segunda-feira, 2 de maio de 2011

FILOSOFIA DA LINGUAGEM


Introdução
É difícil falar sobre a linguagem, isto sugere mesmo que dizer fale sobre o silêncio. Fazer uma colocação sobre a linguagem significa conduzir-nos a nós mesmos, para o lugar do nosso modo de ser e da nossa essência. Falar sobre a linguagem é o mesmo que dizer que linguagem é linguagem, ou seja, é dizer a mesma coisa duas vezes, pois requerer ver o lugar onde estamos a falar dela. Neste discurso percorrerei esta análise de Heidegger que procurou saber a origem da linguagem na linguagem.

Linguagem
Por natureza o homem possui a linguagem. Com isto, ele fala em todos os momentos da sua via, pois o falara é natural à ele. Este é um aspecto importante do homem, à “linguagem”. Este aspecto lhe diferencia entre os outros seres vivos. Segundo Willhelm von Homboldt, o homem é enquanto fala.
            O homem adquire pela natureza representações e dentro dele, procura conectar o que encontra com a realidade que lhe facilite comunicar, elaborar a fim de dar significado da representação. O seu ligar pensamento e linguagem lhe permite fornecer uma representação da essência da linguagem, distinguindo-a com pertinência de outras representações.
Para sabermos o que seja a linguagem é preciso estar dentro dela e o primeiro passo é a fala. a fala é antes de tudo uma actividade dos órgãos que servem para a emissão de sons e para a escuta. Fala é expressão e comunicação sonora de movimentos da alma humana, acompanhadas pelo pensamento.
Não obstante, a fala é uma actividade humana, pois só diz respeito ao homem. Ela torna-se através do homem como uma representação e apresentação do real e do irreal.
Alguns autores dizem que a linguagem tem origem divina, seguindo o prólogo do Evangelho de S. João.
Num dado poema apresentado, verificou-se que a linguagem é expressão e também actividade do homem, ela fala, o se procura se encontra, se ela é que existe. o poeta no seu poema exprime por meio de si a expressão da fala da linguagem.
Todo poeta, na sua ilustração, pela fala da linguagem, chama as coisas para virem ao mundo e o mundo para vir às coisas. Para tal, o poeta estabelece uma diferença entre o mundo e as coisas, representando adequadamente a sua separação e relação existente entre elas.
A essência do falar esta em deixar vir a intimidade do mundo e coisa que é chamar. É neste caso, que se diz que a linguagem fala deixando vir o chamado, coisa-mundo e mundo-coisa, na diferença entre elas. A diferença é o chamado a partir do qual se convoca todo chamar para pertencer ao seu chamado.
A linguagem fala quando o chamado da diferença evoca e convoca mundo e coisa para a simplicidade da sua intimidade. A linguagem fala como consonância do quieto. A linguagem vigora como diferença que se apropria em mundo e coisa. Ela dá suporte ao mundo e coisa no modo de quietude como conhecimento apropriador da diferença.  
Assim, apropria-se a medida que a essência da linguagem, a consonância do quieto, faz uso da fala dos mortais. Para os mortais falar é evocar o seu nome, é chamar a partir da simplicidade da diferença, coisa e mundo para vir.
Neste caso, a essência da linguagem consegue manifestar-se como expressão e actividade do homem.
Contudo, a linguagem fala e sua fala chama a diferença, a diferença que desapropria mundo e coisa para a simplicidade de sua intimidade. O homem fala à medida corresponde à linguagem. Corresponder é estudar, se estuda é porque pertence ao chamado da quietude.

A linguagem na Poesia
Onde esta colocada? Qual é o lugar?
A colocação pensa o lugar. Pois o lugar é a porta onde tudo se converge. Ela reúne e recolhe para si. Se refere a colocação a partir do lugar de sua poesia.
Cada poema fala. e só podemos fazer uma colocação acerca de seu lugar, quando tentamos mostrar o lugar a partir do que se diz em cada poema isolado.
É necessário um bom esclarecimento para supor uma boa colocação. Não só, mas também fazer um bom diálogo do pensamento, pois tudo esta ligado com a linguagem.
A colocação que se faz a partir da poesia é um diálogo pensante com a poesia.
Então, a linguagem na poesia se busca através da análise na colocação de ideias do poeta. Assim, na medida em que se escuta traz a harmonia ecoante de sua vereda para os sons da língua falada.
Neste caso, a linguagem da poesia tem o seu lugar no seu desprendimento, corresponde ao retorno do género humano não nascido para o começo calmo de sua essência mas quieta.
A linguagem da poesia fala a partir da transição, ou seja, a partir da passagem por sobre e através do viveiro nocturno da noite entusiasmada.
A linguagem fala o estar a caminho, nisto, ela é polissémica, isto é, tem muitos significados.
O poema fala a partir de uma ambiguidade ambígua. O tom polissémico da poesia provém do recolhimento, ou seja, de uma consonância que tomada em si permanece indizível (inexplicável).
O lugar da linguagem por onde fala a poesia de Trakl corresponde ao desprendimento enquanto lugar da poesia.

