalgumas que é melhor calar porque dizendo-as lograríamos ferir o outro e assim é melhor um bom entendimento.

Devemos ter a prudência à aquilo que pode ser comunicado e a aquilo que não pode ser dito ou comunicado. E saber com quem dizer as coisas secretas. E essa maneira é uma sabedoria.



É muito importante saber escolher o momento adequado para dizer ou comunicar as coisas. Se é verdade que a verdade não pode ser dita toda ela, também é verdade de que a verdade não pode se dizer em qualquer momento. Nunca podemos dizer enquanto estamos estamos raivosos, tristes, irados. É necessário esperar o momento adequado, de calma, num estado de ânimo tranquilo.



Não são as emoções que podem dominar o diálogo, mas sim pela razão. Não se deve falar porque devo falar, mas sim antes de falar primeiro reflectir, pensar. Se é preciso, pedir uma explicação para depois comunicar.



Se escolhemos o melhor momento para o diálogo, garantimos um bom êxito do mesmo diálogo. E se não conseguimos dialogar com aqueles que estão à nossa volta nunca é tarde, é necessário começar ou lançar-se para tal.



RESUMO

O DIÁLOGO é um meio pelo qual os seres humanos se abrem, onde partilham os seus sentimentos.

Onde não há diálogo não há vivência, conhecimento. Não se deve ser conduzido pelas emoções, paixões, mas sim pela inteligência.











O SENTIDO DA RESPONSABILIDADE



OBJECTIVO:- Nos dar conta que somos construtores da nossa própria vida quando somos capazes de nos decidir. Ter consciência de que os nossos actos repercutem nas outras nas outras pessoas.



RESPONSABILIDADE quer dizer uma disposição permanente para cumprir as nossas obrigações. Tem uma transcendência, isto é uma acção que comunica a outras pessoas. Esta responsabilidade não se dá num lugar isolado, mas num ambiente onde vivemos, escola, casa, na família, etc.



O homem por ser por natureza social, as suas acções repercutem nos outros. Ninguém pode ser bom ou mau para si próprio.

Não podemos pensar a vida como uma coisa ou capítulo isolado. Porém ver cada nossa acção como missão concreta e única que é individual e única. Todos os homens são chamados a cumprir o desígnio de Deus na vida.

O verdadeiro valor da pessoa humana radica na sua transcendência. E isto leva-o a dar um sentido à sua vida e a morte. Nesta descoberta da nossa dignidade vamos crescendo na nossa responsabilidade.

É nas descobertas das virtudes que vamos nos dando força de vencer as nossas acções egoístas e nos ajudam a descobrir a nossa capacidade para amar, e nos faz ser pessoas.

A Responsabilidade é consequência directa da dignidade. Todo aquele que tem recebido coisas valiosas tem que respondei-las. Quem se respeita e se valora a si mesmo, aceita de alguma maneira a responsabilidade , progride e contribui na superação da sociedade ou do grupo em que se situa. Esta dimensão social da responsabilidade faz com que a qualidade de vida no nosso grupo seja melhor em enfrentar juntos os problemas. Também o nosso grupo adquire outro valor.

Na medida em que a pessoa cresce, a responsabilidade vai também crescendo. Cada jovem é responsável e esta responsabilidade exige uma disciplina e ordem ou boa organização ou programação da nossa vida.

Quando um povo se esforça para melhorar, este povo desenvolve mesmo sem matéria- prima.



COMO CHEGAR A TER UM CARÁCTER DE RESPONSABILIDADE

O exemplo que devemos imitar deve ser de pessoas com uma vida responsável, isto é pessoas educadas e educadoras.

A responsabilidade se fortalece com o gesto que dá ver quando fazemos os nossos trabalhos. A pessoa deve estar animado, estimulado com aquilo que exerce. E se alegrar por ajudar alguém.

Quando cumprimos com as nossas obrigações com satisfação e gosto sou responsável. Isso reforça a responsabilidade e dá a tranquilidade a vida.

A felicidade está ligada a paz interior e isso por cumprir os nossos deveres com satisfação. O dever deve ser parte da nossa própria obrigação.

Não fazermos alguma coisa somente para sermos pagos, para ganharmos mas sim como dever.

Fazer consciência como nos sentimos satisfeitos quando cumprimos com as nossas obrigações.

Ter constância com aquilo que queremos fazer.

Vigiar o nosso estado de saúde.

É importante neste processo de responsabilidade pôr a parte a preguiça, distracções que as vezes nos podem tirar o estado de responsabilidade.



Aceitar que nem sempre as coisas vão sair bem como desejarias que fossem.

Cumprir com responsabilidade comum e dar uma responsabilidade os trabalhos em grupo.

Cada pessoa tem uma missão, por isso o destino( como objectivo) é individual.



O HOMEM VALE POR AQUILO QUE É E NÃO POR AQUILO QUE TEM.



Aceitar aquilo que eu sou, o que tenho sem recear perante os outros, isto é não esconder as nossas realidades. Mas para tudo isto envolve um grande desafio e precisa de sacrifício. Mas vale a pena porque ajuda a si próprio, aos outros da sua comunidade e aos estrangeiros.





A HONRADEZ

A Verdade é uma conformidade das coisas, uma relação daquilo que se pensa com aquilo que se fala. É uma promessa, que é algo de vontade.

HONRADEZ é proceder com rectidão, integridade referente aos actos e palavras.

HONRA é uma estima e um respeito com a própria dignidade, uma boa opinião, a fama que a pessoa adquire pela virtude e pelo mérito, lealdade que é cumprimento do que exigem as normas da fidelidade e do honror( honra).



Cada grupo tem próprio desejo e honra porque dá uma identidade ao grupo.

Nos nossos dias podemos nos dar conta da falta de honradez na sociedade em que vivemos. Isto porque podemos enganar, fazer algum mal pensando que os outros não se dão conta da nossa mentira.

Cada um de nós deve ser o próprio juiz.

Quando pensamos que os outros não se dão conta dos males que fazemos torna-se um hábito fazé-las. Quando actuamos duma forma honradora adquirimos uma responsabilidade. As mentiras nunca são isoladas, mas sim vão unidas criando um ciclo vicioso no qual é difícil sair.

Na comunidade a honra cria um ambiente agradável e eliminam-se todas as suspeitas e as dúvidas que puderem surgir por um engano.

Se nós praticamos a falsidade ou a falta de honradez vai ser difícil que os outros nos confiem, porque eles fazem uma ideia de nós e é difícil cambiá-la.

Saber dizer a verdade. Actuar com honradez é a única maneira de obter a dignidade e a confiança dos outros.

Uma pessoa que actua com honradez deixando-se guiar com o que a consciência lhe diz, actua com responsabilidade.

Se fazemos ou se queremos fazer uma promessa primeiro devemos analisar se vamos cumpri-la e como vamos cumprir.



PERGUNTAS

1- Me considero uma pessoa honesta?

2- Sou uma pessoa digno da confiança dos outros?

3- Minto para fugir dos problemas?

4- Se alguma vez tenho roubado ou feito alguma coisa má como me senti?

5- Quando marco um programa a cumprir chego à tempo?

6- Cumpro com as minhas promessas?

7- Que metas ou objectivos à curto ou a longo prazo eu proponho para fortalecer a minha honradez?



OS TEUS DEVERES



Neste ponto, deves querer saber quais são esses deveres. Trata-se de obrigações civis e morais que tens para contigo mesmo, para com o próximo, para com a família e para com a pátria.



1- CONTIGO MESMO: És obrigado a cultivar o próprio corpo e o próprio espírito, a fim de estares preparado para as tarefas do amanhã. Um homem ineficiente é um fardo para si e para a sociedade, embora a sociedade tenha o dever de cuidar dele; um homem inculto, desorientado, que não aprendeu a dominar os próprios instintos e a educar as próprias paixões, é um perigo para si e para a comunidade em que vive. Aqui requer sacrifícios e exercícios ginásticos da vontade, para obtermos em adultos, o domínio de nós mesmos.



2- PARA COM O PRÓXIMO: há deveres:

Da justiça, que te impõe dar « a cada um o que lhe pertence»;

Da igualdade, porque, quaisquer que sejam as diferenças ( físicas, intelectuais, de posição social e económica), perante a lei, assim como perante Deus, somos todos homens, que devemos responder igualmente, cada um com as responsabilidades do próprio estado;

Da fraternidade, porque todos fazemos parte da mesma família humana;

Da solidariedade, que consiste na ajuda material e moral que prestamos ao próximo, em caso de necessidade.



3- PARA COM A FAMÍLIA



Os deveres são maiores, porque à família devemos tudo o que recebemos desde o nascimento, isto é, quase tudo. A família não só te criou, alimentou, educou, instruiu, mas sobretudo deu-te afecto, que é um elemento essencial para um desenvolvimento psicológico são e equilibrado. Todos os ensinamentos recebidos em casa poderiam ser transmitidos ao rapaz por qualquer outra instituição, mas na família há qualquer coisa que noutra parte faltaria, isto é, o AMOR. Os pais amam os filhos e vice-versa, e só nesta relação de confiança e de amor a educação consegue não ter um carácter repressivo.

Colaborarás portanto com a família respeitando todos os componentes, como eles te respeitam; amá-los-ás; ajudá-los-ás segundo as tuas possibilidades; e trabalharás para os ajudares economicamente, se for necessário. É verdadeiramente deplorável o comportamento egoísta dos que se aproveitam da ajuda dos familiares quando lhes convém e depois os abandonam na necessidade.



4- A DEFESA DA PÁTRIA



É um sagrado dever do cidadão. A pátria porém não se defende somente de armas na mão, quando está em perigo evidente. Defende-se sobretudo apoiando o Estado, isto é, procedendo de modo que as iniciativas se mantenham sempre firmes e respeitadas por todos. A pátria defende-se com a observância das leis, com o exercício civil do voto, com o pagamento dos impostos devidos e, sobretudo, com a contribuição do próprio trabalho, exercido com competência, honestidade e solicitude.

