AS PRINCIPAIS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL
Antes de falarmos da santidade cristã e da perfeição como um campo particular da Teologia Espiritual vamos nos ocupar da vida espiritual no seu desenvolvimento. Não queremos seguir aqui o que S. João da Cruz e Santa Teresa de Ávila nos propõe, esto é as 3 vias de perfeição de S. João da Cruz e as 7 mansões ou moradas do Castelo Interior, de Santa Teresa de Ávila.
Difícil é dizer quanto são os momentos emergentes na vida espiritual. S. Gregório de Nissa afirma que são incontáveis, de um início ao outro início, até a vida eterna. Em prática em cada momento é “momento presente e específico”. Por isso mesmo, aquilo que nós havemos de referir é apenas funcional e não taxativo do desenvolvimento espiritual, isto é, configurações teológicas principais da vida espiritual.
A vida espiritual é portanto um caminho de união com Deus, uma “sequela Christi” e um caminho Espiritual; sustentados pelas três virtudes teologais.
Para chegarmos aos graus do desenvolvimento da vida espiritual é necessário partir antes dos três momentos emergentes na vida espiritual, isto é, da conversão (“Convertei-vos e acreditai no Evangelho” – Mc 1,15 – mensagem primária de Jesus).
Então a primeira coisa que um homem na sua vida deve fazer antes de galgar as etapas da santidade ou da perfeição cristã é a conversão.
Como nos referimos antes, existem três momentos de conversão.
1. Momentos de conversão na Vida Espiritual
1.1. Conversão preliminar
É o momento em que somos baptizados ou o retorno a fé. É uma tomada de consciência do seu ser pecador (“É necessário nascer de novo. – disse Jesus – Se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus”. – Jo 3, 3-5). Não se pode fazer um desenvolvimento espiritual sem passar pelo baptismo.
2. 1ª Conversão
É o momento em que se começa a dar o senso cristão a própria vida, pois muitos são baptizados em criança. Esse momento se realiza mais tarde. Este momento pode coincidir com a escolha de vida, viver como homem ou mulher consagrado ao Senhor, ou então o estado comum da vida cristã.
Este é um momento de dar resposta a chamada do Senhor (profissão de fé).
3. 2ª Conversão
- Momento em que se toma a decisão de ser e de viver totalmente para Deus, seja do ponto de vista afectivo, seja aquele activo.
- Se trata de uma conversão universal (implica que não se faça nenhuma reserva a Deus), sincera (que implica pureza do coração na procura sempre de fazer a vontade de Deus), e constante (que transcende o limite temporal).
- Este momento ou etapa pode vir a ser provocada por factos providenciais (kairoi), como por exemplo, uma simples palavra, um retiro, um acontecimento doloroso (doença, luto).
Já desde o 1º momento podemos começar a falar das etapas ou vias de desenvolvimento da Vida Espiritual, porque é lá onde se dá o senso cristão a própria vida.
Pseudo Dionísio, o Areopagita (cfr. At 17,34), fala de três momentos na vida espiritual, incipienti, proficienti e perfetti, isto é, principiantes, professos e perfeitos.
2. Vias ou Etapas de Desenvolvimento da Vida Espiritual
2.1. Incipiente (Via/etapa purificativa)
É a etapa que coincide com a 1ª Conversão, isto é; a etapa de purificação.
Esta etapa é caracterizada pelos seguintes aspectos:
- Observância dos mandamentos e o destaco do espírito mundano.
- A pessoa faz o propósito consciente de certo empenho interior.
- Começa a procurar de fazer sempre a vontade de Deus.
- Desejo de uma vida cristã mais séria.
- Voltando-se a si mesmo e em atenção a graça que contém, ele começa a se conhecer mais a si mesmo, e, com esta nova consciência acede a uma relação com Deus e com os outros, tratando-os como Pai e irmãos, respectivamente.
