terça-feira, 25 de setembro de 2012

A PRIMEIRA EVANGELIZAÇÃO DO SUDÃO MERIDIONAL

Introdução
            Neste trabalho queremos fazer uma abordagem sobre a primeira evangelização do Sudão Meridional; Comboni e as missões em Kordofan. Esta evangelização, resultante do facto de tantos africanos estarem a ser escravizadas e da esperança de que a antiga cristandade da Etiópia pudesse servir de portão de entrada para o interior havia uma terceira voz, mais misteriosa, vinda do coração de África, que chamava por arautos da mensagem salvífica de Deus.[1] 

1.                  A primeira Evangelização do Sudão Meridional
Do facto de tantos africanos estarem a ser escravizados e da esperança de que a antiga cristandade da Etiópia pudesse servir de portão de entrada para o interior, havia uma terceira voz, mais misteriosa, vinda do coração de África, que chamava por arautos da mensagem salvífica de Deus.
Na África do sul houve pelo menos um missionário que fugiu da vizinhança dos estabelecimentos brancos e voltou o seu rosto para a terra incógnita, as terras desconhecidas do interior; esse homem era David Livingstone.[2]
Na mesma época em que Livingstone deu os seus primeiros passos para o interior do Botswana, havia no lado oposto do continente um homem, completamente desconhecido, que concebeu o corajoso plano de ir directamente até ao coração de África e iniciar uma missão para lá do Sara. Tratava-se do Cónego Annetto Casolani, de Malta.       
1.1.            A criação do vicariato a partir de África central e o papel do bispo Casolani
            Em 1846, por insistência de um sacerdote de Malta, Annetto Casolani, ex-aluno do Colégio da Propaganda, que, por sua vez, fizera investigações sobre África, a Sagrada Congregação de Propaganda Fide (a organização pontifícia que dirigia a actividade missionária no mundo) criou o vicariato apostólico da África central, confiando-o à responsabilidade directa de D. Casolani, consagrado bispo em Roma com essa finalidade. [3]
            O vicariato compreendia uma imensa zona, que ia desde o Sara até à linha do equador. Na hora da partida, D. Casolani, por divergências de opinião com os outros membros da expedição, renunciou ao cargo de vigário apostólico, e viajou como um mero membro da comitiva, chefiada pelo jesuíta polaco Maximiliano Ryllo. Nesta expedição encontrava-se também o Pe. Ângelo Vinco. Hoje, para viajar de Roma até Cartum, bastam cinco horas de vôo, mas aqueles primeiros missionários precisaram de três meses de canseiras, aventuras e peripécias só para o trajecto do Cairo até Cartum. Quatro meses depois da chegada à cidade dos dois Nilos, em 1848, o Pe. Ryllo morreu de diarréia e febres contraídas durante a viagem.[4]
            As primeiras tentativas de evangelizar o Sudão haviam sido levadas a cabo no século VI. Os missionários enviados de Constantinopla conseguiram converter ao cristianismo numerosos sudaneses e fundaram na região da Núbia (entre o Egito e Cartum) três reinos cristãos, que floresceram durante dez séculos, decaindo mais tarde devido a pressões externas dos muçulmanos e às discórdias internas dos cristãos.
            Quando os missionários do Colégio da Propaganda Fide chegaram a Cartum, no dia 11 de Fevereiro de 1848, o Sudão, conhecido pelos geógrafos da Idade Média como “Terra dos Negros”  (Bilad es-Sudan), compreendia as regiões setentrionais habitadas pelos árabes e pelas tribos arabizadas. Estava separado das regiões tropicais por mil quilômetros. Aí viviam numerosas tribos negras, que só se podiam atingir subindo o rio Nilo. O clima demasiado quente era seco no Norte, por causa do deserto, e húmido no Sul devido às impenetráveis florestas e pântanos. Os habitantes do Sul morriam como moscas, vítimas da desnutrição, do paludismo e de outras doenças tropicais e, mais ainda, pelas constantes investidas dos negociantes de escravos, favorecidas pelos europeus sem escrúpulos, pela crueldade dos chefes locais e pela falta de comunicações.
             A primeira expedição missionária, chefiada por D. Ryllo, fracassou totalmente. As agruras do clima e do ambiente, a impossibilidade de receber ajudas da Europa, atormentada pelas famosas revoluções de 1848, obrigaram os missionários a regressar com urgência à sua pátria em busca de ajudas e iniciativas mais apropriadas.
1.2.             Padre Knoblecher, o missionário que é continuador da missão
Depois de ter tomado conta da estação missionária de Cartum e com isso da escola feminina, que viu aumentar o número das que a frequentam e que provi de professores e professoras, a minha tarefa mais urgente era fundar uma nova estação missionária em El-Obeid, a capital do distrito do Cordofão. Também esta se encontra já em plena actividade e tem o número necessário de sacerdotes e de professoras. Agora estou prestes a erigir uma filial da estação do Cordofão em Gebel Nuba e assim propagar o mais possível o Cristianismo entre as tribos negras para cumprir quanto possível a tarefa que corresponde à missão. Mas para isto necessita-se não só de recursos humanos (pessoal) mas também e especialmente meios pecuniários. [5]
Digne-se ter em conta o ilustre comité que a comida em Cartum e no Cordofão custa o dobro que na Europa, que, à excepção da carne, o café e o sal, os produtos alimentícios quadruplicam aqui o preço europeu, que hoje em dia viajar em África sobe para o dobro do que custava nos tempos do pro-vigário apostólico Knoblecher e que o aluguer de uma embarcação fluvial, que antes andava pelas cem piastras, agora ascende a 180. Por outro lado, agora há em Cartum dois estabelecimentos, um masculino e um feminino, e outros dois em Cordofão e todos devem ser providos, ainda que limitadamente, de víveres, vestuário, quartos, mobiliário, ferramentas e utensílios de artes e ofícios, de agricultura e também é preciso abastecê-los de remédios. Considerando tudo isso, esse ilustre comité compreenderá que, com o escasso pecúlio que tinha à minha disposição, houve que fazer gincanas na economia para poder realizar tanto trabalho.[6]
2.                  A primeira missão