O verdadeiro patriota, dizia um filósofo, não é aquele que só nas grandes e solenes ocasiões se agita, se alvoroça, se proclama aos quatro ventos, mas aquele que quotidianamente, ordenadamente, incansavelmente procura o bem comum e disso não se envaidece.

A pátria trazemo-la todos connosco, mas nem damos por isso. Para nos darmos conta e sentirmos quanto nos é querida, basta deixá-la mesmo por pouco tempo. Tu mesmo, se fizeste uma breve viagem ao estrangeiro, ao regressares deves ter sentido o que é o amor pela própria terra, pela própria gente, pelos hábitos de vida, embora com todos os seus defeitos, os seus erros, as suas faltas. Da nossa pátria, trazemos connosco muito mais do que julgamos: o carácter, a cultura, os sentimentos, a língua.

ENRAIZADOS E EDIFICADOS EM CRISTO, FIRMES NA FÉ (cf. Col 2,7)

Caríssimos irmãos em Cristo, como o Apóstolo Paulo nas suas epístolas, assim também eu ouso endereçar-vos a graça, a paz, o amor e a misericórdia de Cristo Nosso Senhor; que elas reinem para sempre em cada um de vós.
Gostaria de reflectir convosco, de forma sucinta, este tema, que a meu ver, enquadra-se bastante bem na dinâmica do tempo em que nos encontramos. Pois, nos dias que correm há uma forte tendência de relativizar e excluir Deus da vida das pessoas e da sociedade. Portanto, pensa-se que as pessoas são o princípio e o fim de tudo. Mas no fim de tudo, descobre-se que a nossa vida não tem sentido sem Deus.
A nossa experiência de fé é uma ascensão à “montanha que é Cristo”. E a passagem para Deus está completamente entretecida desta dúplice dinâmica: ir a Deus de mãos vazias e arreigar-se n`Ele confiante à sua providência. Por isso, cada baptizado mergulhado na páscoa de Cristo, n`Ele aceita morrer para o pecado e viver para Deus. Ele sai de si próprio e escolhe viver em Cristo, para Deus e os irmãos. Ele abandona-se nas mãos de Deus que o escolheu primeiro a fim de penetrar no segredo das “coisas divinas”, e mais ainda no segredo do outro numa caminhada de amor.
Enraizados e edificados em Cristo cada um de vós deve ser portador daquele amor que Cristo manifestou na humanidade doando gratuitamente a sua vida por todos nós. Daí que amar é perder-se pelo outro, não mais pensar em si, não mais buscar seu próprio êxito, mas preocupar-se com o verdadeiro bem do outro.
Temos motivos de nos gloriarmos com Cristo e plasmar a nossa conduta tendo-o como modelo. Porque em Cristo, Deus torna-se um rosto, e o homem, por sua vez, conhece o seu verdadeiro rosto. Por isso mesmo, devemos contemplar Cristo no rosto de cada um que se alegra, que festeja ou então, cada um que se entristece e se encolhe porque falta alguém que o ampare na sua situação.

KANT E A MEDIAÇÃO ENTRE ESPAÇO E TEMPO

Kant diz que o espaço não pode ser percebido empiricamente porque o simples ato de situarmos alguma coisa "fora" de nós já pressupõe a representação do espaço. O espaço não é portanto uma propriedade das coisas, mas uma forma sobreposta às coisas pela minha intuição delas.
Mas aí o espaço está identificado com o "fora", com a exterioridade, e não posso, só com base na pura representação da exterioridade, dizer que algo está fora de mim: esta afirmação é claramente a de uma relação entre o fora e o dentro, e pressupõe portanto a representação de ambos. Só que o "dentro", para Kant, é o puramente temporal e inespacial: o espaço é a forma a priori da exterioridade como o tempo é a da interioridade. Ora, se só possuo uma representação espacial do fora, enquanto do dentro tenho somente uma temporal, não posso, rigorosamente, dizer que nada em particular está fora de mim, porque a existência espacial em geral já consiste em estar fora. Dizer que algo está fora é, então, apenas dizer que não tem uma existência puramente temporal, mas que além de existir no tempo tem alguma outra determinação especificamente diferente. Em que consiste essa determinação? Parece impossível defini-la exceto negativamente, isto é, dizendo que na coisa percebida fora há um algo que não é tempo.
A pura existência temporal, inespacial, -- que Kant identifica com a interioridade -- apresenta similar dificuldade. Se tentamos dizer em que consiste, temos de nos contentar com excluir o espaço, e aí se torna impossível distinguir entre a inespacialidade e a simples inexistência.
Essas dificuldades provêm da identificação entre "espaço" e "fora", entre "tempo" e "dentro". Sem admitirmos um "espaço interior" e um "tempo exterior", não temos como dizer que alguma coisa está fora de nós, porque isto resulta em excluí-la do tempo, nem dentro, porque resulta em excluí-la do espaço, suprimindo em ambos os casos sua existência empírica, que segundo Kant consiste precisamente em estar no tempo e/ou no espaço.
Sem a mediação entre espaço e tempo, nenhuma percepção é possível. Mais ainda, essa mediação não pode ser puramente racional, mas tem de estar imbricada na estrutura mesma da percepção, porque caso contrário o ato de situar algo dentro ou fora seria a conclusão de um raciocínio e não um ato de percepção, que é precisamente o que Kant diz que ele é. No entanto, o conceito dessa mediação é incompatível com a redução kantiana do espaço e do tempo a formas a priori da sensibilidade projetadas sobre as coisas; porque a exclusão mútua do dentro e do fora constitui, para Kant, a estrutura mesma do ato de percepção: se houvesse um território intermediário entre tempo e espaço, esse território seria ele próprio a suprema forma a priori da sensibilidade, abrangendo e distinguindo espaço e tempo. Mas não há em Kant menção a esse terceiro fator: além do espaço e do tempo, há só as categorias da razão.
Ora, esse fator mediador é absolutamente necessário, e a partir do momento em que o admitimos já não podemos aceitar a doutrina de que espaço e tempo são formas projetadas, pela simples razão de que o "dentro" e o "fora", portanto o espaço e o tempo, perderam seu caráter absoluto de categorias e, tornando-se relativos a um terceiro fator, se contaminaram perigosamente de um componente empírico.
Ou é impossível distinguir dentro e fora, ou essa distinção tem algo de empírico e portanto espaço e tempo não são formas a priori.
O terceiro fator, que nos tira desse imbroglio, é, este sim, uma forma a priori da sensibilidade, e se chama existência (subentendendo-se: "existência versus inexistência"). Só se pode perceber como existente o que tem existência, e ter existência é estar inseparavelmente — embora sob aspectos distintos — no espaço e no tempo. Do mesmo modo, o inexistente é percebido como ausente do espaço e do tempo, e esta ausência ajuda a compor o quadro onde estão presentes as coisas presentes. O que quero dizer com "sob aspectos distintos" é que aquilo que é inespacial em essência e no seu puro conceito tem de se tornar espacial existencialmente e secundum quid para poder ser percebido, como por exemplo a tristeza ou a alegria que "em si" são pura temporalidade inespacial mas só podem ser vivenciadas em algum lugar do espaço (interno e externo), pela simples razão de que não vivenciamos empiricamente conceitos e essências puras, mas coisas e estados que existem no espaço e no tempo. Mutatis mutandis, o intemporal "em si" tem de se temporalizar existencialmente para existir ante a percepção.
Mas o mediador, para operar essas chaves da percepção, tem de ser supra-espacial e supratemporal. A forma a priori que denomino existência tem portanto dentro de si o quadro inteiro das distinções: temporal-inespacial, temporal-espacial, espacial-atemporal e espacial-temporal. Se não o tivesse, não poderia projetá-las sobre os dados da experiência. Mas, para que o tenha, é preciso que ela própria não dependa dessas distinções, e sim se estruture internamente segundo uma distinção muito mais abrangente, que é a do real e do irreal, o primeiro constituindo-se da dupla de polos temporal-espacial (isto é, a essência temporal que se espacializa existencialmente) e espacial-temporal (a essência espacial que se temporaliza existencialmente) e o segundo da dupla espacial-atemporal e temporal-inespacial, ambos constituídos de essências puras não existencializáveis, ou meras possibilidades. Por isto defino a metafísica como ciência da possibilidade (e impossibilidade) universal, isto é, como quadro delimitador não só do conhecimento mas do real mesmo. (1) Neste sentido, a estrutura da percepção já tem uma estrutura dedicidamente metafísica.
Kant admitiu o par existência-inexistência apenas como categoria da razão, mas obviamente ele está embutido já na estrutura mesma da percepção, na medida em que todo perceber tem uma natureza escalar e contrastante e consiste em notar não só as presenças, mas as ausências que lhes servem de pano-de-fundo. Os próprios juízos de existência seriam impossíveis se não houvesse, com anterioridade lógica se não cronológica, a percepção de existência, a qual por sua vez não pode ser concebida senão como oposto complementar da percepção de inexistência. O ver alguma coisa não pode ser concebido senão como não ver alguma outra coisa — por exemplo, o oco da sua ausência — no lugar dela.
Tempo e espaço são formas da existência, bem como — negativamente — da inexistência. Quando, através de sua manifestação espacial, percebo algo que em si não é espacial, como por exemplo uma melodia, o que estou percebendo é uma existência parcial e deficiente: a melodia não existe como substância no sentido físico do termo, mas como efeito da ação de determinados corpos — os instrumentos de música, por exemplo, ou os órgãos da fonação humana. Percebo, no mesmo instante, que essa melodia tem uma estrutura matemática, a qual por sua vez é independente do tempo e do espaço, e que neste sentido tem uma existência ainda mais deficiente, como mera potência que é. Se eu não pudesse perceber essas formas deficientes, também não poderia perceber as eficientes ou plenas que lhes fazem contraste e que são perceptíveis justamente por esse contraste.
Existência-inexistência é, pois, forma a priori da sensibilidade e não somente da razão. Já o tempo e o espaço não podem ser formas a priori, mas apenas o resultado da diversificação da experiência quando esta é enfocada sob a categoria existência-inexistência, donde resulta a percepção diferenciada do espacial-temporal, do espacial-intemporal, etc.
De outro lado, existência-inexistência não poderia ser uma forma a priori da sensibilidade se não fosse também uma forma a priori dos dados sensíveis em si mesmos, de vez que o mais simples ato de percepção depende de certas qualidades que têm de se apresentar nos objetos mesmos e sem as quais não poderíamos percebê-los. Existência-inexistência é ao mesmo tempo categoria gnoseológica e ontológica: é a forma da percepção dos objetos no espaço e no tempo e inseparavelmente a forma da presença desses objetos no espaço e no tempo.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