- A sua mente se faz mais consciente da presença de Deus e da sua importância, enquanto o seu intelecto vem lentamente iluminado (pela fé e luz divina).
Como “principiante”, naturalmente os obstáculos contra o seu desejo de autenticidade são ainda muitos, requer sempre rezar e fazer exercícios, como exame de consciência, a prática das virtudes e frequência ao sacramento da Penitência.
O perigo do principiante é o escrúpulo ou desencorajamanentos por causa dos fracassos. Por outro lado, também existe o perigo de se atribuir muita importância ao fervor e aos esforços pessoais do que a graça e no abandono a Deus.
A oração típica neste estado é aquela discursiva e, lentamente, por meio dela, a consciência se vai fazendo cristã, também nos pensamentos.
A finalidade desta fase é a purificação da alma (“via purgativa”), das inclinações desordenadas e do espírito mundano, por meio da leitura e da oração.
2.2. Proficiente (Via/etapa iluminativa)
Etapa que coincide com a 2ª Conversão. Proficientes são aqueles que acedem ao momento iluminativo e na escola do Evangelho, aprendendo as virtudes e “sentimentos de Cristo” (Fil 2,5).
Trata-se de um estado espiritual mais pacificado, mais estável. O pecado como tal é, normalmente, vencido.
Superando a mediocridade do 1º grau se empreende a via de abnegação. Não procura fazer mais o mal, mas sim se procura de fazer o bem, segundo o espírito evangélico.
Nesta etapa se busca a conformação a Cristo por meio da familiaridade com o Evangelho e a Eucaristia. Cristo se torna verdadeiramente importante e começa a tomar o primeiro lugar, toma os juízos, afectos, e as acções. A criatura começa a ser tomada em relação a Cristo.
O “proficiente” submeteu, habitualmente, as paixões. É o patrão de si mesmo, amante do silêncio e religioso na alma.
A meta desta fase é a procura da verdadeira conformidade com Cristo.
2.3. Perfeitos (Via/etapa unitiva)
Trata-se de uma classificação relativa, porque só Deus é perfeito.
Os “perfeitos” são aqueles que vivem no estado de união com Deus. São aqueles que tem o coração totalmente transformado pelo Espírito do Pai e do Filho.
É o estado em que se goza a união com Cristo que se manifesta, sobretudo, na caridade , como único critério de comportamento (“Se queres ser perfeito, disse Jesus ao Jovem, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres,… Depois vem e segue-me” (Mt 19,21).
Em prática esta abrange dois modos, segundo De Guibert:
1º - A plena consumação da caridade ou caridade heróica, aquela que a Igreja requere para a beatificação dos Servos de Deus.
O papa Bento XIV depois de ter confrontado com várias definições teológicas, define, assim, esta caridade: “A virtude cristã para ser heróica deve fazer de tal modo que aquele que a possui opere facilmente, prontamente e com gosto, a modo a ser superior ao ordinário, para um fim sobrenatural, sem reflexões humanas, com abnegação e submissão dos modos afectivos”
2º - Uma perfeição na caridade menos plena e esplendente, mas verdadeira e suficiente, isto é, a alma que conseguiu um grau de abnegação e de recolhimento, que é, habitualmente, dócil às inspirações do Espírito Santo e que a caridade domina toda a sua vida, se aceita alguma infidelidade por causa da fragilidade humana.
Conclusão
Numa só palavra podemos afirmar, que a santidade (Perfeição) é Deus quem a dá (imprime no homem a sua imagem e semelhança e o faz, filho no Filho, filiação divina).
A santidade subjectiva (participativa), é a resposta no abandono (momento da purificação ou “via purificativa”), assimilando (momento da iluminação ou “via iluminativa”), unindo-se (momento da caridade como critério ou “via unitiva”). Em prática é a assimilação subjectiva da perfeição objectiva de Deus. Em suma, as etapas ou o desenvolvimento espiritual são a assimilação subjectiva da perfeição objectiva de Deus.
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