terça-feira, 23 de agosto de 2011

OS PASSOS NO CONHECIMENTO

64. Aos pais compete particularmente a obrigação de dar a conhecer aos filhos os mistérios da vida humana, porque a família « é o melhor ambiente para cumprir a obrigação de garantir uma educação gradual da vida sexual. Ela tem uma carga afectiva capaz de fazer aceitar sem traumas mesmo as realidades mais delicadas e integrá-las harmonicamente numa personalidade equilibrada e rica ».1
Este dever primário da família, que recordámos, comporta para os pais o direito a que os seus filhos não sejam obrigados, na escola, a assistir a cursos sobre esta matéria que estejam em desacordo com as suas convicções religiosas e morais.2 De facto, é dever da escola não se substituir à família mas, antes, « assistir e complementar a tarefa dos pais, oferecendo às crianças e aos adolescentes uma apreciação da sexualidade como valor e tarefa de toda a pessoa criada, homem e mulher, à imagem de Deus ».3
Recordemos justamente o que ensina o Santo Padre na Familiaris Consortio: « A Igreja opõe-se firmemente a uma certa forma de informação sexual, desligada dos princípios morais, tão difundida, que não é senão uma introdução à experiência do prazer e um estímulo que leva à perda — ainda nos anos da inocência — da serenidade, abrindo as portas ao vício ».4
É preciso, por isso, propor quatro princípios gerais e em seguida examinar as várias fases de desenvolvimento da criança.