Uma Conversa sobre a Linguagem entre um Japonês e um Pensador
Esta conversa surgiu da impressão do Japonês ao Pensador, ao perguntando se ele conhece o conde Shuzo Kuki. Por sua vez, este confirmou que o conhece e que não poderia o esquecer, por este ser um dos grandes homens dos discursos.
Daí que, das várias questões deliberadas entre eles, chegaram a tocar sobre a linguagem.
O Pensador dizia que chamou a linguagem como a casa do ser. “Se, pela linguagem, o homem mora na reivindicação do ser, então nós europeus, pelo visto, moramos numa casa totalmente diferente da oriental.”[1]
O mesmo (Pensador) dizia que a questão da linguagem e do ser veio determinar o caminho do seu pensamento.
E dizia ele, que se não tivesse a proveniência da Teologia, não teria chegado ao caminho do pensamento, pois, a proveniência é um por-vir.

Ele havia confirmado que a palavra “hermenêutica” teria, adquirido nos estudos da Teologia, e o Japonês respondeu que a “hermenêutica é uma ciência que trata dos objectivos, dos métodos e das regras de interpretação das obras literárias.”[2]
Por sua vez, o pensador confirmou e deu o seu parecer comparando com a crítica. E dizia: “A hermenêutica é a arte de se compreender correctamente o discurso do outro, de preferência o discurso escrito. A crítica é a arte de julgar correctamente e verificar com dados e testemunhos suficientes a autenticidade dos escritos e de suas passagens.”[3]
O Pensador diz ainda que a hermenêutica no seu livro Ser e Tempo “é a tentativa de se determinar a essência da interpretação a partir do hermenêutico.”[4]
Assim, no pensamento, o que permanece é o caminho. E os caminhos do pensamento guarda consigo o mistério de podermos caminhá-los para frente e para trás.
Hermenêutico é aquele que trás mensagem, que dá uma notícia. Portanto, a linguagem seria o que prevalece e carrega a referência do homem com a duplicidade entre o ser e ente. A linguagem decide a referência hermenêutica. Pois, “referência é aquilo que o homem é recomendado, pois pertence, como o ser que é, a uma recomendação que o requer e reivindica, ou seja, no sentido hermenêutico, levar um anúncio e de trazer uma mensagem.”[5]
Neste caso, a linguagem é o traço fundamental na recomendação hermenêutica. A linguagem é tida como sendo representação em seu carácter expressivo, fazendo parte do supra-sensível, isto é, em si metafísico.

A Essência da Linguagem
À vista parece fácil responder ou falar. Mas o que o tema dizer é que tem haver com o fazer uma experiência com a linguagem. Este fazer tem aqui o sentido de atravessar, sofrer, receber o que nos vem ao encontro, harmonizando-nos com ele. É esse algo que se faz, que se envia, que se articula.
“Fazer uma experiência com a linguagem significa deixarmo-nos tocar propriamente pela reivindicação da linguagem, a ela nos entregando e com ela nos harmonizando”.[6]
O homem encontra na linguagem a morada própria da sua presença, assim, essa experiência tocará na articulação da sua presença.
O caminho que permite colocarmos na possibilidade de fazer uma experiência com a linguagem, é a própria linguagem que vem a linguagem. Isto acontece quando se fala aquilo sobre o que falamos: Um facto, uma ocorrência, uma questão, uma preocupação.
Aqui, analisando o último verso do poema da “palavra”, em que diz “nenhuma coisa que seja onde a palavra faltar,[7] quer dizer o porquê que a linguagem vem a linguagem.
Com isto, o seu conteúdo é que “nenhuma coisa é onde falta a palavra,”[8] pois onde algo falta dá-se um rompimento. Assim, o que se rompe significa retirar-lhe algo, deixando que algo lhe falte e falhe.
Algo esta faltando significa: algo está falhado. Nenhuma coisa é onde falha a palavra, essa que nomeia a coisa. Pois nomear é aparelhar alguma coisa com um nome. E nome é uma designação que confere a alguma coisa um signo fonético ou gráfico, que lhe confere uma cifra. 
Nisto, já é lícito dizer que no poema, a poesia pensa. Com o conteúdo da última verso da última estrofe, quer nos mostrar que a “coisas” é entendida no sentido tradicionalmente amplo de algo que de algum modo é.
Portanto, nenhuma coisa é, onde a palavra, isto é, o nome falhar. Só quando se encontra a palavra para a coisa, a coisa é coisa. Só então, ela é, é as palavras que confere ser às coisas.
Mas como pode uma palavra conferir ser alguma coisa? Se a coisa é, é, existe independentemente desse nome atribuído.
De uma forma mais elevado e nobre, a experiência que vem à linguagem, sobre o último verso, da última estrofe, o seu conteúdo, quer nos dizer que o ser de tudo que é mora na palavra. Daí que é válido afirmar que a linguagem é casa do ser.