JOHN LOCKE V

CONTRATO SOCIAL EM JOHN LOCKE

Uma sociedade civil e um Estado nascem quando os homens decidem de comum acordo confiar à sua comunidade o poder de estabelecer leis que regulem a punição das ofensas e o uso da força contra as transgressões destas leis.
O contrato social cria autoridade; isto é, confia a alguns o encargo de velar pelos direitos de todos. “O primeiro impulso para a criação de uma sociedade civil é dado pela incerteza e pela instabilidade das formas pelas quais o direito primitivo é exercido no Estado de Natureza.” (13)
O contrato social não é uma abdicação (renúncia ou resignação voluntária de alguma dignidade ou cargo, cedência) aos direitos próprios, mas uma delegação da sua defesa à autoridade. O cidadão conserva sempre os seus direitos naturais (à vida, à liberdade, à propriedade privada, à família, etc.).
Os direitos que as pessoas possuem no estado de natureza podem ser obedecidos. Entre as pessoas pode faltar a força para defenderem os seus direitos. Assim, elas podem concordar em deixar o seu estado de natureza para formar uma sociedade política. Deste modo, elas formam: um povo, um corpo político sob um governo supremo.
O contrato social implica a renúncia, à defesa privada dos direitos e ao uso de alguns deles quando o bem comum o exige (a renuncia, por  exemplo, ao direito à vida quando a pátria está em perigo).
De acordo, as pessoas no contrato social estabelecem um juiz na terra com autoridade para resolver todas as controvérsias e reparar as injustiças que podem recair sobre qualquer membro do Estado. Essa sociedade não é uma sociedade civil e absoluta, mas ela deve responder sempre a  vontade e à determinação da maioria.
A autoridade é legítima quando usa os poderes para o bem dos cidadãos; ela é autoridade tirânica quando os usa em benefício próprio contra a autoridade dos cidadãos.
Locke afirma que os cidadãos têm o direito (negado por Hobbes) de se rebelar (revoltar) contra o poder tirânico. (14)
O mestre diz  que as pessoas nasceram em sociedades civis já existentes. Não há escolha das pessoas para nascerem aqui ou ali. Mas elas devem se submeter às leis e à autoridade. Essas pessoas não fizeram pacto (acordo ou convenção) para se unirem, mas devem se submeter.
A sociedade civil resulta de um contrato social que estabelece uma lei comum, não existente no estado natural, mas que tem como finalidade assegurar a salvaguarda (protecção) dos direitos naturais.
Locke distingue entre o consentimento tácito e o explícito. Pode ser que uma pessoa não escolha onde nascer, nem tão pouco a qual autoridade se submeter; porém ao permanecer aí ela dá o seu consentimento tácito.
A vontade e a determinação da maioria é que constitui a base última da autoridade política, depois segue-se a possibilidade da resistência legítima a essa autoridade que não se conclui da teoria do direito divino.

JOHN LOCKE IV

ESTADO DE NATUREZA EM JOHN LOCKE

 

4. 1. Como os homens podem viver juntos em paz?
John Locke expõe a sua doutrina política em dois tratados sobre o governo: I e II tratado.
Para Locke, o Estado de Natureza não é um Estado no qual cada um tem direitos ilimitados. “ O Estado de Natureza tem uma lei da Natureza que obriga a todos; Essa lei ensina a humanidade quando esta a consulta. Sendo todos iguais e independentes, ninguém deve causar danos a outrém em sua vida, sua saúde, liberdade e propriedade” (10).
Os tratados de política de John Locke continham argumentos em favor do governo pelo consenso e do direito à desobediência religiosa. O primeiro tratado contém uma crítica das teorias da monarquia absoluta e do direito divino do rei.
Locke considerou inútil a teoria que afirma que Adão teria recebido a autoridade política absoluta de Deus e que passou a seus herdeiros.
No II tratado, Locke procura fundamentar a autoridade política. Segundo ele, os governantes não são absolutos e as suas ordens não merecem ser observadas quando não tem como fim o bem comum. Neste contexto, a resistência pode ser justificada. Porém, os súbditos têm de facto um dever para com os seus soberanos, obedecê-los.
Aliás, os próprios governantes possuem, de maneira correspondente, deveres em relação aos seus súbditos.
No Estado Natural não existe autoridade política e os deveres derivam directamente de Deus. São deveres que consistem em não prejudicar a vida do outro, sua liberdade ou bens.
Na sua teoria de trabalho, Locke diz que todos os Homens foram criados livres e iguais aos olhos de Deus, por isso, Deus concedeu terra e seus frutos de modo igual a todos os homens. Não existia, desde Adão, propriedades privadas mas sim, uma propriedade comunal mundial.
Cada indivíduo possui um direito concedido por Deus, a sua vida e seu trabalho. O direito do homem é limitado à própria pessoa. Por isso, tem direito à vida, à liberdade e à propriedade; esta última enquanto produto do seu trabalho.
Porém, Locke chama atenção em relação à liberdade: Apesar do Homem, no Estado de Natureza ter uma liberdade incontrolável, não tem a liberdade de destruir a si mesmo nem a outra criatura.
No Estado de Natureza, qualquer pessoa tem de preservar tanto quanto puder o resto da humanidade, não podendo tirar nem prejudicar a vida ou os bens de outrém. Aos invasores dos direitos dos outros, há sempre medidas para impedi-los.
Para tal, Locke propõe que se ponha a execução da lei da natureza nas mãos de todos os homens: “que se permita a qualquer um o direito de castigar os transgressores da lei, de maneira a impedir a violação; se qualquer um no, estado de natureza, pode castigar alguém por qualquer malefício que tenha feito, todos também podem fazê-lo”. (11)
Praticamente, segundo Locke, no Estado de Natureza, ninguém deve fazer mal ao outro, pois é um Estado de igualdade perfeita. Como ele afirma, ao transgredir a lei da natureza, o Homem está a declarar viver de uma maneira contrária à regra da sociedade. “E assim, o ofensor torna-se perigoso à humanidade” (12). E porque a transgressão é crime contra a paz e a segurança da humanidade estabelecida pela lei da natureza, qualquer homem pode agir de modo a levar o transgressor ou o criminoso ao arrependimento, para que sirva de exemplo para os outros malfeitores.
Para preservar a humanidade, todos têm o direito de castigar o ofensor tornando-se executores da lei da natureza.
Deste modo, se alguém quiser opor-se à doutrina de Locke, terá que explicar porque razão os príncipes e os Estados castigam o estrangeiro. Em casos de violação da lei, aquele que foi prejudicado, além do direito de castigar o ofensor, tem o direito de recuperar os danos causados por parte do ofensor.
Portanto, tem o direito de levar tudo o que o ofensor tiver, de modo a recompensar o que foi perdido. E qualquer um que achar justo pode ajudar a recuperar os danos.

JOHN LOCKE III

LIBERALISMO
Entende-se como a “tendência, inclinação, para as ideias liberais; qualidade, carácter de liberal; maneira de ser e pensar, o que admite opiniões contrárias às suas. Doutrina económica dos que defendem a maior liberdade do comércio e da industria, combatem  a intervenção dos poderes públicos nos assuntos económicos e particularmente o socialismo do Estado” (8).
O liberalismo formou-se principalmente pela oposição da burguesia ao Estado autoritário do Séc. XVII e XVIII, e por isso, nos aparece, primeiro, sobretudo, como uma doutrina crítica e até como de crítica destrutiva e revolucionária, salientando-se o seu aspecto negativista e parecendo ser da sua índole, não o construir, mas simplesmente o derrubar, eliminando os obstáculos ao progresso humano. As liberdades que reclamaram foram: a liberdade jurídica ou o tratamento de indivíduos com regras legais fixas, que a própria autoridade estivesse sujeita (Locke sempre se debateu por esta causa. Ele, particularmente, não concordava com a pretensão do rei ser um monarca absoluto. Porque sendo um monarca absoluto, o rei tinha todos poderes nas mãos, inclusive o legislativo e ele mesmo não se sujeitava a nenhuma destes poderes); a liberdade fiscal, ou seja, o direito de só pagar os impostos que houvessem sido votados por quem os paga; em  poucas palavras, podemos dizer que os liberalistas defendem a existência do parlamento para fazer e eleger às leis; a liberdade social, que já forma uma transição para o socialismo e pela qual, a luta pela liberdade aparece com particular nitidez como exigindo a luta pela liberdade. Para concluir, podemos dizer que Locke  é um autêntico liberalista, uma vez que ele defendia todos ideais que os liberais defendem: liberdade jurídica, social, fiscal .

JOHN LOCKE II

Breve Historial da Política

Como objectivo, a política “visa àquilo que diz respeito ao governo e ao Estado por oposição às outras formas de vida social” (3)  como a administração, a justiça, a arte, etc.

Como substantivo feminino, a política “designa a arte de governar” (4)

Segundo Aristóteles, a política é que indaga qual deve ser a melhor constituição (5): “qual deve ser a mais apta que qualquer outra, para satisfazer nossos ideais, quando não houvesse empecilhos externos. E qual é a que se adapte às diversas condições em que podemos levá-la a efeito. Como é quase impossível que muitas pessoas possam realizar a melhor forma de governo, o bom legislador e o bom homem político precisa saber qual deve ser a melhor forma de governo em sentido absoluto e qual pode ser a melhor forma de governo quando existem certas condições.

