sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SAGRADA ESCRITURA: REVELAÇÃO

I. REVELAÇÃO

1.1. Conceito da Revelação

Do latim: revelatio

Do grego: apocalypsis

Etimologia: a remoção de um véu – descobrir

Trata-se de trazer à luz, ao visível algo que estava encoberto, escondido, oculto de forma especial e extraordinário (manifestação especial e extraordinária). Este algo é comumente chamado Mistério, aquela realidade que transcende as formas ordinárias de conhecer (ver, ouvir, relacionar). Daí que Revelação é sempre revelação dum Mistério; daí que não há revelação sem Mistério.

Teologicamente: Revelação é o acto pelo qual Deus na sua bondade e sabedoria manifesta-se a Si mesmo e comunica ao homem os designios mais recónditos da sua vontade; auto-manifestação do Ser de Deus em que Deus rompe o silêncio.

Na Dei Verbum: Revelação aparece como auto comunicação; auto-doação de Deus em Jesus Cristo; como acto pessoal e comunicativo, isto é, de alguém que se comunica a outro alguém, para convidá-lo a entrar em comunhão de vida com ele; como acto trinitário, Deus Uno e Trino que na sua bondade e suprema liberdade toma iniciativa, de ir ao encontro do homem (DV2).

1.2. Natureza e necessidade da Revelação

A necessidade da revelação nos leva a sua finalidade que é de convidar o homem a entrar na comunhão consigo mesmo (de forma horizontal) e com Deus (de forma vertical). Será necessário que Deus se revele? Não poderá o homem, por si mesmo encontrar Deus? Como poderiamos obrigar a revelar-se aquele que os nossos olhos pressentem sem o ver? Muitas vezes o homem procura e busca, tantas vezes nas trevas e dolorosamente, o rosto de Deus, o Deus desconhecido. Neste contexto, a revelação pretende ser a resposta de Deus à questão do homem: Deus revela-se ao homem, livre e gratuitamente, indo ao encontro da razão, da busca, da angústia e do tetear humano.

Portanto, se o espírito humano, com todo o seu esforço, não pode exaurir até ao fim o conhecimento integral de um só objecto. Se Deus é Deus, só este livremente se pode revelar ao homem.

1.3 Conteúdo essencial da Revelação

A revelação de Deus é um gesto gratuito do próprio Deus: “aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria...”. Deus revela-se a si mesmo e dá a conhecer aos homens a sua bondade salvífica que consiste no acesso ao Pai que nos torna participantes da natureza divina por Cristo, no Espírito Santo. Portanto, gratuitamente e por amor, Deus não só revela aos homens o seu mistério de amor trinitário, como abre o acesso e convida à participação na sua natureza e comunhão de vida (DV.2).

A comunhão eterna e trinitária com Deus, é a finalidade e o conteúdo último e definitivo da obra de Deus, manifestada e realizada na sua revelação definitiva em Jesus Cristo.

O texto conciliar relembra e reafirma que a economia cristã, como Nova e Definitiva Aliança, jamais passará e não deve esperar-se nenhuma outra Revelação pública antes da gloriosa manifestação do Nosso Senhor Jesus Cristo (1.Tm6,14; Tit.2,13.) Enquanto Deus está no e pelo seu Filho Jesus definitiva e insuperavelmente revelado, não tem qualquer sentido esperar outra nova Revelação pública de Deus. E mesmo a sua segunda vinda, não é uma nova e outra Revelação de Deus, mas uma outra manifestação, modalidade da Revelação definitiva já acontecida e realizada.



1.4. Modo Concreto de como se realizou a Revelação

Esta realizou-se numa economia de salvação, num relacionamento salvífico, numa história de salvação e concretizada em gestos e palavras: obras, doutrina, realidades e palavras, intimamente relacionadas e implicadas entre si. Deus revela-se de “modo humano” e por isso realiza-se numa história (de Israel e de Jesus Cristo) que inclui a Palavra do AT e do NT. Portanto, esta Revelação realizou-se através de toda a presença e manifestação de Si mesmo; por Palavras e obras, sinais e milagres e sobretudo pela gloriosa Ressurreição dos mortos, enviando por fim o Espírito de Verdade.

A verdade íntima, isto é, a verdade profunda e última desta revelação brilha para nós em Cristo, único mediador e plenitude de toda a revelação (DV.2).

1.5. Diversos momentos da preparação da Revelação em Cristo

Jesus Cristo, como Revelador e Revelação plena de Deus é o termo de um longo processo, de uma longa pedagogia divina.

Eis os momentos variados:

• O testemunho de Deus criador, presente nas realidades criadas, como seu autor;

• A manifestação de Si próprio aos primeiros pais (sem se especificar o modo concreto como se terá realizado);

• A esperança de Salvação e a promessa da redenção, depois do pecado;

• A assistência do genero humano, para dar a vida e a terra a todos aqueles que procuram salvar-se pela prática perseverante do bem.

Foram através destes momentos que Deus foi acompanhando e preparando a humanidade, isto é, o povo de Deus (Israel) para a plenitude da Revelação em Jesus Cristo. Trata-se do povo que reconheceu em Deus o seu carácter único, a sua bondade de Pai providente e de justo juiz. Assim, através dos tempos, Deus foi praparando o caminho à Boa Nova, Jesus Cristo, à plena Revelação de Si-mesmo (DV.3).

1.6. Cristo, mediador e plenitude de toda a Revelação

“Deus, já tinha falado, nos tempos antigos, muitas vezes e de diversas maneiras aos pais, por meio dos profetas, através dos quais Deus falou aos homens ao longo da História da Salvação; ultimamente, nestes dias, falou a nós por meio do filho” (Hb.1,1-2). que enviou para habitar entre os homens e lhes manifestar a intimidade de Deus (Jo.1,1-8) para revelar e comunicar a realidade última e intima de Deus em Si-mesmo. Aqui nos é apresentado a figura de Cristo como o apice e a plenitude da revelação; aquele que revela Deus e que revela o homem a si mesmo. Cristo torna-se a grande novidade, o Mistério inexaurível.

A “acção” reveladora de Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado como homem para homens, é descrita através de dois traços essenciais:

• Ele “diz as Palavras de Deus” (Jo.3,34); e

• “Consuma a obra da Salvação que o Pai lhe confiou”

Jesus torna-se o definitivo profeta, Palavra Eterna e divina de Deus.

Deus revela-se salvando em e por Jesus Cristo: Revelação é Salvação e Salvação é Revelação. E mais do que transmissão de Palavras, Revelação, é transmissão de vida divina, comunhão com Deus, realizada por Jesus Cristo. Ele é Revelação e o Revelador existencial de Deus.

Jesus é a meta, o agente (o revelador) e o objecto (o ser revelado) da revelação. Jesus é aquele que explica o sentido dos acontecimentos e por consequente apresenta um complemento à Revelação do AT. A revelação de Jesus é constituida por sua pessoa, sua morte e ressurreição. Já não há outra revelação.

Concluindo:

• Revelação é um diálogo inter-pessoal entre Deus e o homem;

• Revelação é progressiva

• Revelação é constituida por acontecimentos e palavras;

• Cristo é o vértice da Revelação;

• Revelação deve ser recebida na fé.



1.7. A Revelação de Deus operada em Jesus Cristo

Na linha de toda a Tradição, Deus revela-se na e através da história A revelação de Deus preanunciada ao longo da antiga Aliança culmina e é consumada em Jesus Cristo (2Cor.1,10; 1,3; DV7). Trata-se de uma revelação que é total, última de Deus, a definitiva. Deus está em Jesus Cristo plenamente revelado (Revelação e Revelador de Deus). Assim afirma (Jo.14,9): “Quem me vê, vê o Pai”.Deus revelou-se definitivamente ao homem, na pessoa, vida e doutrina de Jesus Cristo, seu filho e sua palavra feita carne.

1.6. A Fé, como resposta do homem à Revelação de Deus

A DV, define nestes termos a fé: “a Deus revelador é devida a “obediência da fé” (Rm 16,26; 1,5; 2Cor. 10,5-6) pela qual o homem livremente se oferece a Deus. A fé é oferta de liberdade, entrega, dom de si-próprio, pelo qual o homem todo se oferece a Deus. Ter fé, muito mais do que acreditar em algo, é acreditar em Alguém, entregar-se e confiar num Ser passoal, mais do que adoptar uma doutrina. Ter fé é relacionamento existencial e interpessoal, é confiança radical do homem em Deus, Ser pessoal, revelado em Jesus Cristo. É ter comunhão de vida com o próprio Deus, vida Eterna, trinitária, divina (DV.1). Trata-se da fé viva, plena, salvadora, inseparável da esperança e da caridade, isto é, a entrega total e livre a Deus.

A fé exprime-se na plena entrega da inteligência e da vontade, por isso que o acto de fé é racional. Pela fé o homem se entrega todo a Deus como também voluntariamente adere à Revelação dada por Ele. A fé é desão pessoal a Deus e a adesão às verdades reveladas pelo próprio Deus, com um conteúdo próprio e um objecto material determinado: acreditamos simultaneamente em Alguém (conteúdo) e em Algo que Ele revelou (objecto material). O Credo, constitui o resumo básico da nossa fé, em que estão expressas as diversas verdades que compõem o conteúdo dessa fé.

A fé é plenamente humana enquanto relação de entrega total e confiante do homem a Deus e à sua Revelação; e também é plenamente divina, enquanto ela não é possível, sem graça de Deus preveniente e adjuvante, o Espírito de Verdade que nos conduz à verdade total (Jo 16,13) que nos abre a inteligência e nos impele à adesão plena e progressiva da fé. A fé é obra do homem, por ser atitude fundamentada e livre que pode ser recusada; e obra de Deus, sem o Qual a fé não é possível, porque é Ele que gratuitamente se revela e impele à entrega e adesão de fé.

Portanto, a fé é a obra salvadora do Espírito Santo em nós em todo o caminhar. Por isso que “para que a inteligência da Revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa continuamente a fé mediante os seus dons”.

Eis a noção de fé na DV; A fé cristã é:

• a entrega total e livre do homem;

• a entrega a Deus e à sua Revelação em Jesus Cristo;

• oferta plena da sua inteligência e vontade sob influxo da graça e do auxílio interior do Espírito Santo;

• a entrega que nos liberta das trevas do pecado e da morte;

• nos dá comunhão de vida eterna, divina, trinitária, com o próprio Deus.



1.7. A necessidade da Revelação frente da problemática de relacionamento entre a Razão e a Fé.

O Vaticano II, baseando-se em Romanos, afirma que “Deus, princípio e fim de todas as coisas, a partir das coisas criadas pode ser conhecido, com certeza, pela luz da razão humana” (Rm 1,20). Esta afirmação de S.Paulo diz que pela razão humana o homem, por si mesmo sem a revelação, apartir das realidades do Universo, pode chegar ao conhecimento de Deus, como autor e criador do próprio universo.

Perante a desconfiança moderna na capacidade metafísica da própria razão humana e perante o fenómeno hoje tão generalizado do ateismo, como poderá entender-se esta afirmação dogmática do Vaticano I que o Vat.II faz inteiramente sua?

O texto diz que o homem pode chegar ao conhecimento de Deus e não diz que necessariamente tenha de chegar (podendo haver algo que o impeça de chegar a esse mesmo conhecimento).

A própria luz natural da razão humana está sempre e necessariamente sob o influxo do sobrenatural, da graça. Este trata-se como um segundo princípio mais prudencial e de complementariedade: aquilo que nas coisas divinas, de si, não é acessivel à razão humana, deve atribuir-se à revelação o facto de poder ser conhecido por todos com firme certeza e sem mistura de erros. Isto quer dizer que, há afirmações acerca de Deus que, em princípio podem ser conhecidas por duas vias diferentes, a de Razão e da Revelação.

Pela Revelação, este conhecimento, de Deus, torna-se generalizado, acessivel a todos, fácil, certo e sem erro. A Revelação de Deus, portanto, manifesta realidades totalmente inacessíveis, como afirma, mesmo sobre aquelas realidades relacionadas com Deus que, de si, teoricamente não são acessíveis à razão.

II. INSPIRAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA

2.1. Conceito da Inspiração

Etimologia: In-spiratio – sopro interior, Espírito agindo interiormente.

Definição: influxo interior, carismático, execido pelo Espírito Santo nos autores sagrados da Sagrada Escritura (hagiográfos), influxo pelo qual de modo especial e imediato, Deus é verdadeiro autor destes escritos, de tal maneira que eles exprimem realmente a Palavra de Deus (2Tm.3,16; DV.11).

2.2. Natureza da Inspiração

Aqui, trata-se da inspiração bíblica, de escrever. A sua natureza consiste no suscitar e guiar a composição e redacção dos escritos sagrados, através de todas as fases e eventualmente de vários autores e redactores, de tal modo que as Escrituras contém tudo aquilo e só aquilo que Deus quiz dizer através delas (DV.11). A acção divina da inspiração coloca-se na origem e genese da palavra; daí que onde inicia o processo de construção da obra, ai também se coloca o inicio da acção inspiradora de Deus sobre o hagiográfo.

A inspiração não pode ser identificada com a revelação e nem a experiência da inspiração deve ser identificada com a experiência da revelação. A autocomunicação reveladora e salvífica de Deus trino, vai além de qualquer impulso de ser dado divinamente. O dom, carisma de inspiração (bíblica) é apenas uma especial presença e actividade divina, que visa manifestar e comunicar aos seres humanos o amor salvífico de Deus. Qualquer espécie de inspiração envolve um impulso especial. Assim, a inspiração bíblica é o impulso dado por Deus para escrever, mais do que para falar; e isto significa que certos livros foram escritos sob o impulso e direcção especial do Espírito Santo de modo que podemos chamar Deus, o autor da Sagrada Escritura. Por exemplo, nenhuma profecia veio por impulso humano, mas os homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus (1,20s).

2.3. Inspiração dos autores Sagrados

Para que a Palavra de Deus fosse anunciada a todos os homens e estes chegassem a verdade (1Tm 2,3) foi necessário que Deus inspirasse aos autores Sagrados (servindo-se deles sem nada lhes tirar a liberdade) aquilo que fosse a mensagem da revelação – salvação, com fidelidade e sem erro (DV.11).

Os autores sagrados gozam de carisma da inspiração escritual. São pessoas que experimentaram a autocomunicação gratuita de Deus e por conseguinte puseram por escrito aquilo que discerniram, interpretaram, expressaram e suas experiências da presença e actividade de Deus. Todos os autores inspirados receberam uma direcção divina especial para expressarem e relatarem algo por escrito, podendo haver assim graus diferentes da presença e actividade do Espírito a seu favor; também a natureza do tema poderia afectar o grau de inspiração. O impulso divino especial de escrever respeitou os talentos artísticos (e as deficiências). E como os dons divinos são geralmente proporcionais às qualidades humanas dos recipientes, um carisma mais alto de inspiração combinaria com a personalidade dramática de Paulo de Tarso. E o Espírito Santo poderia agir de modos diversos sem que os beneficiários estejam necessariamente advertidos dessa influência no dado momento.

O carisma da inspiração guiou a todos que contribuiram para os livros da Escritura. Enquanto que os poetas, dramaturgos e novelistas modernos escrevem normalmente para si próprios, neles se reflectem muito o seu fundo individual e são pessoas muito seguras de si mesmas, os autores bíblicos, muitas vezes, escreviam anonimamente, apoiando-se na experiência geral dos crentes, e produziam suas obras para servir a comunidade. Esse impulso do Espírito operou através das condições históricas dos autores bíblicos. O carisma da inspiração foi comunicado primeiramente á comunidade e a individuos pertencentes à comunidades. Sendo que o carisma pertenceu à actividade divina de estabelecer a Igreja, este cessou uma vez que a Igreja já estava fundada. E as gerações posteriores de cristãos tem a responsabilidade de proclamar a ressurreição, manter a Igreja em existência e viver segundo a Bíblia. Mas eles não testemunham directamente o Cristo ressuscitado, nem fundam a Igreja, nem escrevem Escrituras inspiradas.

A inspiração da Escritura ou do seu autor humano não deve ser entendida, como tantas vezes foi, como se Deus ditasse ao ouvido do autor sagrado as palavras misteriosas que ele, mecanicamente e passivamente, deveria escrever.

Os autores humanos da S.Escritura são verdadeiros autores literários da sua obra, com a sua inspiração artística, estilo, características tipicas, inseridos num dado meio social, cultural e teológico, prosseguindo determinadas intenções, escrevendo para interlocutores individuais ou comunidades concretas. São autores humanos tributários da mentalidade, de ciência e da cultura da sua época e da sua situação, com as suas inegaveis qualidades, limitações e até imperfeições.

Os autores sagrados conservaram o carácter de pregação falando com verdade e sinceridade acerca de Jesus, quer buscando -se na sua própria memória e recordação, quer no testemunho daqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares, com a intenção de que conheçam a verdade das coisas a respeito dos quais foram instruidos (Lc.1,2-4; DV.19).

A garantia última da inspiração e fidelidade da palavra da escritura é dada pela assistência do Senhor Jesus pelo envio e presença do Espírito aos seus apóstolos.

O Vaticano II, venera as Sagradas Escrituras a par com o próprio Corpo de Cristo: o Pão da Vida é tomado tanto à mesa da Palavra de Deus como do Corpo de Cristo e junto com a Sagrada Tradição. É necessário, pois que toda a pregação da Igreja assim como a própria religião cristã se alimente e seja orientado pela Sagrada Escritura (DV.21). A Palavra de Deus exprime-se em Tradição e Escritura.

2.4. Efeitos da Inspiração na obra dos autores sagrados

Deus não inspirou os autores sagrados para si mesmos, mas sim, em função de sua obra (escritos), isto é, da Igreja, dos outros homens, para que a Palavra de Deus possa chegar até eles.

Portanto, eis o efeito da inspiração:

• Tornar a palavra humana, a Palavra de Deus, isto é, tornar inspirada a linguagem escrita a Palavra de Deus;

• Permitir-nos chamar as Escrituras de Sagradas, sem conter nem poder ter erros.





III. FORMAÇÃO DO CÂNONE

3.1. Conceito do Cânone

“Cânone” é expressão de origem semita que quer dizer: vara, medida, regra.

Teologicamente falando quer dizer: conjunto ou colecção, o índice, dos diversos livros que constituem a Sagrada Escritura aos quais é reconhecida a inspiração e a autoria divina; colecção fechada de livros inspirados, que favorece um padrão autoritativo para a fé e prática cristã;

Canonização, pressupõe a direcção especial do Espírito Santo para a composição vigente das Sagradas Escrituras. Um escrito é inspirado enquanto é de origem divina. Um escrito é canónico enquanto a sua origem divina é reconhecida oficialmente pela Igreja.

Portanto, são tidos como livros canónicos, aqueles que fazem parte do cânone, reconhecidos pela Igreja como escritos por inspiração divina e que, enquanto Palavra de Deus, são normativos, tem valor de regra de fé.

