terça-feira, 13 de março de 2012

QUARESMA

QUARESMA, A EXPERIÊNCIA COM DEUS HOJE
O mistério pascal, paixão, morte e ressurreição de Cristo, é desde os primeiros tempos do Cristianismo o centro da vida cristã e o ápice da revelação que Deus faz de si mesmo. Com a Páscoa de Cristo ficamos sabendo que a morte de Jesus não se circunscreve a uma horrível e estúpida tortura nem tão pouco ao cumprimento de um qualquer calendário divino. Fora dessa ideia. Antes, pelo contrário, o Verbo assume a nossa carne e, assim, reconduz a si todas as nossas fragilidades, dando-lhes um sentido mais pleno. Aliás, «O Verbo encarna para que Jesus se sacrifique; mas Jesus só morre para ressuscitar; e só ressuscita para salvar a humanidade» di-lo José Augusto Mourão. Portanto, à luz dessa paixão, morte e ressurreição, fica redimida a nossa debilidade e confirmada a nossa divindade porque fomos criados “à imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,26) e de honra e glória fomos coroados (Sl 8). Este acontecimento central da nossa fé não se reduz a um momento específico na história humana, ele actualiza-se cada vez mais na realidade concreta de cada povo, etnia, raça, situação social, crença religiosa e etc., razão pela qual ousámos considerar a Quaresma como uma experiência com Deus hoje.
Como dissemos, desde sempre a Igreja tomou consciência de que a Páscoa constitui o vértice e corolário supremo da sua vida, o centro de convergência da história e a única solução possível capaz de conferir-lhe um sentido. A morte de Jesus vem restaurar tudo, o homem e o universo. Por isso mesmo, os primeiros cristãos descortinam a urgência de uma celebração única da Páscoa que se firma desde o II século. Mas para ser uma celebração digna, deverá ser preparada da melhor forma possível, ou seja, com a oração, a penitência e o jejum. Esta preparação só encontra uma sistematização bem precisa a partir do IV século em que ficamos com os 40 dias intensamente vividos com profunda impetuosidade.
A Quaresma como experiência de Deus hoje na vida das nossas comunidades e na vida concreta de cada cristão é a força propulsora que nos ajuda a reviver com fé e esperança o evento dramático-salvífico da morte e ressurreição de Jesus. Este tempo litúrgico que actualiza o acontecimento culminante da história salvífica caracteriza-se mormente com duas dimensões: a penitencial e a baptismal. A ser isso, é um tempo que nos convida a tomar consciência dos nossos pecados, renovar o nosso agir e criar condições para a conversão reavivando profundamente a nossa caminhada de fé e de aliança com Deus.
De facto, a nossa experiência de Deus hoje só é exequível mediante acções concretas que exigem de nós um pouco mais do nosso sacrifício. E aí se percebe o valor do jejum e da penitência. O jejum não significa privar-se dos alimentos sem um propósito concreto de poder ajudar a quem precisa do nosso aconchego; significa antes, afastar-se do pecado, amar a Deus e ao próximo, alimentar-se mais abundantemente da Palavra de Deus e levar uma vida de oração mais intensa; significa igualmente «fazer com que os pobres (necessitados) sejam beneficiados com o que se economiza jejuando» (GELINEAU, J., Em vossas assembleias, I, p. 113). E o ápice da penitência é, certamente, a celebração da grande festa da reconciliação pela qual restabelecemos a relação com Deus rompida pelo pecado.
Na verdade, estamos no tempo em que exigimos mais de nós mesmos, usando maior vigilância evangélica, a fim de renovarmos a soberania de deus sobre nós, unidos a Cristo que vai ao encontro de sua Santa Paixão. De certo que cada um terá sua maneira própria de viver a espiritualidade deste tempo quaresmal. Por isso, o espírito austero e sóbrio da Quaresma deve transparecer também na vida social, profissional, familiar e inclusive nas nossas comunidades cristãs. Portanto, pela instituição da Quaresma a Igreja não leva os seus fiéis a simples exercícios de práticas exteriores, mas ao empenho sério de amor e de generosidade para o bem dos irmãos à luz da exortação que nos faz o profeta Isaías «Não sabeis acaso o jejum que mais me agrada? Liberta os oprimidos, quebra as opressões; reparte o teu pão com quem tem fome, dá abrigo ao pobre abandonado…» (Is 58,6-8).
Enfim, almejamos que a Quaresma deste ano nos leve a uma nova e memorável experiência com Deus no hoje das nossas vidas. Que a Santíssima Trindade: o Deus Pai, Filho e Espírito Santo, que se nos comunica ininterruptamente aponte-nos a verdadeira vivência da espiritualidade quaresmal e do mistério pascal que se actualiza também na situação concreta do nosso século. Que Maria Santíssima, aquela que soube suportar a dor de ser mãe e assumir a cruz do seu Filho a meio de muita angústia nos ensine a ajoelhar e orar ao Deus Filho, nosso redentor e solução inadiável das nossas preocupações.
Bem-haja para todos.

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