Segundo o dicionário breve de filosofia, política é a ciência normativa que trata da organização dos bens sociais. É o ramo da ciência do direito respeitante ao governo e aos assuntos do Estado.

A filosofia política é a análise filosófica da relação entre cidadãos e a sociedade, as formas de poder e as condições em que este se exerce, os sistemas do governo, a natureza, a validade e a justificação das decisões políticas.
Segundo Aristóteles, o homem é um animal político que se define pela sua vida social organizada politicamente. Na concepção Aristotélica, a política, enquanto ciência, pertence ao domínio do conhecimento prático.
A República de Platão e a Política de Aristóteles são duas das obras mais famosas de filosofia política. Outras obras fundamentais são: o princípio de Maquiavel, O Leviatã de Hobbes, o segundo tratado de governo de John Locke, o contrato social de Rousseau, a filosofia de direito de Hegel, o capital de Marx e Engels, o tratado sobre a liberdade de Stuart Mill. Todas estas obras são consideradas clássicas na formação da teoria política.

Entende-se a política como ramo das ciências sociais que trata da organização e da vida do Estado. Ela trata daquilo que todos os seres humanos devem procurar como objectivo supremo das suas acções, o bem estar colectivo (6).

O facto político característico, segundo a maneira moderna de encarar o assunto, é a luta pela autoridade pessoal numa comunidade organizada, assim como a luta pela manutenção do poder do próprio Estado (7).

JOHN LOCKE I


 1. VIDA E OBRA
Locke nasceu aos 19 de Agosto de 1632, na localidade de Wrington, perto de Bristol, na Inglaterra. A Grã-Bretanha, neste momento, como outros países europeus, vivia mergulhada em convulsões políticas profundas entre parlamentares e absolutistas, entre católicos e protestantes e, estes últimos entre si.
A situação agravou-se em 1603, quando subiu ao trono Jaime I e se auto proclamou rei absoluto, por direito divino, fazendo sua a divisa: “a Deo Rex, a Rege Rex” – o rei provém de Deus e do Rei provém a lei. O rei colocava-se, assim, acima das leis, isto é, reunia em si o poder executivo e o poder legislativo, sendo o Estado sua propriedade pessoal. Daí que estiveram contra si os defensores de um regime parlamentar e as várias correntes religiosas.
Em 1625 subiu ao poder Carlos I que continuou a afirmar o seu poder absoluto, secularizando o parlamento. Os conflitos entre o rei e o parlamento tornaram-se inconciliáveis. O pai de Locke era advogado da província, foi um dos defensores da causa do parlamento contra o rei na guerra civil.
A guerra civil acabou por eclodir em 1642. Os conflitos religiosos faziam, nesta altura, milhares de vítimas na Inglaterra, Escócia e Irlanda. Oito anos depois, Carlos I era decepado, proclamando-se assim uma república que durou até 1660. É neste contexto que, em 1646, Locke foi enviado para Westminster School, uma das melhores escolas inglesas do tempo, onde, não só aprendeu os clássicos, como também hebraico e árabe.
Faz uma parte dos estudos na família e na universidade de Oxford onde descobriu a nova filosofia e a nova ciência, acabando por enveredar pelos estudos da medicina. Ainda em Orford, ensinou grego e retórica na qualidade de tutor. Depois, tornou-se sensor da filosofia moral. Apesar disto, considerava o ensino da filosofia que recebeu em Oxford como um peripatetismo recheado de palavras absurdas e inúteis pesquisas. Procurou a satisfação das exigências do seu espírito em outros campos, estudando, para além da medicina, anatomia, fisionomia e física. Não conseguiu nenhum título académico em medicina, mas pela sua competência teve a honra e privilégio de ser considerado Doutor Locke.
Em 1660, a monarquia absoluta era restaurada na Grã-Bretanha com Carlos II, que tentou restabelecer o catolicismo. Locke começa a envolver-se em actividades políticas como secretário e consultor. Em 1664, fixou sua residência na propriedade do Conde Shafterbury, líder da oposição parlamentar ao rei Carlos II, como médico pessoal do rei, colaborador seu em assuntos políticos e preceptor da casa da nobreza.
Em 1671, entrou em contacto com o círculo de estudantes com os quais trocou alguns conhecimentos no campo da ciência. Em 1672, foi nomeado secretário do Lord Ashley, chanceler da Inglaterra. Locke passou quatro anos, entre 1671-1679, na França, país que já estava implantada a república como preceptor e amo das crianças dos nobres; estudou Descartes e manteve contacto com alguns dos grandes pensadores da época, entre eles, Gazend, os quais influenciaram os seus pensamentos.
Em 1681, o conde Shafterbury foi julgado por traição e foi absolvido, mas fugiu do país temendo a sua segurança, fixando-se na Holanda. As coisas ficaram pretas, perigosas, para os seus simpatizantes em Inglaterra; daí que Locke, em 1683, também parte da Inglaterra rumo à Holanda. Foi aí que escreveu a maior parte da sua obra prima, Essay Concerning Human Undertanding, publicada em 1689.
Entretanto, na Grã-Bretanha, Jaime II, em 1685, sucede ao seu irmão Carlos II no cargo, prosseguindo com a mesma política absoluta, marcada pela intolerância religiosa. Não durou muito, em 1688, o povo revoltou-se e o rei vê-se obrigado a se refugira na França. Locke, estando na Holanda, fez parte de um mundo conspirador de exilados políticos ingleses. Participou activamente na conspiração para colocar no trono da Reino Unido (UK) um holandês, Guilherme III de Orange. A conspiração foi bem sucedida.
Quando o rei Jaime II fugiu para ao estrangeiro, Locke  escoltou pessoalmente a princesa de Orange da Holanda até Inglaterra, em Fevereiro de 1689, e ela tornou-se Rainha Maria II consorte do Rei Guilherme III. No mesmo ano, Guilherme III de Orange com a sua esposa, Maria Stuart, foram chamados ao trono pelo parlamento Inglês, coroando-se assim a vitória plena dos fautores do regime monárquico parlamentar ao qual Locke sempre se havia batido.
Locke colhe os loiros merecidos do sucesso, cargos e honras. Assim, graças a este seu envolvimento no cenário político a sua fama se espalhou por toda Europa. Viu assim realizado um dos seus ideais políticos — a implantação do regime monárquico parlamentar.
Apesar de Locke ter vivido até aos 72 anos e de ter escritos vários, as suas obras mais influentes surgiram todas num período de cinco anos. Locke teve grande satisfação por ter estado envolvido em assuntos práticos e filosóficos; ele era eficiente em ambos. “Nunca casou, mas foi amado e teve muitos amigos. Ele era carinhoso, encantador, espirituoso e sensato e, contudo, simultaneamente modesto, quer nos relacionamentos pessoais e políticos, quer na filosofia e a sua extrema simpatia fez dele um sedutor, mesmo quando isso o conduziu a algumas inconstâncias. Depressa era capaz de admitir uma inconsistência do que negar o que lhe parecia ser a verdade óbvia e franca aquilo a que muitas vezes se referia como o simples facto da questão. Nisto, ele era tipicamente inglês, mas muito pouco francês e particularmente cartesiano” (1). Locke morreu em Oates, aos 28 de Outubro de 1704.

1. 2 . Obras Importantes:
1. Ensaio Sobre o Entendimento Humano (1689)
2. Cartas Sobre a Tolerância (1689)
3. Dois Tratados Sobre o Governo (1690)
4. Alguns Conceitos Sobre a Educação (1693)

2. CONCEITOS BÁSICOS

Propriedade Privada: é o “poder estatal” exclusivo e transmissível por herança para servir e dispor de determinados bens materiais de acordo com o seu destino comum, com vista a assegurar uma vida decente para si e para os seus; prover às necessidades dos demais no quadro das leis, das instituições e das decisões públicas quando o bem comum extingue (2).
A propriedade privada é o direito individual do indivíduo à vida, segurança pessoal, residência e liberdade de consciência e religião. O Homem não pode entregar-se ao Estado por ser já uma propriedade de bens. Renunciar a esse mínimo de liberdade seria o mesmo que destruir-se.

Poder: é um simples conceito operatório que permite exprimir a eficiência das instituições; traduz-se por autoridade, mando, influência, força, violência.
A noção de poder é uma das mais obscuras e, no entanto, a maior parte das relações humanas são relações de poder ou relações em que o poder intervêm de uma forma ou de outra.
O poder reduz-se ao fenómeno de poder na à sua expressão política; ele é uma realidade económica, política e psicológica. Na sua forma política, o poder é de certo modo a expressão consciente e tecnicamente eficaz do conjunto das relações sociais de poder. Há existência de relações de poder sob formas mais ou menos rudimentares ou mesmo primitivas. Mas, esta universalidade do fenómeno do poder não se confunde com aquele tipo de poder a que chamamos poder estatal. A universalidade pluriforme da relação de poder de todas as sociedades humanas leva muitos autores a considerá-lo como um facto natural, inevitável, inseparável.
Na ordem natural, o poder nasce da sociedade; é uma resultante. Segundo a concepção empírica do poder, ele é que gera a sociedade e é-lhe superior, estabelecendo-se entre ambos um antagonismo. Uma vez alienado o poder social, o governo oscila entre a demagogia e o despotismo.

Estado: é a forma que assume nas sociedades moderna a existência social. Por outras palavras: é a forma que atinge a sociedade quando está perfeitamente organizada. É neste sentido que pode se considerar o Estado como a instituição por excelência, como a primeira de todas e aquela da qual todas as demais recebem legitimidade e subsistência.
Marcel Prélot define-o como uma forma qualificada, aperfeiçoada, eminente da vida colectiva.
O Estado, segundo Locke e Rousseau, surge da teoria do contracto social, em que se exprime a vontade geral dos cidadãos racionalmente capazes.

