terça-feira, 23 de agosto de 2011

CELIBATO, SEXUALIDADE E AMOR

Juan Masias, jesuíta e professor de bioética na Universidade São Tomás de Osaka (Japão),  no artigo para o jornal El País, 31-05.2009, analisa a questão do celibato e o sacerdócio. Segundo ele, viver sem relação sexual pode ter sentido, mas viver sem amar desumaniza. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O celibato do Padre origina abusos? Casamento e ministério são compatíveis? Renunciar ao sexo é inumano? Perguntas desafiantes pedem respostas audazes. Arrisquemo – nos a moldar em aforismo esse tema delicado.
Celibato não se opõe a casamento. Ambos contrastam com solteirices ou emparelhamentos insignificantes. A ocupação religiosa célibe pode ser minoritária; nem por isso elitista, nem melhor do que o casamento, nem monopoliza a dedicação apostólica ou o seguimento radical de Jesus.
Sexualidade é mais do que genitalidade, e amor é mais do que sexualidade. A espécie humana, ao amar, se diferencia por escolher na encruzilhada: ajudar-se a crescer pessoalmente ou a se destruir mutuamente.
Precisamos descobrir a ternura, além da permissividade e do moralismo. Um beijo amoroso pode fundir duas pessoas mais intimamente do que um coito sem ternura. A psicologia social critica a obsessão an – orgasmo – fóbica, isto é, o medo a não se alcançar o orgasmo utópico promovido pela literatura excitante.
O assédio sexual do clero é abuso de poder e injustiça, não mero descuprimento de voto ou lastro de formação de Seminário: crises de puberdade reprimidas explodem com atraso na forma de abusos e desvios na integração sexual. Reconhecidas sem se ocultar, será preciso cortá – las e repará – las.
Em vez de ética sexual proibitiva, uma ética construtiva das relações, centrada no respeito e na ajuda do crescimento mútuo, pode valer para os casais heterossexuais ou homossexuais; para relações interpessoais em comunidades célibes; ou para relações de amizade entre pessoas com diversas opções de vida.
Compatível a vida em casal com o mistério, a ordenação poderia ser conferida a pessoas casadas, solteiras ou viúvas de ambos os sexos, com aptidão para animar, servir e unir as comunidades. A orientação sexual também não seria obstáculo para o celibato opcional. Homossexual, heterossexual, o decisivo é a aptidão da pessoa.
Vários desenlaces são possíveis, se uma paixão incidir na opção celibatária: a) mudança de rumo de vida; b) repressão, mas com semeadura de expectativas daninhas; c) funambulismo por causada corda bamba da vida dupla; d) na defensiva, a pessoa se incapacita para amar e, portanto, para o ministério; re-escolher a opção, com gratidão e dor, assumindo os limites e prosseguindo na aprendizagem de amar mais e melhor.
O celibato não nega o amor, mas acarreta três renúncias: a exclusividade de uma relação íntima; ao exercício da sexualidade; e a procriação e a formação de uma família. Não é fácil, sem repressões nem ambiguidades, integrá-las com a aprendizagem do amor. Viver sem relação sexual pode ter sentido, mas viver sem amar desumaniza.

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