quinta-feira, 27 de setembro de 2012

AS AVENTURAS DE PINÓQUIO


                                                                                              Introdução
As aventuras de Pinóquio ou história de um boneco é um romance que foi escrito por Carlo Collodi, em Florença no ano de 1881e publicado dois anos depois com ilustrações de Enrico Mazzanti, pseudónimo de Carlo Lorenzini, (1826-1890).

O Autor
Carlo Collodi foi um jornalista e escritor italiano do século XIX, famoso por haver criado o Pinóquio. Iniciou sua carreira escrevendo num catálogo de uma livraria florentina. Tornou-se um jornalista de sucesso e em breve escrevia para jornais de toda a Itália. Fundou, então, um jornal próprio, que foi fechado pela censura, em 1848. Este jornal foi reaberto onze anos depois, por ocasião do plebiscito em que se votou a anexação da cidade-estado ao Piemonte.
Voluntário na Guerra de independência italiana entre 1848 e 1860, antes havia sido comediante. Em 1856, adotou o pseudônimo de "Carlo Collodi", que o tornaria famoso.
Publicou as obras "Gli amici di casa" e "Un romanzo in vapore. Da Firenze a Livorno. Guida storico-umoristica", por volta de 1856. Seu primeiro livro infantil foi de 1876, e intitulava-se "Racconti delle fate", uma tradução do francês. No ano seguinte escreve "Giannettino" e em 1878, "Minuzzolo". Em 1881 inicia a publicação do "Giornale per i bambini" (Jornal para as crianças) primeiro periódico italiano voltado para o público infantil. Foi ali que, em curtos capítulos, publica originalmente a "Storia di un burattino" (História de um Boneco) primeiro título das Aventuras de Pinóquio. Publicou ainda outros contos, como "Storie allegre", de 1887 mas nenhum deles alcançou o sucesso de sua obra-prima.

O Livro
Desde a sua publicação, o livro de Pinóquio tem sido traduzido para os mais diferentes idiomas. Muito adaptada, a versão mais conhecida foi realizada por Walt Disney, em 1940, que conta uma história muito diferente da que foi escrita por Collodi. Diferentemente das versões amplamente divulgadas, a história original de Pinóquio narra sua evolução de simples boneco para merecedor da condição de "ser humano".
O actual livro do qual fizemos o presente resumo, contém ilustrações de Attilio Mussino e foi publicado em 2008 pela Giunti Editores em Firenze e Milão na Itália. A história enquadra-se no contexto da literatura infanto-juvenil. Devido a sua importância mundial, esta obra, nos move a escrever um breve resumo que relate os oito primeiros capítulos das aventuras e desventuras de Pinóquio, a nossa finalidade é de apreciar e mergulhar nesta extraordinária figura que junto ao seu criador ou pai, Gepeto desenrolam uma encantadora história dos anseios humanos.
CAPÍTULO I
Neste capítulo se fala da génese de Pinóquio que começa quando o carpinteiro mestre Cereja toma um pedaço de pau para fazer um pé de mesa. Subitamente sai daquela madeira uma voz que reclamava e se lamentava sempre que o mestre a tocava. Isto assustou o mestre mas pensava que fosse sua voz interior. Na última intervenção, quase vencido pelo temor, o velho Cereja é interrompido por Gepeto que bate à porta com insistência.

CAPITULO II
Quando entra o mestre Gepeto, Cereja após uma conversa que introduzia a situação por que estava passando, apresenta-lhe o pau falador e o seu desejo de fazer dele um boneco. O mestre Gepeto tinha a alcunha de Polentina que lhe foi dado pelos rapazes da vizinhança para o seu desgosto. Após uma discussão os dois velhos comprometeram-se permanecer bons amigos pelo resto de sua vida. Gepeto retira-se na esperança de um dia fazer daquele pau um boneco de madeira.

CAPITULO III
Regressado à casa Gepeto começa a trabalhar afincadamente na madeira. Numa conversa animada e às vezes aborrecedora e intercalada com gozos e piadas do pau falante, o velho mestre vai lapidando e moldando uma nova criatura que no fim lhe põe o nome de Pinóquio, dizendo: “Conheci uma família de pinóquios. Era Pinóquio pai, Pinóquia, a mãe, Pinóquios, os filhos. E o mais rico pedia esmola”. É um boneco que ri, goza e possui um nariz longo. Gepeto maravilha-se pela obra das suas mãos: é o seu filho que a natureza lhe negou. Contudo, Pinóquio foge da casa e uma vez capturado, arma ciladas que culminam com a prisão de Gepeto. Pinóquio entra numa aventura e desventura que farão dele um boneco sofredor ao longo da sua vida.