Tolerância

Numa perspectiva etimológico conceptual, tolerância significa suportar algo de diferente do que se reconhece, que não se concorda; é a aceitação da diferença, todavia, não significa indiferença ou conformismo com aquilo que é errado, mas antes pelo contrário, condescendência para com outro.

FALANGES



Quando falo com palavras sem palavras
Quando percorro o discurso sem pérolas
Que se interpretam nas minhas mágoas
Desfiguradas pelos inventores destas falhas

Quando pergunto o sentido que se esconde
Nas palavras que falo quando me perfumo
Aludindo perfilhar o que consumo
Quando sem sumir a rédea desfalece

Quando insignificante escovo a realidade
Mastigando o sofrimento da tradição
Que sufocou o meu falar com imbecilidade
Que justifica a natureza da minha escravidão

Quando recordo a infância que percorri
Escondendo a linguagem que escolhi
Para fantasiar o meu querer infantil
Santificado na minha inocência sem perfil

Filosofia da linguagem

Filosofia da linguagem é o ramo da filosofia que estuda a essência e natureza dos fenômenos lingüísticos. Ela trata, de um ponto de vista filosófico, da natureza do significado lingüístico, da referência, do uso da linguagem, do aprendizado da linguagem, da criatividade dos falantes, da compreensão da linguagem, da interpretação, da tradução, de aspectos lingüísticos do pensamento e da experiência.
Trata também do estudo da sintaxe, da semântica, da pragmática e da referência. As principais questões investigadas pela disciplina são: Como as frases compõem um todo signiticativo? O que é o significado das "partes" (palavras) das frases? Qual a natureza do significado? O que é o significado? O que fazemos com a linguagem? Como a usamos socialmente? Qual sua finalidade?Como a linguagem se relaciona com a mente do falante e do intérprete?Como a linguagem se relaciona com o mundo?
Os filósofos da linguagem não se ocupam muito do que significam palavras ou frases individuais. Qualquer dicionário ou enciclopédia pode resolver o problema do significado das palavras. O mais interessante é o que significa para uma palavra ou frase significar alguma coisa. Por que as expressões têm os significados que têm? Como uma expressão pode ter o mesmo significado de outra? E, principalmente: qual o significado de "significado"?
A pergunta "qual o significado do 'significado'?" não tem uma resposta óbvia. A tradição empirista tratou o significado do "significado" como uma idéia provocada por um signo. Teorias da condição de verdade tratam os significados como condições sob as quais uma frase envolvendo uma expressão pode ser verdadeira ou falsa. Teorias do significado como uso entendem o significado como algo relacionado a atos de fala e frases particulares. Teorias pragmatistas tratam o significado como conseqüência. Teorias referenciais do significado tratam o significado como algo equivalente às coisas no mundo conectadas às palavras que as designam.
A filosofia da linguagem também investiga a relação entre o significado e a verdade. Frases sem significado podem ser verdadeiras ou falsas? E as frases sobre coisas que não existem, como o Papai Noel? Quando dizemos que algo é verdade, o que é verdadeiro? A frase?
A questão do aprendizado da linguagem levanta questões interessantes. É possível haver pensamento sem linguagem? O quanto a linguagem influencia o conhecimento do mundo. É possível raciocinar sem linguagem?
O surgimento da linguagem é um fato fundamental na história humana. Não seria possível a organização dos seres humanos em sociedade sem a linguagem e vice-versa. Isso indica que a linguagem e a vida em sociedade devem ter surgido praticamente ao mesmo tempo. É difícil determinar qual a origem da linguagem, pois não há muitas pistas a seguir. As primeiras explicações sobre a origem da linguagem têm seus fundamentos na religião. Deus teria dado a Adão uma língua e a capacidade de nomear tudo o que existe. Haveria apenas uma língua, em que cada palavra teria apenas um significado. Mas como explicar a diversidade das línguas?

Torre de Babel

Na Bíblia, o Génesis conta que "o mundo inteiro falava a mesma língua, com as mesmas palavras" (Gn 11,1). Os homens resolveram, porém, criar uma cidade com uma torre tão alta que chegaria a tocar o céu e os tornaria famosos e poderosos. Então Deus, para castigá-los, fez com que ninguém mais se entendesse e os homens passaram a falar línguas diferentes. Assim, os construtores da torre se dispersaram e a obra permaneceu inacabada. A diversidade das línguas surge como forma de evitar a centralização do poder. A cidade dessa história bíblica ficou conhecida como Babel, que significa "confusão".

Rousseau e o 'grito da natureza'

O filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) supôs que a linguagem humana teria evoluído gradualmente, a partir da necessidade de exprimir os sentimentos, até formas mais complexas e abstractas. Para Rousseau, a primeira linguagem do homem foi o "grito da natureza", que era usado pelos primeiros homens para implorar socorro no perigo ou como alívio de dores violentas, mas não era de uso comum.
A linguagem propriamente dita só teria começado "quando as idéias dos homens começaram a estender-se e a multiplicar-se, e se estabeleceu entre eles uma comunicação mais íntima, procuraram sinais mais numerosos e uma língua mais extensa; multiplicaram as inflexões de voz e juntaram-lhes gestos que, por sua natureza, são mais expressivos e cujo sentido depende menos de uma determinação anterior". (Jean Jacques Rousseau, "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens").
Já o filósofo e psicólogo americano George Herbert Mead (1863-1931), contrariamente a Rousseau, afirmava que a linguagem gestual precedeu a linguagem falada. A necessidade de combinarem certos gestos para coordenarem suas acções durante as caçadas ou fugas de outros animais levou os homens a desenvolverem certos gestos comuns que se repetiam.

Mead e a experiência comum

Nesse processo, a comunicação se torna possível pelo fato dos indivíduos adoptarem o mesmo significado para um gesto evocando uma vivência anterior do próprio indivíduo. Segundo Mead, quando o gesto chega a essa situação, converte-se no que chamamos de "linguagem", ou seja, um símbolo significante que representa certo significado.
Com o passar do tempo, esse conjunto de gestos significantes dá lugar a formas mais elaboradas de linguagem, compondo um universo de discurso. Nesse estágio, o sentido já não é articulado apenas tendo por base a interiorização das expectativas de acção do outro. Há uma sofisticação da comunicação, que se torna possível pelo fato dos indivíduos adoptarem o mesmo significado para o objecto dentro deste universo de discurso.
"Esse universo de discurso é constituído por um grupo de indivíduos que conduz e participa de um processo social comum de experiência e comportamento, e no qual esses gestos ou símbolos significantes têm a mesma significação, ou uma significação comum para todos os membros do grupo... Um universo de discurso é simplesmente um sistema de significados comuns ou sociais." (Mead, G., "Mind, Self and Society").
Portanto, a forma como o indivíduo organiza sua experiência é determinada em grande parte pelo universo de discurso ao qual ele pertence e conforma seu imaginário social e as formas de simbolização de sua experiência. Mas será que os limites da minha linguagem e da minha cultura são também os limites para pensar e significar a realidade? Será que existem línguas mais apropriadas ao filosofar como o grego ou o alemão, por exemplo? Ou existiriam estruturas de pensamentos universais independentes da cultura e da linguagem?

Noam Chomsky

Uma sugestiva contribuição sobre esse tema foi elaborada pelo linguista e activista político americano Noam Chomsky (nascido em 1928), que revolucionou a linguística ao introduzir a relação entre o pensamento e a linguagem. Para Chomsky, a criança disporia de pouca informação da língua para aprender como a linguagem funciona. Ainda mais, se considerarmos que além de contarem com poucos estímulos, os adultos, muitas vezes, não ajudam a criança em seu aprendizado dizendo-lhes coisas sem muito sentido.
Mesmo assim, a maioria das crianças tem um domínio razoável da língua por volta dos dois anos de idade. Se considerarmos que a linguagem é um sistema bastante complexo com regras semânticas e sintácticas subtis e que o ambiente para o aprendizado da língua não é suficiente, então o que torna possível o seu aprendizado?
A explicação estaria na estrutura mental geneticamente determinada, na qual estaria fixado um conjunto de regras gerais para a utilização da linguagem, que são universais por necessidade biológica e não por simples acidente histórico, e que decorrem de características mentais da espécie.

'Gramática universal'

Chomsky define o conjunto de princípios e regras que determinam o uso da linguagem como "gramática universal". Trata-se de um sistema de princípios, condições e regras que são elementos ou propriedades de todas as línguas humanas. Esse sistema seria o resultado de um longo processo de evolução biológica, que constituiria a essência da linguagem humana.
Esta gramática universal seria, portanto, uma estrutura anterior ao aprendizado de qualquer gramática específica, pertencendo a um estágio inicial do cérebro. Ela não se identifica a nenhuma linguagem particular, mas é subjacente a todas as línguas possíveis.
Se a linguagem é aprendida a partir da interacção social e por ela condicionada ou é produto da relação entre o ambiente e as estruturas mentais geneticamente herdadas é algo que ainda não podemos afirmar com certeza. Tal questão permanece guardada como um fascinante segredo sobre sua origem.

As palavras e as coisas

A relação entre as palavras e as coisas é objecto de um longo debate na filosofia. Seriam os nomes que damos aos seres meras convenções ou seriam eles naturais e inerentes aos seres? Poderíamos chamar as mesas de cadeiras e as cadeiras de mesas, por exemplo?
Muitos povos antigos consideravam o nome como parte indissociável do seu ser. O nome seria tão parte da pessoa como suas mãos ou pés. Assim, o nome adquiria muitas vezes um carácter sagrado, cabendo ao indivíduo honrá-lo e defendê-lo. Ainda hoje, em muitas religiões, realizam-se ritos que tentam atingir uma pessoa através da manipulação do seu nome.
Entre os cristãos, era comum mudar de nome após converter-se ao cristianismo como símbolo de uma nova vida. Existem pessoas que acreditam que falando o nome da coisa a estamos chamando, como quando se fala da morte, por exemplo. Há outras que acreditam que não se deve falar de pessoas mortas.
Será que o nome da pessoa é parte de sua identidade ou poderíamos ter um nome diferente que isso não faria diferença? As pessoas se parecem com o nome que têm? Ou há pessoas que têm nomes que não combinam com elas?