A última estrofe diz:
Triste assim eu aprendi a renunciar:
Nenhuma coisa que seja onde a palavra faltar.
Nesta última estrofe, vê-se que o poeta fez uma experiência com a palavra e a linguagem. Ele aprendeu a renunciar à opinião que ele antes tinha sobre a relação entre a coisa e a palavra. À renúncia diz respeito à relação poética com a palavra que aí estava em jogo. A renúncia consiste na prontidão para um outro relacionamento.
Daí que ele (poeta) aprendeu a renunciar. Ele fez uma experiência com a coisa e o seu relacionamento com a palavra.

Como é que fez essa experiência?
Na medida em que esta abriu mão de um relacionamento com a coisa, ou seja, o poeta fez a experiência de que a palavra que deixa aparecer e vigora uma coisa como a coisa que ela é. Para o poeta, a palavra se diz como aquilo a que uma coisa se atém e contém em seu ser.
O poeta fez a experiência de um poder, de uma dignidade da palavra, que não consegue ser pensada de forma mas vasta e levada.
A palavra é aquele bem a que ele se confia e entrega, como poeta, de modo extraordinário.
O poeta fez a experiência do ofício de poeta como uma vocação para a palavra, assumida como fonte e borda do ser.
“Triste assim eu aprendi a renunciar,” o poeta com esta expressão, quer dizer que ele encontrou-se prostrado frente à renunciar, abatido por uma perda. A renúncia não é perder, a tristeza não é renunciar. Tristeza articula-se no relacionamento com a máxima alegria.
Foi assim que o poeta fez a experiência com a palavra.
Contudo, essas explicações mostram como que o poeta fez a experiência com a linguagem. Assim, pode-se dizer que fazer uma experiência significa estar a andar, estando a caminho, alcançar uma coisa, andando, chegar num caminho.
Onde chega? Ele chega à relação da palavra com a coisa. Essa relação é a palavra que a cada vez envolve de tal maneira a coisa dentro de si que a coisa “é” coisa.



De que forma fez essa experiência?
Como se deu essa experiência?
A experiência é percorrer o caminho. O caminho faz-se caminhando. Ele atravessa paisagem. Assim, com a linguagem dá um salto a outras margens em busca da palavra.
Que expressão fazemos ao pensar sobre tudo isso?
Pensar é escutar o consentimento daquilo que deve tornar-se uma questão.
Esta questão, constitui o fundamento primeiro e último, porque o facto de que algo é e o que algo é, porque o vigor da essência foi de há muito definido como o fundamento. Se toda essência tem o carácter de fundamento, a busca da essência apresenta-se como uma fundamentação e uma fundação do fundamento.
Assim, o pensamento que pensa a essência é em seu fundamento um questionador.
Contudo, diz-se que “questionar é a piedade do pensamento.”[9] Pois, a piedade é a harmonia e sintonia articulada com aquilo que o pensamento tem de pensar.
Portanto, o gesto próprio do pensamento não pode ser questionar mas sim escutar o consentimento daquilo que todo questionar questiona ao interrogar sobre a essência.
Ao questionar sobre a essência da linguagem, é preciso que a linguagem ela mesma já se nos tenha indicado, consentindo-se. Assim, a essência da linguagem se torna o consentimento de sua essência, ou seja, se torna a linguagem da essência.