3.2. Critérios para a formação do Cânone

Nenhum livro da Escritura determina quais os outros (livros) que pertencem igualmente a Escritura. E a inspiração em si não funcionou como um critério para os primeiros cristãos quando seleccionaram ou rejeitaram livros sagrados.

Eis os critérios que governam o reconhecimento pela comunidade dos escritos inspirados que compõem o Cânone:

• Critério histórico de origem apostólica;

• Critério teológico de conformidade com a mensagem essencial, a pureza do Evangelho, a fé católica que nos vem dos apóstolos (ortodoxia);

• Critério do uso litúrgico.


Nos inicios da Igreja, a quanto da definição eclesiástica do Cânone cristão destinguiu-se:

• Livros apocrifos: cuja inspiração não foi reconhecida pela Igreja;

• Livros proto-canónicos: cuja pertença ao cânone nunca foi posta em causa;

• Livros deutero-canónicos: os que apesar de gozarem de grande apreço, eram contestados na sua canonicidade e o seu carácter normativo.



NB: Para a formação do Cânone pressupõe os escritos inspirados.

Deste modo, a problemática teológica do cânone da Escritura remete-nos para a própria Igreja. Isto é, que para que determinados livros, entre outros, sejam canónicos, oficialmente reconhecidos pela Igreja como inspirados, só se pode saber em última análise pelo discernimento da pópria Igreja, fundada por Jesus Cristo e dotada por constituição divina, de uma estrutura hierarquica: os apóstolos e seus sucessores, os bispos – seu Magistério auténtico e assistida pelo Espírito Santo, que vivifica, anima e a conduz à verdade total (Jo.16,13). A Igreja, embora servidora, tem prioridade sobre a Escritura. A eclesialidade dos escritos é o critério de sua inspiração, da sua canonicidade; daí que são inspirados porque eclesiais, e eclesiais porque inspirados. Daí que a Palavra de Deus escrita só tem sentido no campo eclesial e comunitário. À partida, a Sagrada Escritura é pertença e aspecto da própria Igreja primitiva. Ela não existe sem Igreja nem a Igreja sem a Sagrada Escritura, isto é, só pode entender-se a revelação da inspiração da Sagrada Escritura no quadro geral da constituição divina da Igreja, querida por Deus como regra de fé para o futuro.



3.3 Necessidade de delimitação do Cânone

Ao longo da história, a Igreja foi discernindo progressivamente a respeito da delimitação do Cânone da Escrituta entre os diversos escritos contemporâneos de geração apostólica, seleccionando pela sua reflexão, aquelas que foi reconhecendo como objectivação da própria Igreja primitiva (NT) e do seu passado bíblico (AT). Daí que foram reconhecidos como inspirados, canónicos, aqueles escritos reconhecidos como objectivação da Igreja primitiva.

A definição exacta do Cânone da Escritura, foi necessária quando nos primeiros tempos da Igreja começavam a circular numerosos escritos (as vezes de falsa autoria apóstolica, por exemplo, evangelho de S.Pedro, de S.Tomé, etc) os apocrifos, que oponham o ensino da Igreja, e, por vezes, apresentando ao gosto oriental, um Cristo mágico e mítico, fabuloso e milagreiro, longe de autenticidade dos escritos que hoje são reconhecidos como canónicos.

E a necessidade de fazer uma delimitação definitiva e categórica do conteúdo exacto do Cânone ressurge quando por ocasião da reforma protestante do século XVI, o carácter canónico e a autoridade de certos livros foi directamente contestada, por motivos históricos ou teológicos, por alguns reformadores e mesmo por alguns católicos.

E é certo que hoje notam-se certas diferenças entre a Bíblia Católica e a Protestante.

No entanto, foi o Concílio de Trento que, em 1546, definiu clara e definitivamente o conteúdo exacto do Cânone da Escritura, isto é, a lista precisa dos livros aos quais foram reconhecidos o carácter inspirado e divino, e normativo para a fé eclesial e individual. Para esta tarefa o Concílio socorreu-se da Tradição e do Magistério vivo da Igreja, sobretudo da lista canónica do Concílio Regional (não ecuménica) de Hipona (383 d.C) realizado sob influxo de Santo Agostinho e do Terceiro e Quarto Concílio de Cartago (397 e 419 d.C).

Por sua vez este Cânone saido do Trento foi retomado e consequentemente confirmado quer pelo Vaticano I, quer pelo Vaticano II (DV.8,11,14). No entanto é só no Século XVI, que o Magistério vivo da Igreja encerrou em definitivo o Cânone da Sagrada Escritura.

NB É certo que a revelação encerrou necessariamente com o tempo apostólico com a morte do último apóstolo; a revelação do Cânone da Escritura, teve que acontecer necessariamente no tempo apostólico sob pena de não poder ter autêntica revelação. Se assim é, como se compreende tais flutuações por parte da Igreja e que ela tenha necessariamente de tanto tempo para reconhecer o Cânone? E como poderá conceber-se mais precisamente a revelação concreta do Cânone?

• Controversia: Católicos e Protestantes

O conhecimento que se tem da genese do Cânone da Escritura não permite que se possa manter de pé o princípio “Sola Scriptura”, reivindicado pelos reformadores do Século XVI. Daí que não pode haver Sagrada Escritura sem comunidade eclesial, sabendo que a Tradição e o Magistério são anteriores à própria Escritura. Na verdade, antes de haver Sagrada Escritura existiu a pregação oral (Tradição) apartir da qual os autores sagrados redigiam as Escrituras.

De facto, foi a Tradição e o Magistério da Igreja e não à própria Escritura quem discerniu que escritos são inspirados, são Sagrada Escritura, Palavra de Deus.

3.4. Unidade entre Antigo e Novo Testamento

Enquanto se trata de livros sagrados do povo escolhido por Deus, estes escritos, mantém para nós hoje, o seu valor, pois são divinamente inspirados e verdadeira Palavra de Deus, como afirma o Concílio (DV.14) relembrando S.Paulo (Rm.15,4). O próprio Concílio reconhece que o AT manifesta uma verdadeira pedagogia divina, mas não está isenta de imperfeições e coisas restritas a um determinado tempo (DV.15). O NT está centrado explicitamente em Jesus Cristo como aquele que já veio (NT) e como aquele que havia de vir (AT). Sendo o acontecimento – Cristo, o acontecimento salvífico, – revelador central da história, mediador e plenitude de toda a revelação (DV.2), a Palavra de Deus apresenta-se e manifesta a sua virtude dum modo eminente nos escritos do NT (DV.17). Entre todas as escrituras, os Evangelhos tem um lugar excelente, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo Encarnado, nosso Salvador (DV.18).

Além do seu valor próprio, em Si mesmos, o grande valor dos escritos do AT lhes advém de prepararem o NT. Portanto, DV.15, afirma que o “AT está orientado sobretudo a preparar, a anunciar profeticamente e a significar com várias figuras, a vinda de Cristo, Redentor Universal, e a Vinda do Reino Messianico”

É portanto, é notório que todo o AT, de Abraão até ao último profeta, não fala de outra coisa senão de Jesus, o Messias prometido e do seu Mistério Pascal, princípio hermenêutico e chave de leitura de toda a Escritura e de toda a história (Lc.24,44).

Assim fala o Vat II, “Deus... depôs sabiamente que o NT estivesse escondido no AT e o AT se tornasse claro no NT. Pois, apesar de Cristo ter fundado a Nova Aliança no seu sangue (Lc.22,20; 1Cor.11,25) todavia os livros do AT assumidos na pregação evangélica, adquirem e manifestam a sua significação completa no NT (Mt.15,17; Lc.24,27; Rm.16,25-26; 2Cor.3,14-16) ao mesmo tempo que o iluminam e explicam” (DV.16).

IV. INTERPRETAÇÃO DO TEXTO DO CÂNONE

4.1. Interprete da Sagrada Escritura

Trata-se de saber sobre a pessoa ou quem busca estabelecer e expressar o significado das Escrituras; de saber o que os interpretes estão procurando entender quando abordam a Bíblia. A Bíblia no seu contexto próprio e genuino não é e nem pretende ser de modo algum um livro científico, histórico ou geográfico, mas sim, expressão da Palavra de Deus, um livro religioso que, através de factos e acontecimentos concretos, nos revela o próprio Deus e a mensagem de Deus ao homem. Só assim, é que pode ser lida, compreendida e captada. Quem a lê no sentido diferente é o mesmo que ler um problema de Matemática em termos de poesia ou uma carta comercial em termos de declaração de amor. Por exemplo, quando a Bíblia afirma no Genesis que o mundo foi criado em séis dias, não tem qualquer intenção científica e nem está interessada na problemática do criacionismo ou evolucionismo; mas sim, pretende fazer a afirmação religiosa e filosófica de que o Universo ultimamente não se explica por si mesmo, é contingente, é criação de Deus.

O autor sagrado sendo um homem culturalmente situado, é evidente que este usa os esquemas mentais e culturais do seu tempo, tal como nós, hoje, o fazemos.

A Sagrada Escritura, enquanto livro humano, que é de facto, sofre das imperfeições e erros de mentalidade da época e do seu autor, na sua compreensão e expressão. Mas enquanto livro divino, a Palavra de Deus, inspirado pelo próprio Deus, na sua mensagem religiosa, não tem e nem pode ter em si erro algum na sua interpretação.

É evidente que também a crença ou não-crença na inspiração afectará o entendimento e interpretação da Bíblia. No entanto, quando os interpretes não lêem a Bíblia como um texto religioso escrito sob impulso especial do Espírito Santo, eles não verão a sua actividade como um acto religioso; não sentirão uma afinidade especial com o texto. E estes nem podem esperar que o Espírito Santo, que guiou a escrita da Bíblia, também dirigirá de algum modo a sua interpretação. Por exemplo: estes só podem avaliar os textos do NT como fontes de conhecimento histórico acerca da vida de Jesus.

Deve haver uma clareza para entendermos a Bíblia:

• Se os interpretes acrediram que, como parte da história especial de autocomunicação divina, o Espírito Santo estava apoiando a composição das Escrituras e doou-as com uma função reveladora e salvífica; admitir que o que foi escrito no Espírito deve ser lido no Espírito (DV.12), e que o carisma ficaria incompleto sem a direcção divina subsequente na interpretação das Escrituras;

• A Bíblia visa levar os leitores a um contacto vivo com Deus, daí que abordam textos com uma disposição de aceitarem a experiência como parte da sua conversão continuada.

• A Bíblia visto como um registro normativo do que aconteceu no tempo da autocomunicação especial de Deus, que culminou em Jesus Cristo.



Portanto, sem uma fé vivida em Cristo, ou uma abertura para tal fé, não haverá condições para que se manifeste o sentido pleno e a verdade da Bíblia. Portanto, a cooperação activa de tal fé levará à compreensão apropriada da mensagem bíblica básica da Revelação e Salvação. Daí que nada menos do que a fé simpatizante de quem está por dentro poderá guiar ao pleno entendimento do assunto a tratar. E a Bíblia só adquire a sua existência verdadeira quando é lida, ouvida e proclamada pela fé. Seu efeito sobre o seu auditório é parte de sua natureza como Escritura inspirada e não uma escolha livre. Sendo que a Bíblia foi escrita na e para a comunidade, será propriamente entendida e interpretada quando lida na Igreja, sob a direcção do Espírito Santo. Contudo, a Bíblia deve ser abordada por todos dentro da Igreja, esperando que seja interpretáda e compreendida pelos membros dessa mesma comunidade. Portanto, sem a participação na identidade do grupo corre-se o risco de poder interpretá-la a letra, não chegando assim de alcançar o espírito das Escrituras.

A comunidade e a sua Tradição têm seu lugar próprio na interpretação da Bíblia. Deve-se ter em conta de que a interpretação biblica não é nenhum negócio privado e solitário que ignora o passado. No entanto, a sua interpretação deve ter um carácter cristológico, tendo em conta de que toda a Escritura divina encontra a sua realização em Cristo, por formar um único livro, o da vida que é Cristo.

E tudo quanto se refere à interpretação da Escritura está sujeito ao juizo último da Igreja, a qual goza do divino mandato e do ministério de guardar e interpretar a Palavra de Deus (DV.12).

4.2. Níveis de Interpretação

Estes níveis provém do próprio Magistério da Igreja (DV.12). Tratam-se de princípios que ajudam a interpretar correctamente a Sagrada Escritura e a superar honestamente muitas aparentes e supostas contradições e erros:

4.2.1. O que o autor quer dizer (intentio auctoris).

Trata-se do sentido literal, isto é, o significado que o autor bíblico tencionava transmitir. Aqui preocupa-se com o passado, portanto, com as intenções históricas e a mentalidade dos autores antigos judeus e cristãos e seus auditórios (o que significou para eles).

A resposta suprema de interpretação é de descobir e definir o que o escritor tencionou expressar, procurando tentar reviver a situação e a acção na qual e pela qual o autor compôs a obra.

E como podem os estudiosos esperar recuperar as intenções dos autores que escreveram há milhões de anos num mundo muito diferente?

Portanto, para descobrir qual é a intenção é preciso ter em conta:

• Os generos literários;

• As condições do seu tempo e cultura;

• Os modos próprios de pensar, dizer ou narrar;

• O contexto vital (Sitz Im Leben);

• Ao conteúdo e á unidade de toda a Escritura;

• À Tradição viva de toda a Igreja;

• À analogia da Fé.

4.2.2. O que a Escritura significa para o leitor actual (Intentio Legentis)

Trata-se de uma interpretação existencial que se concentra no leitor actual e no que a Bíblia agora significa para mim ou para nós. Esta interpretação começa pelos interesses e perguntas que em geral fomentam a busca humana pelo significado e valores. Ao responder as perguntas, a Bíblia convida a aceitar livremente a total reivindicação de Deus. Daí que a interpretação da Escritura vem a ser o entender-me e decidir deixar que a Palavra de Deus mude a minha vida (auto-interpretação). Esclarece o que de facto acontece constantemente; se eu leio a Bíblia à luz de minhas perguntas e experiências, também devo deixar que a ela me leia. Este método traz-nos ao presente, aos interesses existenciais e perguntas que o leitor contemporrâneo traz aos textos bíblicos (o que significa para mim, nós).

4.2.3. O que o texto comunica (Intentio Textus Ipsius)

Trata-se de aceitar o próprio texto, com a sua estrutura e significado, como objecto primário da interpretação. Este método sugere aquela abertura misteriosa que todos os textos – as Escrituras, tem para os significados futuros (corresponde ao Deus misterioso, que vem a nós no futuro).

Bibliografia:

• Francis S. Florenza – John P. Galvin, Teologia Sistemática, perspectivas Católico-Romanas, Vol.I, S.Paulo, 1997.

• António Vaz Pinto, SJ, Revelação e Fé, Fundamento e conteúdo da fé cristã para o homem de hoje, Editorial A.O – Braga, 1989, Vol.I.

• António Vaz Pinto, SJ, Revelação e Fé, Fundamento e conteúdo da fé cristã para o homem de hoje, Editorial A.O – Braga, 1989, Vol.II.

• Gerald O`Collings, SJ, O dogma que liberta, Fé, Revelação e Magistério Dogmático, Ed.Paulinas, S.Paulo, 1991.

• Concílio Ecuménico Vaticano II, Constituição dogmática Dei Verbum, Editorial A.O – Braga, 11ª edição, 1987

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Seminário Teológico Interdiocesano S Pio X

Tese nº 1

1. Revelação e Inspiração da Sagrada Escritura a luz da Dei Verbum (cc. I-III ), formação do Cânone, interpretação do texto







INTRODUÇÃO

Esta tese é relativa a Sagrada Escritura. Ela procura saber como a sagrada Escritura nasceu. Igualmente pretende saber como hoje, sendo universal (A Sagr. Escrit) deve ser correctamente interpretada. Porque o conhecimento da Sagrada Escritura é de mera importância e a ignorância da mesma é segundo S. Jerónimo a ignorância de Cristo. Para responder esta tese vou primeiro vou considerar os principais capítulos que fazem destaque nesta tese a saber: A revelação, a Inspiração e a Sagrada Escritura sem menosprezar a unidade entre o Antigo testamento e o Novo testamento, a finalidade da revelação entre outros aspectos a considerar e a respectiva conclusão.

I

SAGRADA ESCRITURA

1. Sagrada escritura é o conjunto do livros escritos por inspiração divina, nos quais Deus se revela a si mesmo e nos dá a conhecer. A Sagrada Escritura divide-se em duas partes: Antigo Testamento e Novo testamento. O AT contem a revelação feita por Deus antes da vinda de nosso senhor Jesus Cristo ao mundo. O NT contem a revelação feita direitamente por Jesus Cristo e transmitida pelos Apóstolos e outros autores Sagrados.

Nisto os nomes da sagrada Escritura a saber: A Bíblia, palavra de Deus, revelação de deus e revelação do seu plano salvífico (1Tm 2, 2-4).

1.1 Bíblia: provém do latim biblia e do grego biblia, plural de biblion, que quer dizer livro, diminutivo de byblos «papiros». Livros indica a posição especial que estes livros ocupam. Bíblia é uma colecção de muitos livros, uma biblioteca do que uma composição literária.

Os livros da bíblia são chamados livros sagrados porque foram escritos por inspiração divina. Também são chamados canónicos porque se denominam exactamente por «cânone». A Bíblia divide-se em Antigo e Novo Testamento. O termo testamento (do latim testamentum) traduz o grego diatheke o hebraico berît (aliança), significando o facto central da salvação. Antiga aliança do Sinai e a nova aliança de Jesus Cristo.

O Novo Testamento foi escrito em grego e o Antigo em hebraico. Com excepções de: 2 Mac; Sab, Dan 13 (Susana) e Dan 14 (bel) foram escritos em grego; Jt Br, Eclo e 14 Mac foram escritos em hebraico, mas estão conservados em grego. Embora certos fragmentos tenham sido descobertos em 1896.

A Igreja Católica considera a Bíblia como Palavra de Deus, fonte da doutrina revelada e norma de fé. E a Igreja que define na Bíblia como palavra de Deus e determina o cânone dos livros sagrados. Os teólogos definem Bíblia como norma remonta da fé em distingue-a da Tradição1.



1.2Conteúdo Da Sagrada Escritura

A palavra de Deus, no AT, revelou-se através da tradição e da sagrada Escritura. Com Cristo, palavra em pessoa, começa uma nova revelação: o Evangelho. Os transmissores desta nova palavra são os apóstolos, que dão origem à tradição Apostólica. Os evangelistas, mais tarde, inspirados pelo espirito Santo, recolhem e fixam essa tradição por escrito, dando origem a sagrada escritura do NT. Por isso, diz o Concilio Vaticano II: “A Sagrada tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetrados entre si. Com efeito derivando elas da mesma fonte, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim.”(Dei Verbum,9). Esta é a parte da unidade entre o Novo e o Antigo testamento que será desenvolvido mais adiante no Capitulo V.

