terça-feira, 23 de agosto de 2011

A SAGRADA TRADIÇÃO

No presente trabalho nos propomos a falar da Sagrada Tradição que constitui um dos depósitos da fé católica ao lado da Sagrada Escritura e do Magistério. Com o trabalho pretendemos, descobrir o valor da Tradição no aprofundamento da fé da Igreja. Assim, obedeceremos o seguinte esboço laboral:
2.   Tipos de Tradição
3.   Diferenças entre Tradição Apostólica e Eclesiástica
4.   Relação entre Sagrada Escritura e sagrada Tradição
5.   Importância da sagrada Tradição na igreja
Conclusão.

Tradição é a autoridade e a acção contínua da Igreja Católica, que através dos Apóstolos transmite tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita, para todo o mundo ininterruptamente desde o advento salvífico de Cristo até a actualidade[1]
«É a permanência, ao longo dos tempos, na comunidade dos crentes, do acontecimento da Revelação»[2]. A sua fonte é pois, Jesus Cristo, em tudo aquilo que constitui relação vital com os Apóstolos; mas da Tradição faz parte tudo o que estes aprenderam sob a acção do Espírito Santo e, finalmente, o que diz respeito ao culto e aos sacramentos, à conduta moral e ao cânone completo das escrituras. «É a transmissão da mensagem que os Apóstolos receberam do ensino e do exemplo de Jesus e aprenderam do Espírito Santo»[3].

2.1.            Tradição Apostólica – é a mensagem da salvação em Jesus Cristo, anunciada pelos Apóstolos; «é o anúncio do Evangelho àqueles que ainda não crêem»[4].
A Tradição Apostólica é a transmissão da mensagem de Cristo, realizada desde as origens do cristianismo, mediante a pregação, o testemunho, as instituições, o culto, os escritos inspirados. Os Apóstolos transmitiram a seus sucessores, os bispos, e, por meio deles, a todas as gerações até o final dos tempos o que receberam de Cristo e aprenderam do Espírito Santo[5].
2.2.            Tradição Eclesiástica – é a forma viva que revela a Tradição Apostólica no seio da Igreja. Ela diz respeito àqueles que não crêem. Ela se interessa à justa compreensão da Tradição Apostólica e a confissão da recta fé frente à possíveis crenças erróneas, produzidas por possíveis doutrinas erróneas nascidas no seio da igreja.

Não há coincidência entre ambas. Pelo contrário, elas se diferenciam claramente, senão vejamos: a Tradição Apostólica é um facto divino porque nela os apóstolos são órgãos do Espírito Santo. «É o próprio Deus que confia aos Apóstolos a mensagem da salvação, Jesus Cristo»[6]. A tradição eclesiástica, pelo contrário, “é facto humano”, sem ser por isto mesmo uma operação puramente humana. São homens que transmitem, mas não o fazem somente por si mesmos: quando pregam a Tradição Apostólica são homens estabelecidos por Deus, autorizados e chamados pela Igreja, os quais gozam da assistência do Espírito Santo.
Se a Tradição Apostólica é a mensagem da salvação de Jesus Cristo, anunciada pelos Apóstolos, a tradição eclesiástica é a justa compreensão e o recto ensinamento desta mensagem, que os Apóstolos nos deixaram. Por isto, o anúncio da mensagem da tradição eclesiástica vem em forma de ensinamento. A Tradição Apostólica é ponto da missão; a tradição eclesiástica é o trabalho da Igreja. A Tradição Apostólica se realiza de duas maneiras: com a transmissão viva da Palavra de Deus também chamada simplesmente de
Tradição e com a Sagrada Escritura, que é o mesmo anúncio da salvação feito por escrito.

«A Sagrada Escritura e a sagrada Tradição constituem um único depósito da Palavra de Deus»[7]. A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito divino. E a sagrada Tradição, por sua vez, conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos e transmite-a integralmente aos seus sucessores, para que, eles com a luz do Espírito da verdade fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação[8].
A Sagrada Escritura e sagrada Tradição estão, portanto, estreitamente conexas e interpenetradas: ambas promanam da mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e tendem para o mesmo fim. Por isso, ambas «devem ser recebidas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência»[9].
A Tradição e a Sagrada Escritura estão em estreita ligação e comunicação entre si. Ambas, com efeito, tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo e brotam da mesma fonte divina: constituem um só sagrado depósito da fé, de onde a Igreja haure a própria certeza sobre todas as coisas reveladas.
Esta afirmação do Concílio é muito importante porque coloca a Tradição ao nível de verdadeira intérprete e transmissora da Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura. «A Igreja na sua doutrina, na sua vida e no seu culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita»[10].

