quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O CRISTIANISMO NO SUDESTE AFRICANO


Depois de ter buscado fontes, teremos um trabalho limitado a obra de John Baur referenciada na Bibliografia. Apesar da limitação das fontes, o trabalho procurará apresentar algumas linhas sobre o Cristianismo na África do Sudeste que abrange os países como Zimbabwe, antiga Rodésia do Sul, o Malawi, a Zâmbia, a então Rodésia do Norte e Moçambique. Portanto, a região das missões efectuadas sobre as pegadas de Livingstone.
Contudo, o trabalho está dividido em quatro partes, nomeadamente: a primeira parte debruçar-se-á do Cristianismo em Zimbabwe, olhando pela franca resistência ao cristianismo dos Ndebeles e a resposta favorável dos Shonas; a protecção dos convertidos em terrenos das missões; as Igrejas que floresceram no Zimbabwe; o regime de Ian Smith e as Igreja; e o contributo da Igreja na segunda guerra de libertação do Zimbabwe. A segunda parte, falará do Malawi a terra dos Chewas e povoado também por grupos imigrantes como Yaos e Ngonis; a sua identidade étnica e cristã; a diferença entre os protestantes e os católicos no âmbito da educação e a Igreja pós-independência.
Na terceira parte, discorrerá pelo cristianismo na Zâmbia na Região de Cobre, a presença dos protestantes e católicos, o seu contributo na educação e no apoio aos movimentos para a independência do país. E, a quarta parte, dedicada ao cristianismo em Moçambique, os contornos da história do cristianismo e sua relação com o governo português e os moçambicanos; movimentos pró-independência e o governo marxista e a sua atitude contra a Igreja Católica.

1.      ZIMBABWE
1.1. Os reticentes Ndebeles e a resposta dos Shonas
O Zimbabwe foi o primeiro a entrar em contacto com o Evangelho no Império do Monomotapa, mas o crescimento do cristianismo foi lento. Os colonos mantiveram o regime racista por muito tempo com uma política não diferente do Apartheid sul-africano. Nos anos 50 e 60 surge a esperança de um Estado multirracial favorável ao Cristianismo, que foi esmagada pelo regime de Ian Smith, este factor pôs em crise as conversões e fez florescer a religião tradicional, devido o apego dos Shonas à sua religião; e a franca resistência dos Ndebeles pelo seu carácter zulo. Todavia, a maior parte das conversões se davam entre Shonas. «No Zimbabwe Oriental (Manyika), Central (Zezeru), e Meridional (Karanga) se notava um crescimento do cristianismo, e no Zimbabwe Ocidental (país dos Ndebeles)»[1] não havia simpatia pelo cristianismo.