Cânon vem do Grego Kanón “régua” e do Letim canene que significa regra geral. A nível religioso Cânon é o conjunto dos livros inspirados que constituem a Bíblia2

II

2..A REVELAÇÃO

Revelação etimologicamente vem do Latim revelacione que refere o acto ou efeito de revelar ou divulgação de algo que era secreto ou ainda manifestação. A nível Religioso, Revelação é uma acção sobrenatural pela qual Deus faz conhecer verdades ocultas.3 Existe uma relação entre o revelação e mistério.

Revelação, a própria etimologia indica remoção do véu. Revelação é sempre revelação de um mistério. Mistério é a revelação que será aquilo que precede, sucede, que ultrapassa, transcende ou que vai além das formas ordinárias do conhecimento. Mistério é por sua natureza inexaurível, inesgotável por isso não se pode objectivar um mistério

Segundo o Dicionário Bíblico, revelação significa a auto manifestação do divino, falando-se do fundo bíblico do termo deve-se ir além da definição teológica comum da revelação. Os homens de todas as religiões consideram o divino como algo misterioso relativamente a experiência normal. A manifestação do divino deve então ser um evento extraordinário4 O sentido mais profundo do termo “revelação” significa remoção do véu, manifestação especial e extraordinária de algo oculto, escondido.

Ninguém é capaz de ver o invisível: se conhecemos a Deus, é porque em Cristo a palavra se fez carne, tornou-se evento histórico e ao mesmo tempo exegeta do pai. Cristo é revelador perfeito do pai, testemunha o que viu e ouviu do pai.(Jo 1,18) na tradição sinóptica, Jesus é o messias que ensina, prega e anuncia a boa notícia do reino. Em João, o Messias é plenamente identificado com filho do pai. O que o filho narra é vida intima, o amor reciproco, entre o pai e filho: um amor que o pai quer comunicar a todos os homens para que todos sejam uma coisa só.

2.1Tipos De Revelação

Na teologia da revelação distinguimos dois tipos da Revelação.

1. Revelação natural.

2. Revelação Sobrenatural.

Revelação natural é o conhecimento racional de Deus e da contemplação da Criação ou das coisas criadas por Ele.(Rm 1, 20, Sb 13,4). A igreja ensina que Deus, principio e fim de Todas as coisas pode ser conhecido com certeza pela luz natural da Razão humana a partir das coisas criadas.(CIC n.º 36)

Revelação sobrenatural. A revelação sobrenatural consiste na elevação do homem, pela graça santificante, de simples criatura a dignidade de filho de Deus e herdeiro do céu. Consiste também nos meios que Deus escolheu para nos devolver a graça e o direito ao céu que perdemos com o pecado, principalmente, os mistérios da encarnação e da redenção5.

2.2Revelação no Antigo

Temos a criação, Deus que se revela apartir de Noé, através da Eleição de Abrao, Moisés, atravás da arca da aliánça e através dos profetas.

2.3Revelação no Novo Testamento

Jesus cristo é plena manifestação do pai.(Jo 14, 6, Hb 1, 1-3)

2.4 Finalidade Da Revelação

A revelação é a auto auto Manifestação de Deus, que é a manifestação do desígnio eterno e universal de salvação.

A finalidade da revelação é que os homens “sejam perfeitos na unidade” e que todos se salvem, assim saibam que o pai enviou o filho e que os ama como ama o filho. (Jo 17, 23-25). João dá-nos essa obra de amor, da salvação e tem origem na Trindade mas apresenta-se como evento histórico do verbo que assume a carne, a revelação aparece como um escândalo. O fim último da revelação é a glória de Deus. Tanto em sua forma activa quanto e sua forma acabada, a revelação é toda em vista à glória de Deus. na oração sacerdotal, Jesus disse ao Pai: «Eu glorifiquei-te na terra, consumando a obra que me deste a fazer» (Jo 17,4) e acrescenta: «manifestei o teu nome aos homens» (Jo 17,6).

A revelação é testemunho doutrinal e manifestação pessoa, é revelação de Deus vivo, dos mistérios de sua vida de seu desígnio de salvação6.

2.5 Tragédia Da Revelação

O trágico da revelação é que os homens se fecham a luz, fecham-se nos seus deuses –ídolos e preferem correr ao encontro da sua ruína.(Apontamento das fotocopias de teol. Fundamental p.825) “A tragédia da revelação está em o homem poder fechar os olhos, a luz de não aceitar o testemunho e correr assim para a ruína (Jo 1, 11). Cristo é a luz que conduz a vida, quem anda no escuro, corre para a morte, “Eu sou a luz do mundo: quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12; 12, 42)7

3. INSPIRAÇÃO

Inspiração vem do Latim Inspiratione –que significa em sentido geral insuflação divina ou originar ideias ou pensamento. Inspiração divina, algo que ultrapassa a capacidade da inteligência humana8

A bíblia e a tradição São as fontes escritas ou orais da doutrina revelada na Doutrina católica. As formas de inspiração não são idênticas. No AT a inspiração era entendida como um ditado mediante o qual Deus comunicava as palavras do texto sagrado ao escritor inspirado. O NT cita 350 vezes o AT como demonstração de que Jesus e os escritores do NT compartilham a fé do judaísmo na origem divina e na autoridade dos livros sagrados. Na teologia Cristã o termo inspiração não é explicado e sugere a ideia de um ditado palavra por palavra. O texto de 2Tm é a fonte do termo Inspiração. O texto de 2Pd concerne explicitamente a profecia.: os profetas são portadores do espirito Santo.

Os padres da Igreja aceitaram desde o inicio a fé na origem divina e na autoridade da Bíblia. Para explicar a inspiração muitos deles usam o termo ditar, que é o termo emprestado do Judaísmo e além do termo muitos padres parecem aceitar também o conceito de ditado. As formulas patrística não contém esta implicação: Deus é autor da Bíblia; o autor humano é instrumento de Deus; a Bíblia é a palavra de Deus.

A literatura patrística do séc. II começa a citar o NT no mesmo nível de autoridade do AT. Não é fácil delinear o desenvolvimento dessa fé cujas raízes podem ser traçadas na concepção de apostolado e da profecia da Igreja.9

3.1.Inspiração Da Sagrada Escritura

A inspiração é o que distingue a Bíblia de todos os outros livros humanos. Acreditar na inspiração da Sagrada escritura foi sempre um Dogma de fé para Judeus e para a Igreja. Os Judeus dividiam a Bíblia em três partes: a Lei (Torá), que era considerada a palavra de Deus por Excelência; os Profetas (Nebi`îm), que falaram em nome de Deus, e os Escritos (Ketubîm), formando todos juntos os “Livros Santos” (1 Mac 12,9). Jesus Cristo e os Apóstolos citaram-nos como Palavra de Deus (Act 14,16; 4,25). Mas S. Paulo e S. Pedro é que nos transmitem os dois textos clássicos sobre esta verdade. Paulo diz: «toda a escritura é divinamente inspirada» (theopneustos: 2 Tm 3,14-17); e Pedro afirma: «Mas sabei, antes de mais, que nenhuma profecia foi proferido pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo, é que os homens santos falaram em nome de Deus.» (2 Ped 1,21).

Os santos Padres também são unânimes em afirmar que Deus é o autor da Sagrada Escritura e que o hagiógrafo é instrumento de Deus. E a Igreja manifestou a sua fé nesta verdade em vários concílios e documentos. O último e o mais expressivo é a Constituição Dogmática Dei Verbum (DV) do Concílio Vaticano II que diz: «As coisas reveladas por Deus que se encontram escritas na Sagrada Escritura foram consignadas por inspiração do Espírito Santo». E mais adiante, falando da natureza desta inspiração, acrescenta: “Porque escritos por inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor e, como tais, foram confiados à Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, agindo Deus neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria.” (n.º 11). Portanto, segundo a Constituição Dei Verbum, os livros sagrados são produto da acção transcendente de Deus que suscita, dirige e envolve inteiramente a actividade humana, agindo em constante coordenação com ela.

Esta acção divina estendeu-se a todas as faculdades e actos do homem que concorreram para a produção dos livros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os géneros literários que neles se encontram. No entanto, longe de tornar o hagiógrafo passivo, tal acção favorece a sua livre espontaneidade; porque o homem é tanto mais livre e activo quanto mais o Espírito Santo o acompanha. Deus, quando actua no homem, fala sempre com suma delicadeza, respeitando a sua liberdade e a sua maneira de ser, mais valorizando-as e potenciando-as. A Bíblia não é, pois, fruto de um ditado mecânico, mas uma obra em que Deus e o homem intervêm: Deus com as suas perfeições infinitas, e o homem com as suas faculdades e conforme a sua capacidade. Por isso, os dois são verdadeiros autores dos livros sagrados. (Bíblia).

3.2 Opiniões Modernas Sobre A Inspiração

As opiniões Modernas partem do Dactum (dado ou facto de fé) segundo a qual a inspiração partindo duma influência divina, a composição dos livros sagrados é alguma coisa mais do que aprovação divina subsequente ou da aprovação eclesiástica ou ainda assistência negativa contra o erro. A teoria moderna está ciente da falência da teoria do ditado.

O que o escritor inspirado escreveu é revelação para o leitor mas não necessariamente para o escritor que pode ter adquirido seus conhecimentos.

Karl Rahner sustenta que o carisma da inspiração era dos poucos elementos da Igreja primitiva. Então quem escreveu os livros do NT foi mais a Igreja do que escritores individuais. B. Brinkmann- acrescenta que esse carisma era encargo Apostólico e seus direitos colaboradores10.

CONCILIO VAT. II (Constituição Dei Verbum nº 11) ocupou-se da questão da inerrância e diz: visto que tudo o que os autores inspirados ou hagiógrafos afirmaram deve ser considerado como afirmado pelo espirito santo, deve também por consequência, aceitar que os livros das escrituras ensinam com certeza fielmente e sem erro a verdade que Deus quis que fosse contida nas Sagradas Escrituras para a nossa salvação11

3.3.Formação Do Cânone

O Antigo Testamento é a parte mais longa da Bíblia. Constitui a lista oficial ou cânone de livros aceites como inspirados e referentes ao tempo da religião hebraica anterior ao Cristianismo. Mas esta lista ou cânone da Sagrada Escritura conheceu algumas divergências, já desde os tempos antigos. Tais divergências nascem das próprias vicissitudes da formação da Bíblia entre os antigos hebreus.

A Bíblia que tem a lista mais longa de livros, chamada dos LXX, é, na verdade, a mais antiga e provém do judaísmo de Alexandria. Apresenta uma tradução dos textos bíblicos para o grego, feita nos três séculos imediatamente anteriores aos Cristianismo.

Curiosamente, a lista mais recente é aquela que nos propõe apenas o texto original hebraico, a lista final dos livros desta Bíblia hebraica foi fixada por uma assembleia de rabinos em Jâmnia, só pelos finais do Século I A.C., e os critérios aí seguidos levaram a diminuir a lista de livros até então reconhecidos como pertencendo à Bíblia. Ficaram, assim, de fora no todo ou em parte, alguns livros incluídos há séculos na Bíblia do Judaísmo de Alexandria.

Por várias circunstâncias, nomeadamente pelo facto de estar na linguagem grega de uso internacional no Mediterrâneo oriental, depressa o Cristianismo fez a sua Bíblia grega da tradução dos LXX e sempre aceitou sem grandes dificuldades o cânone do Antigo Testamento por ela apresentado. Entre os cristãos, a posição de tomar diante destes dois cânones só foi discutida mais significativamente depois da reforma protestante. Hoje em dia, as confissões protestantes em geral só aceitam os livros que pertencem ao cânone hebraico, o chamado “cânone curto”.

Os livros que se encontram a mais na lista grega judaica e cristã antiga são chamados deuterocanónicos (“apócrifos” entre os protestantes) ou pertencentes ao “segundo cânone” chamado “cânone longo”. Convencionou-se dar o nome de “primeiro cânone” a lista de livros que são coincidentes tanto na Bíblia hebraica como na Bíblia grega – livros chamados “protocanónicos”. (cfr Bíblia Capuchinho)

3.4 O cânon Conforma o CIC

Os escritos sobre este tema, revelam que foi a tradição apostólica que levou a Igreja a decidir quais os escritos que deviam ser contados nas lista dos livros sagrados(santos). Essa lista integral é chamada “Cânon” das Escrituras. Este, comporta para o AT 46 livros. (são 45 quando se junta o livro de Jeremias e das Lamentações como um só) escritos e para o NT, 27

Comporta para o AT os livros apartir de Genesis até Malaquias.

Para o NT apartir do Evangelho de Mateus até o livro do Apocapse.

O At é parte da Sagrada Escritura que não pode perder-se. Os livros são da inspiração divina e conservam um valor permanente.

Na economia do AT destinava-se a preparar o Advento de Cristo, redentor e universal. Apesar de contar coisas imperfeitas e transitórias, os livros do At dão testemunho de toda vida divina pedagogia do amor salvífico de Deus. se encontram sublimes doutrinas a respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis tesouros de preces nos quais está latente o ministério da nossa salvação.(DV.15)

Recomenda o magistério aos Cristãos que venerem o AT como verdadeira palavra de Deus. A Igreja combateu sempre vigorosamente a ideia de rejeitar o At sub o pretexto de que o NT o teria feito caducar(Marcianismo) (CIC.p.43)

3.5 Cânon Do Novo Testamento

“A Palavra de Deus” que é virtude de Deus para a salvação de todos crentes apresenta-se e manifesta o poder dum modo eminente nos escritos do NT (DV. 17)

Os escritos do NT transmitem-nos a verdade definitiva da revelação divina. O seu objecto central é Jesus Cristo, o filho de Deus encarnado, os seus actos, os seus ensinamentos, a sua paixão e glorificação bem como nos primórdios da Igreja sob acção do Espirito Santo.

Os evangelhos

Os Evangelhos, são o coração de todas as sagradas Escrituras “enquanto são o principal testemunho da vida e da doutrina do verbo encarnado, nosso salvador” (DV.18)

Na formação dos Evangelhos podemos distinguir três etapas.

3.5.1.A vida e os ensinamentos de Jesus . A Igreja sustenta que os 4 Evangelhos cuja historicidade afirma sem hesitações, transmitem fielmente as coisas que Jesus filho de Deus, realmente operou e ensinou para a salvação eterna dos homens durante a sua vida terrena, até ao dia que subiu ao céu.

3.5.2. Tradição Oral. Após a ascensão do senhor, os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes as coisas que ele tinha dito e feito (tudo iluminado pelo espirito da verdade)

3.5.3. Evangelhos Escritos. Os autores sagrados, escreveram os 4 Evangelhos, escolhendo algumas coisas, entre as muitas transmitidas por palavras ou por escrito, sintétizando umas, desenvolvendo outras, segundo o estado das Igrejas, conservando finalmente, o caracter da pregação de maneira a comunicar coisas verdadeiras e auténticas a cerca de Jesus. (DV. 19)

3.6. Interpretação Da Sagrada Escritura

“Porque Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e o que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras” (DV, 12).

Para esse fim, o Vaticano II lembra que é preciso ter em conta os géneros literários, dos sentidos bíblicos e certas regras teológicas de interpretação.

3.6.1. Os Géneros Literários

A verdade é proposta e expressa de um modo ou de outro, conforme se trate dos géneros históricos, proféticos, poéticos, etc. Estes géneros devem ser entendidos como os entenderam os povos semitas ou helenistas, no tempo em que foi escrito cada um dos livros (DV, 12).

3.6.2. os sentidos bíblicos

Tradicionalmente, têm-se distinguido na Bíblia os seguintes sentidos: literal, pleno, típico e acomodatício.

3.6.3 O sentido literal: é aquele que o autor quis dar ao texto. Pode ser próprio e impróprio, figurado ou metafórico. O próprio é aquele em que as palavras são tomadas no seu significado corrente; o impróprio é aquele em que as palavras são tomadas no sentido conotativo ou figurado, por exemplo: «Vós sois o sal da terra» (Mt 5,13).

3.6.4. O sentido pleno: é o significado mais profundo do texto, sendo inicialmente pretendido pelo autor divino, só se descobre à luz de uma revelação posterior, especialmente à luz do Novo Testamento. Este sentido resulta do facto de a Bíblia ter dois autores: Deus, para quem o futuro é presente e que ao inspirar um determinado texto, já conhece toda revelação posterior nele implícita; e o hagiógrafo ou autor humano, que apenas conhece e tem presente o mistério que Deus quer revelar neste determinado momento histórico da escrita. Exemplo claro disto são as profecias messiânicas do Antigo Testamento: para nós são claras, porque o Messias já veio, mas o significado que hoje lhes atribuímos ainda não foi atingido plenamente pelo autor sagrado, e só Deus o teve presente desde o princípio.

3.6.5. O sentido típico dá-se quando certos acontecimentos, instituições, pessoas, etc., por vontade de Deus, representam e prefiguram acontecimentos, instituições e pessoas de ordem superior. Assim a serpente de bronze erguida por Moisés (Nm 21,8-9) é figura de Cristo crucificado (Ver Jo 3,14); a passagem do Mar Vermelho (Ex 14,22) é figura do Baptismo (1 Cor 10,2); o maná (Ex 16,14) é figura da Eucaristia (Jo 6).

3.6.6. O sentido acomodatício consiste em dar às palavras da Sagrada Escritura um sentido diferente daquele que o autor lhes quis dar, devido a uma certa semelhança entre a passagem bíblica e a sua explicação. Este sentido é muito usado na Liturgia e na pregação. Temos um exemplo claro nas festas de Nossa Senhora, em que a Liturgia relaciona com a Virgem Maria textos que se referem à Sabedoria divina (Pr 8,22-36; Sir 24,14-16).

3.6.7. Regras teológicas de interpretação. Além do já aduzido, o Concílio Vaticano II aponta estes princípios que devem reger a interpretação da Sagrada Escritura: “A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita” (DV, 12); ou seja: o mesmo espírito que inspirou os livros santos deve iluminar os teólogos que, docilmente e com espírito de fé, se dedicam a interpretá-los. Cabe aos exegetas, “de harmonia com estas regras, esforça-se por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que mercê deste estudo preparatório, vá amadurecendo o juízo da Igreja.” A função dos exegetas é preparar e não substituir o juízo último da Igreja, pois só esta “goza do divino mandato e do ministério de guardar e interpretar a Palavra de Deus” (DV,12).