 

Platão

Um diálogo interessante de Platão (428-347 a.C.) sobre o assunto aparece no "Crátilo". Platão inicia esse diálogo com uma discussão entre dois personagens: Crátilo e Hermógenes. Crátilo afirma que Hermógenes não deveria se chamar assim, já que "Hermógenes" significa "filho de Hermes" e para fazer jus a esse nome, Hermógenes deveria ser uma pessoa rica e não estar em dificuldades financeiras, como era o caso do personagem.
Hermógenes, no diálogo, defende a posição do convencionalismo, isto é, que os nomes não têm nenhuma relação com as coisas e são completamente arbitrários, podendo ser mudados segundo a nossa vontade. Já Crátilo defende a posição naturalista de que a cada coisa corresponde o seu nome e conhecer o nome significa saber o que a coisa. é.
Platão defende uma posição intermediária. Ele irá reconhecer que existe certo grau de convencionalismo, pois a mesma coisa pode ser chamada por nomes diferentes nas diversas línguas. Por outro lado, as pessoas não poderiam ficar trocando o nome das coisas à vontade, porque, nesse caso, a linguagem se tornaria impossível.
Aristóteles ocupou-se de questões de lógica, das categorias e do significado. Ele separou todas as coisas nas noções de gênero e espécie. Ele defendeu que o significado de um predicado é estabelecido através da abstração das similaridades entre várias coisas individuais. Tal teoria deu origem ao nominalismo, na Idade Média, mas há influência aristotélica também na posição oposta, o realismo sobre os universais. Dentre os medievais, Pedro Abelardo é notável pela antecipação de muitas idéias modernas sobre a linguagem.
O debate sobre o significado dos universais interessou a vários filósofos. Qual o significado de "pedra", por exemplo? Para os realistas a palavra refere-se a uma entidade abstrata. (A teoria das formas ou idéias de Platão é um exemplo de realismo.) Para os nominalistas a palavra é um som comum que utilizamos para designar cada pedra.
A filosofia da linguagem foi considerada importante por vários filósofos modernos, incluindo John Austin, Ferdinand de Saussure, Umberto Eco, Hegel, Herder, Wilhelm von Humboldt, Kant, Leibniz, Locke, Nietzsche, Charles Sanders Peirce, John Searle, Vico e Wittgenstein.
Embora os filósofos sempre tenham discutido a linguagem, ela começou a desempenhar um papel central na filosofia no final do século XIX. No século XX a filosofia da linguagem tornou-se tão central que em alguns círculos de filosofia analítica que os problemas da filosofia em geral foram tratados como problemas de filosofia da linguagem.

Ordem das coisas

Existe um limite para o convencionalismo, pois as palavras devem significar a essência daquilo que representam. Mesmo que as palavras variem de uma língua para outra, em cada uma delas a palavra sempre representa a essência daquilo que ela nomeia. Ela é um instrumento para representar a ordem das coisas.
Assim como existe uma ordem nas coisas, existe uma ordem na linguagem, que é tão mais verdadeira quanto melhor representar a ordem das coisas. Por isso, é necessária uma crítica da linguagem para que ela se torne mais fiel como instrumento para dar expressão à ordem natural das coisas. Tal tarefa cabe ao dialéctico, responsável por criar os nomes e fazer com que a palavra possa exprimir em sons a ideia correspondente à essência da coisa.
Contrariamente à posição de Platão, o filósofo inglês Guilherme de Ockham (1285-1349) é um dos principais defensores da doutrina conhecida como "termismo" ou "nominalismo". Segundo Ockham, o nome ou o termo "faz as vezes" do objecto na proposição. Ele apenas substitui a coisa real, mas ele mesmo não tem nada a ver com a coisa que designa, é apenas uma convenção que empregamos para nos referirmos às coisas.

Abstração

Somente os objetos singulares são reais. Como o número de palavras é limitado e o de objetos, infinito, uma mesma palavra acaba tendo de designar um grande número de objetos. Quanto maior o grupo de objetos que a palavra designa, mais abstracta ela se torna e mais vaga também. Por exemplo, eu posso ter uma idéia muito clara de quem seja André ou Maria, mas a idéia de "humanidade" já não é tão viva em nossa mente. Disso se conclui que as palavras se prestam melhor para se referir às coisas concretas e não para representar a essência (se é que ela existe), como pensava Platão.
Os termos abstractos seriam apenas construções de nosso intelecto, não estando de forma alguma nas coisas. Ou seja, as coisas não têm uma essência a ser simbolizada através do termo, nós é que atribuímos uma essência para elas através do processo de abstracção.

Convenção versus essência

Percebemos determinadas características nas coisas e estabelecemos uma relação de semelhança entre elas. Por exemplo, que determinados animais têm penas, bicos e são bípedes e os chamamos de aves. Essas características comuns estão presentes nos indivíduos singulares e nós as abstraímos formando uma idéia geral que se aplica a um grupo de indivíduos.
A "ave" em si, porém, não existe. O que existem são patos, galinhas e canários concretos dos quais chegamos à idéia geral de ave. O único modo de saber se essa abstracção é uma idéia verdadeira ou não é confrontá-la com o objecto real que ela pretende representar.
Muitos outros filósofos se envolveram no debate sobre se a relação entre as palavras e as coisas é puramente convencional ou a expressão da essência das coisas. Um deles, Pedro Abelardo (1079-1142), colocou o problema nos seguintes termos: se todas as rosas do mundo desaparecessem, o nome "rosa" ainda assim continuaria tendo significado? Por trás dessa questão se esconde a secreta relação entre as palavras e as coisas, além da teimosa recusa da linguagem em ser mero veículo de expressão dos objetos ou das idéias dos sujeitos.

Linguagem e mundo

As teorias da referência investigam como a linguagem interage com o mundo. Frege defendeu uma teoria da referência na qual uma expressão tem sua referência determinada pelo sentido ou modo de apresentação, isto é, pela maneira como o referente é apresentado ao falante. Em contraste, e em resposta ao idealismo de Bradley, Bertrand Russell criou uma teoria da referência direta.
A teoria da referência mediada de Frege difere da teoria da referência direta de Russell no tratamento dos nomes logicamente próprios. Na explicação de Russell, o único significado dos mesmos são seus respectivos referentes. Na explicação de Frege, qualquer expressão referencial tem um sentido e uma referência.
Nomes correferenciais, como "Samuel Clemens" e Mark Twain", causam problemas para a visão diretamente referencial em geral (embora não causem problemas especificamente para a teoria da referência direta de Russell, pois na mesma nem todos os nomes próprios gramaticais são nomes logicamente próprios). A teoria de Frege, por sua vez, encontra dificuldades na articulação e especificação das características dos sentidos.

Inteiração social e linguagem.

Os campos que examinam as condições sociais nas quais os significados e as linguagens emergem são chamados de metassemântica. A etimologia e a estilística são exemplos de áreas de investigação metassemânticas.
Na sociologia, o interacionismo simbólico é baseado na intuição que a organização social humana é baseada quase inteiramente sobre o uso de significados. Em conseqüência, qualquer explicação de uma estrutura social, como uma instituição, precisaria explicar os significados partilhados que criam e sustentam a estrutura.
Outra questão importante sobre mente e linguagem é em que medida a linguagem influencia o pensamento, e vice versa. Há várias perspectivas e sugestões. Por exemplo, a hipótese de Sapir-Whorf sugere que a linguagem limita a extensão na qual os membros de uma comunidade lingüística podem pensar sobre temas. (Há um paralelo dessa hipótese em 1984, romance de George Orwell).

Wittgenstein e os infinitos jogos de linguagem

Uma rápida comparação entre o "Tractatus Logico-Philosophicus" e as "Investigações Filosóficas" é suficiente para perceber a radicalidade da mudança no pensamento de Wittgenstein.
Embora permaneça com a mesma temática, ou seja, o problema da linguagem, o Wittgenstein das "Investigações Filosóficas" é profundamente crítico de si mesmo, a ponto de abandonar a forma sistemática e precisa do Tractatus, por aquilo que ele chamou de um álbum de "anotações" e "esboços de paisagens", às vezes saltando rapidamente de um tema a outro e usando imagens e metáforas.
Por outro lado, há certa continuidade no trabalho de Wittgenstein. No Tractatus ele pretendia romper com a visão tradicional da filosofia, que dava prioridade à função designativa da linguagem e pouca importância às relações entre as palavras ou entre as coisas no mundo. Nas "Investigações Filosóficas" ele aprofunda essa temática, criticando inclusive a si próprio.

 

Partes da realidade

Para Wittgenstein, o grande problema na filosofia da linguagem tem sua origem em Platão, que interpretava todas as palavras como nomes próprios, em que cada nome corresponde a um objecto. Os nomes comporiam as unidades simples das quais são tecidas as afigurações do mundo, sua estrutura lógica. Sempre seria possível reduzir as unidades complexas de significação aos seus elementos mais simples.
Nas "Investigações Filosóficas", Wittgenstein coloca esse modelo em xeque ao se perguntar quais são as partes simples que compõem a realidade. Por exemplo: quais são as partes constituintes simples de uma poltrona? A resposta, naturalmente, depende do contexto em que surgiu a pergunta, se ela parte de empregados de uma empresa interessados em desmontar a poltrona para transportá-la, ou de um cientista interessado em analisar os riscos de combustão dos materiais etc.
Ou seja, o que é "simples" ou "composto" é completamente dependente do jogo de linguagem que se está jogando. Mas o que é jogo de linguagem? Wittgenstein não nos dá uma definição, pois é justamente com essa visão de filosofia que está tentando romper: a de que cada palavra corresponde a um objecto.

