terça-feira, 7 de junho de 2011

O PROFETA AGEU II

1.    VIDA E AMBIENTE HISTÓRICO DO PROFETA AGEU
O nome Ageu em hebraico Haggai significa festivo. Foi um dos primeiros profetas a iniciar o seu ministério depois do regresso dos israelitas a Judá, vindo do exílio da Babilónia. No tempo de regresso, os judeus tiveram a permissão do rei persa, Ciro para construir o Templo de Jerusalém. No entanto, a obra prosseguiu vagarosamente devido às interferências dos povos vizinhos isto é, devido às guerras (cf. Esd. 1,1-4) que opuseram à construção de um estado judaico forte. Em 520 os judeus pareciam ter perdido o interesse e a energia pelo projecto e quase nada acontecia. Foi nesse ano em que Ageu entrou em cena isto é, exerce a sua actividade de profeta. A sua missão por parte de Deus era de exortar o povo judeu, especialmente os seus líderes e o governador Zorobabel e o sacerdote Josué a retomarem o trabalho da reconstrução da casa em que Deus habitaria no meio deles, com a honra e a glória dos outros templos.
Ageu foi assim o homem providencial, à altura das circunstâncias, para animar os judeus com a recordação das grandes esperanças messiânicas, para os despertar da apatia entusiasmando e animando-os à reedificação do Templo. Além de ser o centro da vida religiosa, o Templo era a expressão da fidelidade do povo a Iahweh. Pelo seu esforço e por ajuda de Zacarias, a reconstrução do Templo recomeçou e o novo Templo terminou em 515.

1.1.A acção do profeta Ageu
O povo volta do exílio mergulhado numa grande crise. O povo estava desanimado e sem rumos. Era época de guerra civil no Império persa. Muitos pensaram que os persas estavam acabados e que Judá se tornaria independente. Nos tempos confusos da reconstrução, várias correntes tinham suas propostas e suas esperanças. Cada grupo lutava pela implantação do seu próprio projecto. Ageu lutou por seu projecto de independência e de realeza. Buscou rescontruir a casa de Deus. Animou o povo em tempos difíceis. O profeta Ageu pronuncia os seus oráculos no ano 520 a. C. Ele anima e encoraja o povo a reconstruir Jerusalém. Para ele o ponto de partida é a reconstrução do Templo. Pois «a casa de Deus simboliza a presença de Iahweh no meio do povo. Igualmente, simboliza a grandeza, o prestígio e os pecados da época dos reis»[1]. Busca-se reconstruir o presente tendo como modelo um passado de glória e esplendor, esquecendo a opressão e o sofrimento do povo. Vive-se  um momento de conflito, de crise e de busca de identidade para a vida religiosa.

2. ESTRUTURA LITERÁRIA DO LIVRO DE AGEU
O livro do profeta Ageu é composto por dois capítulos. Há várias propostas no que concerne à sua estrutura literária mas nós iremos dividi-lo em duas partes e respectivas subpartes:
I.         Os tempos difíceis por causa do abandono do Templo (1,1-11)
a)        Início das obras do Templo (1,12-15a)
b)        A glória do Templo (1,15b-2,9)
II.      Uma dimensão sacerdotal 2,10-14
a)        Prosperidade agrícola (2,15-19)
b)        Zorobabel, o Sinete Deus (2,20-23)

Nesta estrutura descobrem-se algumas questões por destacar:
Para Ageu o futuro é o de Judá restaurado com um governante davídico e com Deus habitando novamente em seu Templo terreno. Os oráculos de Ageu são articulados à estrutura redaccional 1,1.12.13a.14-15; 2,1-2.10.20 com 2,4 e data em 2,18. A estrutura editorial não é provável que tenha sido escrita por Ageu, foi composta habivelmente não muito tempo depois de seus oráculos.

2.1. Conteúdos de 1,1-15a
Neste trecho, o profeta dirige-se a Zorobabel, o governador de Judá e Josué sumo sacerdote encorajando-os a reconstruirem o Templo. Dois argumentos justificam sua exigência: primeiro porque é uma vergonha o facto de o Templo encontrar-se em ruínas enquanto o povo tem casas grandes para morar; segundo porque enquanto o Templo estiver em ruínas o povo não produzirá seus frutos. Ao chamado do profeta respondem as autoridades e iniciam a reconstrução do Templo com o povo.

2.2  Comentário pessoal e conteúdos do capítulo 1,1-15a
Nesta narrativa entram em cena como protagonistas principais: Ageu, Deus, o povo, o Rei Dário, Ciro, Zorobabel governador de Judá e Josué sumo sacerdote. Quanto à situação espacial acontece em Judá e politicamente o povo está sob domínio do Império Persa.
O v. 2 tem como acção principal a reedificação do Templo.
Nos vv. 3-6 o Senhor dirige-se ao profeta Ageu. O Senhor vê que o povo está preocupado não tanto com a renconstrução da casa de Deus, o Templo, mas preocupa-se com suas moradias esquecendo-se que foi o mesmo Senhor que o libertou. Porque foi o Senhor que fez regressar o povo da Babilónia para Judá e como advertência, o Senhor convida o povo a fazer juízo, a uma reflexão mais profunda.
O v. 7 é uma exortação para voltar à obediência a Deus. No v. 8 o Senhor insiste, por meio do profeta Ageu, na reconstrução do Templo indicando o material necessário. Os vv. 9-11 o Senhor, através de Ageu, dirige um oráculo ao seu povo, isto é, uma espécie de ameaça querendo mostrar que enquanto o Templo continuar em ruínas a terra não produzirá nada. Aqui o Senhor pretende demonstrar as possíveis consequências da desobediência.
Nos v. 12-15a depois de o profeta ter proferido as tais ameaças constata-se que há um certo arrependimento por parte do povo, ou seja, há uma mudança de atitude; consequentemente adere a mensagem de Deus. Enfim, o Senhor suscita a consciência do governador Zorobabel e este mobiliza os seus colaboradores directos e começam a reconstrução do Templo.

