sábado, 16 de abril de 2011

O PASTOR DE HERMAS

1. Introdução

No presente trabalho pretende-se fazer uma abordagem do tema sobra o Pastor de Hermas, Vida e Obra, a sua Teologia e o seu impacto na vida dos Cristãos. Para tal precisaremos de ser mais sintéticos e fiéis na elaboração, tentando obedecer a seguinte ordem:

• a). Definição do termo “Pastor”;

• 2. Vida e Obra de Hermas;

• 3. A sua Teologia;

• 3.1. A Penitência,

• 3.2. Efeitos da penitência,

• 3.3. Eclesiologia;

• 3.4. O Baptismo;

• 4. A Ética;

• 5. Apreciação Crítica Pessoal;

• 6. Conclusão

Bibliografia.

Falar da vida de alguém não é tão fácil, mas daquilo que Pastor de Hermas nos diz na sua obra intitulada «Pastor de Hermas» é a boa nova sobre o Sacramento da Penitência e seu valor dentro dos fiéis baptizados. Ele disse que os cristãos baptizados têm a possibilidade de arrependerem-se dos seus pecados e confessar ou melhor irem ao Penitenciário.

A obra em termos de conteúdos é muito interessante; fala de Visões, das Parábolas, da Moral e dos Mandamentos. Por isso iremos detalhadamente falar deste Autor apesar de termos exiguidade de fontes. Hermas convida a cada crente à Penitência ou Reconciliação.



a). DEFINIÇÃO DO TERMO “PASTOR”

O Antigo Testamento desconhece o uso da palavra (Ro`eh) como título aplicado aos deuses e homens como era de usado no Oriente em geral. Javé guia o seu povo, o seu rebanho (Sl 68,3;23,3), à procura de pastagens (Sl. 23,2); (Jr. 50,19) chama as ovelhas dispersas (Is 56,8) e carrega-as.

No Antigo Testamento não se encontra o termo "Pastor" como título real. Só o futuro Messias da casa de David receberá tal título. Ele exercerá o ofício de Pastor e apascentará o seu povo como único Pastor (Ez 34,23ss); Israel e Judá se tornarão um Povo sob um só Pastor (Ez 37, 22-24).

No Novo Testamento o termo "Pastor" sob a sua forma grega é aplicado a Deus só em Lc 15,4-7, na parábola da Ovelha perdida, se é que ai já não é o caso do próprio Cristo.

A Igreja Primitiva designa com ênfase a Jesus como o "grande Pastor" (Hbr 13,20); como Pastor e guarda de nossas almas (1 Pdr2,25); como "Supremo Pastor" (1Pdr 5, 4) sob o qual estão os Bispos e Presbíteros que pastoreiam o rebanho de Deus (Jo 21,15ss e Act 20,28). Hermas é um Pastor religioso que contém as revelações feitas ao seu autor em Roma, por duas figuras Celestes: uma matrona e um Anjo vestido de Pastor. Daqui o título "Pastor de Hermas" e seria de origem ou formação judaica.



2. VIDA E OBRA DO PASTOR DE HERMAS

A data do seu nascimento é difícil determinar. A partir do texto e do fragmento Muratoriano podemos concluir que a parte mais antiga remontará ao Papa Clemente I e redacção definitiva de Pio I mais ou menos (180-200). Esse fragmento diz que o "Pastor de Hermas foi escrito na cidade de Roma, enquanto o seu irmão Pio era Bispo da cidade de Roma entre (140-154). Este escrito de carácter apologético e Simbólico, onde as circunstâncias familiares e Pessoais são claramente expostas, ilustrar a situação da Igreja nos decénios do século II, depois de grande prova das perseguições" . Pastor de Hermas teve a má sorte de ser vendido como escravo, mas a boa Senhora que tinha comprado deu-lhe logo a liberdade. Casou-se com uma senhora rica e tornou-se homem rico e com muitos filhos.

Não tendo dado uma educação aos filhos, estes denunciaram os pais, aquando das perseguições, aos quais foram confiscados todos os bens e ficaram pobres. Esta desgraça o fez com que se convertesse ao cristianismo e sentiu-se impelido pelo Espírito Santo a pregar a Penitência.