De tudo o que se disse, revela a possibilidade de fazer uma experiência com a linguagem. Fazer a experiência de alguma coisa significa a caminho, num caminho, alcança alguma coisa. Fazer uma experiência com alguma coisa significa que para alcançarmos o que conseguimos alcançar quando estamos a caminho, é preciso que isso nos comova e alcance, que nos venha ao encontro e nos tome, transformando-nos em sua direcção.
Na ciência o que os coloca ao caminho é o método, aquela pela qual põe as ciências a seu serviço. Ela propõe tema, impondo e subordinando. É no método que reside todo o poder e violência do saber.
No pensamento, é diferente, não é o método, nem o tema, mas sim é o campo. Percorrendo o caminho do campo, o pensamento atém-se ao campo. O caminho é o campo.
Falamos sobre a linguagem. Falamos sempre a partir da linguagem. Todo o campo esta aberto para a vizinhança da poesia. Isto, conta na primeira conferência, onde pensar o sentido do caminho de pensamento é pensar com atenção essa vizinhança.
Para tal tem três pontos:
1º a experiência da linguagem;
2ª a experiência pela qual deve nos preparar como uma experiência de pensamento. O pensamento descobre sua determinação própria quando se recolhe na escuta do consentimento que nos diz o que, para o pensamento, se dá a pensar. Assim, o gesto próprio do pensamento é escutar esse consentimento.
A escuta é uma escuta da palavra que nos vem ao encontro, a escuta do consentimento do que se dá a pensar aparece frequentemente como uma pergunta em busca de respostas.
O que constitui o próprio da escuta é de só receber a definição e clareza daquilo que pelo consentimento apresenta um sentido.
Neste caso, a escuta é o consentimento entendido como o que se apropria no dizer e sua saga, na qual a essência da linguagem está aparentada.
3ª a transformação do título das conferências. Aqui, põe-se em questão o título, transformando-o numa pergunta: a essência? a linguagem?

A linguagem deve a seu modo dar indícios de si mesma ou a sua essência. A linguagem vigora como essa indicação. A essência da linguagem dá notícia de si mesma como indício, como a linguagem de sua essência.
            Tudo isso que se fez é uma suposição, na qual aprofundada pode suscitar posições correctas ou falsas, quanto a sua provação.
Em seguida, apresento possibilidades de fazer uma experiência pela via do pensamento com a linguagem, em direcção ao campo. Aqui, o pensamento encontra a vizinhança da poesia. Escuta-se a experiência poética com a palavra.
O que o pensamento é capaz de conseguir depende de como e se o pensamento consegue escutar o consentimento em que a essência da linguagem fala como a linguagem da essência.
A essência da linguagem em parte vem à linguagem como a linguagem da essência. Muito indica que a essência da linguagem recusa-se a vir à linguagem, isto é, a vir àquela linguagem em que se pronunciam enunciados sobre a linguagem. Se a linguagem fez esta recusa, então essa recusa pertence à essência da linguagem.
A possibilidade de uma experiência pensante com a linguagem encontra-se na vizinhança da experiência poética com a palavra. Isto significa atender e atender a essa vizinhança em que habitam poesia e pensamento. Assim, a vizinhança é representado como um relacionamento entre poesia e pensamento.
Tanto a poesia como o pensamento movimentam-se no elemento do dizer. Pensando a poesia, já nos vemos no mesmo elemento em que se movimenta o pensamento. No entanto, qualquer que seja o modo em que nos vem à mente poesia e pensamento, um mesmo elemento já sempre está a nos alimentar, quer lhe pretendermos atenção ou não. Esse elemento é a saga do dizer.
A saga do dizer é o mesmo elemento tanto para a poesia como para o pensamento, embora o modo de ser “elemento” seja tão diferente para um e para o outro.
Na análise do último verso (“Nenhuma coisa que seja onde a palavra faltar”) quer nos dizer que uma coisa é só onde a palavra não falha, e assim, é. Mas a palavra “é”, então ela também deve ser uma coisa, pois “coisa” significa aqui tudo aquilo que de algum modo é.
Pensando no sentido mais amplo, nunca se deve dizer da palavra que ela é. Deve-se dizer que ela se dá, não no sentido delas serem “dadas”, mas de que a palavra ela mesma dá e concede. Mas o que dá a palavra? Ela dá o ser.