3. MENSAGEM TEOLÓGICA
O ensinamento de Ageu proporciona o que pode ser uma correção necessária a qualquer incompreensão dos outros oráculos proféticos. Sublinha a necessidade de viver segundo a vontade de Deus e praticar a virtude para que o culto a Deus seja realmente significativo.
O culto sem uma vida virtuosa é uma cernimónia vazia e uma zombaria de Deus e da verdadeira religião. A insistência de Ageu na importância do culto no Templo e da oferta de sacrifícios puros no altar mostra isso claramente. Os actos formais de culto são necessários para obter a motivação e a força necessária para a vida de amor estável.
Em 1,1-15a Deus queixa-se, por meio de Ageu, ante o povo que regressou de Babilónia porque arranjou casas para seus membros enquanto o Templo continua em ruínas. O profeta exorta o povo para que receba o Deus de Aliança; para isso é necessário reconstuir o Templo que é o símbolo de sua presença e é fecundo para todos.
A pregação de Ageu gira em torno de dois temas: o Templo e a irrupção da era escatológica. O primeiro é mais importante, uma vez que, da reconstrução depende que Deus intervenha no mundo de modo definitivo. Ageu não sente grande preocupação pelos problemas morais.
Homem prático que não se limita a delinear no papel o Templo futuro, glorioso, mas que actua com relaismo e se esforça por iniciar a tarefa. «Pois era o Templo o lugar em que Deus falava a Israel, onde ele lhe perdoava seus pecados e onde ele se tornava presente. A atitude que se adoptasse perante o Templo reflectia a atitude que se adoptava em favor ou contra Deus»[2]. As pessoas, porém, desinteressavam-se bastante deste lugar; por causa de sua miséria económica elas iam adiando a reconstrução, «pois que ainda não era tempo de levá-la a cabo» (Ag 1,2).
Por outro lado, a mensagem de Ageu está muito centralizada na animação da pequena comunidade judaica, especialmente através da reconstrução do Templo. Aponta que “a falta de religiosidade que se manifesta no pouco interesse pela reconstrução do Templo é a causa mais profunda da miséria do povo”[3]. Os trabalhos de reconstrução, pelo contrário, significariam o renascer da verdadeira religiosidade, despertar-se-ia a benevolência do Senhor e, como consequência, melhoraria a situação. Igualmente, reconstruir o Templo significa renovar a esperança no futuro, nas grandes promessas escatológicas, no magnífico futuro que o Senhor tem preparado para o seu povo. «Este futuro tem a ver com as nações» (2,7.22). Israel conseguirá vencer conduzido pelo Messias davídico (2,20-23); recebendo como dom a paz (2,9); o grande dia será acompanhado por tremendas convulsões cósmicas. Zorobabel e a sua obra são a antecipação desta promessa. A iminência da salvação era tal que o chefe da comunidade de Jerusalém, Zorobabel, já recebia da boca do profeta um dos títulos do Messias, pelo qual o Deus do universo realizaria sua salvação: ele «era o Sinete para selar e executar suas decisões finais» (2,23).




CONCLUSÃO
Em jeito de fecho se pode dizer que o livro do profeta Ageu centra-se mais no tema da reconstrução do Templo e do povo de Deus. Portanto, “toda a mensagem de Ageu se concentra no Templo em ruínas”[4], cuja reconstrução, para ele, é a urgência primordial (1,8;2,4). O profeta usa as promessas e ameaças na interpretação da situação com a intenção de intimidar a comunidade de Jerusalém a reflectir sobre si mesma (1,5.7), e a se decidir a procurar primeiro o interesse de Deus e sua glória (1,8). Ageu, apesar da fraqueza do povo, está convencido de que a reconstrução devolverá a santidade ao povo, a sua capacidade de estabelecer uma nova relação com Deus de Aliança, simbolizada por uma nova prosperidade.

Bibliografia
AMSLER S., et al, Os profetas e os livros proféticos, Ed. Paulinas, S. Paulo, 1992.
LACY J. M. Abrego de, Os livros proféticos, Ed. Ave Maria, S. Paulo, 1998.
SCHOKEL, L. Alonso, J. L. Sicre DIAZ, Profetas II, grande comentário bíblico, Ed. Paulinas, S. Paulo 1991.
QUEIROZ, Celso António, Leitura profética da história, Ed. Loyola, S. Paulo 19942.


[1] António C. QUEIROZ, A leitura profética da história, Ed. Loyola, S. Paulo 19942, p. 187.
[2] L. Alonso SCHOKEL, L. Sicre DIAZ, Profetas II, grande comentário bíblico Ed. Paulinas, S. Paulo 1991, p. 1172.
[3] J. M. Abrego de LACY, Os livros proféticos, Ed. Ave Maria, S. Paulo, 1998, p. 233.
[4] S. AMSLER, et al, Os profetas e os livros proféticos, Ed. Paulinas, S. Paulo 1992, p. 364.

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