3.6.8. A Verdade Sobre A Sagrada Escritura

Diz também a Dei Verbum: “é assim como tudo quanto afirmaram os autores inspirados ou hagiógrafos devem ser tido como afirmado pelo Espirito Santo, por isso mesmo se deve aceitar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, causa da salvação, quis que fosse consignada nas sagradas letras. ” (DV, 11)

A verdade da bíblia é a consequência imediata da inspiração. Com efeito, se Deus é autor da Bíblia, se toda ela é obra do espirito Santo, não pode conter qualquer afirmação que vá contra a verdade e a santidade do mesmo Deus. No entanto, não podemos buscar na bíblia qualquer verdade, mas só a que interessa a salvação do homem, ou seja a verdade religiosa, e só aquela que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse registada nas Escrituras. Trata-se duma verdade não puramente especulativa, mas concreta que não se dirige apenas a inteligência, mas ao homem todo, uma verdade que é preciso descobrir através dos muitos e variados géneros literários, uma verdade progressiva, revelada por etapas, obedecendo à pedagogia de Deus em relação aos homens, uma verdade que está em toda a bíblia e não apenas num livro ou num texto isolado. Por isso, a verdade dos textos sagrados só resulta da totalidade da Bíblia, como a santidade da Igreja resulta do conjunto dos baptizados e não de cada um individualmente.(Cfr. Biblia)

IV

4. A UNIDADE DO AT E DO NT

Desde os tempos dos Apóstolos, a Igreja na sua tradição projectou a luz sobre a unidade do plano divino nos dois testamentos graças a tipologia. Esta descobre nas obras de Deus , Na aliança, prefiguração do que mesmo Deus realizou na plenitude dos tempos, na pessoa de seu filho.

Os Cristãos lêem pois o Antigo Testamento a luz de Cristo morto e ressuscitado. esta leitura tipológica manifesta o conteúdo inesgotável do AT. Mas não deve fazer esquecer que ele mantém o seu valor próprio de revelação, reafirmado pelo próprio Jesus Cristo nosso Senhor.

O Novo Testamento requer ser lido a luz do Antigo Testamento. A catequese cristã primitiva recorreu constantemente a este método. Segundo um velho adágio, o NT está oculto no0 Antigo, enquanto que o AT é desvendado no Novo. “O novo está oculto no velho, e o velho está patente no novo” (Cfr. CIC p 43)

A introdução da Bíblia diz que o Antigo testamento testavam sobretudo orientados a preparar , a anunciar profeticamente e a significar com várias figuras a vinda de Cristo redentor universal, e a do reino messiânico (DV. 15). embora sua missão fosse preparar o povo de Israel para a vinda de Cristo, mantém esse mesmo sentido para os homens de hoje. razão pela qual diz-se que o AT conduz o aperfeiçoamento do NT. Por isso os cristãos devem aceitar devotadamente esses mesmos livros como raiz do NT e do Cristianismo (DV 15).

Embora a sua missão fosse preparar o povo de Israel para a vinda de Cristo, mantém esse mesmo sentido para os homens de hoje. «A lei (Antigo Testamento) foi nosso pedagogo para nos conduzir a Cristo» (Gal 3,24). A experiência do povo de Israel é útil também para quem continua a procura de Cristo.

O Antigo Testamento dá-nos a conhecer Deus e o ser humano e o modo como Deus se relaciona com o homem e a mulher. No Antigo Testamento, encontram-se «imperfeições e coisas restritas a um tempo determinado». Realmente Deus tolerou modos imperfeitos de observar a lei moral. Por exemplo, a poligamia, divórcio, vinganças, etc. Mas isso manifesta a pedagogia divina, e vai conduzindo o povo do imperfeito ao mais perfeito. Por esta razão, se diz que o Antigo Testamento conduz à perfeição do Novo Testamento.

V.

5. SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA

Trata essencialmente dos principais ensinamentos do magistério da Igreja sobre este assunto..

A constituição Dei Verbum diz que “a Igreja venera as Sagradas Escritura a par com o próprio Corpo de Cristo”; que sempre as considerou e continua a considerar, juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé, e por ultimo, chama-lhes “a fonte pura e perene da vida espiritual” (n.º 21). Na mesma linha o CIC a luz do mesmo numero diz: é tão grande a força e a virtude da palavra de Deus que se torna apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, e fonte da vida espiritual. É necessário que os fieis tenham acesso a sagrada escritura. Mas para ser realmente a fonte da vida espiritual, é preciso que a bíblia volte a ser “a alma da teologia”, Com isso, o estudo dos livros sagrados deve ser como a alma de toda a teologia também o ministério da palavra e a pregação pastoral, a catequese, a homilia, a liturgia deve ter um lugar principal com proveito a palavra de Deus.

Exorta a Dei Verbum com veemência, ardor e insistência a todos os sacerdotes, religiosos, religiosas e todos fieis que aprendam “a sublime ciência de Jesus Cristo”(Fl. 3,8) “porque a ignorância das escrituras é a ignorância de Cristo”.( São Jeronimo) para isso são precisos traduções acompanhadas das notas explicativas correspondentes, em todas as línguas vivas, para que cada um as possa ler nas suas línguas maternas (DV, 25)

CONCLUSÃO

A Sagrada Escritura contém a Palavra de Deus. E pelo facto de ser inspirada, é verdadeiramente a Palavra de Deus.

Deus é autor da Sagrada Escritura, e ao inspirar aos seus autores humanos age neles e por eles. E assim, nos dá a garantia de que os seus escritos ensinam, sem erro, a verdade a salvação. Por sua vez, os quatro evangelhos ocupam um lugar central, dado que Jesus é seu centro.

BIBLIOGRAFIA

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JOHN L. Mackenzie, Dicionário Bíblico. Edições Paulinas. São Paulo, 1984

LATOURELLE, Teologia da Revelação, Ed. Paulinas, São Paulo 1973

BIBLIA de Jerusalém, Editora Paulus, São Paulo, 1973

PABLO ARCE e Ricardo Soda, Curso de Teologia Dogmática, Editora: Rei dos Livros, Lisboa, 1992.




FUNÇÃO E MENSAGEM DOS PROFETAS

A vida profética de que se fala na Sagrada Escritura esteve sempre ligada ao povo de Israel. A DV número 4 começa por citar Hebreus 1, 1ss que diz depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de seu Filho. Portanto aqui é apresntada a função do profeta: Falar ao povo em nome de Deus; levar a mensagem de Deus aos homens. Por vezes, o profeta faz esse trabalho mesmo contra a sua vontade; por cima de grandes riscos. Houve casos em que os profetas juntavam a tarefa profética com a de sacerdote, como foi o caso de Samuel que era ao mesmo tempo profeta sacerdote e juíz. Paralelamente a isso, colocava-se o problema dos falsos profetas: quando é que um profeta é verdadeiro ou falso.

1 ISAÍAS

a) Contexto Histórico

O ambiente Sócio-Político e religioso no tempo do profeta Isaías era muito contrastante. Ora vejamos:

Politicamente falando, tanto o reino de Israel (Norte) como o do Juda (Sul) estavam num período de grande expansão territorial e de grande progresso material. Essas riquezas foram trazidas pela afluência dos grandes tributos impostos aos povos conquistados (p31).

Socialmente, o crescimento territorial e material trouxe também uma grande e generalizada decadência social e moral: uma sede desenfreada de maiores lucros; todo tipo de injustiças; opressões e exploração de pobres e dos humildes.

No que diz respeito ao aspecto religioso, havia um esquecimento do verdadeiro Deus; adoração de falsos deuses; a religião era vivida esteriormente, e havia alianças políticas com povos pagãos.

b) Composição do Livro de Isaías

O livro de Isaías foi escrito por volta do ano 740 a.c. e 700 a. c. Os capitulos feitos por ele se enquadram neste periodo e, poucos anos depois, os dos seus discípulos.

O livro de Isaías é composto por três partes disdintos:

A 1ª parte que se supõe que seja da sua autoria, parte do capítulo 1 até 39.

A 2ª parte que é atribuido aos seus disacípulos, parte do capítulo 40 até 55.

A 3ª parte do capítulo 56 até 66.

O trabalho de compilação do livro começou por volta de 733/2 a. c. com o próprio Isaías, e depois continuados pelos seus discípulos e editares até que terminou por volta do ano 450 – 400 a. c. A cópia completa mais antiga e perfeita que chegou até nós, data do ando 100 a. c. e foi encontrado em Qunra.

c) Mensagem de Livro de Isaías

A actividade profética de Isaías pode-se dividir em três partes:

C.1- A primeira parte começa desde a morte de Ozias até ao reino de Acaz (740-734 a. c.). Foi um período caracterizado por constantes avisos e de ameaças contra todos os que violavam a justiça social; os que oprimiam os pobres e oa humildes; adoravam falsos deuses e perderam a confiança no único e verdadeiro Deus.

C.2- A segundo parte deu-se durante o reinado de Acaz (734 – 728/7 a. c.). Vendo que o reino de Isarael não considerou os seus avisos e ameaças, e caminhava para a ruina como castigo por ter abandonado o verdadeiro Deus e aliar-se aos assirios, Isaías retira-se e escreve as partes mais importantes da sua pregação.

Uma vez que o reino do Norte (Israel) estava a beira da derrota, Isaías, inspirado por Deus, tanta evitar que não aconteca o mesmo com o reino do Sul (Juda). Assim, torna-se,





torna-se conselheiro do rei Acaz, de maneiras que este só confie na proteção de Deus e não faça aliança com os assirios. Mas o rei não escutou e aliou-se aos assirios.

Já desanimado e desiludido, Isaías retira-se novamente e dedica-se a formação de alguns discípulos aos quais confia os seu escritos sobre as ameaças e avisos esperando a sua realizaçao.

C.3- A terceira parte começa desde a mote de Acaz até a invasão de Senaquerib (701 a.c.). Neste período, Isaías condena a tentativa de alinça com o Egipto contra a mesma assiria e ameaça-os de novo.

A invasão de Senaquerib (705-701 a. c.) levou a Isaías a retomar a sua actividade profética. (P 34) Assim, o profeta assegura so rei que Assiria foi encarregada por Deus para castigar os pecados do rei e do povo de Juda; que terminada essa missão, Assiria seria casstigada e estruida; que Assiria não conquitaria Jerusalém; que aliança com Egipto traria só sofrimento e desgraça.

Mas nemm com isso o rei respeitou a profecia e não tardou que viesse a Juda toda espécia de males profetizadas.

d) Teologia do Livro de Isaías

Através de Isaías, Deus quis nos transmitir a sua rica mensagem. Aqui mencionamos alguns elementos centrais:

Isaía procura apresentar Deus como o único que é santo (Is 6,3; 8, 13; 17, 7; 29,23). Criador do ceu e da terra (37,14-17. 20) que actua através dos homens (28, 21; 5, 12; 10, 12) . Deus é o Senhor e guia da história, Ele concebe com muita antecedência os seus planos e são executados no momento certo (29,11), portanto não falha.

Deus dispões das nações para executar seus planos, mas e castiga-os quando não lhe são fiéis.

Isaías procura mostrar também que os ídolos não são Deuses (2,8; 31, 7; 37,18-19). A prática de injustiças, opressões, falta de fé e de confiança em Deus, a não mudança de vida mesmo praticando a religião não agradam a Deus. Por isso Ele pede que o povo se converta para perdoá-lo. (30, 1; 1, 11-12. 13-15; 1,2-4; 5,1-7). Mas mesmo com todos estes apelos, o povo resiste ao apelo de Deus e não se converte. Por isso Deus ameaça castigar o seu povo (5, 8-9). Mas esse castigo não é para aniquilar, mas sim purificá-lo.

Isaías fala ainda do povo que vai restar do Isarael. Ele diz que esse povo será salvo, pois vai ser um povo arrependido, santo agradecido (29, 22-23). Sobre Jerusalém, Isaías diz que a nova Jerusalém atrairá os povos e ensinará as nações (2, 2-3), será motivo de grande alegria e voltará a ser o monte santo e será protegida pelo Senhor (27, 13; 31, 5). Isaías fala do Messias Salvador e cita a segunda livro de Samuel 7, 16 em que o profeta Natã anuncia o nascimento do Messias, o Emmanuel. Deus fez este anúncio para reavivar a esperança do povo que se sentia ameaçada pelos povos vizinhos perante a falta de fé do rei Acab. Isaías diz que o Messias será um rei poderoso (9, 6-7), será uma luz para o seu povo, será descendente de Jessé e de David e repleto do Espírito do Senhor, será a pedra fundamental da nova ordem (28, 16) virá libertar o povo das enfermidades (35, 4-6)

2. JEREMIAS



a. Contexto Histórico

O profeta Jeremias viveu num período muito agitado. Politicamente, o reino de Juda tinha se tornado vassalo dos Assírios. Mas o reino destes começou a vacilar desde a primeira revolta da Babilónia em 648 a.c. Na Palestina (reino de Judá), entrava no poder o rei Jossias com apenas 8 anos.



No ambito religioso, o reino de Manasses e de Amon foram caracterizados por uma grande decadência espiritual: havia uma indiferênça religiosa; idolatria generalizada; reintrodução do sacrifícios humanos; alastramento da prática de magia e advinhos. No mesmo período foi descoberto no Templo de Jerusalém o chamado Deutoronómio, que se perdera há muito. Depois de ter sido lido para todo o povo, o rei Jossias começou com a chamada reforma deutoronomica que consistia em levar o povo a regressar à sua fé e no único e verdadeiro Deus e Senhor de Israel, bem como o cumprimento dos seus mandamentos. Com a morte de rei em 609 a. c., a reforma foi interompida pelo seu sucessor, o rei Joaquim.

No que diz respeito ao abiente social, dizer que apesar da reforma empreentida por Jossias e os seus colaboradores, o povo na sua maioria não quis converter-se, continuando assim a se guiar por costumes pagãos tais como: opressões e injustiças contra os pobres; imortalidade generalizada; prostituição sagrada.

b. Composições e Divisão do livro de Jeremias.

Os estudiosos, nos seus exames sobre o livro de Jeremias, concluiram que a obra é composta por três grandes colecções:

- A 1ª colecção é constituida por poemas, discursos e confissões do profeta.

- A 2ª colecção é constituida pela biografia do próprio profeta e foi escrita por Baruc.

- A 3ª colecção é constituida pelas chamadas Sermões Deuteronómicas.

O editor final do livro combilou as três colecções sem preocupações cronológicas dos acontecimentos, por isso alguns capítulos duma colecção estão misturados com outros. Quando a autoria do livro, dizer que a primeira colecção foi escrita pelo próprio profeta ou editado pelo seu secretário que foi o profeta Baruc.

Os temas da segunda colecção são diferentes dos da primeira no vocabulário e no estilo, mas podem ter sido escritos pelo próprio Baruc.

Quando a terceira colecção, os sermões foram principalmente pregados pelo profeta Jeremias na sequência da reforma deuteronomica de Jossias. É possível que mais tarde, durante o exílio esses sermões forma ampliados pelos pregadores da escola deuteronómica, e ainda mais tarde uma outra figura terá compilado e juntado com o apendice histórico do capítulo 52, formado assim o livro definitivo. Em todo o caso, todo o livro foi inspirado.

No que diz respeito a data em qu foi escrito, dizer que quase todo o livro foi escrito peloo profeta Jeremias ou pelo seu secretário Baruc entre 627/7, data do seu chamamento por Deus até 587, ano em que foi levado para o exílio onde morreram. É possível que certos fragmentos e o apendice foram escritos no exílio 586 a. c., ou logo após exílio em 527 a. c.

c. Mensagem do livro do profeta Jeremias

O profeta Jeremias era partidário de Jossias e estava a favor da reforma deuteronomica, embora não tenha colaborado directamente.

A primeira etapa da pregação de Jeremias foi feita sobretudo para o norte, e é nesta época em que foram escritos os capítulos 2-6 e 30-31.

A segunda etapa foi durante o reinado de Joaquim (609-597). Nesta etapa, Jeremeias fez de tudo para que este rei não se mete-se no conflito de Babilónia com Egipto, mas Joaquim não acatou o apelo e até perseguiu o profeta. Daí resultaram os capítulos 7-20; 36, 45, 1-5 e 52, 59-64.







A terceira etapa da vida profetica de Jeremias foi no reinado de Sedecias (597-587). Também este não quis acatar os apelos do profeta e perdeu a indempendência do seu País. A mensagem profética de Jeremias centra-se na pregação contra os abusos e crimes, a desastrosa política nacional, confinaça supersticiosa no Templo, contra os próprios reis que não seguiam a lei de Deus. Contrariamente aos costumes do seu tempo, Jeremias não se casou, assim dedicava-se mais livremente ao seu ministério profético, e também mostrar que a sua esposa era o Povo de Deus, assim como Deus se considerava esposo do seu Povo.

d. Teologia do Livro de Jeremias

A teologia de Jeremias gira em volta de Deus e seu povo. Sobre Deus, Jeremias diz que Ele é o Criador e Providência, pode dispor das nações como entender (Jr 1, 20; 18, 8; 25, 9; 43, 8-12). Deus vê o intimo de cada pessoa, pois ele é grande e poderoso (10, 6-7; 32, 18-20; 12,3; 16, 17, 9-10), Ele está em todo a parte e só ele pode nos perdoar e salvar porque isso lhe dá alegria, (Jr. 23, 23-24; 3, 23; 9, 22-23; 32,41-43). Deus faz tudo para evitar catigar o seu povo, pois ele ama com um Pai (Jr 25, 3-7; 3, 19). Deus ama o seu povo como esposa (Jr 2, 2; 13, 11) e por isso se queixa da infidelidade dele (Jr 3,20; 11, 15)

No que diz respeito a palavra de Deus, Jeremias diz que a palavra de Deus é como fogo devorador (Jr 5,14) ela deve ser esperada na oração e recebida na presença de Deus (Jr 15, 11.21; 23, 18.22). Sobre o culto e o Templo, Jeremias diz que sem as devidas disposições, os actos de culto não agradam a Deus (Jr 6, 20) e sem mudança de vida, o Templo não será refúgio seguro (Jr 7, 9-11. 13-14). Jeremias pronunciou-se sobre o mal grave a que o povo estava metido. Tal pecado consistia em abandonar a Deus (Jr 2, 19; 3, 21, 4, 22; 6, 19, 18, 15). É esse pecado que é a causa do sofrimento (14, 16; 30, 15) que concorre para que recortemo-nos de Deus e voltemos para ele (16, 21; 31, 18; 14, 18-21; 14, 7-8).

Os pecados de povo deJuda fizeram com que o Deus se queixa-se e convida-se o seu povo a se converter a Deus. o povo referido havia disprezado e abandonado a Deus, e passaram a adorar falsos deuses.(1, 15-16; 6, 10; 7, 28; 32, 3; 13, 10b; 3, 2). Não respeitavam os bens alheios (5, 27-29; 8, 10) e eram violentos e caluniadores (6, 6-7; 6, 28) adulteros (5, 7-9a) cometia toda a espécie de crimes (9, 1-5. 7). Essa culpa recaia para todas as classes sociais (5, 4-5). Apesar de todo apelo à conversão, o povo respondia com infidelidade (5, 19; 16, 10-13). Por isso Deus começou a enviar pequenos castigos (3, 3.5b; 12, 13), mas mesmo assim, nada mudava. Então Deus anunciou o envio de grandes castigos (4, 7, 16-18; 5, 15, 17, 16, 5-6; 44, 22-23) para que o povo sefrendo, se purifique e seja salvo (36, 6-9).