1.2.Missões sob protecção colonial
O fracasso das primeiras tentativas de evangelização tornou evidente que as missões só seriam capazes de trabalhar sob protecção colonial. Os missionários asseguravam a protecção dos convertidos em terrenos das missões oferecidos por Cecil Rhodes, por isso, para os africanos tornava indistinta a diferença entre colonos e evangelizadores. As Igrejas que floresceram no Zimbabwe destacam-se:
(a)Igreja Reformada Holandesa e Luterana: os Boers sul-africanos tinham enviado os primeiros missionários para o Karanga Meridional, no norte do Limpopo. Estes «foram bem recebidos na sua evangelização dos Shonas meridionais»[2]. Os luteranos, nos anos 1890, seguiram o caminho dos “reformados holandeses”. A influência das ambas igrejas, na vida pública, manteve-se modesta;
(b) O Metodismo: graças ao seu forte apostolado leigo, foi a primeira igreja cristã a ficar enraizada no Zimbabwe. Veio sob as duas formas de Igreja Metodista Wesleyana Britânica, que se centrou em Harare e a Metodista Unidos Americanos, na região leste. Os metodistas encorajaram o movimento pró-independência;
(c) Anglicanos: o primeiro Bispo George Knigth Bruce, quando ainda era bispo de Bloemfontein, Africa do Sul, conseguiu expandir a sua Igreja para o norte. O grande período de progresso da Igreja anglicana coincidiu com o episcopado de Edward Paget (1926-1957), o qual fixou residência em Salisbúria.
(d) Igreja Católica: em 1890, os Jesuítas fizeram uma outra tentativa de evangelização no Zimbabwe, juntando-se à Coluna Pioneira de Cecil Rhodes. Depois de 1927, a Rodésia do Sul era de responsabilidade exclusiva da Província Inglesa da Ordem dos Jesuítas. O método usado nas suas missões para a evangelização dos pagãos, passava por uma aplicação prática de uma teologia na qual o trabalho era preparação para a espiritualidade, Labora et Ora. O ponto decisivo foi atingido quando o relatório da Comissão Phelps-Stoke sobre «educação nativa foi dado a público em 1925.
Uma nova época tinha conhecido na história das missões africanas: a época da ênfase em escolaridade moderna»[3]. Por isso, em 1931, com o bispo Chichester, há uma viragem de uma política do “Evangelho do Trabalho” ao “Evangelho de Educação. Em 1934, o bispo Chichester fundou a Congregação das Irmazinhas de Nossa Senhora que depois juntaram mais três congregações de religiosas locais. A maior realização do bispo, em favor da Igreja no Zimbabwe, foi talvez a sua busca de mais sacerdotes para a Igreja. Em 1955, a Igreja-mãe de Selisbúria foi elevada a Sé Metropolitana. Em 1982, recebeu o novo nome de Sé Metropolitana de Harare.
O racismo dividiu a Igreja ao aparecer o chamado clero urbano. Um dos grandes protagonistas nesta luta destaca-se o bispo Chichester na sua pastoral de 1931, ao «defender que o Estado deve proteger os nativos contra colonos sem piedade»[4]. Os bispos na tentativa de resolver a questão racial, proclamam a Paz através de Justiça, segundo eles não haveria paz no país, sem a justiça social para os africanos. Mas os africanos mostraram-se pouco impressionados, pois a própria Igreja praticava a segregação racial nas escolas e hospitais. Um dos grandes contributos dos bispos foi o pedido ao governo de permitir escolas multirraciais.
1.3.Confrontação e compromisso com o regime de Smith
“O egoísmo e arrogância dos homens de Smith no trato com as autoridades eclesiásticas obrigou os bispos, padres e religiosos mudassem de diplomacia para a confrontação e para desobediência civil apoiando lutadores pela liberdade de Zimbabwe”. A confrontação veio com a nova Constituição de 1970, que declarava impossível o governo de maioria africana e proclamava a Lei sobre a posse de Terra que estabelecia a segregação racial.
 Face a esta atitude todas a Igrejas publicaram declarações de protestos e de oposição. Numa atitude de compromisso, o governo ofereceu concessões que incluíam registo presumido; autorização geral a todos os padres para trabalhar em antigas terras de missões; aceitação de estudantes africanos em escolas brancas.

1.4.A Igreja no apoio da Segunda Guerra de Libertação
A segunda guerra de libertação foi uma consequência do racismo da Frente Rodesiana de Ian Smith. Ela foi conduzida pelo partido ZAPU, de Joshua Nkomo, que era apoiado por Moscovo, e pelo partido ZANU, de Robert Mugabe, apoiado por outros Estados comunistas. O apoio à libertação dividiu agudamente as Igrejas cristãs. A Comissão de “justiça e paz” que foi criada pelos bispos católicos, tornou-se um instrumento para defender os direitos dos próprios africanos sob direcção do presidente da Comissão, o bispo Lamont.
 Face o activismo dos missionários contra atitude desumana do governo, muitos deles foram presos, incluindo o bispo Lamont e martirizados. Em 1980, foram realizadas eleições livres e o partido ZANU de Robert Mugabe ganhou as eleições. Depois da proclamação da independência, Robert Mugabe adoptou uma política reconciliatória, tendo em conta a contribuição da Comissão de Justiça e Paz e do Conselho Mundial da Igrejas.
A Igreja Católica na sua vida interna abandonou a sua imagem institucional ao criar estruturas baseadas no povo. «O clero africano do Zimbabwe podia, por fim, sentir-se em casa no seu próprio país e ter um real direito de falar no âmbito da sua própria Igreja»[5]. As três dioceses mais desenvolvidas tinham sido entregues aos bispos africanos. O movimento das conversões que tinha abrandado em 1970, não se restabeleceu. A reconstrução espiritual do país tornou-se uma tarefa importante depois da independência, apesar da instrução religiosa encontrar-se abalada pelo secularismo que dominava a educação.

