sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A VOCAÇÃO HOJE

A esfera temporal e espacial, na qual estamos inseridos, problematiza tudo quanto seja a especificidade dum determinado indivíduo. Parece que o incremento vertiginoso das descobertas que o homem vai fazendo leva consigo uma enorme interferência nas nossas escolhas, melhor dito, opções vocacionais.
Neste sentido, há quem ainda afirma que não existe nos nossos dias uma actividade da qual o sujeito se submeta por sua própria inclinação. E é por isso mesmo que se diz «Queira onde for, eu irei trabalhar, pois, o importante é a mola; não interessa se você sabe ou não o que lá fazem, com o tempo, vais aprender».
Desta vez, tencionamos reflectir sobre a VOCAÇÃO HOJE. Parece um pouco ridículo, o que acima ficou epigrafado. Entretanto, trata-se dum assunto de índole genérico porque refere-se a algo que nos pertence, a algo nosso. Isto significa que todos temos uma vocação. Não interessa de que tipo. O importante é reconhecer que Deus tem um plano com muitos lugares de serviço; aí eu também tenho um lugar reservado – que é a minha própria vocação.
De antemão, é indispensável que cada um descubra que o desejo de Deus é de salvar todos os homens mediante projectos que necessitam de colaboradores. Ele criou-nos pensando a uma determinada missão que incumbe a cada um. Deste modo, chegamos a concluir que a vocação não é uma questão de gosto muito menos uma opção profissional. Pelo contrário, trata-se de servir; não é uma coisa abstracta mas um tesouro escondido dentro de mim e que me obriga a aplicar concretamente e na realidade os meus sonhos.
Não é uma tarefa fácil, pois, amiúde vemos que se manipula a nossa opção vocacional. Sendo assim, precisaríamos de desenvolver em nós uma atitude de disponibilidade madura perante o semeador que lançou em nós a sua semente. Cabe-nos a responsabilidade de deixar crescer esta semente e permitir que ela desabroche quando o tempo for tempo.
Como vemos, Deus criou-nos contando com o lugar a ocupar; o chamamento que lhe propõe: chamamento à vida, ao serviço como profissão, ao sacerdócio, à vida religiosa, ao matrimónio, etc. Tudo isto desenrola-se mediante um longo processo de avanços e retrocessos; quedas e ressurgimentos, sofrimentos e alegrias, encantos e desencantos, dúvidas e firmezas, renúncias e dores, entre várias. Não obstante, cada vocação é uma vocação particular e singular sendo, por isso, viável analisar cada caso conforme as suas particularidades, obscuridades e evidências; não há nada fácil que outra, ou difícil que não se alcance. “Tudo é possível nas mãos do Senhor” (cf. Lc 18,27).
Sem divagar bastante, não me escuso de tocar a tecla que mais gosto e que outros “odeiam” – é a vocação sacerdotal que fervilha dentro dos meus anseios. Aparenta-me ser inatingível por ser a mais que me impressiona. É uma paixão interior veiculada sem o meu desejo e consentimento. É a busca de intimidação com Jesus Cristo a fim de outorgar um perfeito sentimento ao plano de Deus. É um chamamento que se realiza “Num povo, por um povo e para um povo”. Paralelamente, é uma vocação que pressupõe e exige necessariamente, como tantas outras, uma decisão pessoal, um discernimento maduro perante os múltiplos caminhos e solicitações, sobretudo, um juízo recto sobre os sinais dos tempos. É pertinente optar por caminhos que ajudam a enriquecer o nosso ser em abertura e conquista de ser mais – escolha de algo precioso: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se, depois, perde a sua alma?” (Mt 16,20).
Não pretendo exageros, muito menos cativar a ninguém, senão dar referência a uma das vocações que se adquirem não pelo gosto, mas por mérito da graça de Deus – é Ele o artífice dos nossos pensamentos: «Antes mesmo de te modelares no ventre materno, eu te conheci ...eu te constitui profeta para as nações» (Jer 1,5). Permanece, neste caso, preponderante assumir um compromisso preterido ilegalmente para desfrutar com paciência a voz que grita silenciosamente dentro do nosso “poço”: «Quem hei-de enviar? Quem irá por nós?» Para o efeito, não há delongas nem mesmo imprecisões senão imediatez: «Eis-me aqui, envia-me a mim» (cf. Is 6,8b).
Portanto, fique bem lúcido que o primeiro dos lugares a que Deus nos concede é a existência, o chamamento à vida para ocuparmos um lugar no universo. Somente desta maneira descobrimos que o amor de Deus pelos seus é tão imenso que não cabe no universo nem mesmo desprendem-se com tendências egoístas. Num ambiente fascinante em que o mundo nos convida a cargos superiores com garantia de um Pajero e uma vida luxuosa, com uma multidão de excessos entre várias promessas, não restam dúvidas que a nossa vocação ao sacerdócio debilite-se porque quando o jovem depara-se com todo esse conjunto de condições vê-se em conflito e, se julgar de um modo temerário acabará caindo na geena insuperável.
Daqui é conveniente reflectirmos: como fazer com que eu não seja manipulado na minha vocação? Que é necessário para manter em vida a semente lançada no meu coração? Que fazer quando sentir-me confrontado com as ofertas do mundo contemporâneo?
A experiência comum mostra-nos que um acordo de notas faz uma música e é só num acordo entre as pessoas que construiremos uma sociedade sadia; é na união de ideias que faremos deste mundo uma morada favorável para Deus – um ambiente onde jorra paz; onde as diferenças harmonizam-se na igualdade.
Caríssimo, nada fazemos sem contar contigo. A tua ajuda, crítica, sugestão e colaboração engrandecem-nos. É por isso mesmo que te sugerimos este tema. Na próxima edição viremos com mais notas informativas, formativas e do teu interesse. Até lá. Que Deus abençoe as vocações do mundo inteiro e derrame o seu esplendor para todos que vagueiam em busca de ilusões e metas inatingíveis.

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