Hoje, como no passado, a Igreja Católica considera a Tradição como meio importante, necessário e indispensável para transmitir a divina revelação. Enquanto revela a Escritura, porque contém a Palavra de Deus de modo inalterável e pleno, a Igreja nega a suficiência da mesma no conhecimento de toda a Revelação sem ser acompanhada pela Tradição.
Os Apóstolos e seus sucessores são transmissores da palavra pois fizeram quer por palavras quer por escrito, como exorta S. Paulo aos Tessalonicenses: “irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa” (Ts 2,15). A Tradição contribui também para a vida santa do povo de Deus para o alimento da sua fé perpetuada pela igreja.
Pela Tradição, «A igreja na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo em que acredita»[11]. A Tradição deve realizar-se na igreja sob forma de ensinamento segundo o exemplo do Apóstolo que é o protótipo de toda a transmissão ulterior da igreja. «A Tradição desde o início afirma que a Sagrada Escritura basta a si mesma materialmente, não formalmente. Mas naquilo que concerne aos usos e costumes da igreja, não estão contidos inteiramente na Sagrada Escritura nem em linha de princípio nem por acenos»[12]. Para a fé, portanto, vale dizer que está toda na Sagrada Escritura e na Tradição. Pelo contrário, os usos e costumes «estão em parte na Sagrada Escritura, em parte na sagrada Tradição» como defendera o Concílio de Trento (1546) e reafirmado pelo Vaticano I (1870). Portanto, a Sagrada Escritura não se explica toda por si. Porque para demonstrar a inspiração da Sagrada Escritura devemos recorrer à Tradição que vai dos padres aos nossos dias. Sem aceitação desta Tradição, a fé na inspiração da Sagrada Escritura desmoronaria. Isto significa que Escritura e Tradição estão ligadas uma da outra. Ao lado da Escritura o concílio de Trento colocou como segunda fonte da revelação, as tradições não escritas que se referiam à fé e aos costumes e que nos transmitem o Evangelho como fonte de toda a verdade e disciplina moral.

CONCLUSÃO
Ao longo da abordagem do trabalho descobrimos que a Tradição Apostólica se revela como um processo de desenvolvimento do acontecimento primitivo. Ela não se limita somente ao evento de Cristo. Abraça ainda a conduta, os modos de comportamento e a disciplina dos crentes. Por isso mesmo falamos da tradição eclesiástica que constitui a justa compreensão e o recto ensinamento que os Apóstolos nos deixaram. Por outro lado, vimos que a Tradição deve realizar-se no seio da Igreja sob a forma de ensinamentos, segundo o exemplo da transmissão viva dada pelos Apóstolos.

BIBLIOGRAFIA
Catecismo da Igreja Católica, Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1983.
Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, (1965), Editorial A.O. Braga, 198011.
GEISELMANN, J. R., Tradição, Dicionário de Teologia, vol. V, Edições Loyola, S. Paulo, 1971.
MARTINS, Nuno Brás da Silva, Tradição, in Enciclopédia Luso brasileira de Cultura, Edições século XXI, vol. 28.


[1] Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 8, (1965), Editorial A.O. Braga, 198011.
[2] Nuno Brás da Silva Martins, Tradição, in Enciclopédia Luso brasileira de Cultura, Edições século XXI, Vol. 28, p. 53.
[3] Catecismo da Igreja Católica, 83, Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1983.
[4] J. R. Geiselmann, Tradição, in Dicionário de Teologia, Vol. V, Edições Loyola, S. Paulo, 1971, p 360
[5] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, 75-79,83,96,98, Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1983.
[6] J. R. Geiselmann, Tradição, in Dicionário de Teologia, Vol. V, Edições Loyola, S. Paulo, 1971, p 360.
[7] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática, Dei Verbum, 10, (1965), Editorial A.O. Braga, 198011.
[8] Idem, 09.
[9] Ibidem.
[10] Idem, 8.
[11] Ibidem.
[12] Cf. J. R. GEISELMANN, Op Cit, p. 362.

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