 Comovido com as grandes façanhas daqueles missionários e cristãos, sentiu nascer no seu coração a vontade de consagrar a sua vida à evangelização do Japão. Mas Deus já lhe tinha preparado outro campo de trabalho, mais perto geograficamente, mas não menos difícil: a África central. Em Janeiro de 1849, chegou a Verona, regressando da sua primeira e difícil experiência africana, o Pe. Ângelo Vinco, um missionário de 30 anos, ex-aluno do Instituto Mazza. Tinha partido três anos antes com dois jesuítas, um sacerdote esloveno do Colégio de Propaganda Fide, de Roma, e um bispo já emérito, para iniciar a missão da África central, a mais vasta e, talvez, a mais arriscada do mundo

2.1.            Padre Vinco, o precursor.
            Frequentemente, julgamos irreparáveis certas derrotas, porque não nos lembramos que Deus pode utilizá-las para realizar os seus projetos de salvação. Se o Pe. Ângelo Vinco, em Janeiro de 1849, não tivesse sido obrigado a regressar à pátria devido aos acontecimentos e para pedir ajudas, provavelmente Daniel Comboni nunca teria sido o grande apóstolo da África que nós hoje recordamos. E também não teríamos os institutos missionários fundados por ele, que presentemente contam mais de 4300 membros, entre sacerdotes, irmãos, religiosas e seculares, presentes em quatro continentes, para anunciar aos pobres a Boa Nova do Reino. Os dois meses que o missionário passou entre os jovens alunos do Instituto Mazza foram suficientes para suscitar uma forte onda de entusiasmo e para orientar decididamente Daniel Comboni para a África.
            O Pe. Ângelo Vinco regressou ao Sudão para aí morrer com apenas 33 anos, entre os indígenas da tribo Bari, enquanto se preparava para uma expedição até ao Sul. Convencido de que para o missionário não basta uma formação espiritual e cultural normal, Daniel começou a disciplinar melhor o seu caráter e a plasmar o seu coração numa linha de profunda generosidade e caridade. Com este empenho de dedicação total à promoção humana e à salvação espiritual dos povos mais «necessitados» (é uma palavra que se encontra frequentemente nas suas cartas), Daniel foi ordenado sacerdote aos 23 anos, na catedral da cidade de Trento, no dia 1 de Janeiro de 1854. Os conselhos de um exímio conhecedor de almas, o Pe. João Marani, acabaram com as últimas dúvidas sobre a sua vocação missionária. Em 1855, enquanto esperava ansiosamente que se realizasse o seu desejo, eclodiu a cólera nos arredores de Verona. O Pe. Daniel obteve dos seus superiores a autorização para assistir os doentes da aldeia de Buttapietra, situada a poucos quilômetros da cidade, passando dias e noites nesse trabalho. Para estar sempre preparado para qualquer necessidade, dormia num banco. Diz-se que um dia, encontrando-se em casa de um doente muito pobre, que nem sequer tinha um retalho de pano para as ligaduras, o Pe. Daniel rasgou um pedaço da sua camisa e com ele socorreu o doente.[7]