2.      MALAWI
2.1. A resposta africana: identidade étnica e cristã.
Para compreender o cristianismo do Século XX, no Malawi, é importante distinguir entre a população originária malawiana (Chewa) e dois povos imigrantes (Yaos e Ngonis). O originário reino Malawi sob o comando dos Firi desintegrou-se em vários grupos, como os Mangangas e os Nyanjas, mas o povo preservou a sua identidade com o local de Nyau. Primeiramente, os Chewas acolheram os missionários como protectores contra os Ngonis, que olharam também os missionários como úteis aliados.
Os Chewas sentiram-se abandonados, acusando o governo colonial e os missionários como os causadores da ruptura com as suas instituições tradicionais. «Em 1922, as escolas tinham perdido um terço dos seus alunos e algumas tiveram mesmo de ser fechadas»[6], pois os jovens eram recrutados para a antiga sociedade Nyau que realizava ritos de iniciação feminino e masculino, condenados pelos missionários que o substituíram por um período de instrução cristã.
A fraca resposta à evangelização vinha dos povoados Ngonis que eram etnicamente homogéneas. A maior resposta ocorreu em aldeias mistas, entre o povo Chewa. No sul, havia outros grupos marginais dos convertidos católicos, nomeadamente imigrantes de Moçambique. Os convertidos Chewas ainda mantinham as ligações às suas tradições, a adesão às escolas da missão era movida pelo desejo de arranjar emprego.

2.2. Educação: elite protestante e cristianismo de aldeia católica
A oportunidade de obter trabalho era incentivo para ir a escolas presbiterianas, nos tempos pré-coloniais. A política missionária calvinista fez dos estudantes a elite que iria construir o moderno Malawi e conduzi-lo à independência. E os católicos sem recursos para oferecer educação superior, tinham igualmente o objectivo de construir uma sociedade cristã. «A diferença entre católicos e protestantes, era a que havia entre o espírito obediente e o espírito crítico dos protestantes»[7]. Esta diferença reflectiu-se no movimento em direcção à independência. A classe média e a elite malawiana eram presbiterianas, e o campesinato encontrava-se entre os católicos.
Educação secundária propriamente dita só começou em 1940, quando foi estabelecida em Blantyre, uma escola conjunta do governo e dos Presbiterianos. Seguiram-se os Padres Monfortinos, em Zomba. A formação universitária veio depois da independência. Os católicos, ajudados pelos irmãos Professores, tomaram a dianteira na educação secundária, em 1966. Contudo, o catolicismo do Malawi não sentia a necessidade de educação superior à primária.
      As oportunidades em Malawi para o sacerdócio eram excelentes e o clima político muito melhor do que no Zimbabwe e Zâmbia. Os Padres Brancos tornaram-se os pioneiros na formação seminarística. A africanização a hierarquia começou com o bispo Cornélio Chitsulo que tinha sido também o primeiro Padre de Malawi. O terceiro bispo foi Patrick Kalilombe de Lilongwe em 1972, que emergiu como pensador original na tarefa de inculturação das estruturas da Igreja e propagou pequenas comunidades cristãs.
A Igreja Católica, pós-independência, atraiu a maior parte dos Chewas relativamente a Igreja Presbiteriana que tinha ainda um número considerável de convertidos e gozava da posição de Igreja quase-oficial em relação ao governo. O laicado católico começou a afirmar a sua presença na vida pública, a partir de 1980.
Em 1992, não eram os presbiterianos que davam testemunho cristão, mas os bispos católicos que valeu a alguns a detenção temporária e a deportação do administrador missionário de Mzuzu. A intervenção dos bispos teve um eco irreprimível, em todo o país e foi retomada por líderes presbiterianos. Uma situação que a sociedade africana de Malawi quis ajustar a sua vida aos princípios do Cristianismo.





