quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A DEVOÇÃO MODERNA E TOMÁS DE KEMPIS


A devoção moderna tratada por Tomas de Kempis e uma viragem da história na Idade Média no referente a vivência religiosa. Para fazer face a diversas vivencias que em parte não tinham realidade entre os homens ou Irmãos de vida Comum, Tomás de Kempis escreve a Devoção Moderna. Nesta obra como veremos, os homens sentiram-se interpelados, mudando o seu estilo de vida aderindo-o.  Tomás mostra que a imitação, devoção a vivencia do amor eram sublimes que as discussões místicas. Ao invés de passar a vida discutir eram necessário que se imitasse a Cristo e se tivesse uma Devoção especial a qual devia se materializar no amor e nas Escrituras.

1.DEVOÇÃO MODRNA
1.1 Definição dos termos
a) Devoção
Vem do latim devovere, que significa oferecer consagrar. «É a disposição, diligência para servir a Deus no louvor, no culto e na oração; o seu sentido quase coincide com a piedade»[1].· Teologicamente, a devoção é uma atitude espiritual e necessária a todos os cristãos, visto que o fim primordial e último da vida é glorificar a Deus.

b) Moderna
A modernização é um processo de mudança social, pelo qual as chamadas sociedade tradicionais passam a ser chamadas modernas. A modernidade é oposição ao que é clássico, tradicional tem gosto pela novidade em diversos tempos sociais, como: político, religioso, cultural. Etc. Tem como principais características: a secularização, mentalidade técnico-científica, fé no progresso, consciência igualitária, tolerância e mentalidade capitalista-burguesa»[2].

1.2. A Devoção Moderna
A devoção moderna é uma corrente espiritual de piedade cristã que surgiu em oposição à vida monástica de então e às especulações místicas. Esta corrente surgiu em meados de século XV com objetivo de inventar uma vida espiritual intensa. Teve como protagonista Greet Groote (1340-1380), que s distinguiu pela eficácia das suas palavras e exemplo de vida, contestando os privilégios de que gozavam os mosteiros na altura. A figura amais célebre é de Tomás de Kempis, autor da obra “Imitação de Cristo”.
Muitos cristãos aderem-na e formam-se pequenos grupos compostos por homens e mulheres, como é o caso de Catarina de Siena (1347-1380) Insistiu muito na psicologia religiosa e como progredir na vida espiritual cristã. As obras deste tempo propõem a prática de exercícios espirituais. «É nessa época que começa a falar-se de Devoção Moderna, uma corrente que e estendeu até século XV»[3]. Segundo Mirceia Eliade, o fundador desta corrente não se interessava pelas especulações místicas. A devoção Moderna ostentava um cristianismo simples, generoso, muito tolerante e que não s afastava da ortodoxia caótica. Convidava os cristãos a meditarem nos mistérios da encarnação, a terem gosto pela eucaristia em vez de perderem-se em discussões místicas.
Alguns autores consideram esta corrente como a fonte das reformas humanistas, católicas protestantes. Steven Ozmnte dizia que: «a sua principal realização é a renovação do monaquismo tradicional às vésperas da reforma. A Devoção Moderna demonstrou o desejo de viver uma vida comunitária simples, de abnegação, imitando a Cristo e os apóstolos»[4].
As principais características desta corrente são:
·         Cristianismo prático, tendo Cristo como o centro da vida espiritual e a busca da imitação
·         Oração, dando mais ênfase ao exame de consciência.
«No século XVI, começa a desaparecer e dá lugar a outros movimentos como a reforma protestante»[5].

2. TOMÁS DE KEMPIS
2.1 Vida e obra
a) Vida
Tomás de Kempis ou Thomas Haemerkerm, nasceu na localidade de Kempterm, Renânia (Alemanha-Limburgo), na diocese de Colónia. O ano do seu nascimento é discutido entre 1379 e 1380,mas muitos preferem a primeira data. Morreu em 1441. Filho de John e d Gertrudes Haemrkem. Fez os estudos primários em Deventer, em 1392, nos Irmãos de Vida em Comum, onde aprendeu a arte de copista.
«Aos vinte anos, foi admitido como noviço no mosteiro dos cónegos regrantes do monte de Santa Inês»[6]. Aqui professou e foi ordenado sacerdote agostiniano em 1431. Foi escolhido como vice-prior do mosteiro e confiado como mestre de noviços. Homem de temperamento tranquilo e místico, consagrou a sua vida ao apostolado, à oração, à composição e cópias de livros espirituais. «Copiou numerosas obras antigas, depois escreveu bibliografias, uma crónica de história religiosa, obras ascéticas e de disciplina conventual»[7].

b) Obras
É autor de muitas obras como: Hortullos rosarum (que escreveu aos seus noviços; Decálogos Novitiorum (que escreveu aos seus noviços); Solilóquios; Livros de três tabernáculos; Boas palavras para ouvir e ler; Imitação de Cristo, a obra-prima do autor.