2.2.            Knoblecher e o “Stella Matutina”
Knoblecher regressou a Cartum, em Dezembro de 1851, tendo subido o curso do Nilo, desta vez, no seu próprio barco, o Stella Matutina. Este barco seria o indispensável meio de comunicação com as missões do sul. Essa região tinha, entretanto, sido amplamente explorada pelo padre Vinco, o único que restava do primeiro grupo de missionários.
Durante uma viagem de catorze meses, Vinco tinha feito amizade com vários grupos étnicos e bem poderia ter sido o primeiro europeu a ver o lago Vitória, se não tivesse sido impedido, por guerras tribais, de penetrar mais para sul. O seu conselho, Gondokoro, o estabelecimento central da tribo Bari, foi escolhido para a fundação do primeiro posto avançado da missão (1852).
Porém, esses belos planos tombaram em ruínas: os obstáculos a que se devia fazer face revelaram-se inabaláveis. O principal inimigo era o clima assassino. Ano após ano, no total seis vezes, Knoblecher no seu Stella Matutina fazia a longa viagem de Cartum para Gondokoro, trazendo novos missionários.
3.                  Comboni    
            O Pe. Daniel, de 26 anos, com 1,75 metros de altura, corpo de atleta, dois olhos vivazes que falam primeiro que os seus lábios, envia uma fotografia a seus pais em que escreve as palavras de Jesus: Quem amar o pai e a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim. Dona Domingas, apertando entre as mãos a última lembrança do filho, beija-a chorando: Senhor, de oito filhos que me deste, resta-me só este e de papel. Daniel era, de fato, o único filho sobrevivente; os outros tinham morrido em tenra idade. [8]
            O missionário que se despede de sua família para anunciar aos povos distantes o Evangelho de Jesus pode parecer duro e sem coração. Na realidade, poucos como ele amam seus pais com um carinho especial, sublimado e enriquecido pela graça. Adeus querido pai, adeus querida mãe  escreve o Pe. Daniel ao iniciar a sua primeira aventura missionária, vós estais e viveis sempre no meu coração. Eu amo-vos e estimo-vos muito, pois soubestes realizar uma obra heróica que os grandes e os heróis do mundo não sabem cumprir... Este filho, que era todo o vosso patrimônio na Terra, consagraste-lo completamente a Deus, não reservando para vós mais que o perene sacrifício do seu afastamento e até a sua perda por amor de Jesus Cristo. Chegado à sua missão, o Pe. Daniel escreverá à sua mãe: Oh, se visses a miséria que há nestas paragens! Se tivesses cem filhos, dá-los-ias todos a Deus... Sim, querida mãe, és sumamente querida a Deus; e eu vanglorio-me de te ter como mãe.[9]
3.1. Planos e preparações
            Comboni foi convidado a participar no Concílio Vaticano I como teólogo do bispo de Verona e teve a felicidade de ver o seu «pedido para a redenção da África» assinado por mais de 200 bispos. Alguma coisa começava a mover-se na Igreja e no mundo em favor da África. Em Maio de 1872, a Propaganda Fide decidiu confiar ao Instituto Missionário de Verona, fundado por Comboni, o vicariato apostólico da África central, nomeando Comboni como responsável, com o título de pró-vigário apostólico. Se, por um lado, esta decisão se podia considerar com um prémio para as muitas canseiras e sofrimentos, por outro, representava uma séria responsabilidade para a família missionária comboniana. O rito comovente da despedida do primeiro grupo de missionários teve lugar em Verona na capela do Paço Episcopal. Depois de uma viagem atribulada de 99 dias, a caravana dos missionários chegou a Cartum, que estava em festa pela chegada do novo pastor.
            A viagem do Cairo até Cartum pode fazer-se hoje em poucas horas de avião. Nos tempos de Comboni, a caravana, composta por 50 camelos, gastou três meses. Às duas da madrugada montava-se nos camelos e viajava-se durante 10 horas por dia debaixo de um sol que superava os 50 graus centígrados. O único alívio durante essas longas viagens era um pouco de água quente e fétida, conservada nas «ghirbas» de couro.
            Durante uma dessas viagens, o camelo em que Comboni seguia assustou-se ao ver uma hiena e atirou-o ao chão, obrigando-o a parar durante alguns dias. De noite, enquanto os outros dormiam deitados nas esteiras, Comboni retirava-se e, à luz de uma vela, ia rezando o breviário. Contam que um dia, faltando-lhes a água, os companheiros de viagem pediram a Comboni que não os deixasse morrer à sede. Cheio de confiança em Deus, Comboni pôs-se a rezar; depois fez um buraco na areia com o seu bastão e logo brotou uma fonte de água.