3.      ZÂMBIA
A Zâmbia era um território britânico artificialmente criado entre o Zimbabwe e o Malawi. «Todas as tribos, excepto os solis, tinham imigrado para a região, mas as suas próprias pátrias encontravam-se algures»[8]. O grupo mais forte, os Bembas, viviam no extremo norte. Por fim, surgiu no plano económico um centro unificador: Região de Cobre. O desenvolvimento da fé cristã sofreu da falta de unidade dado que os centros missionários estavam ou fora do país ou numa posição de fronteira.
Os Padres Brancos receberam resposta positiva no reino dos Bembas, cultivando o mundo rural. Os evangelizadores Calvinistas-Metodistas tiveram uma resposta hesitante entre os Lozi-Ilas. As Testemunhas de Jeová tiveram êxito entre os zambianos, através do movimento «Torre de Vigia». As grandes Igrejas Protestantes dirigiam-se mais a uma elite urbana em crescimento, permanecendo pequenas, mas influentes.

3.1. Cristãos da Região do Cobre
A necessidade de uma presença pastoral, nesta região, não era sentida tão urgentemente pela escassez de pessoal missionário. Mas as visitas pastorais realizadas, entre 1925 e 1930, convenceram tanto os protestantes como católicos. Os católicos apareceram mais desamparados que os protestantes, orientados para a Bíblia e o laicado.
a) As Igrejas Protestantes: o modo como «os cristãos protestantes se organizaram, na celebração dos serviços dominicais e a resolução dos problemas pastorais foi exemplar»[9]. Surge uma cooperação que fundou a Missão Unida da Região de Cobre que começou com pregações ao ar livre e terminou com um programa escolar no qual os católicos foram envolvidos. Portanto, a Igreja Unida da Zâmbia (UCZ) foi a primeira união de Igrejas, resultante de uma iniciativa africana.
b) Na Igreja Católica: a Região de Cobre pertencia aos Jesuítas que «dirigiam boas escolas na área de Lusaca, mas não tinha ninguém para enviar a Região de Cobre»[10]. A maioria dos católicos eram emigrantes da raça bamba, cuja pátria estava sob jurisdição dos Padres Brancos. Foi através do bispo Etienne Larue dos Padres Brancos que os Franciscanos italianos tomaram posse de Ndola, em 1931. Na Região de Cobre, os franciscanos na sua actividade missionária começaram a combinar o trabalho pastoral com a evangelização primária. Em 1932, os Jesuítas e Franciscanos receberam os Capuchinhos Irlandeses para a anterior Barotselândia, a província ocidental.
A formação de uma chefia católica seguiu o modelo de Malawi. As vocações para o sacerdócio e para a vida religiosa eram poucas, mas a formação de líderes leigos ia muito à frente da Igreja no Malawi. A formação de padres, na zona dos Padres Brancos, ia em paralelo com a do Malawi. O primeiro padre zambiano, John Lyamibaba, foi ordenado em 1947. E iam se seguindo as outras ordenações. As duas Sés Metropolitanas, tinham em conjunto, sete Dioceses sufragantes em 1990, todas nas mãos dos bispos africanos. Os Jesuítas implantaram a educação superior, formando uma elite de católicos, que progrediu depois da Segunda Guerra Mundial. Por um lado, verificou-se um florescimento da Igreja, por outro lado, pelo menos metade do mundo rural do sul ainda seguia a religião tradicional, incluindo os Barotses que tinham sido os primeiros a ser visitados pelos missionários.

