terça-feira, 23 de agosto de 2011

PLOTINO

Vida e obra
Plotino nasceu em Licápolis, no Egipto, em 205 d. C. Estudou em Alexandria, na Escola de Amónio Sacas, mestre de Plotino. Aos 40 anos de idade transferiu-se para Roma, onde fundou uma escola que teve enorme sucesso. Morreu em Campanha no ano de 270. «Porfírio, um de seus discípulos mais inteligentes e devotados, recolheu seus escritos e os dividiu em seis grupos de nove livros cada um; a obra recebeu por isso a designação de Enéadas»[1].
A influência de Plotino e dos neoplatónicos sobre o pensamento cristão, islâmico e judaico, bem como sobre os pensadores do Renascimento foi enorme. Foram directa ou indirectamente influenciados por ele, Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa, Santo Agostinho, Pseudo-Dionísio (o Areopagita), Boécio, Scoto Erígena, Alberto Magno, Santo Tomás de Aquino, Dante Alighieri, Mestre Eckhart, Johannes Tauler, Nicolau de Cusa, São João da Cruz, Marsílio Ficino, Pico de la Mirandola, Giordano Bruno, Avicena, Ibn Gabirol, Espinosa, Leibniz, Coleridge e Henri Bergson.

Pensamento plotiniano
Plotino realizou uma verdadeira refundação da metafísica clássica, desenvolvendo novas posições em relação a Platão e Aristóteles. Segundo Plotino, todo ente é tal em virtude de sua unidade. Retirada a unidade, retira-se o ente. Ora, há princípios de unidade em diversos níveis, mas todos pressupõem um princípio supremo de unidade, que ele denomina precisamente de Uno[2].
Segundo J. Moreau, em Plotino se encontra a glória, ou a cúpula da filosofia antiga, sendo o culminar de sua reflexão uma filosofia de unidade, da máxima abrangência do Uno[3]. A doutrina fundamental de Plotino é a das três hipóstases, isto é, das três substâncias, das três realidades eternas embora elas procedam umas das outras.
O maior empenho de reflexão filosófico-religiosa de Plotino é dirigido para o Absoluto e para as nossas relações com ele. A existência do Absoluto pode ser conhecida imediatamente, sem necessidade de demonstração. Que o Absoluto existe, vemo-lo de tudo o que vem depois dele, de todo o universo, que dele procede e por ele existe.
Por isso, os grandes pilares da filosofia de Plotino em torno do Absoluto, que ele chama Uno, são os conceitos de simplicidade e de transcendência. Tais conceitos exigem que se exclua do Uno qualquer qualidade positiva. Por este motivo, Plotino é considerado, com razão, o fundador da teologia negativa.
Plotino afirmou ainda que ao Uno não se pode atribuir nenhuma qualidade positiva porque isso implicaria em reconhecer-lhe composição e, consequentemente, em rebaixá-lo ao nível das criaturas. O Uno, diz Plotino, «não é alguma das coisas das quais é princípio, porque nada se pode predicar dele, nem o ser, nem a substância, nem a vida: ele está acima de todas estas coisas»[4].

AS TRÊS HIPÓSTASES
a)      O Uno. Plotino concebe o Uno como infinito. O Uno, portanto, está acima do ser e da inteligência, por sua infinitude. O Uno é actividade auto-produtora, absoluta liberdade criadora, causa de si mesmo, aquilo que existe em si e para si, o «transcendente a si mesmo»[5].
b)      O Nous ou inteligência. O Nous procede do Uno e torna-se o ser, o pensamento e a vida por excelência. É cosmos inteligível no qual o todo ecoa em cada ideia e no qual cada ideia se reflecte no todo. É o mundo da pura beleza, já que a beleza é essencialmente forma.
c)      A Alma. A natureza específica da Alma não consiste no pensar mas em dar a vida a todas as coisas sensíveis, ordenando-as, dirigindo-as e governando-as. A Alma, portanto, é princípio de movimento e também é movimento de si mesma. Ela é a última realidade inteligível, a realidade que confronta com o sensível, sendo causa ela própria. Assim, a alma tem uma função intermediária.
«O homem é fundamentalmente a sua alma»[6]. E todas as actividades da vida do homem dependem da alma. A alma é impassível, capaz somente de agir. A própria sensação, para Plotino, é um acto cognoscitivo da alma.
A missão própria da alma é restabelecer a unidade original das coisas, reduzindo-as todas ao Uno. As etapas de retorno da alma ao Uno são três: ascese ou catarse, a contemplação e o êxtase.
A ética plotiniana é ultra-terrena e transcendente pois defende que o fim do homem é Deus. Assim, a moral plotiniana, é radicalmente ascética: libertação, purificação da matéria, do corpo, do sentido. Os graus dessa libertação são representados, em linha ascendente, pelas virtudes éticas, dianoéticas ou arte e filosofia, culminando no êxtase.
A realidade suprema, o Deus de Plotino, é o Uno. A gnosiologia de Plotino é semelhante à de Platão, pela desvalorização da sensibilidade como aparência, opinião, com respeito ao pensamento. À razão segue-se o pensamento imediato, que é a auto contemplação do espírito pensante.

CONCLUSÃO
Plotino é o principal expoente do Neoplatonismo e a sua doutrina funda-se na teoria das três hipóstases: o Uno, o Nous e a Alma.
Enfim, o Neoplatonismo de Plotino afirma certa transcendência de Deus, em que este é imaginado como supra-inteligível, o Absoluto. Por isso, é inexplicável e pode ser atingido na sua plenitude unicamente mediante o êxtase, que é uma fulguração divina, superior à filosofia.


[1] B. Mondin, Curso de Filosofia, vol. I, Ed. Paulinas, S. Paulo, 19864, p. 126.
[3] C. SILVA, Plotino, in Logos Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, vol. IV, Editorial Verbo, Lisboa/S. Paulo, 1992, p. 271.
[4] B. MONDIN, Curso de Filosofia, vol. 1, Ed. Paulinas, S. Paulo, 19864, p. 127.
[5] G. REALE, D. ANTISERI, História da Filosofia, vol. I, Paulus, S. Paulo, 19903, p. 341.
[6] Idem, p. 347.

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