3.2.             Daniel Comboni e o plano da regeneração da África
       A atividade episcopal de D. Daniel Comboni no Sudão durou apenas quatro anos, marcados por acontecimentos trágicos, que consumiram a sua saúde e o levaram prematuramente à morte. Novas desventuras ameaçavam os povos do Norte e do Sul. Após uma terrível seca sobreveio a carestia.
        Nos primeiros tempos conseguia-se encontrar, embora com dificuldade, um pouco de farinha, pagando-a vinte vezes mais cara. Muita gente só comia ervas secas. Alguns, não tendo nada para comer, chegaram a alimentar-se com excrementos de camelo. Pagavam a água por um preço altíssimo e para a conseguir tinham que andar muitas horas debaixo de um sol abrasador. Após dez meses de seca, o céu cobriu-se de nuvens, mas as chuvas foram tão violentas que destruíram as cabanas da gente, obrigando-a a ficar à mercê da intempérie dia e noite, torturada pelo sol e por uma unidade mortífera.
       Acabaram-se todas as provisões alimentares e o dinheiro que tínhamos,  escrevia Comboni do Sudão, e vemo-nos obrigados a fechar a porta a tantos pobres e infelizes que nos pedem um pedaço de pão. Calcula-se que metade da população morreu de fome, sede, peste e outras doenças. Pobre Comboni! O seu coração generoso estava desolado perante a impossibilidade de socorrer tantas misérias. Para agravar as tribulações contribuíram sacrifícios ainda mais penosos: foram oito as vítimas de uma doença fatal entre sacerdotes, leigos e religiosos O explorador italiano Pellegrino Matteucci fazia o seguinte comentário, em Janeiro de 1879: «Escrevo e choro. Dos missionários de Cartum, só Daniel Comboni sobrevive.»[10]
3.3.            Kordofan e as terras em redor