Quatro princípios sobre a informação a respeito da sexualidade
65. 1. Cada criança é uma pessoa única e irrepetível e deve receber uma formação individualizada. Como os pais conhecem, compreendem e amam cada um dos seus filhos na sua irrepetibilidade, estão na melhor posição para decidir o momento oportuno para dar as diversas informações, segundo o respectivo crescimento físico e espiritual. Ninguém pode tirar aos pais conscienciosos esta capacidade de discernimento.5
66. O processo de maturação de cada criança como pessoa é diferente, pelo que os aspectos que tocam mais a sua intimidade, tanto biológica como afectiva, devem ser-lhe comunicados por meio de um diálogo personalizado.6 No diálogo com cada filho, feito de amor e confiança, os pais comunicam algo do seu próprio dom de si, o que os torna capazes de testemunhar aspectos da dimensão afectiva da sexualidade, de outro modo não transmissíveis.
67. A experiência demonstra que este diálogo se desenvolve melhor quando o « pai » que comunica as informações biológicas, afectivas, morais e espirituais, é do mesmo sexo da criança ou do jovem. Conhecedoras do papel, das emoções e dos problemas do próprio sexo, as mães tem um laço especial com as suas filhas, e os pais com os filhos. É preciso respeitar estes laços naturais; por isso, o « pai » que se encontre só deverá comportar-se com grande sensibilidade ao falar com um filho de sexo diverso, e poderá decidir confiar os aspectos particulares mais íntimos a uma pessoa de confiança do mesmo sexo da criança. Para esta colaboração de carácter subsidiário, os pais podem servir-se de educadores conscienciosos e bem formados no âmbito da comunidade escolar, paroquial ou das associações católicas.
68. 2. A dimensão moral deve sempre fazer parte das suas explicações. Os pais poderão pôr em realce que os cristãos são chamados a viver o dom da sexualidade segundo o plano de Deus que é Amor, isto é, no contexto do matrimónio ou da virgindade consagrada ou ainda no celibato.7 Deve-se insistir no valor positivo da castidade, e na capacidade de gerar verdadeiro amor para com as pessoas: este é o seu aspecto moral mais importante e radical; só quem sabe ser casto saberá amar no matrimónio ou na virgindade.
69. Desde a idade mais tenra, os pais podem observar inícios de uma actividade genital instintiva na criança. Não se deve considerar repressivo o facto de se corrigir suavemente os hábitos que poderiam tornar-se pecaminosos mais tarde e ensinar a modéstia, sempre que seja necessário, à medida que a criança cresce. É sempre importante que o juízo de recusa moral de certas atitudes, contrárias à dignidade da pessoa e à castidade, seja justificado com motivações adequadas, válidas e convincentes tanto no plano racional como no plano da fé, por isso num quadro de positividade e de alto conceito da dignidade pessoal. Muitas admoestações dos pais são simples reprovações ou recomendações que os filhos percebem como fruto do medo de certas consequências sociais ou de reputação pública, mais que de um amor atento ao seu verdadeiro bem. « Exorto-vos a corrigir com todo o empenho os vícios e as paixões que nos assaltam em cada idade. Porque se, em qualquer época da nossa vida navegarmos desprezando os valores da virtude e sofrendo assim naufrágios constantes, arriscamo-nos a chegar ao porto vazios de toda a carga espiritual ».8
70. 3. A formação na castidade e as oportunas informações sobre sexualidade devem ser fornecidas no contexto mais amplo da educação para o amor. Não é por isso suficiente comunicar informações sobre o sexo juntamente com princípios morais objectivos. É necessário também uma ajuda constante para o crescimento da vida espiritual dos filhos, a fim de que o desenvolvimento biológico e as pulsões que começam a experimentar sejam sempre acompanhados de um crescente amor a Deus Criador e Redentor e de um maior conhecimento da dignidade de cada pessoa humana e do seu corpo. À luz do mistério de Cristo e da Igreja, os pais podem ilustrar os valores positivos da sexualidade humana no contexto da inata vocação da pessoa ao amor e da vocação universal à santidade.
71. Nos colóquios com os filhos, portanto, nunca devem faltar os conselhos idóneos para crescer no amor de Deus e do próximo e para superar as dificuldades: « A disciplina dos sentidos e do espírito, a vigilância e a prudência para evitar as ocasiões de pecado, a guarda do pudor, a moderação nos divertimentos, as actividades sãs, o recurso frequente à oração e aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Os jovens, sobretudo, devem empenhar-se a desenvolver a sua piedade para com a Imaculada Mãe de Deus ».9
72. Para educar os filhos para saberem avaliar bem os ambientes que frequentam, com sentido crítico e de verdadeira autonomia, e também para habituá-los a um uso comedido dos meios de comunicação social, os pais deverão sempre apresentar os modelos positivos e as modalidades adequadas para empenhar as suas energias vitais, o sentido de amizade e de solidariedade no vasto campo da sociedade e da Igreja.
Em presença de tendências e atitudes desviantes, diante das quais é preciso ter grande prudência e cautela para distinguir e avaliar bem as situações, saberão mesmo recorrer a especialistas de segura formação científica e moral para identificar as causas para além dos sintomas e ajudar as pessoas a isso sujeitas, com seriedade e clareza, a superar as dificuldades. A acção pedagógica seja orientada mais para as causas do que para a repressão directa do fenómeno,10 procurando também — se necessário — o auxílio de pessoas qualificadas, como médicos, pedagogos, psicólogos de recto sentir cristão.
73. O objectivo da obra educativa é, para os pais, transmitir a seus filhos a convicção de que a castidade no seu estado de vida é possível e portadora de alegria. A alegria brota do conhecimento de uma maturação e harmonia da sua vida afectiva, que, sendo dom de Deus e dom de amor, consente na realização do dom de si no âmbito da própria vocação. O ser humano, com efeito, única criatura na terra que Deus quis por si mesma, « não pode encontrar-se plenamente senão por um dom sincero de si mesmo ».11 « Cristo deu leis comuns para todos... Não te proíbo que te cases, nem me oponho a que te divirtas. Só quero que o faças com temperança, sem impudicícia, sem culpas e pecados. Não ponho como lei que fujais para os montes e desertos, mas que sejais corajosos, bons, modestos e castos vivendo no meio da cidade ».12
74. A ajuda de Deus nunca nos falta, se cada um puser o empenho necessário para corresponder à graça de Deus. Ajudando, formando e respeitando a consciência dos filhos, os pais devem procurar que frequentem conscientemente os sacramentos, caminhando diante deles com o próprio exemplo. Se as crianças e os jovens experimentarem os efeitos da graça e da misericórdia de Deus nos sacramentos, serão capazes de viver bem a castidade como dom de Deus, para a sua glória e para o amar e amar as outras pessoas. Um auxílio necessário e sobrenaturalmente eficaz é oferecido pela frequência do Sacramento da reconciliação, especialmente se é possível recorrer a um confessor estável. A orientação ou direcção espiritual, mesmo que não coincida necessariamente com o papel do confessor, é um auxílio precioso para o esclarecimento progressivo das fases da maturação e para um apoio moral.
De grande ajuda é a leitura de livros de formação escolhidos e aconselhados seja por oferecerem uma formação mais vasta e aprofundada seja por fornecerem exemplos e testemunhos no caminho da virtude.
75. Uma vez identificados os objectivos da informação, é necessário determinar os seus tempos e modalidades, a começar pela idade da infância.
4. Os pais devem dispensar esta informação com estrema delicadeza, mas de modo claro e no tempo oportuno. Eles bem sabem que os filhos devem ser tratados de modo personalizado, segundo as condições pessoais do seu desenvolvimento fisiológico e psíquico e tendo em devida conta também o ambiente cultural de vida e a experiência que o adolescente faz na vida quotidiana. Para avaliar bem o que devem dizer a cada um é muito importante que primeiro peçam luz ao Senhor, na oração, e falem um com o outro, a fim que as suas palavras não sejam nem demasiado explícitas nem demasiado vagas. Dar demasiados pormenores às crianças é contraproducente, mas atrasar excessivamente as primeiras informações é imprudente, porque todas as pessoas humanas têm uma curiosidade natural a esse respeito e, mais tarde ou mais cedo, se interroga, sobretudo numa cultura em que se pode ver muita coisa, até na rua.
76. Em geral, as primeiras informações acerca do sexo, a dispensar a uma criança pequena, não são sobre a sexualidade genital, mas sobre a gravidez e o nascimento de um irmão ou de uma irmã. A curiosidade natural da criança é estimulada, por exemplo, quando vê na mãe os sinais da gravidez e vive a espera de um bebé. Os pais podem aproveitar desta alegre experiência para comunicar alguns factos simples acerca da gravidez, mas sempre no contexto mais profundo das maravilhas da obra criadora de Deus, o qual dispõe que a nova vida que Ele dá seja guardada no corpo da mãe, perto do seu coração

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