terça-feira, 26 de abril de 2011

A POBREZA DO HOMEM QUE PROCURA DEUS

«Senhor, na miséria desta vida, o meu coração atingido pelas palavras da tua Sagrada Escritura, anda profundamente perturbado». Santo agostinho nos apresenta fala da vida tão miserável que o homem leva dia após dia, mas que essa miséria não é de um homem abstracto e conhecido e vivente, parte da sua próprio experiência como pessoa e experiência da vida e com o tempo informado da profundidade da sua miséria existencial pela Palavra da Bíblia. Santo agostinho vive num conflito interior, na busca da sua liberdade e consolação. Quando ele nos fala da perturbação interior, quer nos falar exactamente das necessidades que cada homem tem diante de si. Fala das preocupações que tornam o homem triste e miserável. Contudo, para Santo Agostinho, temos uma esperança onde a nossa miséria não tem espaço para continuar, isto é Deus é a fonte de toda a consolação do homem miserável.

Quando Agostinho fala das primeiras criaturas que fora feitas fora do tempo, está a apresentar a sabedoria de Deus, quer nos apresentar o sofrimento que homem passa nesse lugar criado fora do tempo, tal lugar onde habita o homem miserável tinha o nome de abismo que era coberto pelas trevas. As trevas cobriam o abismo, estas palavras não significam outra coisa senão a falta da Luz. Portanto, é neste lugar de escravidão onde morra o homem que procura aquilo já vive nele. A necessidade do reconhecimento da sua condição de pequenez leva o homem a alcançar o seu consolo em Deus. “Vivi mal, vivendo de mim mesmo. Fui causa da minha morte. Em ti revivo”. (Idem, Liv. XII, p.329). Neste trecho, encontramos profundamente os motivos do sofrimento do homem dramático, homem miserável. Trata-se de um homem doente, decaído, miserável desajustado de si próprio, um homem que se encontra efectivamente no lugar da infelicidade vivendo em constantes conflitos interiores.

As criaturas das quais as apresentam como criadas fora do tempo, não são nem por isso coeternas com Deus, é a terra e o céu. Onde a terra é informe e que é nela onde se encontra o sofrimento do homem e o Céu que é tão perfeito, que jamais deixa de contemplar as maravilhas do senhor e é aqui onde o homem achincalhado encontra a sua salvação. E essas criaturas são sujeitas ás vicissitudes do tempo, devido ás mutações regulares e formas de seus movimentos e formas. Para finalizar este discurso das criaturas fora do tempo: a primeira é o céu do céu, o céu intelectualmente compreender é conhecer tudo ao mesmo tempo e não em parte, não por enigmas ou através de um espelho, mas inteiramente, em plena evidência, face a face. Conhecer, não ora isto ora aquilo, mas – tudo simultaneamente, sem as vicissitudes do tempo. A segunda é a Terra invisível e desorganizada, sem aquela temporalidade que costuma trazer consigo, ora uma realidade ora outra. Nestas duas realidades encontramos a veracidade da Escritura quando nos diz: no princípio Deus criou o céu e a terra, sem mencionar dias. Entretanto, o homem agostiniano sofre pela busca de dados inerentes á sua existência, a tudo quer interpretar, e a tudo quer saber, daí quando chega a falar de si próprio se encontra muito longe da felicidade, acha-se em apuros e sem saída e começa a dramatizar a sua existência, coloca a Deus a sua preocupação, o seu sofrimento, apresenta n`Ele tudo que lhe atormenta, pois Deus é o seu refúgio.

A existência do homem é dramática, antes de mais, por estas razões muito práticas. O homem vive longe de Deus, quando o seu lugar natural é Deus. Contudo, aumenta o seu drama existencial na medida em que se vê aviltado, achincalhado a conjugar o sofrimento contra o sofrimento do amo desordenado das criaturas a concupiscência ou visco do falso amor. Nisto descobrimos que o homem vive o risco de se perder carecendo de uma bússola para orientar. Essa orientação podemos chama por uma bússola e que tal bússola é a lei moral. A lei moral é fundamentada por Agostinho, é sobretudo a ontologia que fundamenta a ética; a ordem das essências, a ordem da existência. Entretanto, o homem não cria a ordem de valores pelos quais opta, não inventa a verdade que lhe convém, não é uma existência gratuita a preceder uma essência por si construída sem porquê nem para quê. O homem move-se no quadro de uma ordem ontológica dada, a qual lhe fornece a ordem axiológica a que há-de ater-se na busca própria realização humana.