CAPITULO IV
De regresso à casa, Pinóquio depara-se com um Grilo-falante que durante a conversa lhe dá conselhos em forma de piadas. A resistência do grilo-falante em abandonar o lugar, as suas atitudes e seus conselhos desagradam a Pinóquio e por isso, esmaga-lhe a cabeça com um martelo.

CAPITULO V
Ao entardecer, Pinóquio lembra-se que não havia comido nada ao longo do dia. Sua fome vai crescendo gradualmente, mas não encontra nenhum alimento. Entre bocejos que lhe rasgam a boca até às orelhas, descobre um ovo. Prepara a frigideira para fritá-lo mas ao partir o ovo, um pintainho levanta voo grato pela libertação oferecida. O boneco fica perplexo, esmigalhado e com as cascas do ovo na mão. Instantes depois Pinóquio recorda-se dos conselhos do grilo-falante e por fim esconjura a fome!

CAPITULO VI
Numa noite de inverno, de frio e de relâmpagos, Pinóquio cheio de fome e de medo, se põe a caminho em direcção à vila que a encontra deserta, sem um cão sequer na rua. Puxa da campainha e começa a tocá-la esperando por compaixão de alguém. Um velhinho aparece á janela e deita-lhe no seu corpo um balde de água. É o desastre! Parte cheio de frio, trémulo e angustiado, com fome e cansado para casa aonde chega e dorme com os pés postos na lareira. Despertado pela voz do pai, Pinóquio descobre-se com os pés todos queimados! Afinal eram de madeira!

CAPITULO VII
Gepeto está à porta e pede para entrar em casa. Pinóquio engana ao pai dizendo que seus pés foram comidos pelo gato. Narra sua aventura com o grilo-falante e culpa-lhe pela morte. Fala da sua fome e do banho frio. O pai Gepeto, compadecido, dá-lhe as suas três peras que trouxera para si.

CAPITULO VIII
Gepeto repara os pés de Pinóquio e numa conversa alongada com o pai, o boneco promete nunca mais escapulir-se de casa. Em compensação pelos novos pés, Pinóquio promete ir à escola sob condição de lhe comprarem um Silabário. Gepeto vende seu casaco e compra o livro. Pinóquio agradece ao gesto com abraços e beijos ao Pai.

Conclusão
Como se pode ver, esta história não só serve para crianças como também para todas as faixas etárias: crianças, adolescentes, jovens, adultos, velhos e idosos. Em cada parcela ou capítulo desta história deparamo-nos com um novo ensinamento, uma nova descoberta do nosso eu e do nós que fica sepultado nas “Aventuras de Pinóquio” que de madeira aspira ser um autêntico ser humano. Decerto, cada um de nós mergulhados num mundo mais “desumano” auguramos ser verdadeiros seres humanos e protagonistas da nossa história.

O I ENCONTRO DE ÁFRICA COM O CRISTIANISMO


No presente trabalho vamos falar sobre “o Primeiro encontro de África cm o cristianismo”, particularmente nos seguintes espaços geográficos: Egipto, África do Norte, Núbia e Etiópia. Para o efeito vamos nos deter nos subsequentes aspectos: origem e florescimento e o declínio, que serão tratados de uma forma sintética e concisa.

I. EGIPTO
1. Início e florescimento do cristianismo
v     O início do cristianismo no Egipto remonta nos tempos apóstolos, e é caracterizado por três etapas distintas:
·  1ª Etapa: Cristianismo judaico: ligado aos apóstolos.
v     Uma tradição antiga aponta que o evangelista S. Marcos foi o primeiro evangelizador do Egipto.
v     Muitos papiros escritos por volta do ano 100 atestam a existência de uma comunidade cristã.

·  2ª Etapa: Cristianismo helénico: ligado à Igreja Universal
v     Neste período helenista desenvolveu-se uma escola teológica fundada por Panteno, sucedido por Clemente de Alexandria por volta do ano 200 e atingiu o seu auge sob Origens (220-254). Esta Escola Teológica de Alexandria foi a primeira criadora de uma teologia propriamente dita.
v     O patriarcado de Alexandria teve origem sob direcção do Bispo Demétrio (189-231), que durante o seu episcopado a Igreja espalhou-se rapidamente e ele começou a ordenar bispos fora de Alexandria conservando-os sob a sua supervisão. Atanásio, um dos bispos ordenados por Demétrio, é considerado como o «Pai da Ortodoxia», pois defendeu firmemente a divindade de Cristo contra os arianos.

