terça-feira, 25 de setembro de 2012

AESQUEMAS DA COMUNICAÇÃO


Introdução
A comunicação humana é inerente à natureza do homem razão porque ela é fundamental para os seres humanos. No presente trabalho tencionamos apresentar, de forma sucinta, a comunicação como dom e os respectivos esquemas à luz da obra de Pierre Babin “A era da comunicação”. No primeiro ponto abordaremos o dom da comunicação cujo vértice é Deus. No segundo ponto, falaremos dos esquemas da comunicação.

1. O DOM DA COMUNICAÇÃO
1.1. A comunicação é um dom
Na óptica de Babin, para um cristão a comunicação é um dom, pois é intrínseca à natureza humana. Este dom é ao mesmo tempo uma revelação e um impulso original que se recebe de Deus. Por isso, “Deus é a base de tudo e constitui o vértice da comunicação”. Deus é o a priori fundamental. Desde cedo, o que toca na pessoa que recebeu este dom, é que ela não comunica como todo mundo.

1.2. Revelação da comunicação
A revelação da comunicação aparece-nos como de um  segredo, como de uma centelha entre namorados, marcando dessa forma o carácter agitado e ao mesmo tempo irracional da tomada de consciência.  Esta revelação não consiste numa noção intelectual, mas na revelação de uma maneira de ser. Ela se nos impõe: originalmente, radicalmente, sentimos todos ligados uns aos outros num vasto oceano de amor, cuja fonte e as correntes se chamam Deus, o Pai, o Filho feito homem e o Espírito.
A revelação é a da unidade fundamental do género humano transpassado pelo amor de Deus. A revelação é quando se vê que todos os humanos são radicalmente “in”, quer dizer, “no amor” misericordioso de Deus. Deste modo, para um cristão, a essência da comunicação é a comunhão. A essência da verdadeira comunicação é aquilo que conduz à comunhão. “Os dois interlocutores entram um e outro em comunhão. Eles comunicam um ao outro e se tornam amigos”. Neste sentido, emissores e receptores guardarão a mesma pele, mas a comunhão que preexiste neles age como uma fonte.
Por outro lado, Babin nos mostra que comunicar é transmitir uma mensagem que não se domina inteiramente, porque ela vem do fundo de nós mesmos, lá onde moram a necessidade e o mistério.

1.3. O feedback cristão
O termo feedback tem sido utilizado pelos anglo-saxões no mundo das mídias para caracterizar o choque em retorno ao sinal enviado pelo emissor = cota de escuta, tipo de reacção, evolução da resposta.
Em termos de comunicação, o feedback é um psiquismo sacudido (que devemos fazer? Convertei-vos e sede baptizados: Act 2,38), é uma renúncia às atitudes ameaçadoras ou imperialistas, é a confiança ajustada ao poder de Cristo para terminar o impossível. O feedback definido para regular as comunicações humanas, conforme uma perspectiva cristã, é ao mesmo tempo realista e improvável.
No cristianismo, o feedback visa ser perfeito como Deus. Para dizer a verdade, o feedback do perdão está profundamente fora do alcance humano. O outro feedback característico dos cristãos é o do Abbá. Quando se é humano, realmente humano, comunicar é receber e transmitir uma mensagem que não se domina inteiramente, porque ela vem do fundo de nós mesmos, lá onde moram a necessidade e o mistério.

1.4. O projecto cristão de comunicação
Se o cristão é o caminho, a verdade e a vida é preciso que lhe consagre um “in put” incessantemente ligado e que avalie se sua voz pode combinar com os programas e os informativos da televisão. A primeira característica do jornalista cristão segundo Reuter é “amar a verdade acima de tudo e servi-la junto aos homens”.
O projecto cristão é ser o sal da civilização da informação e da comunicação, o que não significa ser superior aos outros, mas ser duas vezes “in”, no mundo e no amor de Deus. Mas sempre apaixonado por reconstruir a unidade quebrada do género humano. Dado que a comunicação é um dom a ser partilhado e posto em acção, o feedback (o choque em retorno ao sinal enviado pelo emissor), servirá para regular as comunicações humanas, conforme uma perspectiva cristã.
A revelação da comunicação não se leva como uma glória, mas antes como um fogo que queima. Aliás, como mostramos atrás a revelação concerne ao nosso modo de ser. Ela impõe-se-nos de forma original e radical ligando-nos mutuamente uns aos outros. Destarte, “a revelação da comunicação é a revelação da comunhão fraterna de todos os homens com Deus em Cristo. A fim de criar a unidade fundamental do género humano e de corrigir todas as distorções da comunhão”.