2.2. Imitação de Cristo
a) A Identidade do autor
 Houve dificuldades em conhecer o autor da obra. Uns atribuíam a um monge pelos dados de Irmãos de vida em Comum. Tudo porque na Idade Média interessava-se somente o conteúdo da obra que o autor, e como se lê: «Considera o que diz e não t preocupe de saber quem o disse»[8].
Com passar do tempo, atribuiu-se «a Santo António de Lisboa, Inocêncio III, Henrique de Kalker»[9]. Santo Inácio de Loyola a atribuía a João Gerson. Posteriormente, foi atribuída «a São Boaventura e S. Bernardo de Claraval, mas geralmente é atribuída a Tomás de Kmpis, encontrando-se em Bruxelas o manuscrito pela mão datado de 1441»[10].

b) Contexto e espírito com que foi escrita a obra
i) Contexto
A espiritualidade alemã do século XIV era muito abstrata e difícil de s compreender, perdendo-se em especulações místicas. Era espiritualidade agarrada ao misticismo da época. No final do século nasce uma espiritualidade mais afetiva, empírica não agarrada a um sistema, que propunha dar conselhos práticos de vida cristã, mas do que perder-se em discussões de mistérios de união mística. Expunha a sua doutrina em máximas curtas, e carregadas de significado. Este foi o ambiente em que surgiu a Devoção Moderna e a obra de Imitação de Cristo em que o autor escreve: «de que aproveitam as altas discussões sobre a Trindade, se te falta a humildade, e por isso desagradas a mesma Santíssima Trindade»[11].

ii) Espírito com que foi escrita a obra
O livro está marcado pela sequela Christi: «quem me segue não anda nas trevas» (Jo 8,12). Seguir Cristo é o assunto principal da obra. O autor não propõe a imitação concreta da vida e exemplo do Senhor, mas compenetrar o leitor do espírito de Cristo, dos seus sentimentos, fazendo-o saborear a Sagrada Escritura e os exemplos dos santos. Propõem ainda, o combate as exigências da natureza humana, para se deixar imbuir dos sentimentos de Cristo.
«A pretensão fundamental de toda obra é levar a natureza humana marcada pelo pecado, a submeter se à graça purificante de Cristo, para se converter em nova criatura, ou num outro Cristo»[12]. O autor vive do desejo de Deus e expande esse desejo em toda. Está convencido, intimamente, que o sentido profundo da vida só se pode encontrar no interior de cada um.

c) Divisão e conteúdo da obra
i) Divisão
A imitação de Cristo está dividida em quatros:
I. Avisos ou conselhos ou exortações úteis para a vida espiritual
II. Conselhos ou exortações a vida interior
III. Sobre a consolação interior
IV. Exortação à sagrada comunhão ou Santíssimo sacramento
Os livros estão divididos em capítulos e os capítulos em versículos. Possuem o mesmo estilo, mesma linguagem e terminologia, com uma doutrina uniforme.