3.2.As Igrejas e a independência
 «O movimento para a independência seguiu inseparavelmente o do Malawi, começando em 1912, com apadrinhamento das Associações para o Bem-Estar Africano até ANC que combateu a Federação Welenski, e que obteve a independência, em 1964»[11]. O facto de as personalidades que lideraram o movimento terem vindo das Igrejas presbiteriana e metodista não deve esconder a positiva contribuição dos Jesuítas. Pós-independência, as Igrejas importantes têm sido entusiastas em cooperar com o governo na tarefa de construir a nação, enquanto o governo reconhece a necessidade de apoio eclesial.
4.      MOÇAMBIQUE
Moçambique era o menos cristianizado dos países a sul do equador até à II Guerra Mundial. A expulsão dos Jesuítas e Missionários do Verbo Divino pelo governo republicano, em 1910, paralisou a evangelização. A mudança veio com o governo de Salazar, o qual concluiu uma Concordata com a Santa Sé, 1940. «O antigo direito de nomear os bispos foi reduzido a um direito de veto e, em Moçambique como em Angola, a hierarquia foi erigida com as Sés Arquiepiscopais de Lourenço Marques e Luanda»[12].
O novo clima atraiu algumas sociedades missionárias. Os protestantes, reconhecidos oficialmente em 1921, ficaram em desvantagem devido à concordata. Uma desvantagem que tornou-se vantagem quando aproximou-se o momento da independência. No Sul surgiu uma maioria cristã entre os Rongas e Tsongas. No Norte o cristianismo cresceu paralelamente aos muçulmanos que dominavam o litoral. Na região central da Zambézia, com as suas muitas áreas remotas, o progresso foi lento.

4.1. O Movimento em direcção à independência
 Foi começado por um grupo de jovens protestantes que se baseavam na mensagem de libertação do Evangelho. O seu líder era presbiteriano Dr. Eduardo Mondlane. Em 1962 criou em Dar-Es-Saalam, a Frente de Libertação de Moçambique. Depois de Samora Machel assumir a liderança do movimento adoptou o sistema comunista, tornando difícil à Igreja Católica apoiar o ideal da independência.
Em oposição a «injustiça estrutural» do sistema colonial português e a hierarquia da Igreja, que cooperava com a extrema-direita portuguesa, levantaram a voz o bispo Soares Resende, da Diocese da Beira (1943-1967), e o bispo de Nampula, Monsenhor Manuel Vieira Pinto, apoiado por Padres Brancos e os Padres Burgos. Os Padres Burgos foram detidos por protestar a matança da população na Província de Tete. A Igreja presbiteriana foi perseguida. Os bispos sentiram-se obrigados a protestar ao Governador-geral devido ao massacre de Wiryamu. Este, em 1974, expulsou o bispo Pinto e alguns padres Combonianos. Quinze dias mais tarde, o governo de Marcelo Caetano foi derrubado por um golpe de Estado.

