Com o presente tema, acima supracitado pretendemos apresentar em breve resumo o sentido da morte sob ponto de vista da realidade cristã. O que é a morte para um cristão? Como um cristão deve encarar a o fenómeno da morte?
Para desenvolver o nosso tema teremos que recuar no tempo anterior ao cristianismo, pois é lá onde poderemos encontrar a origem da morte e o desenvolvimento ou posicionamento sobre ela.
A Sagrada Escritura, ou seja, a Bíblia com o Antigo e Novo Testamentos nos fornece uma visão clara sobre o sentido da morte e do desenvolvimento do pensamento em torno da morte que caracterizou o período anterior ao cristianismo que é representado pelo Antigo Testamento. O Novo Testamento representa a era do cristianismo e a morte é vista e encarada num outro sentido, mas as bases desta nova visão encontramo-las também no Antigo Testamento.
A MORTE
De acordo com o segundo relato da criação o Homem foi formado a partir de duas matérias a saber: matéria física (palpável e visível) e matéria espiritual (invisível e impalpável) «Então Iahweh Deus modelou o homem com argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente» (Gn 2,7). Portanto, o homem é formado pela matéria que é o corpo (corruptível, finito) e pelo espirito (incorruptível e infinito).
A morte é a separação destas duas matérias, ou seja, do corpo e do espirito de acordo com o cristianismo. Podes contrastar esta realidade na pessoa de Jesus aquando da sua morte «e Jesus deu um forte grito: ˝Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. Dizendo isso, expirou» (Lc 23,46); «Quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado E inclinado a cabeça, entregou o espirito» (Jo 19,30).
VISÃO DA MORTE NO ANTIGO TESTAMENTO
Analisando o Antigo Testamento podemos encontrar dois pontos de vista em relação a morte. O primeiro ponto de vista é aquele que apresenta uma visão negativa da morte e o segundo ponto de vista realça uma visão positiva da morte.
Visão negativa da morte
A visão negativa da morte é aquela que defende a morte como o fim de tudo «Com efeito, não é o Xeol que te louva, nem a morte que te glorifica pois já não esperam em tua fidelidade aqueles que descem a cova. Os vivos, só os vivos é que louvam, como faço hoje. O pai dá a conhecer aos filhos a tua fidelidade» (Is 38, 18-19). Os seus seguidores ou defensores defendem ou pensam que depois da morte não existe mais nada, ou seja, não podemos esperar alguma coisa depois da morte ou dos mortos.
Outro aspecto predominante na visão negativa da morte tem a ver com o facto de muitos encararem a morte como resultado de uma maldição, castigo ou punição divina. Portanto a morte seria um resultado da desobediência, ou seja, algo feito pelo homem e que desagradou a Deus «E agora, Senhor, lembra-te de mim, olha para mim. Não me castigues por meus pecados, nem por minhas inadvertências, nem pelas de meus pais. pois pecamos em tua presença e desobedecemos a teus mandamentos; e nos entregastes ao saque, ao cativeiro e à morte, ao escárnio, à zombaria e ao vitupério de todos os povos entre os quais nos dispersastes». (Tb 3,3-4).
Visão positiva da morte
A visão positiva da morte é aquela que sustenta a ideia de que:
A morte não é o fim de tudo. A partir de um certo momento, nasceu no seio de Israel e no meio da comunidade judia a ideia da existência e da esperança de algo após a morte «E Muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno. Os que são esclarecidos resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que ensinam a muitos justiça serão como as estrelas, por toda a eternidade» (Dn 12,2-3).
Dentro desta visão positiva da morte surge a ideia da retribuição e da ressurreição, factos estes que ocorrem após a morte.
Veja também os seguintes trechos bíblicos: Jb 4, 8-9.
TIPOS DE MORTE
Existem dois tipos de morte. A morte física e a morte espiritual.
MORTE FISICA: é aquela á aquela que atinge todo o homem, ou seja, todo ser vivo.
MORTE ESPIRITUAL: é aquela em que o homem se encontra privado do relacionamento com Deus, ou seja, quando o homem perde a possibilidade de viver uma vida feliz na eternidade com Deus, devido aos pecados cometidos.