As três conferências servem para nos colocar na possibilidade de fazer uma experiência com a linguagem. A Primeira escuta uma experiência poética com a palavra. Ela pensa seguindo-lhe os passos. Ela já se mantém na vizinhança de poesia e pensamento.
Na Segunda, repensa o caminho desse movimento, colocando o objecto do conhecimento de critérios do método.
Para o pensamento, o caminho pertence ao que chamamos de campo. O campo é a clareira libertadora onde tudo o que está claro alcança, juntamente com o que está encoberto, o livre. O libertar-encobrir do campo é aquele encaminhar em que surgem os caminhos que pertence os campos.
O caminho é que nos permite alcançar o que nos alcança, o que nos lança uma intimação. Intimação é aquilo que alcançando nossa essência a exige, vai ao seu encalço e assim alcançando permite-lhe alcançar o lugar a que pertence.
O campo é que nos concede caminhar. O campo encaminha. Pois, encaminhar é conceder e inaugurar caminhos. Normalmente é concebida como movimentar, fazer com que alguma coisa mude de lugar, com que aumenta ou diminua, isto é, com que se altere.
Na vizinhança da poesia e pensamento, as conferências estão visando à possibilidade de fazer uma experiência com a linguagem. Se tudo é caminho, então, o caminho nos permite fazer a experiência de como a linguagem se comporta. Assim, ela nos concede e nos permite dar a possibilidades de algo que necessitamos.
A Terceira conferência pretende-nos colocar na possibilidade de fazermos uma experiência com a linguagem. Não basta permanecer na linguagem, é necessário visualizar a vizinhança, olhar ao seu redor para ver se é como ela mostra o que transforma a nossa relação com a linguagem. No caminho nos coloca diante dessa possibilidade e nos conduz para onde já estamos.
Mas qual é o caminho? Pois, é lá onde já estamos, nós somos de tal maneira que também não somos ou estamos, porque o que intima nossa essência ainda não foi alcançado em sua propriedade. o caminho onde estamos, carece de guia que avance nesta estrada.

A Essência da Linguagem:
a linguagem da essência
Tudo o que se pretende abre-se no que vem a seguir. Entretanto, a linguagem é o sujeito cujo ser deve ser determinado. O que é algo, o ser-isso é aquilo que se chama de “essência” de alguma coisa. Assim, essência é conceito, isto é, à representação por meio da qual podemos dispor e aprender o que uma coisa é.
O sinal de dois pontos, concede-nos aquilo que a linguagem é; o que ele nos entreabre é a linguagem da essência.
Neste caso, a “essência” tem o papel de sujeito cujo próprio é a linguagem. A palavra “essência” não significa mas o que uma coisa é, e sim, designa o vigor, o que persiste e perdura, o que nos concerne em tudo que nos toca, porque é o que tudo encaminha e movimenta.
Na segunda formulação (“a linguagem da essência”) diz-nos que a linguagem pertence a esse vigor, é o que há de mais próprio nesse perdurar que tudo encaminha. O que tudo encaminha, encaminha e movimenta à medida que fala.
O que é o vigor? Em que medida fala?
O simples facto de pensar em querer responder com atenção já esta a caminho num certo caminho, a saber, na vizinhança de poesia e pensamento.
“O que nos concerne como linguagem determina-se pela saga do dizer, essa que tudo encaminha e movimenta. Acenar é passar de um para o outro. As palavras-guia acenam, fazendo-nos passar das representações carriqueiras da linguagem para a experiência da linguagem como saga do dizer.”[10]                        
Representada como algo em vigor, a linguagem é encontrada como acção da fala, como actividade dos órgãos da fala, tais como a boca, os lábios, a língua. Na fala, a linguagem apresenta-se como um fenómeno que ocorre no homem.
Não obstante, poesia e pensamento sempre foram privilegiados. Sua vizinhança não é de modo algum algo exterior. Deve-se fazer uma experiência na e a partir da sua vizinhança, a partir do que determina essa vizinhança como tal. Vizinhança não gera proximidade, e sim, a proximidade é que toma própria a vizinhança.
O que é proximidade? Os passos para responder são bem, mas a articulação e a concentração em torno do mesmo, um jogo para trás desse mesmo. A impressão de desvio deve-se ao facto de a vizinhança determinar-se ao se retrair no encaminhamento. E isso é a proximidade.
A proximidade é o que encaminha e movimenta a vizinhança dos quatros campos do mundo, permitindo que um alcance e encontre o outro, guardando na proximidade a sua distância.
A essência, o vigor da proximidade é o encaminhamento do encontro face a face dos campos que constituem a quadratura do mundo.

O tempo temporaliza;
O espaço espacializa.
Temporalizar significa amadurecer, deixar surgir. Temporalizar é o que surge de um surgimento. O tempo temporaliza o simultâneo, isto é, o que com o tempo nesse modo. O tempo não se move, ela repousa quieta.
O espaço faz também o mesmo, entreabre, libera e concerne localidades e lugares, assumindo o simultâneo como espaço-tempo. Espaço não se move, ela repousa quieto.