2. OS ESQUEMAS DA COMUNICAÇÃO
Nas suas cogitações Babin foi percebendo que “não existem bons ou maus esquemas de comunicação. Tudo depende do que se procura e do que se quer esclarecer”. Contudo, ele propõe-nos seis (6) esquemas.
Os dois primeiros (a comunicação de modulação e a comunicação alfabética) referem-se aos esquemas de linguagem. Mostram como a comunicação muda radicalmente conforme os alfabetos e as mídias que se utilizam.
Seguem outros dois esquemas (a comunicação da amizade e a comunicação do Espírito) que surgem das afinidades, isto é, de parentescos e de acordos misteriosos entre os seres humanos. A comunicação de amizade e de Espírito sai de movimentos e atracções pessoais que escapam, em definitivo, a toda análise científica e a todo controle autoritário.
Os dois últimos esquemas são directamente comandados pela fé cristã. Em primeiro lugar a comunicação dos pobres. É um módulo particular de comunicação que faz Jesus dizer: “felizes os pobres”. Enfim, a comunicação da , domínio que toca a Igreja em seu núcleo e que não cessa de ser debatido. Estes esquemas dizem respeito à vida e à fé.

2.1. OS ESQUEMAS DA LINGUAGEM
2.1.1 A comunicação de modulação
Na comunicação de modulação: escutar é anterior a falar. Atenção e receptividade são inerentes à expressão; comunicar não é dizer, mas participar; comunica-se a música mais que as palavras. Tal é a modulação. O feedbackk é aqui uma reacção global de pessoa a pessoa ou de pessoa a grupo: adesão, indiferença ou rejeição. O que une é mais importante do que o que distingue e separa.
A modulação é o conjunto de vibrações dotadas de intensidade e de alturas diversas, de ritmos e de harmonias particulares. Em sentido amplo, a modulação indica tudo o que se apresenta aos sentidos sob forma de vibrações visuais e cujos ritmos, intensidade e extensão são hoje acentuados pela electrónica. Se você quer ser seguido pelo seu público, suas falas devem ser modulação e, de qualquer maneira, exprimir esta benevolência calorosa e pessoal que as crianças sempre esperam.
Neste caso, comunicar não é dizer, mas participar. Não são as palavras que contam mais na comunicação, é, ao contrário, o envolvimento, a atmosfera, as condições materiais, as mídias utilizadas. Em suma, tudo o que geralmente passa despercebido e do que não se discute.
Muitas vezes, o feedback ou interactividade significam: falar, dialogar, apertar um botão, escrever, telefonar. Mas o feedback mais importante é aquele de comer e beber, como foi no seio de nossa mãe. Reabilitemos também o acto de receber na comunicação. Não se comunica porque se fala, mas porque se é receptivo. Não amará jamais aquele que primeiramente não foi amado (1Jo 4,19). Da mesma forma, jamais se comunicará aquele que não receber antes sopro e mensagem.
Antes de ser um emissor, é preciso ser um receptor. O comunicador é primeiro um radar exposto aos grandes ventos da montanha. Na bíblia, os profetas, os chefes do povo, eram todos homens da modulação: é pela acção, pela troca e pela reflexão que eles são formados. Jesus foi condenado porque seduziu o povo (p. 61).