Pastor de Hermas revela-nos uma cultura judeo-cristã; a linguagem é aquela do Povo. Não é um letrado, é um homem prático, bom conhecedor dos homens e bom moralista.

Hermas (Pastor), tal como se apresenta hoje, este livro contém 114 capítulos e três grandes partes: 1ª (5) Visões, do Capítulo 1-25; 2ª (12) Preceitos, do Capítulo 26-49 e 3ª (10) Parábolas ou Similitudes, do Capítulo 50-114. É a obra de um compilador que reuniu retocando-os, dois livros anteriores do século II, sendo deles (correspondentes às visões I-IV), a obra de um certo Hermas e, o outro (visão V preceitos e parábolas), anónimo.

Ao que parece, também estas duas obras tiveram fontes hebraicas. A primeira parte das visões (I-IV) se mostra sob um aspecto semi-autobiográfico, semi-romanesco: uma anciã (Símbolo da Igreja) aparece a Pastor de Hermas, tranquiliza-o sobre a gravidade dos pecados dele se acusa (visão I) e lhe confia uma missão de dar a conhecer e anunciar um Dia de perdão para os cristãos que pecaram depois do baptismo, com a condição de que se arrependam (visão II).

Na visão III, Hermas, vê uma Torre construída com todo tipo de pedras, umas belas, outras rachadas, a anciã explica ser esta a imagem da Igreja, que tem em si Santos e pecadores arrependidos que era preciso apressar-se em fazer a Penitência, pois uma vez construída a Torre, será tarde demais. Em seguida, o Pastor de Hermas vê adiantar-se uma mostra; uma jovem, na qual reconhece a Igreja rejuvenescida, lhe diz ser símbolo da grande provação que está por vir (visão IV).

Na visão V aparece o Pastor, que ordena a Hermas transcrever seus Preceitos e suas Parábolas. Os Preceitos anunciam os doze Mandamentos em relação a Deus e ao Próximo que passaremos a citar:

"1. Fé em Deus criador (Cap. 26)

2. Caridade e simplicidade (Cap. 27)

3. Amor de verdade (Cap. 28)

4. Castidade, matrimónio, segundo matrimónio (Cap. 29-32)

5. Paciência e Cólera (Cap. 33-34)

6. As duas vias: Paraíso e Inferno (Cap. 35-36)

7.Termor de Deus, mas não do diabo (Cap. 37)

8. Acções de que se deve abster, obras boas a serem praticadas (Cap. 38)

9. Oração (Cap. 39)

10.Tristeza e alegria (Cap. 40-42)

11. Verdadeiros e falsos Profetas (Cap. 43)

12. Maus desejos (Cap. 44-49) " .

As parábolas se apresentam como quadros que servem para pôr em relevo pontos doutrinais ou morais. O Pastor, explica sucessivamente a Hermas a parábola do Olmo de Vinha, figuras do rico e do pobre: o Olmo sustenta a Vinha, que ordena o Olmo (parábola I e II, Capítulo 50); depois a das árvores secas e das verdejantes, símbolo dos pecadores e dos justos (parábolas III-IV, Capítulos 51-53).

A dos vinhateiros do Senhor e do escravo zeloso (parábola V, Capítulos 54-60); a dos dois Pastores: um representando o Anjo da volúpia e, o outro, o da penitência (parábolas VI-VII, Capítulos 61-66): as parábolas (VIII-IX, Capítulos 67-110) fazem de novo aparecer a Igreja sob dois símbolos: a árvore e a torre.

A última parábola (10ª) dos Capítulos (111-114) serve de conclusão da obra: Hermas deve fazer Penitência e perseverar, deve ainda ensinar aos outros a Salvação; enquanto a torre não estiver concluída, é o tempo de fazer a Penitência. Este livro, que se apresenta como uma revelação, exerceu grande influência. Contribuiu entre outras coisas, para afirmação da ideia de que os pecados cometidos depois do baptismo podiam ser perdoados, mas uma única vez: limite que foi mantido nos séculos seguintes para a Penitência pública.