ii) Conteúdo da obra
O autor não se interessa por seguir um método sistemático e rigoroso para expor a sua doutrina. Propõe um caminho de perfeição cristã que leva a união com Deus.
No primeiro livro, “Avisos úteis para a vida espiritual”, exorta o homem a cultivar a liberdade interior que é a pista humana e divina que Jesus traçou e os santos seguiram e que está aberto a todos os homens pela graça de Deus. Nada valem as discussões sobre a trindade se não fazemos a vontade de Deus, nem conhecer a Bíblia se não possuímos graça e o amor de Deus e só a Ele servir, pois «a suma sabedoria consiste em caminhar pelo desprezo do mundo, para o reino do céus»[13].
Tudo aquilo que desvia o homem da plena verdade (Cristo), é vaidade. Apela a um seguro para chegar a Deus. Apresenta a vida virtuosa não como autodomínio para vencer as paixões, mas como um modo de viver segundo Cristo, conforme o evangelho, renunciando-se a si mesmo como expressão de caridade, amor oblativo. Exorta aos religiosos que amem o silêncio e a solidão, porque é no silêncio e no recolhimento que a alma progride e apreende os segredos da Escritura. Os bens temporais nada valem ao homem interior porque enchem de preocupações, bastando apenas a mediana que a abundância. Diz o autor que «a vida sobre a terra é uma viradeira miséria […] e aflição para o homem piedoso, que bem deseja ver-se desligado e livre de todo o pecado»[14]. Termina apelando a emenda fervorosa de toda a nossa vida percorrendo com fervor o caminho da perfeição. E «duas coisas ajudam na perfeita emenda: afastar-se de tudo que a natureza viciosa se inclina, e trabalhar com fervor por alcançar a virtude de que mais necessitamos»[15].
O livro dois (2) fala dos “Conselhos sobre a vida interior”, tem como ideia principal: alcançar a amizade divina. No seu cômputo geral, fala da união com Cristo, a nossa sabedoria cristã e a liberdade interior.
A união com Cristo nos coloca em contacto íntimo com Deus. Não confiemos aos homens porque depressa mudam e facilmente se desviam do verdadeiro caminho que nos une adeus, mas Cristo nos assiste e permanece eternamente naquele que se une com Ele. «Ele visita frequentemente, o homem interior, fala-lhe suavemente, consola-o deliciosamente, concedendo-lhe paz abundante, e entretêm-se com Ele numa familiaridade excessivamente maravilhosa»[16]. Vislumbra o puro amor daquele que se ocupa de Cristo: «Se uma vez entrassem bem no interior de Jesus, saboreasses um pouco do seu ardente amor, nada te importaria do que te agrada ou contrária, sentirias a mesma alegria comas injúrias que recebes, porque o amor de Jesus leva o homem ao desprezo de si mesmo»[17].
A sabedoria cristã diz que é pela abnegação de si mesmo que o homem alcança a sabedoria. «Verdadeiro sábio é aquele que avalia as coisas pelo que elas são e não pelo que delas se diz»[18]. A sabedoria cristã se exprime na prática das virtudes cristãs, desconhecidas da sabedoria natural dos homens. O bom cristão não se escandaliza facilmente, cultiva a simplicidade e a pureza.
A liberdade interior faz com que se renda a Deus toda a sua glória. A renúncia não deve ser só interior mas de toda a consolação humana e divina. «Os que amam a Jesus por Jesus, e não por alguma consolação própria, tanto o bendizem nas tribulações e angústias interiores como na abundância das consolações»[19]. Nos últimos capítulos vem bem vincada a necessidade da incorporação em Cristo crucificado por meio da sua cruz: «não há outro caminho para a vida e para a verdadeira paz interior senão o caminho da santa cruz e da mortificação»[20]. Este é caminho também para chegar a Deus, pois o sofrimento por amor de Cristo é o que mais agrada a Deus neste mundo.
O terceiro livro tem o tema “sobre a consolação interior”. Começa por elogiar a alma que escuta o Senhor e recebe as palavras de consolação. Explica detalhadamente o amor e a graça. É uma espécie de diálogo íntimo entre a alma com Cristo por meio da experiência vivida. «Falai-me para a consolação da minha alma, emenda toda a minha vida, para honra, louvor e glória eterna do vosso nome»[21]. Desvenda o caminho duma ascensão para Deus por meio do desprendimento penoso dos laços de pecado e o abandono amoroso nas mãos de Deus.
O autor é um homem que tende para Deus com todo seu ser, deseja ser admitido a contemplação da face de Deus, ao qual anseia que esteja presente em tudo. A terra é algo pesada que sempre lhe coloca frente a dificuldades que o corpo lhe proporciona. Por vezes, parece entrar em crise, pois, a sua alma suspira por Deus, mas sente-se desviada por um mundo de sensações a que dificilmente consegue resistir, mas não se perturba com que os homens pensam dele. Ao suspirar a união com Deus, conhece a sua imaturidade contemplativa e tem consciência das provas que deve passar para se purificar. Mas tem confiança em Deus e abandona-se n´Ele. Necessita da graça de Deus para vencer o mal. Diríamos que a regra de ouro deste livro é: «Quanto mais, conseguires sair de ti mesmo, tanto mais te aproximarás de mim»[22]. O desprendimento total de nós leva à união com Cristo.
O quarto livro difere um pouco dos primeiros três, logo à vista. Basta ver o título: “Exortação à Sagrada comunhão.” Mas este constitui o fim último da obra, depois de percorrer o caminho da perfeição, abnegação interior e o diálogo com Cristo, o discípulo se une ao Cristo na Comunhão do Sacramento. Este sacramento central de fé é percebido melhor pelo amor que nasceu no coração de Cristo.
No santíssimo sacramento, de fé firme, esperança viva e verdadeira caridade, estão presentes os frutos de salvação. «No santíssimo Sacramento do altar, estás todo presente, ó Cristo Jesus, verdadeiro homem; e todas vezes que Vos recebem os dignam e devotamente, recolhemos em abundância os frutos da salvação eterna»[23]. Neste sacramento, manifesta-se a grande bondade e caridade de Deus para com o homem. A comunhão frequente faz alcançar a salvação e redenção, a fortaleza e esperança, honra e glória. E quem comunga devotamente recebe muitas graças divinas: «Muitas graças concedestes e concedeis ainda todos os dias neste sacramento aos vossos predileto que comungam com fervor, ó meu Deus»[24]. Por meio deste sacramento, o sacerdote foi concedido, um poder que é o de consagrar e tocar o sacramento antes da comunhão e se faça um exame de consciência com o propósito de emenda.
Para receber a Cristo, é preciso que se prepare com grande diligência, porque Ele é amigo da pureza e fonte de toda a santidade. «Se queres que venha a ti, fique contigo, purifica-te do fermento velho limpa a morada do teu coração»[25]. Uma alma verdadeiramente devota deve desejar com todo o coração unir-se sempre a Cristo na comunhão do seu Corpo e Sangue. A alma de possuir um amor ardente de desejo de receber a Cristo: Oh! Meu Deus, amor eterno, todo meu bem, felicidade interminável! Desejo receber-vos com aquele veementíssimo desejo e aquela perfeitíssima reverência, que algum dia sentiu, ou pode sentir algum dos vossos santos»[26]. Não existe uma maneira mais sublime de se unir a Cristo se não comungar todos os dias a sagrada comunhão.  