Estas três conferências, colocou-nos na possibilidade de fazer uma experiência com a linguagem e tornou-nos pensante. Será que alcançamos essa possibilidade? Ela determinou-nos na saga do dizer. Saga é mostrar, deixar aparecer, propiciar iluminando, encobrindo, liberando. A proximidade anuncia-se como o encaminhamento do encontro face a face dos campos do mundo.
A linguagem é o que nós seres humanos travamos numa relação, entendida como um relacionamento entre homem e linguagem. A linguagem é a relação de todas as relações. Ela sustenta, relaciona, alcança e enriquece o encontro face a face dos campos do mundo, mantendo e abrigando esses campos à medida que a saga do dizer se mantém em si mesma.
Consonância do quieto, a reunião que convoca sem fazer nenhum som, tal como a saga do dizer encaminha a relação do mundo. Consonância do quieto: essa é a linguagem da essência. Consonância do quieto que enquanto saga do dizer, encaminha e movimenta os campos da quadratura de mundo para a sua proximidade.

A Palavra
“Nenhuma coisa que seja onde a palavra faltar”
Este é o último verso do poema, intitulado em sete distícos. Contudo, numa análise pode-se dizer que nenhuma coisa é (existe) onde falta a palavra. Onde falta alguma coisa, há interrupção, ruptura, rompimento. Interromper alguma coisa é retirar dela alguma coisa, é deixá-la falhar. Falhar significa faltar. Onde a palavra falha, não há coisa. A palavra disponível é o que lhe confere ser à coisa.

Então!
O que é a palavra?
O que é a coisa para que precise da palavra para ser e existir?
O que significa ser?
Estas e outras questões ficam em aberto.
Entretanto, o que anseia uma poesia são nomes. Pois, os nomes são algo de sonho ou extraordinário. Nomes são palavras pelas quais o que já é, o que se considera como sendo se torna tão concreto e denso que passa a brilhar e a florescer por toda parte da terra. Os nomes são palavras que apresentam. Os nomes apresentam o que já é, entregando-o para a representação.
Os nomes testemunham o poder paradigmático sobre as coisas. o poeta, com os nomes, concede palavras que ele com confiança e segurança, aguarda como representação daquilo que ele toma por existente.
Os nomes e as palavras são como uma consistência firme, que se coordena com as coisas e posteriormente se lança para as coisas com vista apresentá-las.
A palavra é o que confere vigência, ou seja, ser, em que algo como ente aparece. Exacta é a experiência do poeta que faz com a palavra, isto é, a visão que surge no aprendizado da renúncia. Renúncia aqui, é a transformação do dizer e sua saga na ressonância.
Não obstante, a renúncia é um dizer: recusar-se…à reivindicação de alguma coisa. A renúncia guarda o carácter de uma negação: “nenhuma coisa”, ou seja, não uma coisa; “a palavra falta”, não esta disponível.[11]
Uma renúncia diz que uma coisa só é e existe onde a palavra esta garantida. A renúncia fala afirmando. Então, um recusar-se, isto é, uma saga de um dizer, a renúncia diz respeito à própria palavra. A renúncia movimenta o caminho da relação com a palavra no sentido do que concerne todo dizer como dizer.
A renúncia consente o poder mais elevado da palavra, só onde a palavra deixa coisa ser coisa. A palavra condiciona a coisa como coisa. Esse poder da palavra é condição. Condição significa o fundamento para algo que existe. A condição funda e fundamenta. Ela serve ao princípio de razão. Mas a palavra não dá fundamento às coisas. A palavra deixa a coisa vigorar como coisa. Esse deixar é o que significa condição.
A palavra é saga. E o reino vigora da palavra consiste em dizer, isto é, em mostrar, em trazer para um aparecer a coisa como coisa.

O caminho para a linguagem
A linguagem fala unicamente e solitariamente consigo mesma. Será que é necessário um caminho para a linguagem? Segundo uma antiga tradição, nós somos aqueles seres capazes de falar e assim, aqueles que já possuem a linguagem. A capacidade de falar distingue e marca o homem como homem.
Não ser o que seria o ser humano se lhe fosse recusado falar. Neste âmbito, a linguagem seria a essência do homem.
Somos na linguagem e pela linguagem, assim, não é necessário um caminho para a linguagem, pois, nós já estamos no lugar para o qual o caminho deveria nos conduzir.
Agora, poderíamos nos perguntar se realmente estamos nesse caminho? Temos a consciência disso? Nós, pretendemos algo como: Trazer a linguagem como linguagem para a linguagem.
Esta expressão é o fio condutor no caminho para a linguagem. Usa-se a palavra “linguagem” três vezes, e isso, quer nos dizer que usa-se o uno na diferença, ou seja, a palavra é uma mas com sentidos diferentes. E isso, constitui o próprio da linguagem.