·  3ª Etapa: O cristianismo Copta: (uma Igreja local inculturada)
v     O Cristianismo Copta é caracterizado pelo martírio, monasticismo e monofisismo e desenvolveu-se sobretudo nas zonas rurais do alto Egipto.
·  O martírio do cristianismo copta deu-se entre os anos 303-306 em que havia execuções diárias de até 20, 30 e mais cristãos.
·  O monacato era considerado como um substituto do martírio e foi a maior contribuição do continente africano à Igreja universal.
·  O monofisismo é uma heresia cristológica que exalta a divindade de Cristo em detrimento da sua humanidade.

2. Opressão sob o domínio islâmico e período de declínio do cristianismo
v     Esta nova etapa começa com a conquista do Egipto pelos árabes em 640. No início, a atitude islâmica para com os cristãos foi de tolerância, embora com algumas descriminações. Mas a pressão continua do islão reduziu gradualmente a comunidade cristã a uma minoria. A conquista dos árabes fora movida, basicamente, por razões económicas que por detrás disso estava a submissão do mundo inteiro ao islão por meio da guerra santa (Jihad).

II. ÁFRICA DO NORTE
1. Inicio do florescimento do cristianismo
v     Destacam-se três grupos étnicos no Norte de África, a saber: os comerciantes fenícios; os berberes (nativos) e os romanos. No entanto, o cristianismo chegou ao Norte de África vestido de roupagem latina e é dentro dela que se desenvolveu. Isto sugere, portanto, que os primeiros evangelizadores tenham vindo de Roma.
v     Como em Alexandria aqui também encontramos uma Escola Teológica de Cartago liderada por Cipriano e Terturiano (180). Pelo seu martírio, Cipriano tornou-se a autoridade teológica incontestável da Igreja Ocidental, ultrapassado somente por Santo Agostinho que foi bispo de Hipona (390-430). Com este teólogo africano, a Igreja atingiu o seu apogeu.
v     Na discussão com Pelágio, Agostinho mostrou a fundamental importância da graça divina na obra da salvação. Contra os donatistas defendeu a eficácia dos sacramentos que vem do próprio Cristo e não do sacerdote que os administra.

2. Período de declínio
v     A invasão dos vândalos durou cerca de 100 anos. Eles adoptaram o arianismo e oprimiram os católicos. Justiniano, imperador romano conquistou o Norte de África e devolveu a liberdade aos católicos.
v     Em 697 Cartago caiu nas mãos dos árabes. Pelos seus ataques frequentes devastaram e despovoaram o país obrigando toda a classe alta latinizada, assim como os cristãos a fugirem para a Europa. Dos 300 bispos existentes antes da invasão só ficaram 30 e apenas alguns restos das comunidades cristãs.
v     Há três causas principais que contribuíram para o fracasso do cristianismo no Norte da África:
·  Maior parte da população não tinha sido tocada pelo evangelho e adoptou o islão com grande facilidade;
·  Falhou a indigenização e a inculturação sob o peso da cultura, das estruturas da classe latina. Parece que todas as orações eram feitas em latim, de tal maneira que nunca foi encontrada qualquer oração ou passagem bíblica escrita em língua berbere ou púnica;
·  A perda dos pastores deixou o povo cristão enfraquecido e a mercê dos novos mestres.

III. NÚBIA
1. Inicio do florescimento do cristianismo
v     A Núbia biblicamente era conhecida por Kush e a septuaginta traduziu como Etiópia que significa África Negra. Em 240 Origens fala da existência dos cristãos na Núbia. No Séc. IV fala-se de monges núbios no Egipto.
v     A conversão oficial da Núbia teve lugar durante o mandato de Justiniano o Grande, que organizou por volta de 540, umas das grandes missões imperiais melhor conhecidas. E com ele se unificaram os três reinos: do norte (Nobátia), o reino central (Macúria) e o reino do sul (Álua).
v     É surpreendente que o reino cristão da Núbia floresceu entre os anos 700 a 1250, quando todo o Norte de África se encontrava sob o domínio do islão. Os cristãos núbios viveram em isolamento quase completo até que sucumbiram à invasão turca. Este período de prosperidade começou com o rei Mercúrio de Macúria (697-710).

2. Período de declínio (1250-1525)
v     A tomada do poder pelos turcos no Egipto no ano de 1172, foi um momento decisivo para a Igreja Núbia. Os turcos foram muito mais hostis para com os cristãos do que tinham sido os árabes. A Maior parte das Igrejas foram destruídas no I século de domínio turco (1250-1350) e o cristianismo foi-se desintegrando gradualmente.

