sábado, 16 de abril de 2011

A VIRGINDADE

VIRGINDADE


a) Motivações
A razão principal e primordial da virgindade cristã é para encaminhar-se apenas para as coisas de Deus e orientar, para Ele só, o espírito e o coração; querer agradar a Deus em tudo; concentrar nele o pensamento e consagrar-lhe inteiramente o corpo e a alma.
Esse vínculo de perfeita castidade consideraram-no os santos padres como uma espécie de matrimónio espiritual da alma com Cristo; Só a caridade inspira e anima a virgindade cristã, para servir a Deus mais livre e facilmente. Portanto, a virgindade facilita a elevação da vida espiritual e fecunda o apostolado. Ela contribui com maior eficácia para nos dedicarmos completamente ao divino serviço.
A virgindade consagrada a Cristo constitui, por si mesma, tal testemunho de fé do Reino dos céus e tal prova de amor ao divino Redentor, que não é de admirar que dê frutos tão abundantes de santidade.
A par destas motivações encontramos outras ainda que nos levam a considerar a virgindade como escolha de valores. A virgindade é essencialmente cristológica, escatológica e eclesiológica.

i) Escolha cristológica
A virgindade é amor profundo e imitação de Cristo. Dado que a vida de Cristo estava orientada para a proclamação da vinda e da presença do Reino de Deus em espírito de ágape, isto é, de amor e serviço. Cristo renunciou à satisfação sexual e a outras expressões de intimidade; renunciou à íntima companhia de uma mulher determinada (cf. Mt 8,20; Mc 3,21.32-35). Cristo, através de sua vida célibe ensina-nos a todos a forma de nos darmos inteiramente ao Reino (cf. Mt 9,12).



ii) Escolha escatológica
A virgindade é um testemunho dos bens futuros, uma manifestação da fé e da esperança em Deus; a virgindade manifesta a graça e um constante chamamento à transcendência. O célibe grita com a própria vida aos seus irmãos que o Reino de Deus espera em Cristo a sua total realização.



iii) Escolha eclesiológica
A virgindade é sinal da Igreja. Como a Igreja, sacramento de Cristo, é formada por Ele e o oferece aos homens, assim também a pessoa consagrada leva consigo este carácter da Igreja: levar o amor puro e casto de Cristo ao mundo inteiro e a todos os homens e mulheres; põe-se totalmente à disposição da Igreja, em serviço redentor, comprometendo-se, através de um pacto de amor universal, a interessar-se somente pelas “coisas” de Deus.



b) Visão da Moral Sexual
A vida virginal é uma forma de encarar e viver a esfera afectiva e sexual que constitui a dimensão básica do ser humano. «A renúncia ao exercício da genitalidade e a compartilhar a existência com outra pessoa não significa deixar no esquecimento um aspecto que também é imprescindível na vida do celibatário» .
A virgindade é o estado daquele ou daquela que não teve relações sexuais completas. A questão incide sobre a avaliação moral das relações sexuais antes de um compromisso conjugal.
A virgindade, mais do que uma realidade física, «é um modo de estar e de actuar; mais do que uma situação material, é uma decisão por valores que se consideram importantes e mobilizadores da vontade em ordem a uma vivência pessoal, a finalidade que se busca» .
A virgindade não é fuga de um complexo mundo da sexualidade ou uma inexplicável carência de necessidades sexuais; não resulta da incapacidade de a pessoa estabelecer relações de intimidade verdadeira e fecunda. É antropologicamente uma forma de viver e expressar o encontro e o amor.

c) No Magistério da Igreja
Os padres e doutores da Igreja claramente ensinaram que «a virgindade não é virtude cristã se não é praticada “por amor do Reino dos céus” (Mt 19,12)» . Isto é, para mais facilmente nos entregarmos às coisas divinas, para mais seguramente alcançarmos a bem-aventurança, e para mais livre e eficazmente podermos levar os outros para o Reino dos céus. Por ser a virgindade mais perfeita que o matrimónio, não segue que seja necessária para alcançar a perfeição cristã .
A virgindade e o celibato pelo Reino de Deus não só não contradiz a dignidade do matrimónio, mas a pressupõe e a confirma. O matrimónio e a virgindade são dois modos de expressar e de viver o único mistério da aliança de Deus com o seu povo. Assim, a estima da virgindade pelo Reino e o sentido cristão do matrimónio são inseparáveis e se apoiam mutuamente.
A virgindade torna o coração mais livre para amar a Deus. O coração virgem não está condicionado pelos compromissos requeridos pelo amor nupcial e pode, portanto, ser mais disponível para o amor gratuito dos irmãos. «A virgindade pelo Reino dos céus, por consequência, exprime melhor a doação de Cristo ao Pai pelos irmãos e melhor prefigura a realidade da vida eterna, toda substanciada de caridade» . Ela implica certamente renúncia à forma de amor típico do matrimónio. Assume porém, a nível mais profundo, o dinamismo inerente à sexualidade de abertura oblativa aos outros, potenciado e transfigurado pela presença do Espírito que ensina a amar o Pai e os irmãos.
Pela virgindade, que é vista como o ponto mais alto da renúncia, a alma atinge os píncaros da contemplação e se torna perfeita. Para Santo Ambrósio, pois, a virgindade é essencial à vida espiritual. Por ela a alma se une a Cristo, tornando-se sabedoria e luz .
Autêntico amor humano e cristão, a virgindade consagrada é um factor de maturidade, de personalização e de socialização, um bem para a pessoa e para a comunidade humana e eclesial. O Vaticano II sustenta que a virgindade é um dom precioso da graça concedido a alguns, para que mais facilmente, com coração indiviso, se consagrem a Deus só (cf. LG 42). O dom da virgindade não é apanágio deste ou daquele componente eclesial, mas é bem de toda a Igreja: na verdade, a condição virginal é vivida pelos leigos (cf. LG 4,22), pelos religiosos (cf. LG 43,46; PC 12), pelos ministros sagrados (cf. PO 16).
A opção pelo estado virginal se baseia no ensinamento de Cristo e no seu exemplo e no da Virgem Maria (cf. LG 43,46). A virgindade consagrada tem função múltipla de sinal: da caridade sobrenatural para com Deus e para com os homens (cf. LG 42; PC 12) e do mundo futuro, já presente através da fé e da caridade, no qual os filhos da ressurreição não se unem em matrimónio (cf. PO 16).
A virgindade é fonte de fecundidade espiritual, meio eficacíssimo para a dedicação ao serviço divino (cf. PC 12, PO 16). Longe de constituir obstáculo para o amadurecimento da pessoa, ela é antes um “bem para o desenvolvimento integral da pessoa” (cf. PC 12) e dispõe os que a abraçam “a receber uma paternidade mais ampla em Cristo” (cf. PO 16).

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