Depois deste castigo, Deus promete a restauração do seu povo (16, 14-15; 25, 11-12; 29, 10-14; 31, 8. 12a; 46, 27-28; 33, 16), promete fazer aliança com o seu povo (32, 40-42). Uma nova aliança espiritual e intima (32, 40-42; 31, 31-34). Praticareis a religião de toda o coração e todo o povo de Israel se reunirá novamente. A salvação será para todos os povos e nações (3, 17), pois o salvador será universal e brotará da descendência de David (23, 5-6)

3. –EZEQUIEL



a. O Contexto Histórico do Livro de Ezequiel

O ambiente político no tempo do profeta Ezequiel era muito tenso, Nabudoconosor, rei da Babilónia havia destruido Jerusalám pela primeira vez e deportado Joaquím, rei de Juda, com todos os principes, homens sábios e valentes para Babilónia. No total prefazia 8000 pessoas. Entre os deportados estava Ezaquiel.







O rei da Babilónia nomeou um regente paa Judá e Jerusalém para governar em nome do rei. Tratava-se de Sedecias, sobrinho de Joaquim que estava já na Babilónia. O regente tetou sacudir a dependeência do seu país, mas oito anos depois, Janeiro de 588 a. C. veio Nabucodonosor com um valente exercito que pôs cerco a Jerusalém que resistiu dezoito meses, mas por falta de víveres, rendeu-se. A cidade foi destruida e o povo que tinha restado levado ao exílio. O ambiente socio e religioso era semelhante àquele em que viveu o profeta Jeremias. Os avisos do profeta Ezequiel sobre a primeira invasão do país e a primeira tomada de Jerusalém, bem como a primeira deportação para Babilónia em 597 parece não terem convencido os Judeus a mudarem de vida. Por isso todos os males profetizados aconteciam dramaticamente.

b. Composição e Divisão do Livro de Ezequiel

A expressão que se tem do livro de Ezequiel é que ele é constituido por duas narrações que são uma espécie de diário, onde o profeta anotava todos as revelações de Deus para transmitir ao povo. A primeira narração contém os poémas, acções e pregações referentes a Jerusalém e a Israel. A segunda narração é constituida pelas terriveis ameaças proféridas em nome de Deus, contra as nações vizinhas de Judá, especialmente contra o Tiro e Egipto.

O editor final da obra de Ezequiel acrescentou alguns retoques, mas são muito de distinguir.

c. Mensagem do Livro de Ezequiel

Ezequiel foi um transmissor homem da vontade de Deus aos seus compatriotas. nisto, o profeta sofreu bastante por causa da indiferênça, incredulidade e a dureza de coração do povo. Ezequiel procura convencê-los de que era inútil a esperança de que Jerusalém não seria novamente invadida e de que o cativeiro tereminaria em breve. A actividade profética proloncou-se por 22 anos. Ezequiel sente-se dependente de Deus que o envia. Ele profetiza por meio de visões e acções simbólicas. A actividade profética de Ezequiel pode-se dividir em duas etapas:

A Primeira etapa decorreu entre 593 e 587 a.C. Nesse período, Ezequiel foi profeta da condenação dos pecados e dos abusos e das falsas esperanças dos seus compatriotas no exílio.

Depois que Jerusalém foi destruido, começou-se uma nova etapa da profecia de Ezequiel. Já se torna profeta da consolação, de esperança e de construção. Passando assim, a ser um autêntico pai espiritual para os exilados, um pai compassívo e compreensívo. Ezequiel profetizou ao povo exilado dizendo que Deus havia de libertar o seu povo do cativeiro, para o fazer regressar à sua pátria, e que renovaria com ele uma nova aliança para o tornar mais uma vez próspero e feliz.

d. Teologia do Livro de Ezequiel

O tema predilecto no livro de Ezequiel é o da obsrvância estreita da lei levítica de pureza (22, 26; 44, 23). Acerca de Deus , Ezequiel diz que Ele é o Senhor glorioso, Santo e revela a sua Sanatidade às nações pagãs (1, 22. 26-28; 28, 22.25). Nesta temática a ideia dominante é que o povo e a terra devem ser santos como Deus é Santo.

A respeito do pecado, Ezequiel diz que ao imenso amor de Deus pelo seu povo, este respondeu com toda a espécie de pecados e de infidelidades tais como: trocar Deus pelos falsos deuses; trocar o cumprimento dos seus mandamentos pela satisfação dos seus maus instintos e más paixões; prática de sacrificios humanos, adultérios e todo o tipoe e ujustiças e pecados (18, 7. 16; 22, 7, 25; 22, 7; 22, 2-4. 6-9). Sobre esta problemática, Ezequiel introduz um elemento novo na concepção do povo. Ele diz que o pecado é da responsabilidade individual de cada um. Portanto, cada um é responsável pelas acções que pratica (8-11 e 18).







Entretanto, Deus convida ao seu povo à conversão antes do castigo (14, 6; 18, 30-32; 20, 7-8. 18-21; 45-10). Mas o povo não toma em consideração aos apelos de Deus, por isso este enciou um castigo para que o povo não volte a cometer pecados aind mais (14, 10-11; 12, 19-20. 23b. 25b; 5, 11-12; 7, 3-4. 9-11. 13, 15.19, 22). Assim, Jerusalém vai ser destruida, todo o país sofrera os horrores da guerra, o rei Sedecias será destronado, a população será levada para o exolio. Todos estes castigos serão para a purificação do país para poder ser salvo.

Sobre o futuro do povo de Deus, tal como Jeremias, Ezequiel diz que na altura própria, Deus restaurará o seu povo e fará dele um povo novo e glorioso (1, 17; 36, 24-28). A esperança na restauração furura de Israel é inculcada com a visão da ressurreição dos ossos ressequuidos (37, 11ssOs deportados voltarão à sua patria; a unidade do Reino será reconstituída; será um povo fiel e purificado, pacífico que prestará a Deus um culto digno. Deus regressará ao seu templo. Deus fará uma aliança eterna com o seu povo (20, 39-41; 34, 26-30; 43, 2. 4-7; 16, 60ª-63b). Deus dará ao seu povo um espírito novo e um novo coração.

Quando ao tema do Messias-Salvador, Ezequiel náo trata com muita frequência com Isaías. Mas predisse a alinaç perpétua, assegurada pela presença sem fim de Deus no meio de seu povo. É importante referir que a forma como Ezequiel se pronunciou sobre a separação do puro e do impuro dá entender que teve uma educação reigorosa nesse sentido. Aliás, dizer, que Ezequiel é chamado pai do judaimo, exactamernte por causa da sua influência na edificação dos principais elementos da relifgião judaíca, tais como o amor ao templo; culto da lei; distinção do sagrado e do profano; observação miticulosa dos prescrição rituais



INTRODUÇÃO

Os cinco livros que a tradição atribui ao apóstolo João, filho de Zebedeu, constituem parte importante do N.T. Aliás, o que interessa não é a extensão do texto, mas sua densidade espiritual e papel na vida cristã. Ao escrever, já no declíneo da vida, João surge como o mais profundo dos teologos, o mais fulgrante pelas suas visões de futuro, trágicas como seu tempo e relatos de esperança. Entre o IV Evangelho, as três epístolas e o Apocalipse cruzam-se, curriosamente, evidente parentesco e diferenças consideráveis. Ao confiar a obra a três autores, o editor quis ajudar os leitores a perceberem estas variações no joanismo; no fim da caminhada, mas se realçarão as semelhanças.

1.DEFINIÇÃO DOS ESCRITOS JOANINOS OU CORPUS IOANNEUM

Corpus Ioanneum compreende todos os livros que são atribuídos a João: o Evangelho, as três cartas e o Apcalipse. São os últimos livros do NT e tiveram a possibilidade de uma reflexão teológica mais profunda, por parte do autor e comunidade que recebeu o anúncio dos apóstolos. Por este motivo o seu conteúdo é mais profundo. Diante destes livros debatemo-nos com um sentido de importância, porque somos incapazes de chegar até à plena compreensão. Diante deles temos de começar com uma atitude de humildade e pedir a ajuda do Espírito Santo para compreender o conteúdo teológico destes escritos.

a. A teologia de João é mais rica do N.T, porque é a única que têm a representação de três carismas: Evangelista (Jo); doutor (1-3Jo) e profeta (Ap).

b. Pode-se falar de uma escola joanino, tendo em conta a diversidade das obras (um autor ou vários), mas há também semelhança. O Apocalipse, a nível de vocabulário é diferente, mas as três obras são muito semelhantes do que aquelas que Lucas (Actos dos Apóstolos e Evangelho de S. Lucas).

Denomina-se então “escola joanina” este conjunto de discípulos que pregaram em comunidades vinculadas ao testemunho do Discípulo, aqueles cuja assinatura se acha em 21,24: “ Quanto a nós, sabemos que seu testemunho é verdadeiro”.

I. O EVANGELHO

1. Autor

Segundo a tradição era João, o filho de Zebedeu, um filho dos filhos do Trovão. Era o discípulo que Jesus amava. Depois, a tradição encontra as cartas de João, relaciona e pensa no mesmo João; mas temos ainda o vidente que é o autor do Apocalipse, que esteve na Ilha de Patmos e que sofreu por causa do Evangelho. A posição tradicional, então, afirmava que é a obra de um Judeu, da palestina, uma testemunha ocular, um apóstolo, que era João, filho De Zebedeu ( identificado com o discípulo que Jesus Amava), irmão de Tiago, escrito em Éfeso na sua velhice, depois dos outros evangelhos. Esta posição vem de Ireneu de Lião, baseado sobre o ensinamento de Policarpo que teria mesmo conhecido. Opinião geral até ao século XVIII.

A leitura sincrónica destes três blocos do N.T. ( Evangelhos, cartas, Apocalipse ) mostra que há uma unidade temática mas também muitas divergênncias. A evidência interna indicaria que talvez este Evangelho não foi escrito por um pescador da Galileia, porque:

1. o autor tem bom conhecimento do Judaísmo rabínico;

2. tem um bom conhecimento do judaísmo helenístico ( especulação sapiencial da diáspora);

3. contém elementos do helenísmo filosófico pagão ( logos, ideias gnósticas, religião como conhecimento, etc).

Podemos dizer com Dodd: não é impossível imaginar que um pescadosr galileu pudesse tornar-se o teólogo talentoso do quarto evangelho...mas é difícil.

Hoje não se considera o apóstolo como o autor destes livros, mas como fonte, como impulsionador. Fala-se mais de uma comunidade joanina ou escola joanina, isto é, um grupo que se reuniu à volta

dos ensinamentos do apóstolo João na ásia Menor ( na actual Turquia) e que vai difundir as características próprias destes ensinamentos de João sobre Cristo. Podemos afirmar que o Quarto evangelho assim como se apresenta hoje não vem da mão de João, mas o espírito e conteúdo do evangelho provém dele.

2. Lugar e data

A opinião mais comum coloca a sua composição na cidade de Éfeso. A tradição é unâme em dizer que este evangelho é o último a ser escrito; ele apareceu na sua forma actual entre os anos 90 e 100 da nossa era. Isto concorda com o testemunho de Ireneu que diz que João viveu até o tempo de Traiano (98-117).

Deve ser o último evangelho a ser posto por escrito porque, de facto, parece que João omite intencionalmente alguns dados dos sinópticos, como se não os quissesse repetir. Vejamos alguns casos:

- não fala da infância mas diz: “ E o verbo fez-se carne e habitou entre nós...(1,14)

- não fala do Baptismo, mas interpreta o ministério de João Baptista e as suas relações até de pomba (1,32-34);

- não fala da instituição da Eucarístia, mas conta-nos longamente a multiplicação dos pães e dá-nos uma grande catequese sobre o pão da vida (Jo 6) e é aquele que nos dá o mais longo relato da última ceia.

3.Destinatários

É para aqueles que já sao cristãos, para a comunidade cristã. No evangelho há indicações nesse sentido: os ultimos discursos de adeus (cap.13ss) são dirigidos àqueles que aceitam Jesus. 20,29 fala dos Cristãos. O cap.21 fala duma comunidade cristã particular. Os milagres de Jesus e a hostilidade dos Judeus, indica claramente que foi escrito para eles. Esta opinião impõe-se a todas outras: o evangelho teria sido escrito para uma comunidade de língua grega, em conflito com uma comunidade judaíca próxima e contrária às conversões.

II. AS CARTAS

1. Autor

A tradição atribui 1Jo ao apóstolo João. 1Jo é usada por Policarpo e por Pápias. A tradição explícita começa com Ireneu, afirmando-se com Clemente de Alexandria, Tertuliano e Orígenes. A evidência interna é favorável à identidade entre o autor de Jo e de 1Jo. São estreitos e numerosos os pontos de contacto no vocabulário e no estilo; em especial, Jo e 1Jo apresentam muitas expressões comuns que estão ausentes ou são raras no resto do N.T.

2. Destinatários

Não se apresenta na forma clássica de carta. Nela a polémica é sistematizada, os adversários são denunciados explicitamente. Desde o começo o autor cita as declarações daquele que se opõem. Podemos afirmar que para os cristãos, isto é, uma comunidade cristã que está em querelas.

2-3Jo.

1.Autor

A Igreja primitiva já colocava em dúvida não apenas o facto de que o apóstolo João fosse o autor de 2-3Jo, mas também a canonicidade dessas epístolas. As duas cartas apresentam estreitas afinidades verbais com Jo e com 1Jo. Não há dificuldade em se admitir único autor para todos os documentos Joaninos; entretanto a dificuldade é representada pelo título “Ancião” (“presbítero”) em 2-3Jo. Muitos estudiosos pensam que se trate de João, o presbítero (ancião, mencionado por Pápias, cfr. João, Evangelho de ). A ausência de título de apóstolo nessas cartas levanta algumas dúvidas sobre a autoria do apóstolo João, consequentemente, as mesmas dúvidas recaem também sobre Jo e 1Jo



2.Destinatários

Trata-se de epístolas certamente ocasionais, diferentes de 1Jo na forma e no conteúdo. 2Jo é endereçada a “Senhora Eleita”, expressão que indica provavelmente uma Igreja da Ásia. A Igreja encontra-se perturbada pela acção de falsos mestres, parece que são os mesmos de 1Jo. Então, a Igreja é exortada à fé, à rejeição dos falsos mestres. 3Jo é endereçada a Gaio, surgindo a partir de um conflito com Diótrefes, que detém uma autoridade não precisada sobre a Igreja. Gaio é elogiado por sua fé e lealdade. Segundo alguns, Demétrio, o portador da carta, teria sido enviado precisamente para depôr Diótrefes e empossar Gaio; trata-se de um interessante esboço de uma tensão jurisdicional primitiva que permanece obscura.

.

3. Data

As três epístolas supõem que as comunidades “Joaninas” vivessem um tempo de crise. Pode-se qualificar melhor o joanismo? Os primeiros elementos da tradição joanina se encontram no quarto Evangelho. A maior parte do evangelho pode ter sido composto pelos anos 90-95. A redacção final se situa, com toda a probabilidade, na virada do século I para o II, isto é, quando as epístolas foram escritas. Seja como for, houve interação entre as epístolas e a última redação do texto do quarto evangelho: várias passagens, principalmente da primeira epístola, tem relação com a teologia do evangelho que seria redação posterior.

III. APOCALIPSE

1. Autor

O autor chama-se João (1,1;1,4;1,9;22,8). Naquele tempo era costume dedicar uma obra literária a uma personagem importante do passado. Isso acontecia sobretudo quando alguém escrevia uma obra Apocalíptica. O autor do Apoclipse, portanto, apesar de chamar-se João, não é o evangelista João. É um exilado político (cfr.1,9) que dedica seu trabalho ao mestre João, inspirador de toda a literatura joanina (evangelho de João, 1ª,2ª e 3ª cartas de João, Apocalipse) e grande incentivador das comunidades cristãs de Éfeso e arredores no final do primeiro século.

2. Destinatários

O autor dirige o seu livro a sete comunidades concretas da Ásia Menor (1,4). A proximidade entre as ditas comunidades e os detalhes concretos com os quais João as caracteriza fazem pensar que se trate de comunidades reais e históricas com problemas específicos.

3. Data

Ireneu o situa “próximo do fim do reino de Domiciano”, isto é, entre 90 e 96. O autor nos diz ter tido suas visões quando estava na Ilha de Pátmos “por causa da palavra de Deus” (1,9-10), ou seja, no exílio, pois diz ser “irmão e companheiro na tribulação e na perserverança”. Ora, sabemos que Domiciano desencadeou uma perseguição terrível contra os cristãos por recusarem prestar culto do imperador declarado “Senhor”. Compreende-se bem, aliás, a insistência do Apocalipse em reservar este título ao Cristo.

IV. CONTEXTO RELIGIOSO

Os escritos joaninos estiveram em polémica aberta ou latente com importantes grupos e ideologias daquele tempo. Vamos citar alguns:

1. O grupo de João Baptista - por estranho que nos pareça, João Baptista teve a sua seita ou religião que continuou a sua mensagem. Os joanitas aparecem-nos em Éfeso (cfr.19,1-7) como um grupo bem constituído com as suas práticas e crenças muito próximas do cristianismo nascente e já preparados para receberem a fé em Cristo a tal ponto que, com uma catequese rudimentar, podem



ser baptizados e entrar na Igreja. João fala de verdadeiras tensões entre a Igreja primitiva e este grupo dos joanitas (3,22-30).

2. O grupo Judeu – A hostilidade das autoridades judaicas representa todas as hostilidades que Jesus é vítima; os Judeus são comparados ao mundo que rejeitou Cristo. Mas o maior problema é que todos os primeiros discípulos de Jesus eram antigos Judeus e alguns deles até eram judeus discípulos do Baptista que agora seguiam a seita cristã. A sinagoga estava em grave tensão com a Igreja nascente. A tensão exacerbou-se a ponto que a sinagoga decidiu de excomungar “quem confessasse que Jesus é Cristo” (cfr.Jo9,22). E, em questões de doutrina, a acusação contra Jesus é grave: é um samaritano, quer dizer um herético (cfr.Jo 8,48). Podemos então concluir que a teologia joanina, no que ela tem de mais profunda e penetrante, constitui-se nesta tensão de Igreja nascente com o opositor judeu; foi num clima de contínuas acusações que se afirmou a fé cristã.