2.1.2. A comunicação alfabética
Por seu turno, a comunicação alfabética é marcada pela abstração, rigor e lógica racional. Por isso, o mais importante é falar do que escutar. A linguagem dominante é a das palavras, terminando em um discurso oral ou escrito. Estas são antes de tudo ideias e doutrinas sistematicadas, leis e fórmulas, códigos e emblemas que são comunicados. O feedback se exprime antes de tudo por uma troca de palavras e de ideias sobre pontos precisos.
A comunicação alfabética é um modo de comunicação marcado pelas condições de abstracção, de rigor e de lógica que determina o modelo subjacente do alfabeto fenício. Na comunicação de modulação, o meio mais dominante era a vibração física. Na alfabética tem-se o meio mais oposto à vibração: a palavra. Na modulação, o sentido dominante era oo ouvido, aqui, o olho que aponta sobre um aspecto particular.

2.2. OS ESQUEMAS DE AFINIDADE
Naquilo que concerne aos modelos de comunicação humana profunda, os níveis de aprofundamento espiritual desempenham um papel fundamental de matriz e de “mise em forme” dos processos humanos de comunicação. A comunicação de amizade e de espírito sai de movimentos e atracções pessoais que escapam, em definitivo, a toda análise científica e a todo controle autoritário.

2.2.1. A comunicação de amizade
Na comunicação de amizade o movimento da comunicação nasce de uma inclinação pessoal, mas baseada sobre complementaridades e interesses comuns. Os papeis de emissores, receptores e feedback se confundem no interior de um clima de interesse e de benevolência mútua. Comunica-se essencialmente um estimulante para ser e para viver graças a uma troca de qualidades tocando o ser ou o ter. as linguagens são diversas, das palavras aos actos e aos presentes. Elas se revestem geralmente de um respeito afectivo e até sentimental.
A comunicação à base de inclinação amorosa pode ser reconhecida como um caminho privilegiado para Deus. Aquele que entra verdadeiramente na comunicação de amizade, experimenta a transcendência: para além das expressões variadas aflora o sentimento de ser ultrapassado e de não poder exprimir o indizível. A amizade é o substrato de toda grande vida espiritual. Quase sempre a liberdade se definha em uma vida que não experimenta mais a surpresa da amizade.

2.2.2. A comunicação de Espírito
Na comunicação de espírito, o ponto de partida é uma revelação do ser profundo de cada um dos parceiros. Ela se enraíza em afinidades, e até em complementaridades entre homens e mulheres, entre pai e filho, mas também ela os ultrapassa. O que se comunica é “a visão que se tem de si, suas questões e problemas insolúveis, seus medos e suas tomadas de posição, suas esperanças e motivações essenciais. A comunicação de ser a ser, supõe parceiros”.
Em termos de reacções qualificáveis, o feedback é frequentemente mínimo e o silêncio pode dominar. Em compensação, o feedback é máximo, em termos de despertar mútuo, de ser e de serviços profundos. Esta comunicação, por sua novidade e liberdade, provoca reacções foortes, de atracção ou de repulsa.
Em definitivo, comunicar o Espírito supõe um acordo com Deus e finalmente a obediência à vontade de Deus. Tal comunicação, sem dúvida, não progredirá sem a condição particular de refinamento humano. A comunicação do Espírito não tem outro fim que a comunicação do Espírito. Poder-se-ia dizer: o fim é o pentecostes, não a Igreja; a fecundidade, não a obra.

2.3. OS ESQUEMAS DA FÉ
Não nos vamos ater sobremaneira neste sub-capítulo dos esquemas da fé, pois dizem respeito ao outro grupo não obstante terem principiado no capítulo que nos toca.

Conclusão
Depois de abordarmos de forma sumária a comunicação como um dom advindo de Deus e dos esquemas que nos facilitam na nossa comunicação, é chegado o tempo de traçarmos linhas conclusivas. Vimos atrás que por ser dom que nos é revelado no mais íntimo da nossa intimidade, o fim último da comunicação é a comunhão entre os interlocutores. Outrossim, ela obedece os critérios esquemáticos que lhe são peculiares. Estes esquemas, no seu todo, dizem respeito à vida e à fé de todos os homens na sociedade onde se encontram.

Bibliografia
BABIN, Pierre, A era da comunicação, Ed. Paulinas, São Paulo 1989.


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