domingo, 12 de junho de 2011

A INTUIÇÃO COMO MÉTODO DA FILOSOFIA V

REPRESENTANTES FILOSÓFICOS DE CADA UMA DAS INTUIÇÕES.
Estes três tipos de intuição estão representados amplamente na história do pensamento humano.
A intuição intelectual pura encontramo-la na Antigüidade, em Platão; na época moderna, em Descartes e nos filósofos idealistas alemães, sobretudo em Schelling e Schopenhauer.
A intuição emocional ou emotiva também está amplamente representada na história do pensamento humano. Na antigüidade encontramo-la no filósofo Plotino; mais tarde, em alto grau, levada a um dos mais sublimes níveis da história do pensamento, encontramo-la em Santo Agostinho. Na filosofia de Santo Agostinho, a intuição emotiva chega a refinamentos e resultados extraordinários. Depois de Santo Agostinho, durante toda a Idade Média, combatem e lutam ‘uns contra outros os partidários da intuição intelectual e da intuição emotiva. As escolas, principalmente dos franciscanos, de caráter místico, contrapõem-se ao racionalismo de S. Tomás. Corre por toda a Idade Média este duplo fluir dos partidários de uma e de outra intuição.
Por último, a intuição emotiva, que em alguns casos não deixa de estar tingida de um elemento religioso, encontra-se em dois pensadores modernos, nos quais quase não foi notada até agora. Um ó Espinosa. Em muitíssimos livros de filosofia se diz que Espinosa não faz uso da intuição; que Espinosa demonstra suas proposições more geométrico, como puras demonstrações de teoremas de geometria, onde o elemento discursivo abafa por completo toda intuição. Todavia, isto é mera aparência. Na realidade, no fundo da filosofia de Espinosa, existe como que uma intuição mística; chega um momento, no último livro da Ética de Espinosa, em que, sob a forma de uma demonstração geométrica, aparece a intuição emotiva, que rompe os moldes lógicos da demonstração e se faz patente ao leitor, não sem uma comoção verdadeiramente tremenda da alma; é quando Espinosa, ao chegar quase ao término de seu livro, sente-se elevado, sente-se sublimado no propósito filosófico que desde o começo o anima, e escreve esta frase como o enunciado de um de seus teoremas: "Sentimus experimurque nos esse aeternos", que quer dizer: "Nós sentimos e experimentamos que somos eternos". Aí se vê bem até que ponto toda esta crosta de teoremas e de demonstrações estava recobrindo uma intuição palpitante de emoção, uma intuição quase mística da identidade do finito com o infinito e da eternidade no próprio presente.
Outro que, por estranho que pareça, pretende também esta intuição emotiva é nada menos que o filósofo inglês Hume. Para Hume a existência do mundo exterior e a existência do nosso próprio eu não podem ser objeto de intuição intelectual; não podem ser objeto nem de intuição intelectual nem de demonstração racional. Não se pode demonstrar a ninguém que o mundo exterior existe ou que o eu existe. A única coisa que se pode fazer é convidar alguém a dizer se acredita que existe o mundo exterior ou se crê que existe o eu, porque a idéia que temos do mundo exterior não é mais que um belief, uma crença. Cremos, temos fé; nossa crença no mundo exterior e na realidade de nosso eu é um ato de fé.
Quanto à intuição volitiva, tem na história da filosofia porta-vozes e representantes bem autorizados, dentre os quais aquele que talvez mais profundamente chegou a sentir esta intuição de caráter volitivo é o filósofo alemão Fichte. Fichte faz depender a realidade do universo e a própria realidade do eu de uma afirmação voluntária do eu. O eu voluntariamente se afirma a si mesmo; cria-se, por assim dizer, a si mesmo; põe-se a si mesmo. E ao pôr-se a si mesmo, põe-se exclusivamente como vontade, não como pensamento; como uma necessidade de ação, como algo que necessita realizar-se na ação, na execução de algo querido e desejado. E para que algo seja querido e desejado, o eu, ao pôr-se a si mesmo, põe-se, melhor dito, propõe a si obstáculos para seu próprio desenvolvimento, com o objetivo de poder transformar-se em solucionador de problemas, em ator de ações, em algo que rompe esses obstáculos. A realização de uma vida, que consiste era dominar obstáculos, é para Fichte a origem de todo o sistema filosófico. Aqui temos na sua maior plenitude uma intuição de caráter volitivo.
De modo que na história da filosofia moderna os três tipos principais de intuição estão ampla e magnificamente representados.
Na filosofia contemporânea, a dos filósofos que vivem ainda ou desapareceram faz pouco tempo, a intuição constitui também a forma fundamental do método filosófico. Em uma ou outra modalidade, a intuição constitui, em toda a filosofia contemporânea, o instrumento principal de que o filósofo se vale para lograr as aquisições de seus sistemas.


As modalidades em que esta intuição se apresenta na filosofia contemporânea são muito variadas. Seja dito de passagem, existe na filosofia contemporânea um imoderado afã de originalidade. Cada filosofo pretende ter um sistema. Se nós quiséssemos seguir em todos os seus variados matizes as divergências que há entre este, esse e aquele, essas pequenas divergências que há entre um e outro, com suas preocupações de originalidade e de dizer o que ninguém disse, perder-nos-íamos numa selva de minúcias, muitas vezes pouco significativas.
Fazendo uma classificação geral e tomando as principais figuras do pensamento contemporâneo, podemos encontrar até três modalidades no uso do método da intuição.
Estas três modalidades vamos expô-las com os nomes dos filósofos que melhor as representam.
Temos primeiramente a intuição como a emprega e pratica Bergson. A segunda modalidade está representada principalmente por Dilthey. A terceira modalidade está representada por Husserl, que formou uma escola bastante extensa pelo número de seus seguidores e que costumava levar o nome de "escola fenomenológica".
Vamos tentar caracterizar brevemente a classe de intuição que cada um desses três pensadores preconiza como o método da filosofia.

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