3. O grupo Gnóstico – gnosticismo faz depender a salvação do simples conhecimento e pretende oferecer aos seus adeptos um conhecimento mais elaborado e mais eficaz para obter a salvação. Defacto, muitas expressões de João parecem irem neste sentido (Jo17,1-3). O gnosticismo foi de certeza o maior perigo para o cristianismo nascente. E o perigo agravou-se ainda mais quando dentro desta corrente nasceu uma heresia cristológica, talvez a primeira, que afirmava a distinção entre Cristo celeste e o Jesus de Nazaré. Esta heresia é conhecida com o nome de Docetismo (aparência). Ela é combatida frontalmente na 1Jo2,18-23.

4. O grupo Cristão – numa comunidade onde todos se amam como verdadeiros irmãos não deveria ser necessário repetir com tanta insistência: “amai-vos uns aos outros ” (cfr.Jo13,34). A 3Jo9-10 fala de desobidiência às autoridades e de partidos dentro de comunidade; e a 1Jo denuncia os que pretendem amar a Deus sem amarem também os irmãos (1Jo4,20-21). Na realidade, a vida das primeiras comunidades cristãs era mais ou menos o que é hoje, feita de tensões, de conflitos e de alguns pretensiosos que queriam mandar em tudo e tirar proveito da comunidade mais do que serví-la.

4.5. O grupo Político – os chefes dos judeus são os primeiros a ser denunciados como perseguidores de Cristo e de Cristãos (cfr. At 7,58). Temos também alguns indícios de perseguições por parte do império, nomeadamente Nero (de 54 a 68 ). O Ap.17,1-18 denuncia os excessos de uma prostituita a quem dá o nome de Babilónia, mas, na realidade, é Roma que se deve entender neste texto que diz literalmente: “vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus. Seu aspecto me encheu de grande assombro”.

V. CONTEÚDO DE CADA ESCRITO:

1 Evangelho

Prólogo (1,1-18)

I. Parte: O livro dos sinais (1,19-12,50): dividido em 6 secções:

1. Páscoa do novo templo (1,19-4,5)

2. Cura dum paralítico num dia de festa (5,1-47)

3. Páscoa do pão da vida (6,1-7,1)

4. Festa dos tabernáculos e cura do cego de Nascença (7,2-10,21)

5. A festa da dedicação do templo (10,22-11,54)

6. Conclusão (11,55-12,50): fim do ministério público e preliminares da última páscoa.

II. Parte: o livro da Hora De Jesus (13,1-20,31): é o livro da hora em que Jesus, em acto supremo de amor, passa deste mundo para o pai.

Dividido em três secções:

1. Última ceia (13,1-17,26)

3. Narrativa da paixão (18,1-19,42)

3. A ressurreição (20,1-31)

Apéndice: 21,1-21: directizes do ressuscitado à sua Igreja.

2. As cartas

a)1Jo

1,1-4: prólogo

1,5-3,10: primeira grande mensagem do autor, trata-se de apresentar Deus como luz e a necessidade de andar na luz.

3,11-5,12: filiação divina. Ser filho de Deus tem as suas consequências, que implica viver no amor.

5,13-21: conclusão - nos é apresentada uma segurança: “Nós sabemos que temos a vida”.

b)2Jo

A segunda epístola tem os requisitos de uma carta. Contrariamente à primeira, encontramos nela marcas epistolares habituais as quais nos permitem ver seu plano:

-o endereço: o Ancião saúda a senhora eleita: vv.1-3;

- o corpo da carta, que pode ser dividido em duas partes: vv.4-6 e 8-11, ligados por um versículo – eixo, o v.7;

- as saudações finais, que seguem o esquema clássico de uma conclusão de carta: vv.12-13.

c)3Jo

A terceira epístola é o escrito mais curto do N.T, mas aprendemos nele muitas coisas sobre a vida das comunidades joaninas e sobre as dificuldades encontradas pelos primeiros pregadores. Por seu estilo e sua composição ela se aparenta muito com a 2Jo e segue um plano idêntico. Pode-se lê-las em sinopse.

O endereço (vv.1-4): apesar do seu endereço mais desenvolvido, a 3Jo pertence mais ao género literário do “bilhete”. Ele é dirigido a Gaio, um dos membros da comunidade joanina, que é louvado pelo que fez, encorajado a continuar e convidado a descernir o comportamento negativo de Diótrefes.

O corpo da carta (vv.5-12):

- o comportamento positivo de Gaio (vv.5-8)

-o comportamento negativo de Diótrefes (vv.9-10)

- o modelo a seguir (vv.11-12)

d) Livro de Apocalipse

Prólogo (1,1-3): o livro se nos apresenta assim como uma revelação feita por Jesus Cristo, mas que procede de Deus e é dom dele.

1ª parte: As sete Cartas às Igrejas:

-Éfeso (2,1-7);

- Esmirna (2,8-11);

- Pérgamo (2,12-17);

- Tiatira (2,18-29);

- Sardes (3,1-6);

- Filadélfia (3,7-13);

- Laodicéia (3,14-22).

2ª parte: interpretação profética da história:

- leitura de factos que devem acontecer ( cap. 4-5);

- revelação progressiva do significado da história: os sete selos (caps. 6-7);

- a história da salvação põe-se em marcha: secção das trombetas (8,1-11,14);

- o conflito entre o bem e o mal chega a seu ponto crítico: os três “sinais” (11,15-16,16);

- conclusão da história da salvação: condenação da prostituita e truinfo da Esposa (16,17-22,5).









VI. TEOLOGIA

a) Evangelho

A teologia de João é a mais completa do N.T., porque é a única que tem a representação dos três carismas: Evangelista(Jo); doutor (1-3Jo) e profeta (Apocalipse). Pode-se falar de uma escola joanina, tendo em conta a diversidade das obras (um autor ou vários), mas há também semelhança. O Apocalipse, a nível do vocabulário é diferente, mas as três obras são semelhantes do que aquelas de Lucas (Lc e At).

A teologia de João parte da realiddae humana de Jesus tornada na sua morte. Este é o facto central do evangelho: Jesus condenado à morte e executado por instituição que não o aceitou, por considerá-lo perigoso para seus interesses políticos, económicos e religiosos, defendidos por interpretação da lei na qual se apoiaram para dar-lhe a morte. Defacto, o plano que estrutura o Evangelho de João é teológico. Não é biografia de Jesus (20,30), nem sequer resumo da sua vida, mas interpretação de sua pessoa e obra, feita por uma comunidade no seio da sua experiência de fé.

A partir da abertura constituída pelo prólogo são esboçados os temas de luz/trevas, Vida/morte, palavra e Glória. O simbolismo do Templo, que já despontava no prólogo com “ele amou sua Tenda” e “nós vimos sua Glória”, aparece claramente no capítulo 2 onde Jesus purifica o Templo; ele se exprime na cena da Samaritana, onde todos os lugares Sagrados são eliminados em benifício do único consagrado, o ungido, o Messias. Pode-se também descobri-lo em diversos outros episódios até cena do Calvário. Nas bodas de Caná surgem motivos que se encontraraõ pelo evangelho a fora até o Calvário: a Hora de Jesus, o vinho das núpcias messiânicas. O tema da Páscoa onde também pode ser seguido até a crucificação onde transparece a imagem do cordeiro Pascal. Vê-se já que um certo número de simbolismo convergem para acena do Calvário, lugar da exaltação de Jesus na Cruz.

Ao longo de todo o Evangelho se entrelaçam temas diversos, nascem, desaparecem, tornama voltar, como os motivos de uma fuga musical.. Esse estilo de composição, em que as correspondências exercem tão importante papel, evocam para um moderno estilo da poesia simbólica. Álias tudo é “sinal” no evangelho. Os milagres são chamados “sinais” (2,11;4,54;6,14;12,18): comportam um significado que ultrapassa o simples benifício material e levam a uma percepção de outra ordem sobre o modo de agir de Deus, sobre a origem divina de Jesus. Elementos como a água e o sangue (19,34) são sinais. Toda cena pode ser objecto de uma leitura.

Já que, de episódio a outros, os elementos simbólicos se esclarecem e se fortificam numa relação mítua de atração e de resposta, o evangelho é como um tecido, cujos fios seria arbitrário cortar. Pode-se dizer que cada episódio contém virtualmente o evangelho todo. Daí a dificuldade de isolar uma cena, sempre atravessada por fibras que a ligam ao conjunto do corpo.

As linhas chaves da teologia de João são duas: o tema da criação e o da páscoa-aliança. Em primeiro lugar,, explica a série cronológica que aparece no início do evangelho (1,19: testemunho de João Baptista; 1,29: ao dia seguinte;1,35: ao dia seguinte; 2,1: ao terceiro dia), cujo objectivo é fazer coincidir o anúncio e início da obra de Jesus com o sexto dia, o dia da criação do homem; marca assim o sentido e o resultado da sua obra: terminar esta criação, aqual culminará com a sua morte na cruz (19,30: fica terminado), que ocorrerrá também no sexto dia, como o recorda o evangelista com outra série de indicações (12,1: seis dias antes da páscoa; 12,12: no dia seguinte; 13,1: antes da páscoa; 19,14.31.42: preparação da páscoa).

O tema da páscoa-aliança leva em si o êxodo e, com ele, inclui todos os temas subordinados: a presença da glória na Tenda do Encontro ou Santuário (cfr. 1,14;2,19-21), o cordeiro (1,29;19,36), a lei (3,1ss), a passagem do mar (6,1), o monte (6,3), o maná (6,31),o caminho do seguimento de Jesus (8,12), a passagem da morte para a vida (5,24), a passagem de Jordão (10,40). Está

intimamente relacionado com o tema do Messias (1,17), que, como outro Moisés, tinha de realizar o êxodo definitivo e, portanto, com o da realeza de Jesus (1,49;6,15;12,13ss;18,33-19,22). O tema pascal domina o esquema das seis festas que enquadram a actividade de Jesus. Desde, a primeira (2,13ss), a terceira ou central (6,4) e a última (11,55;55;12,1) são a própria festa da páscoa.

Notar-se-á a insistência de João no número seis: sexto dia, sexta hora, seis dias antes da páscoa, seis festas, seis talhas. Este número indica o incompleto, o preparativo, o peródo da actividade que visa a um resultado. O número sete aparece somente em uma ocasião designando a sétima hora (4,52) que segue à sexta e indica o fruto da obra consumada: vida que Jesus outorga. A designação de Jesus como o Homem (o filho do home) pertence ao tema da criação, por designá-lo como o modelo de homem, o homem acabado. Também o título de “filho de Deus” (1,34), que indica a realização do projecto divino. A designação “o filho” abrange os dois e os une.

b)Cartas

1. A fidelidade ao que foi ouvido e ensinado desde o começo é um dos temas característicos da 1Jo. Não é desejo de voltar atrás por preocupação do tradicionalismo mal compreendido.

2.Temos uma cristologia trinitária e uma outra orientada para revelação de Deus aos Homens. Se há revalação de deus em Jesus, é que, daqui por diante, Deus está presente em nossa carne,em nossa história humana.

3. A articulação entre a acristologia e a ética é dimensão importante da epistola. A ética da qual se trata não é código moral, mas se exprime imperativamente no mandamento dado por Cristo aos discípulos, porque vivido primeiro por ele. A epístola de João não renuncia a esse vocabulãrio jurídco e sublinha os direitos e deveres daqueles que se dizem filhos de Deus.

4. A obrigação de amar o irmão porque ele nos amou primeiro, tornou-se o cerne da epístola, o centro de todo o seu movimento. Amar o irmão torna-se um acto de justiça, dever, para quem reconhece que Jesus veio na carne.

5. Em comparação com os outros escritos do N.T., o Espírito Santo aparece pouco nas epístolas de João. O janismo dá um lugar preponderante ao Espírito junto aos discípulos depois da morte-ressurreição de Jesus. O autor apela para o discernimento do papel do espírito na Igreja.

c)Apocalipse

1. Teocentrismo

A literatura apocalíptica é eminentemente teocêntica. Revela como Deus é o Senhor absoluto do mundo e da história, cujo domínio nada pode escapá-lo. Este de João não é um excepção, ele afirma com toda a força e riqueza, a primazia absoluta de Deus. Deus é antes de tudo, o senhor absoluto e todo poderoso que transcende o mundo e a história. O primeiro título que se atribue a Deus, “Aquele que é, Aquele que era e Aquele que Vem” (1,4). Detrás desta expressão está a revelação do nome de Deus segundo Ex 3,14.

2. Cristologia pascal

Uma série de títulos tenta especificar o senhorio de Cristo e sua relação com deus. Apartir de título de cordeiro, é dominado testemunha fiel (1,5;2,13;3,14); o primogénito dentre os mortos (1,5); o Am~em (3,14); o filho de Deus (2,18); o pastor (7,17), rei dos reis e Senhor dos Senhor (19,16). Por amor a sua Igreja, Jesus com sua morte liberta o homem do pecado (1,5), realizando assim o objectivo que Deus perseguia com a sua aliança no A.T., a constituição de um povo real e sacerdotal (1,6;5,10;20,6; cfr. Ex19,6). Cristo ressuscitado fala agora a sua Igreja através do Espírito (2,7.11.17.29;3,6.13.22).

3. Eclesiologia

Em Apocalipse a cristologia e eclesiologia formam uma unidade. A igreja participa da tensão entre a o jã e o ainad não da salvação. É uma Igreja militante marcada por uma esperança . Não somente

no triunfo definitivo de Deus e da sua Igreja, quando aparecer o novo céu e nova terra, a Jerusalem celeste banhada do Céu e para~iso (21,1-22,5), mas já aqui na terra.

4. Escatologia

Se trata de uma tema fundamental do apcalipse. As Igrejas de João encontram-se situadas na fase decisiva da história, configurada já pelo triunfo de cristo, o cordeiro imolado (12,5). Porém ainda não se havia manifestado plenamente a salvação (21,1-22,5). Mas o tempo –momento decisivo está às portas (1,3;22,10). Por isso o vidente-profeta recebe o encargo de escrever para a comunidade o que está a ponto de suceder (1,1). O tempo está configurado pelo regresso de Cristo que está a ponto de chegar (22,7.12.20). A Igreja espera com ânsia e piedade esta vinda (22,17-20). É o tempo da fidelidade e princípios e valores pelo cordeiro imolado.

5. O significado do Martírio

A exigência por parte do imperador romano para que o adorasse, atribuindo-se assim uma perrogativa que é exclusiva de deus, unida a uma perseguição e morte a quem não aceitrasse (12,17-18), situa os cristãos num dilema; aceitar as imposições do império, o qual permiti-lhe desfrutar dos benifícios (13,16), ou negar a ele, o qual comporta marginalização e ocasiões de morte (13,17). O cristão deve optar, pois, entre a traição a sua dignidade de crente e o martírio.

Esta situação pode compreender melhor o cristão a luz do foi a vida do seu mestre, Jesus de Nazaré, que recebe em 1,5 o título de mártir (testemunho) fiel. Por outro lado, para João os mártires, neste contexto de luta a morte entre Deus e Satanás (12-13), pela paciência no sofrimento por falar guardando os mandamentos de Deus e da fé de Jesus (14,12)

VII. APRESENTAÇÃO E COMENTÁRIO DE TEXTOS ESCOLHIDOS:

Jo 1,38: Jesus voltou-se e, ao ver que o seguiam , perguntou-lhes: “o que Buscais”?

Cronologicamente: no dia seguinte (v.35). É o terceiro dia apartir do interrogatório de João Baptista (1,19ss).

Lugar: do outro lado do Jordão (1,28): onde João Baptista baptizava.

São as primeiras palavras de Jesus a seus futuros discípulos (Jo1,38). Pergunta dirigida também a Maria Madalena, na manhã de Páscoa (Jo20,15). Como Cristo que convidava seus discípulos a virem ver (Jo1,39), João convida seus leitores a aproximarem-se, com fé renovada, daquele que se apresenta como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo14,6). é esta condição ( fé renovada) para produzir fruto da vida eterna. A busca não alcança seu objectivo sem a iniciativa de Jesus. Sua pergunta é válida para os homens de todas épocas. Não se refere à sua própria pessoa nem expressa exigência ou condição. Quer saber o objectivo que tem em mira. Pode haver motivos bem diversos para seguir Jesus. Pergunta-lhes o que buscam, ou seja, o que esperam dele e o que crêem que ele lhes possa dar. Jesus insinua que existem seguimentos equivocados, adesões a Jesus que não correspondem ao que ele é nem à sua missão que realizará(cfr.2,23-25).

Apocalipse 1,1-3

A revelação que temos neste livro é de Jesus, no sentido de proprietário. A fonte última desta revelação é Deus. Esta revelação foi dada a Jesus para comunicar os seus servos o que havia de acontecer ao mundo, através dod sinais. Jesus revela aos seus através doa anjo. O anjo transmite a João. E por sua vez João transmite aos homens (leitor e ouvinte)

Tese nº 8: Conteúdo, articulação da carta aos Hebreus e a sua teologia acerca do sacerdócio de Cristo. – Conteúdo e circunstâncias da composição de 1ª e 2ª de Pedro e Tiago. – Apresentação e comentário de textos escolhidos.



Introdução

Este trabalho será feito de forma esquemática. E comportará três partes a saber: I. - Conteúdo, articulação da carta aos Hebreus ou sermão sacerdotal e a sua teologia acerca do sacerdócio de Cristo; II. - Conteúdo e circunstâncias da composição de Tiago e de 1ª e 2ª de Pedro e III. - Apresentação e comentário de Hb 3,1-6. Não pretendo divagar, mas ilustrar os pontos chaves que poderão orientar para a compreensão e resolução desta tese.





I. Conteúdo, articulação da carta aos Hebreus ou sermão sacerdotal e a sua teologia acerca do sacerdócio de Cristo





a. Conteúdo e Articulação

Na articulação desta carta tem que se salientar o seguinte:

Trata-se dum discurso do que duma carta no sentido próprio: não apresenta indícios de carácter epistolar, é mais um exórdio dum sermão; tem tom de oratório; o autor diz que fala e não que escreve (cf. 2,5; 5,11; 6,9).

Não há referência aos hebreus como destinatários. Esta magnífica pregação sobre o sacerdócio de Cristo recebeu o título “aos hebreus” que não corresponde ao seu conteúdo. O objectivo deste título, talvez, seja de dissuadir os cristãos a se interessarem pela obra; o título que recebe a obra não é citado nunca dentro da mesma. A grande novidade da carta é o facto de dar a Cristo os títulos de sacerdote e de sumo sacerdote. O texto não tem uma determinação precisa dos destinatários. Ela dirige-se provavelmente aos cristãos (3,14); daí que ao invés do título “aos hebreus” seria interessante e talvez correcto intitulá-la “a cristão”1. Quem sabe, talvez é dirigida aos judeu-cristãos saudosos do culto judaico que antes praticava.

São também imprecisos o autor, local e a data da sua composição. Foi escrito num bom grego e não demonstra sinais de tradução do hebraico. A tradição oriental atribui-a a S. Paulo. Porém, há vários pontos que mostram que a carta aos hebreus não pode ser de S. Paulo; o que importa é dizer que a carta revela uma personalidade bem diferente de S. Paulo, apesar, do autor aos hebreus apresentar pontos de encontro com o apóstolo Paulo2.