            O físico robusto do vigário apostólico encontrava-se já seriamente desgastado por tantos sofrimentos. Ao regressar, em Julho de 1881, de uma longa viagem de El-Obeid, aonde fora visitar as missões do Kordofan, uma forte tempestade, que durou toda a noite, apanhou-o no caminho, obrigando-o a parar e a descansar durante cinco horas deitado num colchão ensopado em água. A mesma sorte coube aos companheiros.
            Quando aprouve a Deus, chegou a Cartum, mas as febres, a insônia, a falta de apetite e outras doenças acabaram com ele. Aos sofrimentos físicos juntaram-se as dores morais, não menos penosas, tais como a morte repentina de missionários e religiosos, o abandono de alguns colaboradores receosos de uma trágica situação. As febres atormentaram o bispo durante três dias. Uma grande dor lhe causou a morte repentina do Pe. João Fraccaro, um sacerdote que ele trouxera para ser seu vigário-geral. Comboni tentava confortar os outros, mas a sua voz era débil e tinha os olhos cansados.
            Depois de uma noite sem dormir, com as escassas forças que lhe restavam, levantou-se, arrastando-se pela casa para consolar os missionários; mas a febre obrigou-o a voltar à cama. Às oito horas da noite, devido à febre, começou a sentir calafrios. Erguendo a mão em atitude de bênção sobre todos os seus filhos, confortou-os dizendo: Não temais, eu morro mas a minha obra não morrerá.
            Entrando em agonia, pelas dez horas da noite exalava o último suspiro. Era o dia 10 de Outubro de 1881. Nessa mesma noite, uma grande cruz luminosa foi vista a brilhar no céu de Limone na direção da África. No dia seguinte, foi celebrado o funeral com grande solenidade, com a participação das mais altas autoridades do país, dos cônsules europeus residentes em Cartum e uma multidão incontável de pessoas de todas as classes sociais e religiosas, que vieram manifestar a sua amizade e gratidão ao grande «Mutran es-Sudan» (bispo do Sudão). O corpo de Daniel Comboni foi enterrado no jardim da missão, junto do túmulo do Pe. Maximiliano Ryllo, a primeira vítima da Igreja no Sudão. Ao receber a notícia da morte de Comboni, o Papa Leão XIII exclamou: Pobre África, que perda tão grande tiveste! «Comboni, escreveu um historiador da missão da África central,  foi um homem de grandes capacidades, de corpo atlético, cor bronzeada, de olhos castanhos, cabelos escuros, barba comprida, olhar penetrante e meigo, fronte espaçosa e serena, voz robusta.
            No seu modo de proceder e de estar era nobre e quase majestoso, ao mesmo tempo que era muito afável nos gestos e nas palavras. Dotado pela natureza de um grande dom da palavra, na linguagem familiar possuía um grande sentido de humor, mas quando começava a falar dos negros, da África, da sua obra, inflamava-se extraordinariamente e discorria com tal impetuosidade e convicção, que se conseguia escutá-lo durante longas horas sem se cansar.  Simples como as crianças, não era capaz de mentir nem de dissimular. Por isso, enganaram-no muitas vezes, mas ele nunca enganou ninguém. Falava italiano, francês, alemão, inglês, espanhol, árabe e algumas línguas africanas. Escreveu muito sobre os problemas da África e muito mais tencionava escrever.»[11]

3.4.            Impacto de missionação de Comboni

            A característica da vocação missionária de Comboni foi o amor ao sofrimento, aceite com alegria pelo Reino de Deus: Para levar a cruz de Cristo até ao Centro da África escreveu ele numa carta, temos de sofrer, ser desprezados, ser caluniados, condenados talvez e… morrer, porque as obras de Deus são marcadas pela cruz... eu sou feliz na cruz, que, levada com alegria por amor a Jesus Cristo, gera o triunfo e a vida eterna.
            Para premiar as suas grandes canseiras e reparar a sua honra ultrajada pelas calúnias dos inimigos os santos têm muitos amigos, mas frequentemente também inimigos, o Papa Pio IX concedeu-lhe, em Julho de 1877, a honra de bispo e vigário apostólico da África central. Recebida a consagração em Roma na capela do Colégio de Propaganda Fide no dia 12 de Agosto, Comboni regressou a Verona, acolhido calorosamente por uma multidão de admiradores. Os vendedores de jornais ofereciam nas ruas o seu retrato: Daniel Comboni por cinco réis!... O bispo, sorrindo, comentava: «Vejam lá... vendem-me por cinco réis!» Olhando para a cruz de ouro que trazia ao peito, dizia gracejando: Esta cruz é preferível a qualquer outra, porque traz em si a honra de trabalhar pela salvação das almas e de oferecer, a exemplo de Jesus Cristo, a vida por elas.
             Em Dezembro já estava pronto para regressar à África, acompanhado por um grupo de missionários, que incluía também os cinco primeiros membros do instituto que tinha fundado. Muito comovedora foi a despedida de seu pai, já idoso, antes de embarcar no comboio que o levou para Roma. Abraçando o filho bispo, o senhor Luís exclamou: Daniel, se soubesses quanto te amo... és o único filho que me resta..., mas, se tivesse cem filhos, todos os daria pela salvação das almas. O bispo, com as lágrimas nos olhos, retorquiu: Meu Deus, deixo o meu pai e talvez para não voltar a vê-lo..., mas estaria disposto a deixar cem pais, se os tivesse, para te servir, Pai celestial, e para cumprir a Tua vontade.
3.5.            Espiritualidade missionário de Comboni 

