terça-feira, 25 de setembro de 2012

FICHA DE LEITURA, A ESPERANÇA DO MUNDO

Introdução


Ao expormos o resumo deste tema: “A esperança do mundo” do capítulo III da obra de Charles H. Dodd intitulada “A mensagem de São Paulo para o homem de hoje”, procuraremos esboçar o perfil da filosofia histórica que pode ser muito bem identificada nos escritos de Paulo de modo particular na carta aos Romanos e este elemento é bastante significativo. Esta carta é o manifesto do plano missionário de Paulo que por sinal foi escrita no auge da sua actividade, por isso se chama a carta da maturidade, e com o intuito de uma visita em breve a Roma. Daí que era necessário que os romanos tivessem de antemão alguma compreensão da filosofia da história com a qual Paulo se orientava na sua actividade missionária e com isso para que pudessem apreciar os objectivos e os princípios que norteavam a pregação do evangelho cristão por todo o mundo romano. Do ponto de vista de Paulo “a esperança do mundo” consistia na concretização da comunidade divina e, na sua fé em Cristo, sabia o segredo da sua realização, por isso mesmo era um missionário.



A ESPERANÇA DO MUNDO

Leibniz, filósofo francês afirmava: «este mundo tal qual se apresenta, é o melhor dentre todos os mundos possíveis». No entanto, a modo de ver de Paulo este mesmo mundo trazia consigo as marcas do fracasso e da imperfeição por isso alguns o conotam como um pessimista. Porém, ele acreditava que não ficaria assim ou então que Deus quisesse que assim permanecesse. Paulo afirma que o mundo inteiro está gemendo e sofrendo as dores de parto; cheio de sofrimento e condenado à caducidade. Estas palavras evocam fielmente essas impressões fúteis que o mundo, em mudança e em decomposição, trazia à mente de Paulo. O homem é também parte da natureza e compartilha da sua herança de sofrimento e esforço contrariado (p. 29).

Mas não é o fim de tudo. Para além de tudo isto existe uma ansiosa expectativa. Uma certa atitude de olhar em frente e ficar a espera de algo glorioso que o libertará da escravidão e dará um sentido às suas angústias. É um mundo triste, mas expectante; submetido à caducidade, mas salvo pela esperança; vivendo as dores de parto, mas destinado à glória. A maneira de ver o mundo de Paulo corresponde a uma visão moderna de um mundo no qual há a efectivação do movimento e do desenvolvimento. A dor e o fracasso caracterizam a natureza do homem mas sentimos que o mundo aguarda alguma coisa de tendência ascendental. E a tal respeito acreditava que o destino do mundo estava na mão do homem (p. 30).

Sobre o seu corpo e sobre outras partes do universo físico, o pensamento do homem e a sua respectiva acção trabalham benéfica e destrutivamente conforme a sua escolha. Mas se o homem em si mesmo pudesse ser diferente, se a sua própria vida fosse alterada pela consecução de relações justas e direitas com Deus e com o seu semelhante, o seu papel no mundo em que vive poderia ser mais benéfico do que podemos facilmente imaginar. Paulo acreditava que o universo aguardava pela intervenção do homem para atingir, por seu intermédio, a mais alta esfera espiritual (p. 31).

Quando Paulo fala da “emancipação” do mundo muitos pensadores entenderam uma nova terra no sentido literal. Até porque podia ser. Mas o importante é entender que não se trata duma mudança entendida como um acidente e sim que diz respeito às relações humanas o que naturalmente teria de ser paulatinamente (p.32).

Paulo viu o mundo em dois grupos opostos: a sua própria nação (judaica) e a sociedade pagã, ou seja, o Império Greco-romano. Para ele, o Império estava cheio de vícios e injustiças. Porém, mesmo no mundo pagão Paulo reconhecia um conhecimento natural de Deus; um conhecimento instintivo do bem e do mal (Rm 2,14-15). O seu sistema político visava a reclamação do direito e a supressão da injustiça (cf. Rm 13-16). Viu também que um grupo da humanidade tomou um rumo errado tão decisivo que a cada passo que dava mais se afastava de Deus e a luz que nele havia se mudara em escuridão e Deus teria os abandonado à sua sorte (p. 33).