O sermão sacerdotal foi escrito no contexto de desespero dos cristãos convertidos e que tinham aderido a Cristo com grande entusiasmo, mas que pouco depois sentiram a faltado culto judaico. O autor escreve para lhes dizer que o essencial é Cristo que é o nosso sumo sacerdote que cumpriu e superou as instituições judaicas. Esta inquietação baseava-se no desejo de se relacionar com Deus de modo activo, isto é, igual àquela da antiga aliança. Mas, “em Jesus Cristo, participando em seu sacerdócio, todos os cristãos podem chegar junto ao Pai”3. “Temos, pois, irmãos, plena liberdade para a entrada no santuário por meio de sangue de Jesus. (...), aproximemo-nos dele com coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água pura” (10,19-22).



A carta aos hebreus não possui única estrutura. Esta é uma proposta segundo Albert Vanhoye4.

I. O nome de Cristo 1,5 – 2,18

II. A. Jesus, sumo sacerdote fiel 3,1 – 4,14

II. B. Jesus, sumo sacerdote misericordioso 4,15 – 5,10

- Exortação preliminar 5,11 – 6,20

III. A. Sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec 7,1-20

III. B. Tornado perfeito 8,1 – 9,28

III. C. Princípio de salvação eterna 10,1-18

- Exortação final 10,19-39

IV. A. A fé dos antigos 11,1-40

IV. B. A perseverança necessária 12, 1-13

V. Os caminhos direitos 12,14 – 13,2





b. Teologia

A carta relaciona o AT e o NT na perspectiva cristológica. O tema central é: o Sacerdócio de Cristo e o culto cristão. Jesus, Filho de Deus, irmão dos homens é Sumo Sacerdote superior a Moisés, a Arão e é comparável a Melquisedec. «Em suma, um sacerdote que seria ao mesmo tempo Filho de Deus (7,1-3). Ausência da genealogia sacerdotal e perpetuidade do sacerdócio – esses são os dois traços que caracterizam o sacerdócio ‘segundo a ordem de Melquisedec’»5. Melquisedec é superior a Abraão e também aos sacerdotes judeus descendentes de Abraão (7,4-10)6.

Os sumos sacerdotes judeus deviam entrar uma vez por ano no santuário para oferecer sacrifício pelos próprios pecados e depois pelos do povo e levavam consigo vítimas para sacrificá-las; Cristo entrou no santuário, aliás, numa tenda maior não construída pelas mãos humanas, mas por Deus para todos nós, duma vez por todas (9,11-12). Cristo entrou como sacerdote e vítima para oferecer-se a si mesmo, pois, é sem pecado7.

Jesus Cristo pela sua morte e glorificação, é o mediador entre Deus e os homens, o seu sacrifício substitui todos os outros anteriores, duma vez para sempre, incapazes de elevar o homem até junto de Deus. Pela sua morte, Cristo realiza o perdão dos pecados duma vez por todas; estabelece uma nova e eterna aliança com a humanidade, inaugura um novo culto, imagem do culto celeste.

A Igreja é apresentada como Povo de Deus a caminho ou em marcha, o cristão como aquele que partilha o destino de Cristo e é convidado a entrar no seu repouso (10.19-22)8.

O cristão por meio de Cristo oferece toda a sua vida, seu serviço e caridade. O cristão precisa manter-se unido a Cristo porque “com uma só oferta, Ele tornou perfeitos para sempre os que são santificados” (10,14) e aos irmãos para chegar a Deus; daí a sua integração na comunidade, a escuta da Palavra e o manter-se na comunhão com os responsáveis.

A oferta de Cristo ao Pai constitui o grande acontecimento escatológico, por ele cumpriu-se o plano escatológico salvífico de Deus, embora a humanidade continua sua caminhada até a entrada na glória celeste.



II. - Conteúdo e circunstâncias da composição de Tiago e de 1ª e 2ª de Pedro



a) Carta de Tiago

1. Circunstância da composição d a carta de Tiago

Esta carta é endereçada as dose tribos da dispersão (1,1), isto é, na sociedade helenizada da Ásia Menor, Turquia actual9, cristãos haviam chegado a conclusão de que eram o novo Israel por isso herdeiros em Cristo das promessas que Deus fizera ao seu povo. Deste modo a designação doze tribos podia perfeitamente designar às Igrejas cristãs que estavam na diáspora. A palavra dispersas indica que se situam fora da terra santa, pode também significar os seus membros como cristãos que vivem no exílio, num ambiente não cristão; no tempo muito próximo da morte de Jesus, pois, não fala judeus em geral abalados com a destruição do Templo em 70 d. C.10

A carta foi escrita para fortalecer os cristãos na vivência da fé baseada em obras; para se deixarem guiar pela sabedoria divina e não humana no seu dia a dia como faziam os seus contemporâneos.

O autor apresenta-se como sendo Tiago o servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo (cf. 1,1). O Tiago aqui referido deve ser Tiago irmão do Senhor (cf. 1Cor 15,7). A data tardia da redacção, o elegante estilo grego da composição e a ausência de qualquer realce ou referência do legalismo judaico fizeram com que a maioria dos investigadores modernos afirmasse que provavelmente não tinha sido Tiago a redigir esta carta. É bem provável que tenha sido escrita por um seu discípulo bem formado na cultua helénica que se serviu de tradições autênticas a que Tiago tinha dado origem11.



2. Conteúdo

Nesta carta sobressai um bom número de ideias fundamentadas no ensino sapiencial do AT. Em Tiago a sabedoria manifesta-se nas obras, ela é apresentada como algo que nos deve guiar e ajudar a encarar as dificuldades da vida (cf. 1,5). A sabedoria ajuda-nos a olhar a vida na sua correcta perspectiva. Uma fé que não se concretize na caridade, isto é, em obras é inútil e morta. Tiago insiste muito na prática “o fundamento sobre o qual repousa a nossa fé não é a teoria, como pensaria um filósofo grego, mas a prática (cf. Mt 7,24-27 par.)”12.



b) Primeira Carta de Pedro

1. Circunstância da composição da 1Pd

A primeira carta de Pedro é dirigida a cristãos que vivem numa zona remota do Império, comunidades cristãs espalhadas pela Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1,1), cinco províncias da parte norte e noroeste da actual Turquia; elas provinham do paganismo, mas com uma certa familiaridade com Sagrada Escritura, pois, o autor usa citações bíblicas. Comunidades formadas por pessoas modestas, artesãs, servas e escrevas tendo provavelmente pouco contacto com outras Igrejas cristãs13. E por ser uma minoria e tendo um modo de viver diferente, viam-se postos de parte na convivência com os vizinhos, que provavelmente os olhavam com suspensão senão mesmo com hostilidade (cf. 4,3-4)14. Por essa razão é que o autor se-lhes-dirige chamando-lhes exilados (cf. 1,1) e “estrangeiros” (cf. 2,11). É escrita para dar força na fé e na perseverança; tinha também a finalidade de actualizar a autoridade do apóstolo para consolar, animar e exortar os cristãos a permanecer sempre firmes quando experimentados por muitas dificuldades e provações15.

Embora o apóstolo Pedro seja apresentado como o autor da carta (cf. 1,1), as opiniões são divergentes sobre quem a escreveu. É possível que tenha sido um discípulo de Pedro de língua grega também presbítero (5,1) que retomou os ensinos do apóstolo para exortar os fiéis da Ásia Menor a se manter firme na provação16. A sua data e lugar é possível que tenha sido em Roma nos fins do século I, onde Pedro tinha sido figura de grande prestígio em toda a Igreja como primeiro apóstolo entre os apóstolos e como mártir em Roma, a sua palavra tinha crédito17.



2. Conteúdo

Há dois temas fundamentais presentes ao longo de toda a carta e que podem parecer contraditórios para uma mentalidade não cristã:

- a grande dignidade e a alegria ilimitada de ser cristão;

- a necessidade e a elevada honra de tomar parte nos sofrimentos de Cristo.

“A carta não justifica o sofrimento, mas tenta dar-lhe um sentido, convidado fazer dele uma oportunidade de amor activo”18. A centralidade da carta está na perseverança dos cristãos nos momentos de tribulações tendo Cristo como modelo, ele que foi persenguido por causa da sua fé, os cristãos também devem responder ao mal pelo bem, mansidão e obediência19.







c. Segunda Carta de Pedro

1. Circunstância da composição da 2Pd

Esta carta não foi escrita pelo autor referenciado no texto “Simão Pedro, servo de Deus e Apóstolo de Jesus Cristo (...) (1,1). O autor escreveu-a em nome de Pedro para dar maior autoridade ao que tinha por dizer. Pedro foi martirizado mais ou menos no ano 64 d. C. e esta carta faz alusão a uma colectânea das cartas de Paulo (cf. 3,15-16), que, portanto, não foi feita antes do fim século I, mais de 30 anos após a morte de Pedro. E não é o mesmo autor da 1Pd, pois, apresenta diferenças abismais com a 1Pd. A 1Pd apresenta um calor evangélico e contém um quadro da vida cristã na linha da imitação de Cristo. A 2Pd tem fórmulas muitas vezes complicadas, não muito acessíveis20. “Abrigando-se sob a autoridade de Pedro, oa autor desconhecido pretende fazer-se porta-voz da ‘tradição apostólica’ porque invoca explicitamente a recordação de todos os apóstolos (3,2) menciona as cartas de Paulo (3,15), e se inspira em Judas, do qual corrige alguns exageros21. Além disso usando muito a carta de Judas, o que Pedro, enquanto autoridade pelos seus direitos nunca faria isso. A referência a vossos “apóstolos” (cf. 3,12) e suposição de que tais apóstolos pertencem ao passado seriam estranhas vindas de alguém que fosse apóstolo. O autor desta carta escreve no fim do século I ou no início do século II em Roma tem aproximação com a 1ª carta de Clemente redigida pelos anos 95 d.C.22.

A carta foi escrita possivelmente para aqueles que tinham recebido a fé (cf. 1,1). A partir duma certa evidência interna parece provável que seja dirigida a judeus que se tinham tornado cristão na diáspora. É escrita no contexto da defesa da fé contra o perigo de falsos mestres, doutores e desânimo da parte dos, o autor apela a autoridade apostólica23.



2. Conteúdo

A carta trata de problemas que perturbavam a fé de alguns no referente a compromissos e fidelidade para com Deus. Outros estariam até a questionar os estatutos de Jesus Cristo. Havia dúvidas se Deus julgaria realmente o mundo e se a providência de Deus estaria, de facto, a actuar n’Ele. Era um tempo crítico que as igrejas daquele tempo atravessavam. A carta combate a descrença no poder de Deus e contra o ateísmo prático. Apela para o desenvolvimento da fé nas virtudes (1,5-11); alerta aos cristãos a ter atenção aos falsos doutores (2,1-22), exorta-os a preparar o dia do Senhor (3,11-18).





III. Apresentação e comentário de Hb 3,1-6

No sentido geral vê-se que estamos diante dum texto comparativo. O autor compara duas figuras de grande importância: Moisés da Antiga Aliança, a quem Deus falou face a face (Nm 12,8) e Jesus Cristo Filho de Deus, Sumo Sacerdote da Nova Aliança (Hb 3,1). Os dois são comparados no tema da fidelidade que é uma das qualidades ou características do Sumo Sacerdote, a outra a misericórdia, isto é, em 2,17 foi dito que o Sumo Sacerdote é misericordioso em relação aos homens e fiel em relação a Deus.

Nesta perícope somos ditos como é que se manifesta a fidelidade destas duas figuras em relação a Deus. Vamos agora procurar entender a riqueza dos seis versículos:



V.1 “Por conseguinte, irmãos santos, participantes de uma vocação celeste, considerai Jesus como o Apóstolo e Sumo Sacerdote da fé que processamos,”

A santidade dos cristãos vem da sagração em Jesus Cristo e, são irmãos em virtude da relação comum que os une a Cristo. Os cristãos são chamados a seguir Jesus Cristo até ao Santuário celeste, onde Cristo exerce o seu ministério em benefício deles.

O termo apóstolo aparece aqui a referir a Jesus e é a única vez que aparece em todo o NT. E o sentido deste termo é que Deus o enviou como sua Palavra definitiva para os homens (1,2). Ainda, Jesus é considerado como Sumo Sacerdote além de mestre.

A fé que professamos refere-se possivelmente ao reconhecimento baptismal de que Jesus é Filho de Deus.



V.2 “o qual é fiel ao que o constituiu, como Moisés o foi em toda sua casa.”

A comparação que aqui se estabelece quer possivelmente mostrar que Jesus é o mediar da Nova Aliança enquanto Moisés é o de Antiga Aliança. Esta comparação não exclui de Moisés o sacerdócio e o sacrifício (9,19-20) embora não lhe é atribuído esse título. Quando o autor se dirige a Jesus, o antitipo do sacerdócio não é Moisés, mas sim Araão (9, 6-15).

O verbo constituir não se refere a origem de Jesus senão a designação do ofício.

A casa que aqui se refere é de Deus. Tanto neste v.2, assim como no v.5. Não tem como fundador Moisés ou Cristo, mas Deus.



V. 3 “Ora, Ele foi considerado mais digno de glória do que Moisés, tal como maior é a honra do construtor da casa do que a própria casa.”

Aqui Jesus é maior que Moisés porque ele é Filho de Deus e foi posto em cima da casa que tem como fundador o Pai, Deus; enquanto que Moisés era membro da casa, era servo. Nem Moisés e nem Jesus são fundadores das ditas casas.



V. 4 “Toda a casa, com efeito, é edificada por alguém, mas foi Deus quem tudo construiu.”

É um versículo considerado de parêntesis, mas também tem a função de esclarecer o dito acima para que não haja equívocos quanto ao fundador da casa, que é Deus.



V.5 “Moisés, na verdade, foi fiel em toda a sua casa, como servo, para dar testemunho de tudo o que devia ser anunciado;”

Moisés aparece como quem prepara a disposição cristã e não como mediador da Antiga Aliança e nem como legislador.



V.6 “Cristo, porém, o foi como Filho sobre a sua casa,, que somos nós, se conservamos a confiança e a esperança de que nos gloriamos.”

O termo casa refere-se aqui a comunidade cristã. E esta tem continuidade com a antiga, o que mostra que não são duas casas, mas uma, isto é, a antiga continua na nova. Moisés era o servo fiel na antiga, Jesus é o Filho de Deus posto acima da nova. E porque Jesus é o Filho do fundador, Deus, merece maior glória que Moisés que era somente servo na antiga.

A confiança que se invoca é motivada pelo perigo da perseguição que exigia uma confissão aberta; talvez um perigo de apostasia que exige confiança.





Conclusão

Este trabalho procurou responder a tese de forma breve sem entrar em detalhes. Mas, salientou-se o fundamental que a tese pede. São livros ricos em ensinamento teológico - doutrinal que não se pode pretender esgotar em poucas páginas como estas.

Bibliografia

A CARTA DE TIAGO – Leitura sociolinguística, Ed. Paulinas, São Paulo, 1991.

COTHENET E., As Epístolas de Pedro, Ed. Paulinas, São Paulo, 1986.

KONINGS J. et KRULL W., cartas de Tiago, Pedro, João e Judas, Ed. Loyola, São Paulo, 1995.

PARIS J., Apontamentos das cartas católicas, Seminário Teológico S. Pio X, 2005.

VANHOYE A., A mensagem da Epístola aos Hebreus, Ed. Paulinas, São Paulo, 1983.



I

O Ofício real, profético e sacerdotal de todos o fiéis e o sacerdócio ministerial (sacramento da Ordem).

1. Conceito de Ofício.

Do latim, siginifica toda a ocupação útil sem distinção do ramo em que se verifica essa actividade. Portanto, é um exercício de uma função dentro de uma comunidade1

2. O que é o sacerdócio?

A Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja definiu o sacerdócio, como uma qualidade espiritual que habilita o indivíduo para oferecer sacrifícios à Deus. A dignidade sacerdotal pertence de modo especial a Cristo2, o qual não é simples sacerdote, mas sim o Sumo Sacerdote (Heb 3,1) que representa os homens junto a Deus; une a si toda a humanidade e associa-se a este cântico divino de louvor3. A Igreja prolonga o sacerdócio de Cristo pela: - Celebração eucaristica, administração dos sacramentos e pelos vários modos de acção litúrgica.

1. O sacerdócio no AT.

O AT fala do sacerdócio ligando-o ao povo de Israel, povo consagrado a titulo especial por Deus:«vós sereis para mim um reino de sacerdotes, nação santa» (Ex 19,6; Dt 7,6; 10,14-15; 26,19). Israel era um povo separado de outros povos cujo rei é Iahweh; reino fundado sobre a Torah (lei da aliança); reino consagrado ao culto a Deus em comemoração da sua libertação do Egipto.

A tribo de Levi, a qual, no seio do povo de Israel, o sacerdócio pertencia a titulo especial. Os levitas eram consagrados (Lv 21); Dedicavam-se ao sagrado no Templo e imolação de sacrifícios – ponto central da mediação.

O povo em geral esperava benefícios oferecidos da parte de Deus, depois dos sacrifícios oferecidos pelos levitas. Haviam dois movimentos no sacrifício levítico: ascendente – o da oferta e o descendente- o dos benefícios.

O sacerdócio de Melquisedec – não é levítico. Melquisedec oferecia pão e vinho (Gn14,18), como é feito no sacerdócio da nova aliança (Heb7,1ss). Melquisedec é ponte entre o AT e o NT. Deste modo, podemos dizer que o sacerdócio da Antiga Aliança era privilégio só para o povo de Israel, sobretudo, a tribo de Levi. Este sacerdócio do AT estava ligado ao Templo.

2. O sacerdócio no NT.

No NT fala-se do sacerdócio que se prende com os autênticos adoradores do Pai em espírito e verdade (Jo 4,23-24), onde o verdadeiro culto e templo é a pessoa de Jesus Cristo. O NT fala do culto e novo sacerdócio, constituido por aqueles que acreditam em Jesus Cristo. Este sacerdócio é aberto a todos os povos e todos os homens.

Todos os baptizados são chamados para serem em nome de Cristo sacrdote, rei e profeta, aqueles que oferecem sacrifícios agradáveis à Deus (Rom12,1; 1Pd2,5). Este sacerdócio de Cristo é exercido em diversos carismas:

• carisma geral – de todos os baptizados, no qual, todos são chamados a exercer no sacerdócio comum.





• Carisma dos fiéis eleitos – sacerdócio ministerial, exercido na pessoa de Cristo cabeça. Os eleitos são impostos a mãos pelos sucessores dos apóstolos, os consagrados à imagem de Cristo sacerdote (Heb 5,1-10; 7,24; 9,11-28). Este sacerdócio ministerial é exercido em três graus: o diaconado, o presbiterado e o episcopado. Este último grau é a plenitude do sacerdócio de Cristo.