3. APRECIAÇÃO
Depois de muito tempo em que a Igreja estava perdida em discussões místicas, aparece a Devoção Moderna como espécie de reviravolta e revolucionou a vida cristã, pois, muitos cristãos a aderira. Nesta corrente espiritual destaca-se Tomás de Kempis com a sua obra Imitação de Cristo, dando vigor a este movimento que era vivido pelos Irmãos de Vida em Comum. A sua influência se estendeu até ao século XVI, sendo que Santo Inácio o tinha como livro de cabeceira e sempre o lia para a sua meditação. Era recomendado a muitos religiosos por causa da sua riqueza espiritual. A ideia principal da obra é o seguimento de Cristo por meio da purificação, abnegação e união com Ele na Sagrada Comunhão.




CONCLUSÃO
Constatámos no presente trabalho, que Tomás de Kempis, era um homem propenso a reflexão, crítica e materialização dos aspetos vitais em voga. Dai que afirmara ele que não valia a penas ter discussões brilhantes sobre mística ou de Santíssima Trindade se não se sabe amar e não se imita a Cristo nos seus passos. Dai que com a sua obra Tomás acaba sendo u m grande modernista, tal como reformador da vivência cristã. Certamente a sua obra vai ser despertadora dos sentimentos humanitários na realização da Palavra de Deus e não soo em discussões. Com a mesma obra em partir a vida monacal observa novos rumos e o Cristianismo vai reformar o seu pensamento e vivência quer os católicos e quer os protestantes.

Bibliografia
FLORITAN C., J.J Tamayo, et all, Dicionário de Pastoral, Ed. Perpetuo Socorro, Porto.
COMBY, Jean, Para ler a História da Igreja. Das Origens ao século XV, Ed. Loyola, São Paulo, 20013.
Imitação de Cristo, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto 20007.

THIOLLIER, Marguerite-Marie, Dicionário da Religiões, Editorial Perpétuo Socorro, Porto.
WWW. Sophia. Ben-vindo.net. org/devoção moderna. 18-o4-2011. 20:16.


[1] Floristam, J.J. Tamayo, et all, Dicionário de Pastoral, Ed. Perpétuo Socorro, Porto, p.175ª.
[2] Ibidem,p. 358ª.
[3] Comby, Jean, Para ler a História da Igreja. Das Origens ao século XV, Ed. Loyola, São Paulo, 20013 p.182.
[4] WWW. Sophia. Ben-vindo.net. org/devoção moderna. 18-04-2011. 20:16.
[6] Imitação de Cristo, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 20007.
[7] Thiollier, Marguerite-Marie, Dicionário das Religiões, Editorial Perpétuo Socorro, Porto.
[8] Imitação de Cristo, I.c. 5,1
[9] Ibidem, p.11.
[10] C. Floritan, J.J Tamayo, et all, Op cit, p. 175ª.
[11] Imitação de Cristo, I.c.1,3.
[12] Ibidem, p.18.
[13] Ibidem, I.C.1,3.
[14] Ibidem. C.12,2.
[15] Ibidem, I.c.25,4.
[16] Ibidem,II.c.1,1.
[17] Ibidem,II, c.11,7.
[18] Ibidem, II.c.1,7.
[19] Ibidem,I.c.11,2.
[20] Ibidem,II.C.12,2.
[21] Ibibem,III.c.2,3.
[22] Ibidem,III:c.56,1.
[23] Ibidem, IV. c, 3.
[24] L.c.
[25] Idem, IV.c.12, 1.
[26] Idem, IV.c. 17, 1.

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