IV. ETIÓPIA
1. Inicio e florescimento do cristianismo
v     Uma tradição antiga aponta três períodos do advento do cristianismo:
·  O primeiro período é atribuído ao eunuco etíope como aquele que trouxe a fé. No entanto, segundo John Baur este eunuco parece ser oriundo da Núbia. Mas um facto evidente é que os primeiros cristãos, comerciantes helenistas, chegaram a Aksum (actual Etiópia) nos primeiros séculos do cristianismo e o rei deu-lhes permissão de terem a sua própria casa de oração;
·  Ressalta-se a figura de Frumêncio (Abuna Salama – nosso pai na fé) como aquele que trouxe o sacerdócio. Este foi ordenado bispo por Atanásio que o enviou para evangelizar a Etiópia. Por isso é considerado o pai da Igreja etíope.
·  Destacam-se os nove santos como aqueles que trouxeram a vida monástica vindos do Egipto por volta dos anos 500. Um monge autenticamente missionário foi Libanos (um nobre romano) que não só construiu igrejas e conventos, mas também traduziu o Evangelho de São Mateus para a língua local (Ghueze). Com eles começou a tarefa educativa da Igreja e, durante séculos, a única literatura etíope foi a religiosa.

2. Idade obscura da Etiópia (640-1270)
v     Este período compreende o tempo transcorrido entre a chegada dos árabes (640) e a restauração da dinastia real salomónica (1270). Foi um tempo de isolamento com o resto do mundo e de expansão do cristianismo para o interior do continente africano.
v     Os Etíopes foram os únicos cristãos que, no início tiveram uma relação amistosa com os muçulmanos. Mas com a expansão do islão para o interior aumentaram também as tensões entre ambos grupos religiosos.

3. Era clássica do cristianismo etíope (1270-1530)
v     Três elementos contribuíram para o triunfo do cristianismo quando sofria uma grande crise do ocidente e sucumbia ao islão no oriente e na Núbia:
·  A restauração da dinastia salomónica: segundo uma tradição aconteceu em 270 com a subida ao trono de Yekunnu Amlak. A cultura cristã etíope alcançou o seu máximo esplendor mais tarde sob Zara Yakob (1434-1468), único descendente vivo do último rei de Aksum.
·  A Reforma religiosa: ao início da idade de ouro do cristianismo etíope, houve duas grandes personalidades monásticas que conseguiram renovar e impulsionar a vida dos monges, que de facto eram os líderes religiosos do país: São eles: Takla Haymanot (1215-1313), considerado o maior santo etíope; o segundo líder foi Ewoatatewos (Eustácio, 1273-1352).
·  O renascimento cultural: A igreja etíope mantém-se fiel ao patriarcado copto de Alexandria apreciando a sua apostolicidade seguindo a sua teologia ortodoxa e aceitando o seu Metropolita Abun. Isto serviu como garantia de continuidade do sacerdócio, da ortodoxia celebrando a sua liturgia própria de rito alexandrino etíope. Os elementos especificamente indígenas estão presentes em todos os campos da vida da Igreja (inculturação). A liturgia, rica em orações eucarísticas, é ainda celebrada em Ge`ez, antiga língua de Aksum. Misturados com esta rica liturgia permaneceram alguns restos da religião tradicional como por exemplo: o sacrifício de animais na dedicação de uma Igreja e algumas práticas do antigo testamento como as leis das abluções rituais e a observância do sábado.

CONCLUSÃO
Chegados ao termo da nossa abordagem sobre “o primeiro encontro da África com o cristianismo”, particularmente no Egipto, África do Norte, Núbia e Etiópia, podemos concluir que tal como acontece com a nossa vida quotidiana, o cristianismo nestes lugares teve os seus momentos não só de prosperidade, mas também de fracasso. E é justamente isto que, de forma sintética, procuramos evidenciar ao longo nosso trabalho.

BAUR, John; 2000 anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, Nairobi-Kenya 1994.

A DEVOÇÃO MODERNA E TOMÁS DE KEMPIS


A devoção moderna tratada por Tomas de Kempis e uma viragem da história na Idade Média no referente a vivência religiosa. Para fazer face a diversas vivencias que em parte não tinham realidade entre os homens ou Irmãos de vida Comum, Tomás de Kempis escreve a Devoção Moderna. Nesta obra como veremos, os homens sentiram-se interpelados, mudando o seu estilo de vida aderindo-o.  Tomás mostra que a imitação, devoção a vivencia do amor eram sublimes que as discussões místicas. Ao invés de passar a vida discutir eram necessário que se imitasse a Cristo e se tivesse uma Devoção especial a qual devia se materializar no amor e nas Escrituras.

