terça-feira, 23 de agosto de 2011

A MÁSCARA DESFEITA

Na viela da vida que percorremos, a cada passo dado, deixamos um cunho. A cada sujeito que nos deparamos, revelamo-nos duma ou doutra maneira. Contamos a seguinte história:
Certo dia, um homem ousou partir para muito longe. Ao longo da viagem, foi lidando com diversas personalidades das quais foi desmembrando a sua própria personalidade. Cada indivíduo que encontrava achava melhor e o tomava como modelo da sua conduta. Em todos os lugares que ia passando descortinava novos semblantes bonitos. E quando mais quisesse identificar-se com um determinado paradigma de vida desencontrava-se a si mesmo; quando mais desejasse formar uma amizade com novas belezas mais desprezava-se a si mesmo; questionou-se e reconheceu-se que não era ele, pois já estava revestido de identidades que não o identificavam.
Novo dia surgiu e os desafios aumentaram. Ele devia ter uma bagagem académica e não tardou de ingressar-se numa escola para ser moldado. Os anos passavam e nada o penetrava inteiramente. Seu coração estava apertado e sua vista apenas enxergava destruição. A perda de identidade e  a falta de orientação o dilacerava. Mentalmente percorreu inúmeras vezes o trajecto que fazia diariamente na insegurança de sua vida. Olhava que tudo estava desolado.
Desgraçado! Terminou o seu curso. Não aprendeu devidamente os procedimentos de sua carreira. No período de aulas acompanhava a carruagem dos outros e empoleirava-se no fingimento de que acatava bem a matéria. Agora é a hora da verdade!
Chegou o tempo de praticar o que teoricamente aprendeu. Nem ao menos um pedaço de alguma coisa se lembra como se faz. Aquilo que assumia como obrigação, agora tornou-se realidade necessária. Ninguém o obriga; faz e desfaz porque ninguém o proíbe nem pelo menos ouve. Diz ser autónomo. Está cego pela dor e desespero da máscara que usou ao longo da formação. Ou então é a raiva da desgraça que o sepulta. O cómodo era bastante pequeno e nele havia uma janela que dava para o mundo.
O homem acabou as jornadas do seu percurso vital. Agora está velho. Ele lembra que o tempo já não dá mais, tardou de fazer o devia ter feito. A angústia superabundou-lhe e o desencanto acompanha a sua velhice. Cada dia era um mar infinito de frustração e em cada rosto a que fitava o olhar descobria o vazio que construiu em seu estado activo. Dia inteiro consumia um pesadelo infindo e sempre escutava: “Agora não tens tempo para nada. O que deves fazer é vencer ou morrer na lama do pecado”. Tendo sido domado pelo terror do desgosto, o homem pereceu desapontado com sua máscara desfeita

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