Jogos de linguagem

A linguagem não é uma coisa morta em que cada palavra representa algo de uma vez por todas. Ela é uma actividade humana situada cultural e historicamente. Os jovens, por exemplo, adoram usar termos diferenciados que correspondem ao seu grupo, mas que fora dele poucos compreendem. Assim, "radical" já foi usado para designar algo que é "maneiro" ou "massa", um sujeito "legal" pode ser considerado "sangue bom" ou "moral" dependendo do lugar onde viva.
A idéia de jogos de linguagem rompe com a visão tradicional de que aprender uma língua é dar nomes aos objetos. Imagine que você está em um passeio turístico e se perdeu de seu grupo. No lugar em que você está a população só fala o idioma local, que você desconhece. Como você faria para se comunicar?
Talvez você tentasse se comunicar primeiro por mímica ou tentasse desenhar o que queria. Os nativos falariam alguma coisa na língua deles e você talvez repetisse na esperança de estabelecer algum laço de comunicação. Talvez com um bocado de paciência vocês acabassem se entendendo e essa história acabaria tendo um final feliz. Naturalmente, ocorreriam muito mais equívocos do que acertos, isso porque mesmo gestos que para nós são banais como acenar a cabeça, podem significar coisas muito diferentes em outra cultura.

Linguagem e forma de vida

É claro que designar objetos é uma parte importante da linguagem, mas ela não se reduz a isso. Mesmo uma criança quando está aprendendo a falar ainda não é capaz de entender elucidações indicativas (mímica, jogos com os olhos), justamente por desconhecer o significado daquela palavra que queremos elucidar.
Como ilustra Wittgenstein, quando mostramos um objecto para uma criança e dizemos: "este é o rei", essa elucidação só passa a fazer sentido enquanto denominação de uma peça de xadrez se a criança "já sabe o que é uma figura do jogo". O que pressupõe que ela já tenha jogado outros jogos ou que tenha assistido a outras pessoas jogando "com compreensão" ("Investigações Filosóficas", § 31).
Portanto, o aprendizado de uma língua não pode ser visto apenas como mero aprendizado da designação de objetos isolados. Esse é apenas um ato secundário dentro de um processo em que a criança, ao mesmo tempo em que aprende a língua materna, também se apropria de um determinado entendimento do mundo. A criança aprende junto com a linguagem uma determinada forma de vida.
Formas de vida e jogos de linguagem constituem, portanto, as categorias centrais da nova imagem da linguagem elaborada por Wittgenstein. Nessa nova imagem, a linguagem é sempre ligada a uma forma de vida determinada, contextualizada dentro de uma praxis comunicativa interpessoal.

Wittgenstein: pragmática antes da semântica

Diferentes formas de vida apresentam diferentes modos de uso da linguagem, ou melhor, diferentes jogos de linguagem. Wittgenstein pretende acentuar, com o conceito de jogos de linguagem, que a partir de diferentes contextos seguem-se diferentes regras de uso das palavras.
Tal posição implica uma mudança na filosofia. Essa mudança coloca a pragmática como anterior à semântica, ou seja, o uso da linguagem em contextos determinados acima de seu significado estabelecido, pois o significado das palavras e frases só pode ser resolvido pelo uso que se faz delas em contextos pragmáticos.
Só podemos avaliar se o emprego de uma determinada palavra é correcto ou não dentro do contexto de uma comunidade linguística que dela faz uso, pois é justamente o acordo da comunidade que torna a comunicação possível. "Correcto e falso é o que os homens dizem, e na linguagem os homens estão de acordo. Não é um acordo sobre as opiniões, mas sobre o modo de vida" ("Investigações Filosóficas", § 241).

Linguagem depende da liberdade humana

O modo de vida se assenta em hábitos determinados, intersubjectivamente válidos, que constituem os jogos de linguagem. Já que, como diz Wittgenstein, não se pode seguir uma regra apenas uma vez, ou dito de outra maneira: aprendo o significado de um signo porque fui treinado "para reagir de uma determinada maneira a este signo e agora reajo assim" ("Investigações Filosóficas", § 198). A comunidade que participa de um jogo de linguagem estabelece determinados hábitos compartilhados por seus participantes.
A linguagem é resultado da interacção social historicamente determinada, na qual os sujeitos se inserem, não sendo, portanto, um fenómeno puramente natural. Ela é dependente da capacidade de criação e liberdade humanas, sempre aberta à invenção e modificações como qualquer outra instituição social.
O fato de nos apropriarmos do uso da linguagem como quem domina uma técnica não significa que o fazemos de um modo puramente mecânico. Cada participante é capaz de interpretar a regra de um modo inovador e assim provocar mudanças na significação das expressões linguísticas. Afinal, as regras são apenas “indicadoras de direcção", nada mais que isso. O emprego que fazemos dos indicadores de direcção permanece aberto a interpretações, pois "cada interpretação, justamente com o interpretado, paira no ar; ela não pode servir de apoio a este. As interpretações não determinam sozinhas a significação" (IF, § 198).

Usuários e inventores da língua

É por isso que Wittgenstein usa a expressão "jogos de linguagem", pois é no jogo que os sujeitos elaboram consensos sobre as regras a serem seguidas e, eventualmente, as modificam (IF, §§ 84, 85). Cada um de nós, portanto, é ao mesmo tempo usuário e inventor da língua. Nessa nova maneira de ver a linguagem, Wittgenstein realiza uma crítica ainda mais radical da metafísica, que busca encontrar uma "essência" ou "substância" última das coisas. Para ele, não existe um sentido a ser buscado fora daquele que estamos acostumados a usar.
Os problemas filosóficos começam justamente por nos alienarmos do uso comum da linguagem cotidiana, comprovado pela prática, e extraímos um termo do seu jogo de linguagem: "Quando os filósofos usam uma palavra - 'saber', 'ser', 'objeto', 'eu', 'proposição', 'nome' - e quando tratam de apreender a essência da coisa, então é preciso sempre perguntar: essa palavra é realmente usada assim, na língua em que ela se sente em casa? — Nós acabamos por reconduzir as palavras de seu uso metafísico a seu uso cotidiano" ("Investigações Filosóficas", § 116).
Cabe ao filósofo realizar uma "terapia" da linguagem através da elucidação dos conceitos em seus jogos de linguagem específicos. Novamente, Wittgenstein relega um papel bastante modesto para a filosofia: "A filosofia deixa tudo como está".
Wittgenstein não deixou, porém, tudo como estava com sua filosofia. Ele abriu uma intensa discussão na filosofia sobre se podemos passar de um dos infinitos jogos de linguagem ligados às formas de vida para outro ou se seriam realmente incomensuráveis, o que levaria inevitavelmente ao relativismo. Austin e Searle e os atos de fala.
Costuma-se dizer que "quem fala demais não faz", ou que se deve "falar menos e agir mais". Tais provérbios indicam uma quase oposição entre o agir e o falar. Mas você ficaria surpreso se alguém lhe dissesse que é possível agir através de palavras? Ou que, em alguns casos, podem-se fazer coisas através da fala? Pois é justamente disso que trata a teoria dos atos de fala.

Atos de fala

A teoria dos atos de fala foi elaborada inicialmente por John L. Austin (1911-1960) e desenvolvida posteriormente por J.R. Searle. Austin parte da teoria pragmática de Wittgenstein de que é o uso das palavras em diferentes interacções linguísticas que determina o seu sentido. Esse sentido, porém, não se reduz apenas ao das proposições declarativas do tipo: "a parede é azul".
Vimos com Wittgenstein que, dependendo do jogo de linguagem, o sentido de uma proposição pode mudar. Por isso, é necessário investigar os diversos tipos de enunciados que, diferentemente do exemplo acima, não são uma mera constatação de coisas.
Ao investigar essa questão, Austin descobre que determinadas sentenças são na verdade acções. Ou melhor, que dizer é fazer, na medida em que, ao proferir algo, estou simultaneamente realizando uma acção. Vários são os tipos de acções que podemos realizar ao dizer algo. Quando, por exemplo, digo "sim" perante um juiz ou padre; ao dizer: "nos encontraremos amanhã pela tarde" para um colega; ou ainda, quando pergunto a um amigo: "você tem dez reais para me emprestar?".
Em cada uma dessas frases é realizada uma acção, embora seu sucesso não dependa apenas do sujeito que as profere, mas de uma série de condições. Por exemplo, a noiva pode dizer "não"; posso, mesmo contra a minha vontade, faltar à reunião; meu amigo pode não ter o dinheiro para me emprestar. Isso, contudo, não significa que o que eu disse é falso, apenas que não teve sucesso, do mesmo modo que ocorre com outras acções, quando, por exemplo, corro para pegar o ônibus, mas chego tarde demais. Tendo sucesso ou não, prometer, pedir, exigir, protestar, jurar etc. já são acções por si mesmas.

Diferentes tipos de atos de fala

Chamamos de ato de fala, portanto, a toda acção que é realizada através do dizer. As acções que se realizam através dos atos de fala podem ser muito diferentes. Daí a necessidade de distinguir as diversas dimensões que um ato de fala possui. Falamos em dimensões porque em uma única locução podemos realizar diferentes atos de fala. Por exemplo, na frase: "o senhor está pisando no meu pé", realizo ao mesmo tempo três atos de fala.
O primeiro dele é o acto locucionário, ou seja, o ato de dizer a frase. O segundo ato é o que Austin chama de ilocucionário, o ato executado na fala, ou seja, ao proferir um ato locucionário. Nesse caso, ao dizer "o senhor está pisando no meu pé" não tive a simples intenção de constatar uma situação, mas a de protestar ou advertir para que a outra pessoa parasse de pisar no meu pé. Por fim, há ainda um terceiro ato, chamado de perlocucionário, que é o de provocar um efeito em outra pessoa através da minha locução, influenciando em seus sentimentos ou pensamentos. Na situação descrita, para que o outro tire o pé de cima do meu.
Temos assim o ato locucionário de dizer algo, o ato ilocucionário que realiza uma acção ao ser dito e o perlocucionário quando há a intenção de provocar nos ouvintes certos efeitos (convencer, levar a uma decisão etc.).
É claro que nem todas as expressões são dotadas dessas três dimensões, pois isso depende da força ilocucionária de um ato de fala. A força ilocucionária é algo bem diferente do significado puro e simples da frase, pois ela está directamente ligada às interacções sociais que se estabelecem entre os falantes, relações que podem ser de autoridade, cooperação etc.