1.DEVOÇÃO MODRNA
1.1 Definição dos termos
a) Devoção
Vem do latim devovere, que significa oferecer consagrar. «É a disposição, diligência para servir a Deus no louvor, no culto e na oração; o seu sentido quase coincide com a piedade»[1].· Teologicamente, a devoção é uma atitude espiritual e necessária a todos os cristãos, visto que o fim primordial e último da vida é glorificar a Deus.

b) Moderna
A modernização é um processo de mudança social, pelo qual as chamadas sociedade tradicionais passam a ser chamadas modernas. A modernidade é oposição ao que é clássico, tradicional tem gosto pela novidade em diversos tempos sociais, como: político, religioso, cultural. Etc. Tem como principais características: a secularização, mentalidade técnico-científica, fé no progresso, consciência igualitária, tolerância e mentalidade capitalista-burguesa»[2].

1.2. A Devoção Moderna
A devoção moderna é uma corrente espiritual de piedade cristã que surgiu em oposição à vida monástica de então e às especulações místicas. Esta corrente surgiu em meados de século XV com objetivo de inventar uma vida espiritual intensa. Teve como protagonista Greet Groote (1340-1380), que s distinguiu pela eficácia das suas palavras e exemplo de vida, contestando os privilégios de que gozavam os mosteiros na altura. A figura amais célebre é de Tomás de Kempis, autor da obra “Imitação de Cristo”.
Muitos cristãos aderem-na e formam-se pequenos grupos compostos por homens e mulheres, como é o caso de Catarina de Siena (1347-1380) Insistiu muito na psicologia religiosa e como progredir na vida espiritual cristã. As obras deste tempo propõem a prática de exercícios espirituais. «É nessa época que começa a falar-se de Devoção Moderna, uma corrente que e estendeu até século XV»[3]. Segundo Mirceia Eliade, o fundador desta corrente não se interessava pelas especulações místicas. A devoção Moderna ostentava um cristianismo simples, generoso, muito tolerante e que não s afastava da ortodoxia caótica. Convidava os cristãos a meditarem nos mistérios da encarnação, a terem gosto pela eucaristia em vez de perderem-se em discussões místicas.
Alguns autores consideram esta corrente como a fonte das reformas humanistas, católicas protestantes. Steven Ozmnte dizia que: «a sua principal realização é a renovação do monaquismo tradicional às vésperas da reforma. A Devoção Moderna demonstrou o desejo de viver uma vida comunitária simples, de abnegação, imitando a Cristo e os apóstolos»[4].
As principais características desta corrente são:
·         Cristianismo prático, tendo Cristo como o centro da vida espiritual e a busca da imitação
·         Oração, dando mais ênfase ao exame de consciência.
«No século XVI, começa a desaparecer e dá lugar a outros movimentos como a reforma protestante»[5].

2. TOMÁS DE KEMPIS
2.1 Vida e obra
a) Vida
Tomás de Kempis ou Thomas Haemerkerm, nasceu na localidade de Kempterm, Renânia (Alemanha-Limburgo), na diocese de Colónia. O ano do seu nascimento é discutido entre 1379 e 1380,mas muitos preferem a primeira data. Morreu em 1441. Filho de John e d Gertrudes Haemrkem. Fez os estudos primários em Deventer, em 1392, nos Irmãos de Vida em Comum, onde aprendeu a arte de copista.
«Aos vinte anos, foi admitido como noviço no mosteiro dos cónegos regrantes do monte de Santa Inês»[6]. Aqui professou e foi ordenado sacerdote agostiniano em 1431. Foi escolhido como vice-prior do mosteiro e confiado como mestre de noviços. Homem de temperamento tranquilo e místico, consagrou a sua vida ao apostolado, à oração, à composição e cópias de livros espirituais. «Copiou numerosas obras antigas, depois escreveu bibliografias, uma crónica de história religiosa, obras ascéticas e de disciplina conventual»[7].

b) Obras
É autor de muitas obras como: Hortullos rosarum (que escreveu aos seus noviços; Decálogos Novitiorum (que escreveu aos seus noviços); Solilóquios; Livros de três tabernáculos; Boas palavras para ouvir e ler; Imitação de Cristo, a obra-prima do autor.