            O missionário é o homem chamado por Deus para anunciar ao mundo o seu plano de salvação. A adesão a este convite realiza-se através de uma separação radical dos pais, familiares e amigos, da pátria, da sua própria cultura e de todo o tipo de comodidades.
            O Pe. Daniel amava muito os seus pais mas não voltou atrás quando teve a certeza de que Deus queria que fosse missionário. O isolamento em que os meus pais irão encontrar-se, eis o que me perturba  escrevia ao pároco da sua aldeia em Julho de 1857, dois meses antes de partir pela primeira vez para a África. Eu não tenho medo nem da vida, nem das dificuldades da missão, nem de nada; mas o que diz respeito aos meus dois velhos faz-me tremer.
            Se eu abandonar a idéia de me consagrar às missões estrangeiras, serei mártir por toda a vida de um desejo que nasceu no meu espírito há mais de 14 anos, e sempre cresceu, à medida que fui conhecendo a sublimidade do apostolado. Se penso no meu coração, ele sugere-me que sacrifique tudo e que corra para as missões, desprezando os mexericos. Terminei finalmente os santos exercícios; e depois de me ter aconselhado com Deus e com os homens, concluí que a idéia das missões é a minha verdadeira vocação. Foi-me assegurado que Deus me chama e eu parto seguro disso.[12]

Conclusão
            Chegados ao fim deste trabalho, resta-me  apenas reiterar alguns aspectos que ao longo das pesquisas achei serem pertinentes para as questões colacados em volta dos problemas acima abordados. As sua actividades missionária era inspirada por uma dedicação sem limites é Àfrica, comovedorame cunhada no seu lema Africa ou morte. “Comboni um verdaderio santo e um génio moderno da cristianização e da civilização de Àfrica” (Mondini, 182).
            A evangelização da África tinha de se realizar através de um trabalho de conjunto e de profunda colaboração entre todos os institutos e organismos interessados. O «Plano» previa também a fundação de uma série de instituições católicas masculinas e femininas ao longo da costa do continente para a formação dos africanos, que, mais tarde, seriam os evangelizadores das zonas do interior, inacessíveis para os europeus. Para preparar os futuros responsáveis destas instituições, fundar-se-iam alguns colégios missionários na Europa.


[1] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002, 173.
[2] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002, 174-5.
[3]TESCAROLI Cirillo, Pioneiro da Igreja na África, disponível em htpp//: www. Cirillomissionariocj.net, 26.11.2010, 19:23
[4] António piter, historia geral de África antiga, ed. A-O, são Paulo.
[5] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002, 177
DOMINIQUE Amauld, história do christianisme em Afrique, ed.karthala, 2001.

[6] TESCAROLI Cirillo, Pioneiro da Igreja na África, disponível em htpp//: www. Cirillomissionariocj.net, 26.11.2010, 19:23.
DOMINIQUE Amauld, história do christianisme em Afrique, ed.karthala, 2001.



[7] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002, 179.


[8] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002, .
[8]TESCAROLI Cirillo, Pioneiro da Igreja na África, disponível em htpp//: www. Cirillomissionariocj.net, 26.11.2010, 19:23

[9] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002, 178

[10] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002,



[11] TESCAROLI Cirillo, Pioneiro da Igreja na África, disponível em htpp//: www. Cirillomissionariocj.net, 26.11.2010, 19:23


[12] BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Ed. inst. Miss. Filhas são Paulo, paulinas, 2002, 182.

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