I
A linguagem se refere da fala que é a capacidade e actividade nossa. Falar implica a verbalização articuladora de sons. Na fala, a linguagem se apresenta como actividade dos órgãos da fala: a boca, os lábios, a língua, a garganta…
Linguagem é língua, é “modo da boca”. Falar é um modo de actividade humana.
“A linguagem é algo consistente e por vezes transitória. A linguagem é uma realização e não uma obra. A linguagem é na verdade, o eterno trabalho do espírito de tornar a articulação sonora capaz de exprimir o pensamento.”[12]
Humboldt diz-nos que é difícil fazer uma experiência da linguagem, mas sim, um outro elemento para chegar a linguagem. Ele parte do “trabalho do espírito”, buscando apresentar como a linguagem mostra a si mesma, ou seja, o que a linguagem é.
Chama-se de essência esse ser-alguma coisa. Para ele, o espírito vive.
Diz ele, que deve-se ver a linguagem como uma produção, abstraindo a linguagem da ideia de tudo que ela efectiva como designação de objectos e transmissão de entendimentos e reconduzi-la com todo cuidado para a sua origem.
Realça dizendo que a fala se origina da actividade interior do espírito, e o que significa a fala como expressão do pensamento?
“O sentimento surge na alma e a linguagem aparece como um mundo verdadeiro, que o espírito deve colocar entre si mesma e os objectos pelo trabalho interior de sua força, assim, a linguagem se encontra no caminho verdadeiro para estar e colocar-se no mundo”.[13]
O trabalho do espírito é um posicionar-se, pois, ele coloca-se como síntese entre objecto e o sujeito. O que a força do sujeito elabora e mediante o trabalho se posiciona entre o sujeito e o objecto, Humboldt chama de um “mundo”. Isso porque o caminho da linguagem se determina pela linguagem como linguagem e pela busca de apresentar historicamente o todo do desenvolvimento histórico-espiritual do homem na sua totalidade e em sua individualidade no mundo.
“A busca de Humboldt é de apresentar o mundo em sua individualidade e totalidade”.[14]

A linguagem é única forma de visão do mundo elaborada pela subjectividade humana. Humboldt traz para a linguagem a linguagem como um modo e uma forma de visão do mundo, elaborada pela subjectividade humana.
Mas traz para que linguagem?
Para aquela que é para a actividade do sujeito. O caminho para a linguagem é aquela que se torna em direcção ao homem, conduzindo-o pela linguagem para um outro elemento.

II
Humboldt diz que não se pode mas considerar a linguagem segunda as representações tradicionais de energia, actividade, trabalho, força do espírito, visão do mundo, expressão, pelos quais se assume como linguagem particular ou universal.
O caminho para a linguagem deve permitir a experiência da linguagem com a linguagem.
Quando se atenta à linguagem como a linguagem, a linguagem nos obriga a trazer para a linguagem como linguagem o que permite à linguagem. Ou seja, o caminho para a linguagem deve buscar trazer a linguagem como linguagem para a linguagem. Aqui, a linguagem, mostra-se como a nossa fala.
À fala pertencem aqueles que estão falar, tornando ou fazendo-se vigentes para aquilo e para aqueles com que falam, onde eles se demoram, para o que a cada vez desse modo lhes diz respeito.
Tudo fala, de um e do outro modo. O que se fala, se fala de muitas maneiras. E surge de vários modos. O que se fala é pronunciado a fim de se apresentar ou desaparecer.
Na linguagem, procura-se a unidade do vigor da linguagem e a chama de rasgadura, que é o riscado do vigor da linguagem, a articulação de um mostra em que os que falam e a sua fala, o que se fala e o que aí não se fala, articulam-se desde o que nos reclama.
A fala e o que se fala já se mostram como aquilo através do que e em algo vem à linguagem, isto é, algo vem a aparecer à medida que algo se diz.
Se a saga do dizer significa mostrar, deixar aparecer, deixar ver e ouvir. Então, falar um com o outro significa dizer algo para o outro, mostrar um para o outro alguma coisa e confiar-se mutuamente ao que se mostra.
Neste caso, conversar significa juntos, dizer algo, mostrar um para o outro o que se aclama no que se proclama, o que a partir de si mesma chega a aparecer. O que não se fala é o que não se deixa verbalizar, o que não foi dito, o que não se mostrou, o que ainda não chegou a aparecer.
O vigor da linguagem é a saga do dizer enquanto o mostrante, isto é, o seu mostrar caracteriza-se na vigência e na ausência de todo grau e estágio de vigência.
Se dissemos que a fala é verbalização articulada do pensamento por meio dos órgãos da fala, então, falar é também escutar. Pois, falar é escutar a linguagem que falamos.
Assim, a linguagem fala? Como? Sim, ela fala, segundo o vigor dizendo, isto é, mostrando. A linguagem fala à medida que enquanto mostrante, alcança todos os campos de vigência, deixando aparecer e transparecer o que a cada vez é vigente a partir de si mesma. Assim, a linguagem deixa-nos que ela nos diga a sua saga. Qualquer que seja a escuta, escutamos o deixar-se dizer, que é a saga do dizer. Só escutamos a saga do dizer porque a ela pertencemos.