2.2. Imitação de Cristo
a) A Identidade do autor
 Houve dificuldades em conhecer o autor da obra. Uns atribuíam a um monge pelos dados de Irmãos de vida em Comum. Tudo porque na Idade Média interessava-se somente o conteúdo da obra que o autor, e como se lê: «Considera o que diz e não t preocupe de saber quem o disse»[8].
Com passar do tempo, atribuiu-se «a Santo António de Lisboa, Inocêncio III, Henrique de Kalker»[9]. Santo Inácio de Loyola a atribuía a João Gerson. Posteriormente, foi atribuída «a São Boaventura e S. Bernardo de Claraval, mas geralmente é atribuída a Tomás de Kmpis, encontrando-se em Bruxelas o manuscrito pela mão datado de 1441»[10].

b) Contexto e espírito com que foi escrita a obra
i) Contexto
A espiritualidade alemã do século XIV era muito abstrata e difícil de s compreender, perdendo-se em especulações místicas. Era espiritualidade agarrada ao misticismo da época. No final do século nasce uma espiritualidade mais afetiva, empírica não agarrada a um sistema, que propunha dar conselhos práticos de vida cristã, mas do que perder-se em discussões de mistérios de união mística. Expunha a sua doutrina em máximas curtas, e carregadas de significado. Este foi o ambiente em que surgiu a Devoção Moderna e a obra de Imitação de Cristo em que o autor escreve: «de que aproveitam as altas discussões sobre a Trindade, se te falta a humildade, e por isso desagradas a mesma Santíssima Trindade»[11].

ii) Espírito com que foi escrita a obra
O livro está marcado pela sequela Christi: «quem me segue não anda nas trevas» (Jo 8,12). Seguir Cristo é o assunto principal da obra. O autor não propõe a imitação concreta da vida e exemplo do Senhor, mas compenetrar o leitor do espírito de Cristo, dos seus sentimentos, fazendo-o saborear a Sagrada Escritura e os exemplos dos santos. Propõem ainda, o combate as exigências da natureza humana, para se deixar imbuir dos sentimentos de Cristo.
«A pretensão fundamental de toda obra é levar a natureza humana marcada pelo pecado, a submeter se à graça purificante de Cristo, para se converter em nova criatura, ou num outro Cristo»[12]. O autor vive do desejo de Deus e expande esse desejo em toda. Está convencido, intimamente, que o sentido profundo da vida só se pode encontrar no interior de cada um.

c) Divisão e conteúdo da obra
i) Divisão
A imitação de Cristo está dividida em quatros:
I. Avisos ou conselhos ou exortações úteis para a vida espiritual
II. Conselhos ou exortações a vida interior
III. Sobre a consolação interior
IV. Exortação à sagrada comunhão ou Santíssimo sacramento
Os livros estão divididos em capítulos e os capítulos em versículos. Possuem o mesmo estilo, mesma linguagem e terminologia, com uma doutrina uniforme.