4.2. A Igreja sob regime marxista
Em 1975, proclama-se a independência e a FRELIMO toma posse, os esforços minoria de padres foram louvados, mas o Presidente Samora Machel permaneceu crítico da religião e adoptou programa marxista-leninista e, atacou a Igreja por ter colaborado com a opressão colonial. «Na sua mensagem do Natal de 1975, os bispos defendiam de que a libertação do povo desejada pela FRELIMO correspondia a libertação trazida por Cristo»[13]. Uma Igreja do Povo tornou-se a palavra de ordem para os líderes da Igreja. A primeira Assembleia Pastoral Nacional, em 1977, elaborou conclusões práticas de tornar-se uma Igreja Ministerial. «A Segunda Assembleia Pastoral Nacional, em 1991, reviu as opções à luz dos traumáticos eventos da guerra civil e adicionou os seguintes objectivos: “reconstrução da dignidade da pessoa humana e justiça social pela reconciliação e reevangelização”»[14].
Durante a guerra de libertação a Santa Sé tinha-se restringido a intervenções diplomáticas nos casos de atrocidades e ignorou a audiência concedida pelo Papa aos chefes dos movimentos de libertação da África Portuguesa, em 1970. Esta atitude minou as relações diplomáticas com o País, mas o Vaticano tentou corrigir a sua imagem, nomeando bispos moçambicanos; Nampula e Beira foram elevadas a Sés Arquiepiscopais (1984); ao cardinalato foi conferido ao arcebispo Alexandre dos Santos, de Maputo, em 1988.
Em 1953 foi ordenado o primeiro Padre moçambicano e, em 1975, já existiam 27 sacerdotes. A visita do Papa João Paulo II, em 1988 mudou rumo da Igreja em Moçambique. O governo, depois de ter proibido, permitiu à Igreja ordenar padres e o clima religioso melhorou. O cardeal Santos e o bispo Jaime Gonçalves destacaram-se nas negociações de paz, tendo sido alcançado o acordo, a 4 de outubro de 1992. Em 1994, realizaram-se eleições multipartidárias, ganhas pelo candidato da FRELIMO, Joaquim Chissano. Neste clima favorável às Igrejas, surgiu um espírito ecuménico.
CONCLUSÃO
Depois de ter apresentado, neste trabalho, a história do Cristianismo no Sudeste de África, que por um lado deparou-se com povos favoráveis aos seus missionários possibilitando o seu adequado enraizamento, por outro lado, não conseguiu penetrar na mente de alguns povos que se opuseram à sua presença, de modo que em algumas regiões destes países, por muito tempo preservaram a sua religião tradicional. O fracasso da evangelização nestas regiões deveu-se a vários condicionalismos que minaram o relacionamento entre os missionários e os povos colonizados. O racismo para além de criar uma distância entre os colonizados e colonos, mas também dividiu de certa maneira as Igrejas que praticavam a segregação racial, de modo que as lutas movidas pelas Igrejas contra o racismo para o estabelecimento de uma sociedade multirracial foram vistos com olhos de desconfiança por parte dos africanos. Para eles torna-se indistinta a relação entre os colonos e os evangelizadores.
O Cristianismo nesta região manifestou-se de várias formas que contribuíram para o florescimento e criação de uma sociedade cristã com princípios cristãos. As Igrejas tanto Católica como as protestantes desempenharam um papel importante na história destes países. Os movimentos em direcção à independência foram impulsionados pela mensagem de libertação do Evangelho e, a maior parte dos seus líderes foram educados nas escolas fundadas pelas Igrejas. Portanto, elas tiveram uma grande influência na vida pública ao encorajar os movimentos pró-independência, ao desenvolver a educação criando uma elite que viria a construir os modernos países e conduzi-los à independência. O maior ganho da Igreja nestes países é a africanização da sua hierarquia. A política pós-independência foi diferente, o Zimbabwe, o Malawi e a Zâmbia adoptaram uma política reconciliatória com os colonos e as Igrejas e apenas Moçambique movido pelo regime marxista-leninista permaneceu crítico à religião adoptando uma política agressiva.




BIBLIOGRAFIA
 BAUR, John (2002), 2000 Anos de Cristianismo em África: Uma história da Igreja Africana, Lisboa: Edições Paulinas.


[1] BAUR, John, 2000 Anos de Cristianismo em África: Uma história da Igreja Africana, Edições Paulinas, Lisboa 2002, p. 326.
[2] Ibidem, p. 327.
[3] Ibidem, p. 330.
[4] Ibidem, p.331.
[5] Ibidem, p. 336.
[6] Ibidem, p.338.
[7] Ibidem, p. 339.
[8] Ibidem, p. 341.
[9] Ibidem, p. 342.
[10] Ibidem, p. 343.
[11] Ibidem, p.345.
[12] Ibidem, p. 347.
[13] Ibidem, p. 349.
[14] Ibidem, p. 350.

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