Tipos de expressão

Austin classificou em cinco grupos os tipos de expressões de acordo com a força ilocucionária de cada uma delas. São elas:
1) Expressões veridictivas: que dão um veredicto sobre determinado assunto, podem ser feitas por um juiz, um médico falando sobre uma doença, ou mesmo em situações cotidianas em que sustentamos algo com base em valores ou provas;
2) Expressões exercitivas: consistem em tomar uma decisão a favor ou contra determinado comportamento. Diferenciam-se da situação anterior por não serem apenas juízo, mas decisão. Exemplos: proibir, estimar, confiar, prescrever, conceder, exigir, propor etc.
3) Expressões comissivas: aquelas que comprometem o falante com o cumprimento de algo. Exemplos: jurar, garantir, provar, combinar etc.
4) Expressões condutivas: trata-se de uma reacção em relação ao destino ou conduta de outros. Exemplos: felicitar, criticar, saudar, desejar, lamentar, queixar-se etc.
5) Expressões expositivas: sua intenção é tornar claro como a expressão do falante deve ser considerada para permanecer fiel ao seu pensamento. Exemplos: comunicar, relatar, testemunhar, reconhecer, corrigir etc.

Papel da filosofia

Ao apresentar a teoria dos atos de fala, ou de que o uso da linguagem tem precedência sobre a semântica, nos distanciamos das posições essencialistas da filosofia. Por outro lado, parece que a filosofia não tem mais nada a fazer ou que se confundiu com a sociologia ou antropologia.
Segundo Austin, existe um campo de investigação que é próprio da filosofia e que só ela é capaz de realizá-lo. Trata-se da análise da linguagem que parte da linguagem comum, como outras ciências, mas que não permanece na mera superfície dos fenómenos. Interessa à filosofia não o uso que se faz de uma língua nesta ou naquela cultura, mas sim as regras subjacentes às diferentes interacções linguísticas.
Ao contrário do cientista, que busca regularidades empíricas através de entrevistas com os usuários de uma determinada língua, o filósofo realiza um saber reconstrutivo da língua como um sistema de acção regrada. Ou seja, interessa à filosofia quais as condições de possibilidade de funcionamento de uma linguagem. Por exemplo: o que torna possível um ato de fala?
A filosofia não busca meramente apresentar os fenómenos, mas entender as condições de possibilidade e de validade em que eles se realizam. Dizer, por exemplo, que o sentido de uma locução é dependente do contexto, não explica como é possível traduzir uma expressão de uma língua para outra. A tradução mostra justamente que é possível passar de um jogo de linguagem para outro, o que colocaria a questão: será que além dos contextos específicos em que se realiza uma fala, não existem determinadas regras ou condições que são independentes do contexto? Ou ainda: existem regras comuns a qualquer jogo de linguagem (por exemplo, seguir regras)?
Austin não chegou a investigar sobre a possibilidade de fazer uma crítica da linguagem a partir de princípios normativos, isto é, a partir de uma "metarregra" ou "metalinguagem" capaz de oferecer critérios para avaliar a linguagem comum, mas abriu o caminho para uma nova geração de filósofos contemporâneos, como John Searle, Jürgen Habermas e Karl-Otto Apel, entre outros.

Habermas, Apel e a ética na linguagem

A teoria dos jogos de linguagem de Wittgenstein e a dos atos de fala de Austin e Searle influenciaram decisivamente os filósofos alemães Jürgen Habermas (1929) e Karl-Otto Apel (1922), que desenvolveram, primeiro conjuntamente e depois cada um ao seu modo, a chamada ética do discurso.
A ética do discurso parte do pressuposto de que existem algumas regras no uso da linguagem que possuem um conteúdo normativo, isto é, que condicionam determinadas formas de agir. Ora, o agir é justamente o assunto da ética. Então, se é possível agir através da linguagem, como vimos na teoria dos atos de fala, seria igualmente possível extrair regras de ação a partir das estruturas da linguagem? Investigando essa questão, Habermas e Apel chegaram a uma resposta semelhante por caminhos diferentes. Habermas partiu da distinção de Austin entre atos de fala ilocucionários e perlocucionários. Segundo Habermas, os atos perlocucionários corresponderiam a certo tipo de ação, que é a ação estratégica, ou seja, aquela em que uma pessoa usa a outra como um meio para realizar um determinado interesse.

Uso parasitário da linguagem

Esse uso estratégico, típico de situações de manipulação e engano, só é possível porque a linguagem está voltada para o entendimento. Ou seja, nosso objectivo ao nos comunicar é o entendimento. É sobre essa base de entendimento que o uso estratégico se instala como um uso parasitário da linguagem.
Se eu, por exemplo, pretendo pedir dinheiro a um amigo, sei que ele não vai me emprestar se souber que é para comprar drogas; então invento um motivo aceitável para que ele me empreste. Esta é a diferença entre o uso comunicativo e o uso estratégico da linguagem: enquanto no uso comunicativo o entendimento se realiza ao tornar explícito o que cada um dos participantes pretende ao dizer algo, o uso estratégico não pode confessar-se enquanto tal para que a acção possa ter sucesso. Por isso, Habermas chama o uso estratégico da linguagem de parasitário, porque ele só é possível quando pelo menos uma das partes toma como ponto de partida que a linguagem está sendo utilizada no sentido do entendimento.

Teoria da ação comunicativa

Para Habermas, só a interacção voltada para o entendimento, que se realiza no interior do mundo da vida, onde os participantes harmonizam sem reservas seus planos individuais e buscam, por conseguinte, sem reserva alguma seus fins ilocucionários, pode ser chamada de acção comunicativa. São acções em que os participantes, através de atos de fala, só perseguem fins ilocucionários. Se ao menos um dos participantes na comunicação pretender, através de seus atos de fala, realizar fins perlocucionários, então se trata de uma acção estratégica mediada linguisticamente.
O uso da linguagem busca alcançar comunicativamente um consenso sob uma base racional. Este acordo não pode ser forçado por um influxo externo ou mediante o uso da violência, pois não se trataria de um acordo e sim de uma imposição.
Partindo do uso comunicativo da linguagem, livre de coerção e voltado para o consenso, Habermas elabora o princípio D (de discurso) da ética: "Toda norma válida deveria poder encontrar o assentimento de todos os afectados se estes participassem em um discurso prático". Resta acrescentar que Habermas entende por discurso prático o diálogo voltado para o consenso e livre de violência entre todos os sujeitos capazes de argumentação.

Falsos consensos

É comum em nossa sociedade que os que têm mais dinheiro e poder imponham sua vontade e interesses aos outros, ou que se fabriquem falsos consensos através da manipulação de informações de forma unilateral. Os grandes meios de comunicação são um bom exemplo disso, pois difundem certas visões de mundo sem permitir que sejam submetidas à crítica. Grande parte do público acaba acatando tais opiniões como se fossem verdades indiscutíveis.
A saída apontada por Habermas seria a democratização cada vez maior das formas de tomada de decisão na sociedade e a substituição de formas ideológicas de formação de consenso por formas comunicativas, orientadas pelo critério do melhor argumento e não de quem tem mais poder e dinheiro, como é hoje. Se problemas como o aquecimento global e a fome afectam, em maior ou menor grau, todos os habitantes do planeta, por que só meia dúzia de chefes de Estado ou de banqueiros devem decidir sobre eles? Por que imaginar que eles estariam mais habilitados para encontrar soluções, se são eles próprios os grandes causadores dos problemas?

O a priori da comunidade de comunicação

Na mesma linha de raciocínio, Karl-Otto Apel postula a necessidade de se fundamentar uma ética capaz de responder às grandes crises de nosso tempo. Tal fundamento Apel encontrará igualmente na linguagem. A linguagem possui regras pragmáticas que são transcendentais, no sentido de não poderem ser negadas. Não é possível, por exemplo, negar a situação de argumentação, pois ao tentar fazer isso acabamos por provar justamente o contrário. Se alguém disser "eu não acredito que seja impossível não argumentar, porque...", ele já esta argumentando, caindo assim no que Apel chama de contradição performativa. Portanto, todo aquele que participa de uma comunidade real de argumentação pressupõe determinadas regras a priori que orientam a discussão dos participantes.

Se alguém mentir o tempo todo, por exemplo, ele não vai conseguir se comunicar. Para que a mentira seja possível há o pressuposto de que a linguagem está voltada para o entendimento e não para o engano. Dessa forma, todo aquele que argumenta pressupõe uma comunidade ideal de comunicação de modo a priori, que é antecipada contrafaticamente em nossas interacções cotidianas. Disso, Apel deriva duas consequências éticas:
1) A comunidade real (onde predomina a acção estratégica) deve buscar aproximar-se da comunidade ideal de comunicação, ou seja, da tomada de decisões através de consensos construídos argumentativamente, livres de coerção e violência.
2) Deve-se assegurar a sobrevivência da humanidade, enquanto comunidade real, como condição de possibilidade para a realização da comunidade ideal de comunicação.
Apesar das divergências tornadas públicas em várias publicações e debates, Apel e Habermas têm mais pontos em comum do que diferenças. Ambos estão empenhados em apresentar soluções para problemas contemporâneos, da clonagem de seres humanos ao fortalecimento de instituições internacionais mais democráticas e plurais. Além disso, têm também em comum o fato de aplicarem a si próprios os princípios que preconizam, submetendo seus pontos de vista à crítica e à autocorreção.

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