ii) Conteúdo da obra
O autor não se interessa por seguir um método sistemático e rigoroso para expor a sua doutrina. Propõe um caminho de perfeição cristã que leva a união com Deus.
No primeiro livro, “Avisos úteis para a vida espiritual”, exorta o homem a cultivar a liberdade interior que é a pista humana e divina que Jesus traçou e os santos seguiram e que está aberto a todos os homens pela graça de Deus. Nada valem as discussões sobre a trindade se não fazemos a vontade de Deus, nem conhecer a Bíblia se não possuímos graça e o amor de Deus e só a Ele servir, pois «a suma sabedoria consiste em caminhar pelo desprezo do mundo, para o reino do céus»[13].
Tudo aquilo que desvia o homem da plena verdade (Cristo), é vaidade. Apela a um seguro para chegar a Deus. Apresenta a vida virtuosa não como autodomínio para vencer as paixões, mas como um modo de viver segundo Cristo, conforme o evangelho, renunciando-se a si mesmo como expressão de caridade, amor oblativo. Exorta aos religiosos que amem o silêncio e a solidão, porque é no silêncio e no recolhimento que a alma progride e apreende os segredos da Escritura. Os bens temporais nada valem ao homem interior porque enchem de preocupações, bastando apenas a mediana que a abundância. Diz o autor que «a vida sobre a terra é uma viradeira miséria […] e aflição para o homem piedoso, que bem deseja ver-se desligado e livre de todo o pecado»[14]. Termina apelando a emenda fervorosa de toda a nossa vida percorrendo com fervor o caminho da perfeição. E «duas coisas ajudam na perfeita emenda: afastar-se de tudo que a natureza viciosa se inclina, e trabalhar com fervor por alcançar a virtude de que mais necessitamos»[15].
O livro dois (2) fala dos “Conselhos sobre a vida interior”, tem como ideia principal: alcançar a amizade divina. No seu cômputo geral, fala da união com Cristo, a nossa sabedoria cristã e a liberdade interior.
A união com Cristo nos coloca em contacto íntimo com Deus. Não confiemos aos homens porque depressa mudam e facilmente se desviam do verdadeiro caminho que nos une adeus, mas Cristo nos assiste e permanece eternamente naquele que se une com Ele. «Ele visita frequentemente, o homem interior, fala-lhe suavemente, consola-o deliciosamente, concedendo-lhe paz abundante, e entretêm-se com Ele numa familiaridade excessivamente maravilhosa»[16]. Vislumbra o puro amor daquele que se ocupa de Cristo: «Se uma vez entrassem bem no interior de Jesus, saboreasses um pouco do seu ardente amor, nada te importaria do que te agrada ou contrária, sentirias a mesma alegria comas injúrias que recebes, porque o amor de Jesus leva o homem ao desprezo de si mesmo»[17].
A sabedoria cristã diz que é pela abnegação de si mesmo que o homem alcança a sabedoria. «Verdadeiro sábio é aquele que avalia as coisas pelo que elas são e não pelo que delas se diz»[18]. A sabedoria cristã se exprime na prática das virtudes cristãs, desconhecidas da sabedoria natural dos homens. O bom cristão não se escandaliza facilmente, cultiva a simplicidade e a pureza.
A liberdade interior faz com que se renda a Deus toda a sua glória. A renúncia não deve ser só interior mas de toda a consolação humana e divina. «Os que amam a Jesus por Jesus, e não por alguma consolação própria, tanto o bendizem nas tribulações e angústias interiores como na abundância das consolações»[19]. Nos últimos capítulos vem bem vincada a necessidade da incorporação em Cristo crucificado por meio da sua cruz: «não há outro caminho para a vida e para a verdadeira paz interior senão o caminho da santa cruz e da mortificação»[20]. Este é caminho também para chegar a Deus, pois o sofrimento por amor de Cristo é o que mais agrada a Deus neste mundo.
O terceiro livro tem o tema “sobre a consolação interior”. Começa por elogiar a alma que escuta o Senhor e recebe as palavras de consolação. Explica detalhadamente o amor e a graça. É uma espécie de diálogo íntimo entre a alma com Cristo por meio da experiência vivida. «Falai-me para a consolação da minha alma, emenda toda a minha vida, para honra, louvor e glória eterna do vosso nome»[21]. Desvenda o caminho duma ascensão para Deus por meio do desprendimento penoso dos laços de pecado e o abandono amoroso nas mãos de Deus.
O autor é um homem que tende para Deus com todo seu ser, deseja ser admitido a contemplação da face de Deus, ao qual anseia que esteja presente em tudo. A terra é algo pesada que sempre lhe coloca frente a dificuldades que o corpo lhe proporciona. Por vezes, parece entrar em crise, pois, a sua alma suspira por Deus, mas sente-se desviada por um mundo de sensações a que dificilmente consegue resistir, mas não se perturba com que os homens pensam dele. Ao suspirar a união com Deus, conhece a sua imaturidade contemplativa e tem consciência das provas que deve passar para se purificar. Mas tem confiança em Deus e abandona-se n´Ele. Necessita da graça de Deus para vencer o mal. Diríamos que a regra de ouro deste livro é: «Quanto mais, conseguires sair de ti mesmo, tanto mais te aproximarás de mim»[22]. O desprendimento total de nós leva à união com Cristo.
O quarto livro difere um pouco dos primeiros três, logo à vista. Basta ver o título: “Exortação à Sagrada comunhão.” Mas este constitui o fim último da obra, depois de percorrer o caminho da perfeição, abnegação interior e o diálogo com Cristo, o discípulo se une ao Cristo na Comunhão do Sacramento. Este sacramento central de fé é percebido melhor pelo amor que nasceu no coração de Cristo.
No santíssimo sacramento, de fé firme, esperança viva e verdadeira caridade, estão presentes os frutos de salvação. «No santíssimo Sacramento do altar, estás todo presente, ó Cristo Jesus, verdadeiro homem; e todas vezes que Vos recebem os dignam e devotamente, recolhemos em abundância os frutos da salvação eterna»[23]. Neste sacramento, manifesta-se a grande bondade e caridade de Deus para com o homem. A comunhão frequente faz alcançar a salvação e redenção, a fortaleza e esperança, honra e glória. E quem comunga devotamente recebe muitas graças divinas: «Muitas graças concedestes e concedeis ainda todos os dias neste sacramento aos vossos predileto que comungam com fervor, ó meu Deus»[24]. Por meio deste sacramento, o sacerdote foi concedido, um poder que é o de consagrar e tocar o sacramento antes da comunhão e se faça um exame de consciência com o propósito de emenda.
Para receber a Cristo, é preciso que se prepare com grande diligência, porque Ele é amigo da pureza e fonte de toda a santidade. «Se queres que venha a ti, fique contigo, purifica-te do fermento velho limpa a morada do teu coração»[25]. Uma alma verdadeiramente devota deve desejar com todo o coração unir-se sempre a Cristo na comunhão do seu Corpo e Sangue. A alma de possuir um amor ardente de desejo de receber a Cristo: Oh! Meu Deus, amor eterno, todo meu bem, felicidade interminável! Desejo receber-vos com aquele veementíssimo desejo e aquela perfeitíssima reverência, que algum dia sentiu, ou pode sentir algum dos vossos santos»[26]. Não existe uma maneira mais sublime de se unir a Cristo se não comungar todos os dias a sagrada comunhão.  