III
No vigor da linguagem se diz que na linguagem assumida como saga do dizer, vigora algo como um caminho. Caminho é o que se deixa alcançar. A saga do dizer é o que sendo escutado, nos deixa alcançar a fala da linguagem.
O caminho para a fala vigora na própria linguagem. Como fala, o caminho para a linguagem é a linguagem enquanto saga do dizer. o deixar alcança, isto é, o caminho para a fala, vem de um deixar pertencer à saga do dizer. Esse deixar pertencer obriga o vigor do caminho para a linguagem.
A saga do dizer é mostrar. Em sua saga, dizer libera toda vigência para o seu vigor e confina tudo o que esta ausente à sua ausência. Ela (o dizer) perpassa e articula o livre da clareira, esse que busca um aparecer e deve abandonar o desaparecer e toda vigência e ausência deve se mostrar e dizer.
A saga do dizer é a reunião articuladora de tudo que aparece no mostrar múltiplo que deixa o que se mostra repousar em si mesma.
Se a saga do dizer é tornar próprio, um poder escuta, então, depende do acontecimento apropriador. Assim, acontecimento apropriador é a lei que reúne e mantém os mortais no apropriar de sua essência.
O caminho para a linguagem pertence à saga do dizer, que se determina a partir do acontecimento apropriador. Nesse caminho que pertence ao vigor da linguagem, obriga-se o próprio da linguagem. O caminho é apropriante.
O encaminhamento traz a linguagem (o vigor da linguagem) como linguagem (saga do dizer) para a linguagem (para a palavra verbalizada). Assim, o discurso sobre o caminho para a linguagem não é somente o percurso do nosso pensamento que reflecte sobre a linguagem, mas também, se torna possível e necessário através do caminho do próprio, do encaminhamento que apropria e recomenda.
A formulação: trazer a linguagem como linguagem para a linguagem contém a forma, a configuração da harmonia articuladora onde se encaminha o vigor da linguagem, que repousa no acontecimento apropriador.
Como saga do dizer, o vigor da linguagem é um mostrar apropriante, que libera o que se mostra no próprio de seu aparecer.
Toda linguagem humana apropria-se na saga do dizer e é um sentido liberal, uma linguagem própria.

Conclusão
Depois de ter feito um fabuloso percurso sobre o caminho da linguagem, é lícito já dizer que a linguagem é tudo o que se fala e que a linguagem fala por si mesma. A linguagem somente é efectuada em vista de alguém ou com alguém, fazendo assim uma relação de um para com o outro.
A saga do dizer aqui mencionado, que faz parte do mostrante do dizer, encaminha a linguagem para a fala do homem, recomendando a verbalização sonora na palavra. o homem é o que é, quando é capaz de falar, pois, escuta a saga do dizer e a partir dela uma palavra.
Para sermos o que somos é porque permanecemos no vigor da linguagem. Foi dito que a linguagem é vista como “casa do dizer”, pois é a saga do dizer, entretanto, é o modo do acontecimento apropriador.
Neste caso, todo pensamento é poesia e toda poesia é pensamento.

Bibliografia

HEIDEGGER, Martin – A CAMINHO DA LINGUAGEM, tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback, 3ª edição, editora universitária S. Francisco, Editora vozes, Pensamento Humano, S. Paulo, 2003.


[1] pág. 74
[2] pág. 79
[3] Idem
[4] pág. 80
[5] pág. 99
[6] pág. 121
[7] pág. 124
[8] Idem
[9] pág. 135
[10] pág. 159
[11] pág. 183-184
[12] pág. 196
[13] pág. 197-198
[14] pág. 198

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