VISÃO DA MORTE NO NOVO TESTAMENTO
Com a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a morte perdeu a sua imponência diante da vida. A morte passou a ser encarada como uma passagem, transformação ou estagio que nos conduz para uma outra vida melhor. Portanto, neste caso a morte já não poderia ser encarada ou vista num sentido negativo.
Todo cristão deveria desejar morrer, pois somente a morte nos garante o encontro e a vivência com Deus, em Jesus Cristo. O que dissemos anteriormente é sustentado pelo Catecismo da Igreja Católica nº 1010 «Graças a Jesus Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro» (Fil 1,21). «É digna de fé esta palavra: se tivermos morrido com Cristo, também com Ele vivemos (2 Tim 2,11)».
A verdadeira morte é aquela que acontece com o pecado, pois esta não dá a possibilidade de o homem estar junto de Deus. As aqueles que morrerem na graça de Deus, o próprio filho de Deus, Jesus Cristo lhes garante que não morrerão «Em verdade, em verdade, vos digo: se alguém guardar a minha palavra jamais verá a morte» , «E a vontade daquela que me enviou é esta: que eu não perca nada do que ele me deu, mas ressuscite no ultimo dia. Sim, esta é a vontade de meu pai: quem vê o filho e nele crê tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia» (Jo 6,39-40).
A MORTE COMO TRANSFORMAÇÃO
A morte serve para nós como meio de passagem para uma outra vida. A morte nos transforma «Digo-vos, irmãos: a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdará a incorruptibilidade. Eis que vos dou a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final, sim a trombeta tocara, e os mortos ressurgiram incorruptíveis, e nós seremos transformados. Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a incorruptibilidade e que este ser mortal revista a imortalidade. Quando, pois, este ser corruptível tiver revestido a incorruptibilidade e este ser mortal tiver revestido a imortalidade, então cumprir-se-a a palavra da Escritura: A morte foi absorvida na vitória. Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão» (1 Cor 15,50-55), e nós hoje podemos testemunhar este facto graças ao baptismo que recebemos, pois com ele, nós morremos com Cristo para depois ressuscitarmos com ele, já transformados para uma vida nova. É Cristo que transforma a morta .
OS MORTOS E OS VIVOS DIANTE DO SENHOR
Estar vivo ou morto é indiferente para o cristão? Vejamos o que nos esclarece São Paulo na sua primeira carta ao Tessalonicenses e aos Romanos:
«Irmãos, não queremos que ignoreis o que se refere aos mortos, para não ficardes tristes como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também os que morreram em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia. Pois isto vos declaramos segundo a palavra do Senhor: que os vivos, os que ainda estivermos aqui para a Vinda do Senhor ,não passaremos à frente dos que morreram. Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz d0 arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitaram primeiro; em seguida nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor, nos ares. E assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras» (1 Tes 4,13-18).
Este trecho bíblico salienta que o que importa é o estado de graça que devemos estar no momento do julgamento. Vejamos como são Paulo defende esta posição na carta aos Romanos:
«Pois ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer moramos, pertencemos aos Senhor. Com efeito, Cristo morreu e reviveu para ser o Senhor dos mortos e dos vivos» (Rom 14,7-9).
COMO SERA A VIDA DEPOIS DA MORTE?
A vida depois da morte será diferente da actual, diferente desta que temos na terra. Certos homens do tempo de Jesus, também quiseram opor a prova sobre como seria a vida depois da morte contando uma história de uma mulher que em vida tinha sido casada por sete homens. depois da morte de quem seria esta mulher? Foi a questão que eles colocaram a Jesus ao que respondeu: «Estais enganados, desconhecendo as as Escrituras e o poder de Deus. Com efeito, na ressurreição, nem eles se casam e nem elas se dão em casamento, mas são todos como anjos no céu» (Mt 22, 29-30).
São Paulo também nos deu uma indicação de como seria a vida depois da morte. Ele procurou dissipar algumas ideias que nós preconcebemos sobre a vida depois da morte, dizendo: «Porquanto o Reino de Deus não consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espirito Santo.» (Rom 14,17).
Concluindo esta minha breve reflexão sobre a morte diria que é muito importante para vós ministros da esperança transmitir a verdadeira doutrina cristã sobre a morte no meio da nossa cultura e dos nossos valores tradicionais. Como ministros de esperança deveis estar presentes em todos momentos da vida do doente e dos moribundos para que se sintam confortados e fortalecidos espiritualmente.