3. APRECIAÇÃO
Depois de muito tempo em que a Igreja estava perdida em discussões místicas, aparece a Devoção Moderna como espécie de reviravolta e revolucionou a vida cristã, pois, muitos cristãos a aderira. Nesta corrente espiritual destaca-se Tomás de Kempis com a sua obra Imitação de Cristo, dando vigor a este movimento que era vivido pelos Irmãos de Vida em Comum. A sua influência se estendeu até ao século XVI, sendo que Santo Inácio o tinha como livro de cabeceira e sempre o lia para a sua meditação. Era recomendado a muitos religiosos por causa da sua riqueza espiritual. A ideia principal da obra é o seguimento de Cristo por meio da purificação, abnegação e união com Ele na Sagrada Comunhão.




CONCLUSÃO
Constatámos no presente trabalho, que Tomás de Kempis, era um homem propenso a reflexão, crítica e materialização dos aspetos vitais em voga. Dai que afirmara ele que não valia a penas ter discussões brilhantes sobre mística ou de Santíssima Trindade se não se sabe amar e não se imita a Cristo nos seus passos. Dai que com a sua obra Tomás acaba sendo u m grande modernista, tal como reformador da vivência cristã. Certamente a sua obra vai ser despertadora dos sentimentos humanitários na realização da Palavra de Deus e não soo em discussões. Com a mesma obra em partir a vida monacal observa novos rumos e o Cristianismo vai reformar o seu pensamento e vivência quer os católicos e quer os protestantes.

Bibliografia
FLORITAN C., J.J Tamayo, et all, Dicionário de Pastoral, Ed. Perpetuo Socorro, Porto.
COMBY, Jean, Para ler a História da Igreja. Das Origens ao século XV, Ed. Loyola, São Paulo, 20013.
Imitação de Cristo, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto 20007.

THIOLLIER, Marguerite-Marie, Dicionário da Religiões, Editorial Perpétuo Socorro, Porto.
WWW. Sophia. Ben-vindo.net. org/devoção moderna. 18-o4-2011. 20:16.


[1] Floristam, J.J. Tamayo, et all, Dicionário de Pastoral, Ed. Perpétuo Socorro, Porto, p.175ª.
[2] Ibidem,p. 358ª.
[3] Comby, Jean, Para ler a História da Igreja. Das Origens ao século XV, Ed. Loyola, São Paulo, 20013 p.182.
[4] WWW. Sophia. Ben-vindo.net. org/devoção moderna. 18-04-2011. 20:16.
[6] Imitação de Cristo, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 20007.
[7] Thiollier, Marguerite-Marie, Dicionário das Religiões, Editorial Perpétuo Socorro, Porto.
[8] Imitação de Cristo, I.c. 5,1
[9] Ibidem, p.11.
[10] C. Floritan, J.J Tamayo, et all, Op cit, p. 175ª.
[11] Imitação de Cristo, I.c.1,3.
[12] Ibidem, p.18.
[13] Ibidem, I.C.1,3.
[14] Ibidem. C.12,2.
[15] Ibidem, I.c.25,4.
[16] Ibidem,II.c.1,1.
[17] Ibidem,II, c.11,7.
[18] Ibidem, II.c.1,7.
[19] Ibidem,I.c.11,2.
[20] Ibidem,II.C.12,2.
[21] Ibibem,III.c.2,3.
[22] Ibidem,III:c.56,1.
[23] Ibidem, IV. c, 3.
[24] L.c.
[25] Idem, IV.c.12, 1.
[26] Idem, IV.c. 17, 1.

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