3. A TEOLOGIA

A sua teologia apresenta-se sob forma de três pontos: a Penitência, a Igreja e o Filho de Deus. Os tempos de Hermas são aqueles depois da perseguição de Nero, Dominiziano e Troiano, onde muitos cristãos por medo de morrer tiveram que renunciar a fé. Voltados os tempos de paz querem voltar mas fizeram o grande pecado de negar a Deus e prestar falsos cultos. Dai que Hermas abre uma nova página de Teologia:"conceder uma segunda Penitência depois daquela do baptismo" . Há na Igreja uma Penitência institucional posterior ao baptismo. É universal e destina-se à "Metanóia" . A Igreja, como meio para a Salvação, que foi criada antes das outras criaturas. É uma exortação prática de circunstâncias muito exageradas à Penitência: afirmou que "há possibilidade do perdão dos pecados cometidos depois do baptismo até um determinado tempo antes da volta do Senhor" . Também afirmou ter uma existência de uma penitência salutar posterior ao do baptismo, uma penitência que é proporcionada a todos. A sua teologia centraliza-se mais na penitência e tem como fundamento a fidelidade em Deus.









3.1. A Penitência

Nenhum pecador e, portanto, nenhum pecado é excluído mesmo o impuro e o apóstata excepto, evidentemente, quem não queira arrepender-se. A Penitência deve ser imediata e produzir uma correcção no comportamento. E tem como fim intrínseco a metanóia, isto é, uma renovação completa do pecador. Deve ser uma santificação semelhante àquela produzida no baptismo pela efusão do Espírito Santo.

Se há a ideia de uma exclusão da Igreja por causa do pecado, também não é menos clara a afirmação de que há sempre a possibilidade de ser readmitido nela pela penitência. Neste sentido, são significativas as considerações que o Pastor fez a respeito da mulher adúltera. Hermas perguntou se o homem que surpreende a mulher em adultério peca ou não. Recebeu como resposta: «Enquanto o ignora não peca, mas se o homem sabe do pecado dela e a mulher se arrepende, mas persevera em sua fornicação, se neste caso o homem convive com ela, se torna réu do seu pecado e participa de sua fornicação». Poder-se-ia ler nestas linhas a força dada à penitência como reintegração à vida de comunhão. De facto, mais adiante, Hermas fez a segunda pergunta: «Se depois de repudiada a mulher fizesse a penitência e quisesse voltar a seu marido, seria ela recebida?». E tem-se a seguinte resposta:

«Pelo contrário, se o marido não a recebe, certamente levará sobre si um grande pecado». Hermas estabelece uma restrição: «Mas não por muitas vezes, pois só há uma penitência para servos de Deus». No outro contexto, Hermas falou do pecador que pela penitência é recebido na Igreja e reencontra o seu lugar na comunidade dos fiéis. Hermas não deixou de frisar que "depois do Baptismo onde recebemos a remissão dos nossos pecados o servo de Deus só tem uma penitência" .



3.2. Efeitos da Penitência

Se comparam aos do Baptismo, pelo que pode dizer que o perdão divino concedido pela penitência do pecador o reintroduz nos seus direitos na Igreja. Se pelo pecado ele estava excluído da comunidade, pela penitência ele retorna à comunidade.

Por sua vez, o Pastor de Hermas se referiu a uma única penitência. Mas não há uma explicitação de que os pecados produzem a excomunhão e quais os que merecem um perdão na Igreja, sem o qual não há reintegração do pecador na vida da comunidade.

A Didaqué, de modo especial, cita uma série de pecados sem no entanto estabelecer a gravidade de cada um. Entre eles menciona:"Assassinatos; impureza: adultério, paixões, fornicações; praticas mágicas e bruxarias; Falso testemunho: fraude, falsidade, hipocrisia, má conversa, inimigo da verdade; orgulho: arrogância, cobiça, maldade; vaidade: extravagância, jactância; ausência do temor de Deus; não ter compaixão para com o pobre: desprezar os indigentes e oprimir os aflitos" .





3.3. A ECLESIOLOGIA

A Igreja, segundo o Pastor, foi a primeira de todas as criaturas. Por isso se apresenta sob forma da mulher idosa e venerável. O mundo foi criado para a Igreja (visões I, II e IV). Mas a figura mais notável pela qual a Igreja aparece é a da Torre. A Torre representa a Igreja dos predestinados e dos eleitos, a Igreja triunfante, não a Igreja militante na qual Santos e pecadores vivem lado a lado. Esta Igreja está fundada sobre uma rocha que é Cristo.