Num contexto de vários infortúnios e precárias situações de vida, o homem encontra-se numa profunda penúria. Condenado a existir, o homem sofre de desconforto, pois, o seu futuro é incerto e ambíguo, não há evidências de uma vida futura melhor que esta. Desta feita, o homem transcende a Deus e a religião, encontrando-se diante de si, questiona-se sobre a condição que tem de ser feliz. Sendo que, o homem faz escolhas, opções, as quais assumi-as como seu modo de existir, mas porque a vida, por vezes torna-se um beco sem saída, o homem é inevitavelmente personagem principal do drama da existência. Santo Agostinho tendo se preocupado com o drama da existência humana, apresenta-nos um homem miserável, frágil, contingente, dramático, mas que através da sua abertura com Deus é um projecto possível. Dai que não seria absurdo dizer que a visão de homem em Sto.Agostinho cifra-se em dois pólos, nomeadamente: miséria e a esperança. A miséria humana manifesta-se em actos concretos: prazer, concupiscência, entre outros. Entende-se miséria humana enquanto incapacidade radical de encontrar a verdade, de encontrar a Deus, por causa do apego total às coisas corruptíveis. E, por isso mesmo, o homem vive sem Deus, vive separado de Deus. “Invoco-vos ó meu Deus, misericórdia minha que me criastes e não vos esquecestes de quem vos esqueceu” (Idem, XIII, p. 356). Ora, para quem a vida só tem sentido nos prazeres não é espantoso que se esquece de Deus, contudo, viu-se em apuros, porque não se bastava a si próprio, ansiava, deste modo, encontrar-se com Deus. O homem tem uma natureza enredada no mal, de tal forma que está sujeito ao sofrimento, está moralmente degradado, é incapaz de pensar com sinceridade. Com isto, é válida a ideia de que o prazer é a fonte dor, do mal. A causa do sofrimento, da desesperança, da desordem é os prazeres carnais. Agostinho não permaneceu intacta a esta situação, pois, era do tipo que se aferrava demasiadamente ao sensível, era um homem vicioso e agarrado ao erro, por isso, viveu umas das mais amargas experiências da existência.

De facto, Sto.Agostinho foi um homem sofredor, pecador, arrastado pelo mal, decaído, mas como Deus não se deixa influenciar pelas acções humanas nem se deixa seduzir pelas maravilhas do mundo, resistiu à soberba de Agostinho. Escreveu Agostinho, “sim, vós, Senhor, apagaste todos os meus delitos para não castigardes como mereciam as obras de minhas mãos, as quais me afastavam de vós” (Ibidem), esta é uma declaração clara de que Agostinho passou muito tempo da sua vida cometendo falhas, inutilizando a existência de Deus, mas vendo que a sua vida estava num precipício, encerada num abismo profundo, faz novas escolhas de enveredar pelo caminho da luz, quer colocar a sua vida em Deus, misericórdia infinita.

“Que tinham merecido essas naturezas de ordem espiritual e corpórea que criastes segundo a vossa sabedoria? Que me digam o que elas mereceram para receber de vós, cada uma na sua espécie espiritual ou corporal, esse ser, mesmo imperfeito, informe e caminhado para a dissolução e para longe da vossa imagem” (Idem, p. 357), entende-se que Deus criou o homem e todas as coisas não por necessidade, mas por amor, pelo que, o homem de Agostinho, frágil, decaído, pecador, pensa que se Deus criou-o por amor não o deixará na escravidão do pecado, mas irá o salvar perdoando todos os seus delitos. É nisto que consiste a infinita misericórdia e bondade de Deus. “Contudo somos luz só pela fé e não pela visão clara (de Deus). Fomos salvos pela esperança” (Idem, p. 366). Agostinho sente dentro de si que a sua é um verdadeiro caos, não tem nenhuma orientação porque vive afastado de Deus, porém, pela sua fé, tem esperança de um dia ser salvo das suas misérias, de seus apegos aos prazeres, que são a causa do sofrimento.

 “De facto, não conhecemos outros livros que assim destruam a soberba e assim arruínem o inimigo...” (Idem, p. 369). Agostinho passou muito tempo longe de Deus, havia uma desordem total dos seus sentidos, pois, estes não estavam ao serviço do que deviam, mas ao serviço de coisas corruptíveis, então, quando começou a trilhar pelo caminho da Escritura viu esses males a serem vencidos, a serem arruinados. “...Mas, ao princípio, desertado de vós, éramos arrastados para o mal” (Idem, p. 398). Agostinho pensava que são as coisas que lhe podiam fazer feliz, que a vida era bela e só tinha sentido nos prazeres. Não obstante, o dinheiro, as mulheres e outros bens que os considerava tão valiosos, somente lhe induziam ao mal tornando-se, portanto, vítima do sofrimento. Contudo, quando se aproximou de Deus a vida ganhou um novo rumo.

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