Na sua carta aos Romanos, Paulo condena veementemente a corrupção do mundo pagão. Num mundo no qual a pregação não correspondia com a vida que os próprios pregadores levavam rebaixando assim o nome de Judeus (estes acreditavam ser, no mais absoluto sentido, o povo escolhido de Deus) com a sua hipocrisia. Criam num Deus ausente que não participava nos problemas do mundo. O pensamento pagão era dominado pelo fatalismo fundado na superstição popular que acreditava que o destino do homem era governado pelas suas estrelas. O indivíduo nascia com um futuro irrevogavelmente traçado (p. 34). Paulo, porém, sustentava que Deus sempre e a qualquer idade se relaciona pessoalmente com os homens como foi com Abraão, Isaac e Jacob e outros. E por fim, através do Seu Filho Jesus que, por seu intermédio, acolheu à “filiação adoptiva” uma multidão do seio das nações (p. 35).

E, se alguém podia crer que o seu destino não era decidido por influência da lei mecânica, e sim que a vocação divina era acto de soberano poder, daria um novo sentido de segurança e estabilidade diante de todas as forças hostis. É neste fundamento que Paulo usa o argumento da predestinação (cf. Rm 8,28-29). O homem, numa confiança singela em Deus dá plena liberdade aos seus actos ao desígnio divino.

Paulo via o desfecho da história e do passado nos seguintes termos: no mundo pagão havia alguns indivíduos que cumpriam a vontade de Deus tal como lhes foi revelada mas que eram incapazes de formarem uma comunidade verdadeira. Em Israel havia uma teocracia formal mas que não foi capaz de realizar qualquer coisa por Deus na vastidão do mundo (p. 37).

Com a Ressurreição de Cristo Paulo afirmava ter iniciado uma nova era. A escuridão cedeu lugar à luz (cf. Rm 13,12-13). Tanto do seio de Israel como do seio do mundo pagão, Deus estava convidando seus filhos a uma verdadeira vida comunitária, mediante a qual o mundo havia de salvar-se. O drama histórico da morte e ressurreição de Cristo lançara clara luz sobre os ocultos desígnios de Deus, unindo os homens fiéis, de todas as nações e classes, em uma firme comunidade livre e poderosa para executar a vontade de Deus.

Assim começava a nova era. Essa era uma crença fundamental de todos os cristãos primitivos. E agora eram os novos habitantes de um novo mundo. Tinham plena certeza de que forças novas haviam entrado neles, e que o desígnio divino estava abrindo caminho para atingir o mundo nas suas maiores dimensões e eram animados por uma esperança viva (pp. 38-39).

Antes de Cristo a humanidade estava desintegrada e a partir da vinda de Cristo começa-se um processo de reintegração da raça, a inclusão dos rejeitados e a obtenção da unidade final para tudo o que existe, na soberania levada à sua perfeição definitiva, o Reino de Deus (pp. 39-40).



Conclusão

Nos dias que correm tende a desaparecer a imagem apocalíptica dos primeiros dias do cristianismo, porém, há um interesse particular no crescimento e na edificação da comunidade divina. E a Igreja na tentativa de resgatar essa imagem e salvar o mundo, procura penetrá-lo no seu interior para dele resgatar os filhos de Deus em nome de seu Pai. Uma tarefa que nem sempre tem sido fácil. No entanto, ela vê-se impelida e, para cada vez mais longe nessa busca, obrigada pelo amor de Cristo, reconciliando, libertando, incluindo na sua universal fraternidade todos os homens sem acepção de ninguém, procurando integrar todos em Cristo.



Bibliografia

DODD, Charles Harold; A mensagem de São Paulo para o homem de hoje; Paulinas; São Paulo 1981.

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