Hermas apresentou a Igreja como corpo de Cristo e Sacramento da salvação e fez a clara distinção entre o Pai e Filho, mas muitas vezes identifica o Filho com Espírito Santo. Na Igreja entra-se mediante o baptismo: renascer pela água para receber a vida. A Igreja actual compreende também os pecadores, mas no momento da parusia será purificada.



3.4. O Baptismo

Ninguém é admitido à Igreja se não receber o baptismo: por isso, é que a Torre está construída sobre água (visão III). A nona parábola chama o Baptismo"Selo" : enquanto o homem não se leva em si mesmo o nome do Filho de Deus está morto; mas quando recebe o Selo, deseja-se da morte para revestir a vida. Selo, portanto, é a água do baptismo. É portanto, pelo ministério destes Apóstolos e doutores que os mortos receberam a vida e conheceram o nome do Filho de Deus.





4. A Ética

No campo ético ou moral, o Pastor de Hermas distingue entre obras obrigatórias e superrogatórias, e entre estas mencionou o jejum, o martírio e o celibato. Considera lícitas as segundas núpcias. É muito venerado na antiguidade cristã. O Pastor de Hermas chegou a ser contado entre os livros inspirados da Escritura. Nas segundas núpcias, contrariamente a um grande número de escritores eclesiásticos dos primeiros tempos, Hermas enumera sete (7) virtudes a saber: a Fé, a Continência, a Simplicidade, a Ciências, a Inocência, a Reverencia e o Amor. São representadas por sete (7) mulheres, símbolo que terá grande importância na arte cristã. Para Eusébio e Orígenes era o mesmo Hermas que dizia S. Paulo cintando (Rm16, 14), a mulher chamada Rode. Mas adiante Hermas diz que «o adultério não é apenas macular o corpo, que vive como os pagãos, também comete adultério» Locus citatus. No nono mandamento (capítulo 39), em termos éticos recomendou a fé e a penitência aos homens. Com este mandamento de Hermas há um pouco de relação com a passagem bíblica de São Mateus, quando Jesus disse «pedi e vos será dado; batei a porta e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate a porta se abrirá» (Mt 7,7-8).



5. APRECIAÇÃO CRÍTICA

Bom, a obra é interessante na vida dos fiéis, porque ela trata da Penitência e na linguagem mais vulgar da Reconciliação. Isso faz-me lembrar que mesmo a nível familiar todas vezes que cometermos erros ou falhas aos nossos pais ou mesmo aos nossos próximos temos que pedir o perdão das nossas culpas. Hoje como hoje precisamos de uma grande evangelização deste Sacramento, parece-me que são pouquíssimos que vão ao penitenciário ou que sabem pedir desculpas depois de errarem mesmo com ou sem ter em conta.



6. CONCLUSÃO

Para terminar este trabalho que falou sobre o "Pastor de Hermas" vida, a obra e pensamento, importa salientar que a obra é muito vasta porque tem 114 capítulos, que se divide em três partes: Visões, que de forma sumária tratam da Igreja; Preceitos falam de mandamentos em relação a Deus e ao próximo e as Parábolas que transmitem os conselhos para o aperfeiçoamento da vida de cada um de fazer sempre a vontade do Pai.

A obra é linda e rica em conteúdo. Também tivemos algumas dificuldades de percepção. A obra em si trata da Penitência. Hermas disse que os pecados cometidos depois do Baptismo têm acesso à Penitência ou Reconciliação e recomendou-nos a fidelidade em Deus.

Hermas teve a missão de chamar todos os cristãos à penitência que urge, porque no tempo presente se encontra a última oportunidade, tal é o argumento intrínseco de uma carta do céu entregue pela Igreja.







BIBLIOGRAFIA

NAUTIN.P in Dicionário patrística e de Antiguidade cristã, Editora Vozes, Petrópolis 2002.

FIGUEIREDO. A. F, Curso de Teologia patrística II, Editora Vozes, Petrópolis, 1984.

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