3. O princípio de igualdade de todos o fiéis.

Todos o baptizados pela regeneração e pela unção do Espírito Santo são consagrados para serem uma só casa espiritual, sacerdócio real e santo; para oferecer oblações espirituais e anunciar os louvores daquele que das trevas os chamou à luz admirável (1Pd2,4-10; LG nº10; PO nº2). Todos os fiéis formam um só povo de Deus, pois têm uma só fé, uma só esperança, um só Deus Pai de todos e em todos se encontra (Ef 4,5). Deste fundamento provém o princípio de comum igualdade e dignidade de todos os fiéis4.

Todos os fiéis são iguais na acção, isto é, colaboração de todos na edificação do Corpo de Cristo e não precisamente às funções específicas que correspondem a cada um5. Esta igualdade de todos os fiéis baseia-se no seguinte:

• A comum origem (pelo baptismo); A comum graça de Deus; A comum vocação à perfeição; Uma só salvação operada por Jesus Cristo; Uma só fé, esperança e caridade indivisa.

Na Igreja não há desigualdade devido a natureza Cristológica e eclesiológioca do sacerdócio dos fiéis, e as razões raciais e regionais são excluídas. «Não há judeu, nem grego, escravo nem homem livre, nem mulher, todos são um só em Cristo» (Gl3,28; Cl3,11). Portanto, todos os fiéis são iguais porque participam do único sacerdócio de Jesus Cristo, e por isso têm a missão de: perseverar na oração, oferecer-se a si mesmos como hóstias vivas e santos agradáveis (Rom12,1ss); dar testemunho de Cristo em toda a parte e àquelels que lhe pedirem dão a razão da sua esperança (1Pd3,5). A igualdade de todos os fiéis centra-se em Jesus Cristo e cada um recebe dele carismas que são exercidos distintamente um do outro concorrendo para o mesmo fim.

4. O sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial

O sacerdócio de Cristo no qual todos os fiéis são chamados a participar é exercido de duas formas: sacerdócio comum e sacerdócio ministerial.

1.4.1 O sacerdócio comum

o sacerdócio comum é de Cristo único sacerdote, particpado por todos os seu membros da comunidade dos baptizados, que pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual e sacerdócio santo e para poderem oferecer um sacrifício espiritual agradável a Deus (LG nº10; CIC nº1141). Com o baptismo, a pessoa é consagrada para testemunhar a Cristo em toda a parte e dar a sua esperança ao mundo na sua vida diária e nas suas actividades temporais. No sacerdócio comum os fiéis exercem:

• O múnus régio através da coordenação e orientação dos diversos serviços da comunidade cristã, em colaboração com a hierarquia; promoção da justiça e caridade na sociedade. Para o cristão, reinar é servir (LG nº36) de modo especial nos que sofrem, porque neles é reconhecido o rosto e imagem de Cristo pobre e sofredor (LG nº8). No sacerdócio comum os fiéis exercem o múnus régio como serviço e doação:

• O múnus profético: é exercido através do anúncio do Evangelho, em palavras e testemunho de vida cristã, na família e na sociedade onde os fiéis se encontram inseridos. Vários modos de exercer o múnus profético no sacerdócio comum: catequese; criticar as injustiças de forma construtiva, promoção do reino de Deus, confessar a fé em Deus diante dos homens; defender a fé por palavras e obras como verdadeiros testemunhas de Cristo.

• O múnus sacerdotal: exrcido a partir da recepção dos sacramentos da santa Igreja. Aqui os fiéis são instrumentos da salvação da humanidade. Os fiéis com o múnus sacerdotal santificam a Igreja e o mundo, cada um no seu modo e na sua condição: na eucaristia: centro e fonte de toda a vida cristã, os fiéis oferecem oblações e louvores na hóstia santa. Tanto pela oblação como pela comunhão, cada um a seu modo e estado, tomam parte na liturgia e na caridade operosa, e manifestam visivelmente a unidade do povo de Deus; na reconciliação: os fiéis todos recebem a misericórdia de Deus e o perdão pelas ofensas, reconciliam-se com a Igreja, a qual pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela conversão.



Os fiéis participam de Cristo, que é rei, profeta e sacerdote. Este é povo de Deus que é rei, profeta e sacerdote. Dentro deste sacerdócio comum está o corpo dos ordenados em favor do povo constituído de reis, profetas e sacerdotes.

1.4.2. O sacerdócio ministerial

Este sacerdócio é exercido pela recepção do sacramento da Ordem. Entre os fiéis, certos membros são chamados por Deus, na Igreja e pela Igreja, a um serviço especial na comunidade, pois os membros não têm todos a mesma função (Rom12,4). Tais servidores são escolhidos e consagrados pelo sacramento da ordem, por meio do qual o Espírito Santo os torna aptos a agir na pessoa de Cristo para o serviço de todos os membros da Igreja (PO 15); oferecer sacrifícios, perdoar os pecados e exercer oficialmente o ofício sacerdotal em nome de Jesus Cristo cabeça a favor dos homens (PO 2).

O sacerdócio ministerial é essencialmente na comunidade dos fiéis (LG 10) devido a autoridade de Cristo com que exerce os três múnus: rei, profeta e sacerdote.

• O múnus régio: ordenados na pessoa de Cristo, os sacerdotes dirigem os fiéis (o povo de Deus), orientando-lhes para a santidade: apascentam a Igreja com palavras e graças de Deus e formam, conduzem o povo sacerdotal (LG 11). Nesse múnus, os sacerdotes são sinal de unidade e comunhão entre os fiéis e Deus;

• O múnus profético: na pessoa de Cristo, cabeça, os ordenados anunciam o Evangelho de Cristo, sendo profetas do seu povo. Com palavras de Deus denunciam as injustiças que o povo de Deus não merece e chamam a todos os homens à justiça e à conversão. O sacerdote prega o Evangelho, apascenta os fiéis, colabora no culto divino como verdadeiro sacerdote do NT participa segundo o grau do seu ministério da função de Cristo, mediador e único sacerdote (1Tm2,5);

• O múnus sacerdotal: na pessoa de Cristo, os sacerdotes exercem estes múnus: administrando os sacramentos, sobretudo no sacrifício eucaristico; fazendo-se outro Cristo; oferecendo-se a si próprios como vitimas e oferecendo oblações agrdáveis a Deus em nome do povo (PO nº2); o seu lugar é insubstituível na celebração eucaristica; eles são o sacramento (sinal) de Cristo sacerdote; são imagem de Cristo sumo e eterno sacerdote (Heb 5,1-10; 7,24; 9,11-28); como representantes plenipotenciários de Cristo, sobretudo na cosagração, actuam em nome de Cristo.

• Proclamando o mistério de Cristo sacerdote, isto é, unindo as preces ao sacrifício da missa;

• Perdoando os pecados dos fiéis arrependidos pelo sacramento da reconciliação;

• Conduzindo o povo de Deus a uma esperança da participação da ceia nupcial do cordeiro de Deus, através da unção dos enfermos e do viático.



1.4.3. sacramento do ordem

Ordem é um sacramento pelo qual, alguns membros entre os fiéis são assinalados com um carácter indelével e são constituídos ministros, isto é, são consagrados e delegados afim de que, personificados a Cristo cabeça, cada qual em seu respectivo grau, apascentam o povo de Deus desempenhando o seu múnus de ensinar, santificar e governar6.

• Carácter: é a disposição (possibilidade) que é conferida ao indivíduo de reproduzir Jesus Cristo de modo permanente. Este sacramento faz com que a missão confiada por Cristo a seus Apóstolos continue sendo exercida na Igreja até ao fim dos tempos; é o sacramento do minisstério apostólico7.

• Ordem: deriva da ordenatio, que significa integrar um indivíduo no corpo dos anciãos ou daqueles que governam.

a. natureza.

O sacramento da Ordem é de natureza divina (Can 1008), sobretudo de carácter Cristológico. Cristo escolheu os Apóstolos fazendo-os participar da sua missão e autoridade. O sacramento da Ordem é de natureza divina porque é Cristo que concede a uns serem apóstolos, a outros pastores (Ef. 4,11) e continuam agindo por intermédio dos Bispos (LG 21), que por sua vez confia, em grau subordinado aos presbíteros (LG 28) como cooperadores dos Bispos. O ofício dos que têm o sacramento da ordem está ligado a ordem episcopal; participam da autoridade com que Cristo edifica, santifica e governa o seu corpo (LG 10; PO 2). Para tal, o específico do sacramento da Ordem é: pregar o Evangelho, administração dos sacramentos; consagração dos fiéis para fazer deles o povo de Deus; elo sacramental que liga a acção litúrgica àquilo que disseram e fizeram os apóstolos8; realizar o sacrifício eucarístico em nome de Cristo em favor de todo o povo (LG 10); rezar o ofício divino (o breviário) em nome do povo9; serviço e missão como Cristo mestre, sacerdote e rei (PO 1).

b. Matéria e forma

O sacramento da Ordem tem matéria e forma: imposição das mãos e oração consegratória10. Este sacramento tem como efeitos: agir na pessoa de Cristo cabeça11; capacidade de agir como legado de Cristo12, isto é, carácter indelével e carácter espiritual indelével (LG 28; 29; PO 2); poder de perdoar os pecados (Jo 20,23; 2Cor 5,18).

Este sacramento tem três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconado13. Porém, este último, o diaconado, a doutrina Católica, expressa na liturgia, no Magistério e na prática constante da Igreja, não reconhece senão apenas os dois primeiros (episcopado e presbiterado) porque, o diaconado destina-se a ajudá-los e a serví-los, porque o termo não leva a santificação definitiva que só o sacrifício de Cristo deveria operar 14. Por isso, o termo «sacerdos» designa, na prática actual, os bispos e os sacerdotes, mas não os chama diáconos. todavia o episcopado, o presbiterado e o grau de serviço (o diaconado) são conferidos por um acto sacramental chamado «Ordenação»15.

O Episcopado é declarado como a Plenitude do sacramento da Ordem, porque a sua sagração confere a plenitude do sacramento da ordem que tanto pelo costume litúrgico da Igreja como pela voz dos Santos Padres, é chamado o sumo sacerdócio, a realidade total do ministério sagrado. Os bispos pelo Espírito Santo que lhes foi dado, foram constituídos como verdadeiros e autènticos mestre da fé, pontífices e pastores. Esta ordem episcopal tem o carácter e natureza colegial, pelo facto da presença de vários bispos na ordenação do novo bispo16. A Ordem episcopal goza da transmissão da missão dos apóstolos que foram enriquecidos por Cristo com especial efusão do Espírito Santo que desceu sobre eles17.

O presbiterado: de carácter indelével; a sua ordenação é na ordem presbiteral (ligados entre si por intima fraternidade sacerdotal, e no seu serviço é sob a direcção do próprio bispo (CIC nº 1568). Os sacerdotes participam da missão ministerial de Cristo.

O diaconado: é de carácter indelével; a sua ordenação é para o serviço do bispo; é o grau inferior da hierarquia; assiste o bispo e os padres na celebração; distribui a comunhão, assiste ao matrimónio e abençoa-o; proclama e prega o Evangelho; preside funerais e consagra-se aos diversos serviços de caridade18. Apesar do sacerdócio ter as duas formas não há oposição e contrariedade entre ambas, mas sim complementaridade e reciprocidade. A diferença essencial e que se alude é para sublinhar a magnitude do sacerdócio. As duas formas do sacerdócio têm a mesma natureza (divina) e concorrem para o mesmo fim – Cristo e a santificação dos homens.

Os três graus da ordem: o Episcopado, o Presbiterdo e o Diaconado, o que têm de comum é o anúncio da Palavra – apostolicidade. Os três graus fazem a hierarquia da Igreja e o que os difere é a jurisdição e o que os unifica é o sacramento da Ordem.

Há colegialidade dos bispos e do presbitério, porque todos eles trabalham em comunhão e ordenados. Os três graus fazem o Corpo do povo que está ao serviço da Igreja. A Igreja é um povo em serviço mútuo. O Episcopado reina servindo e anunciando a Palavra de Deus. Não há sacerdócio ministerial sem o sacerdócio Comum, pois o ministerial está ao serviço deste e os dois sacerdócios participam de Jesus Cristo. O sacerdócio ministerial é personificação de Cristo e o sacerdócio Comum não age em pessoa de Cristo.

A cabeça dos presbíteros são os episcopos e a cabeça destes é o Sumo pontífice, o qual preside a caridade na Igreja e fala em matéria de fé em concordância com a ortodoxia e apostolicidade. Ele é infalível quando fala ex cathedra em matéria de fé e costumes.

II

Relação entre Colegialidade dos Bispos e o Primado do Papa e a Infalibilidade

2.1. colégio dos bispos

O colégio episcopal é conjunto de todos os bispos em comunhão com a cabeça, o Romano Pontífice, o sucessor de Pedro (LG 22). Nele o corpo apostólico persevera continuamente e é o sujeito de poder supremo e pleno sobre a Igreja toda19. Cristo prolonga a sua acção salvífica através dos Apóstolos, de modo igual através dos bispos, seus sucessores, espalhados pelo mundo e unidos entre si e sob a cabeça, o Romano Pontífice, visibilidade histórica de Cristo. Faz-se parte deste colégio pela ordenação episcopal.

A sua natureza é Cristológica como fundamenta a Sagrada Escritura: Cristo chamou os que Ele quis para que ficassem com Ele e continuassem a sua missão (Mc 3,13-15; Lc 6,12-16) e os consagrou com o poder do Espírito Santo dizendo: recebei o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os pecados se-lhes-ão perdoados, aqueles os quais retiverdes, se-lhes-ão retidos (Jo 20,22-23).

A missão do colégio episcopal é de continuar a ordenar mais membros para perpectuar a presença de Cristo no seio do povo (LG 22).

Tal como o apóstolo Pedro e os restantes apóstolos formavam o colégio apostólico, também os bispos unidos com o Romano Pontífice formam o colégio episcopal como sucessores dos apóstolos. O Romano Pontífice aparece dentro do colégio episcopal como ponte de unidade, comunhão, de caridade e de paz de todo o colégio e de toda a Igreja.

O colégio episcopal tem o múnus de ensinar o Evangelho, ser depositário, doutores e arautos da fé; conduzir o povo de Deus com autoridade de Cristo; interpretar autenticamente o depósito da revelação, afastando os erros que ameaçam o rebanho (2Tm 4,1-4); anunciar a boa nova aos não cristãos e aos fiéis fortalecer a sua fé. Este múnus do colégio episcopal pode ser exercido individulmente, na diocese (CIC 886; Lg 23) – através das cartas pastorais; catequeses educativas; intercâmbio entre os bispos, através das conferências episcopais, Sínodos e concílios. Os bispos têm como objecto do ensino a Palavra de Deus, a matéria da fé e dos costumes.

2.2. o primado do romano Pontífice

o Papa, bispo de Roma e sucessor de S. Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos bispos, quer da multidão dos fiéis. Em virtude de seu múnus de vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. Ele pode exercer sempre livremente este seu poder. O colégio episcopal não tem autoridade se nele não se considerar incluído, como chefe, o Romano Pontífice20. A sua natureza é Cristológica, pois continua e prolonga o primado de Pedro. O seu poder é assinalado pelo Espírito Santo, para que o seu magistério seja infalível em matéria de fé e dos costumes (LG 25).

O Romano Pontífice goza de seguintes privilégios:

• convoca, preside e aprova o concílio ecuménico21; É legislador supremo, pois promulga leis para toda a Igreja e para cada Igreja particular; Não é julgado por nenhum tribunal e julga pessoalmente ou por meio de delegação as causas contenciosas e eventuais em virtude do seu ser supremo juíz22; Governa a Igreja universal enquanto titular supremo23.

O ofício do Romano Pontífice perpetua o de Cristo. O seu ofício difere do episcopado pelo facto de ele exercer os três múnus em qualquer parte do mundo (Mt. 16,18-19; 28,19.20).

2.2.1. Relação entre o colégio episcopal e o Romano Pontífice

O realcionamento entre o colégio episcopal e o Romano Pontífice reside no seguinte: o colégio episcopal é o corpo e o papa é a cabeça. Todos estão unidos no vinculo da paz, do amor e da unidade da Igreja inteira (LG 23).

• Os bispos unidos entre si e com o sucessor de Pedro, anunciam infalivelmente a doutrina de Cristo, ensinam autenticamente a matéria da fé e dos costumes (LG 25);

• O colégio episcopal com a sua cabeça, o Romano Pontífice, exerce o supremo poder solenemente no concílio ecuménico (LG 22).



2.3. Infalibilidade do Romano Pontífice

Infalibilidade é uma verdade de fé, segundo a qual, a Igreja, por intermédio do Papa ou do concílio ecuménico, não pode errar em matéria de fé e dos costumes24. Na infalibilidade trata-se apenas de intervenção de Deus para preservar do erro a Palavra humana. O sujeito da infalibilidade é a Igreja na sua totalidade (o Romano Pontífice e o colégio episcopal). O Romano Pontífice goza de infalibilidade em razão do seu ofício de cabeça do colégio dos bispos, representante da Igreja infalível, sempre que como supremo pastor dos fiéis. Ele confirma na fé os seus irmãos (Lc. 22,32) ele é infalível quando fala Ex-cathedra (LG 25) sempre que define a matéria de fé e dos costumes; no Magistério que se dá no concílio ecuménico. Portanto, o Papa é infalível quando como supremo Pastor da Igreja expõe uma verdade de fé obrigatória para os que acreditam nela. Esta infalibilidade de que o Romano Pontífice goza trata-se do primatus fidei; do serviço autoritário da fé. O Vaticano II completou expressamente essa doutrina ao dizer que a infalibilidade compete de modo geral à totalidade de todos os fiéis juntamente com o Magistério da Igreja (LG 12).

A infalibilidade do Romano Pontífice é de natureza divina, isto é, vem de Deus que dotou a sua Igreja na definição da doutrina de fé e dos costumes. O Romano Pontífice sendo representante de uma Igreja infalível é representante de unidade eclesial pelo facto de representar Cristo e expressar a soberania do Evangelho sobre a Igreja, ele também é infalível. O Romano Pontífice ao pronunciar as definições da doutrina de fé e dos costumes, fá-las sob assistência do Espírito Santo, que lhe foi prometido na pessoa de S. Pedro (LG 25).



Bibliografia.

Verbo, Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura.

CONCÍLIOVATICANO II, 1963-1965.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.

COSTA, A.J. e SAMPAIO, A. MELO E., Deicionário de Direito Canónico, Ed. Loyola, S. Paulo, 1993

TIHILS, G., A Santidade Crista, Ed. Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1967.

PIO XII, Cinstiuição Apostólica, Sacramentum Ordinis, 30 de Novembro, (AAS nº 40) 1947.

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