terça-feira, 25 de setembro de 2012

O CRISTIANISMO NA ÁFRICA OCIDENTAL: SERRA LEOA, TERRA NATAL DOS ESCRAVOS

INTRODUÇÃO
Depois do período das descobertas, o continente africano, mais conhecido por continente Negro ficou famoso devido às suas riquezas naturais e à sua situação geográfica. A admiração que a África suscitava fez com que em 1884-1885, em Berlim (Alemanha), ela fosse dividida, dando assim, origem às actuais fronteiras. Devido a esta divisão, a África possui quatro partes, nomeadamente: África do Norte, África do Sul, África Oriental e África Ocidental. Este trabalho cingir-se-á sobre a África Ocidental: Serra Leoa, terra natal dos escravos; com o intuito de se saber como foi efectuado o trabalho missionário nesta região. Qual era o maior interesse dos missionários ao fundarem as missões? De que nacionalidades eram os primeiros missionários que escalaram a Serra Leoa? Porque é que a Serra Leoa ficou conhecida como, “a terra natal dos escravos’’? Que contributo as missões deram para as populações nativas? Como foi aceite o Cristianismo pelos nativos? Para uma boa compreensão do tema, o trabalho obedecerá o seguinte esquema: Situação geográfica, Serra Leoa: terra natal dos escravos, As missões na Serra Leoa, Nigéria, Libéria, O Movimento Missionário Afro-americano: Libéria, As Missões de Calabar, A Missão Metodista no Gana, O Etiopianismo e a Conclusão.

CAPÍTULO I: SITUAÇÃO GEOGRÁFICA
A África Ocidental é uma região situada entre o Deserto de Sahara e o Golfo da Guiné. Fazem parte desta região 17 países independentes a saber: Beni, Burkina Fasso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Costa de Marfim, Libéria, Mali, Mauritânia Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo. Alguns destes países têm uma reduzida área territorial. «Os terrenos desta região, são antigos e, por essa razão, bastante erodidos, verificando-se a presença de formações rochosas cristalinas»[1]. Devido à sua posição geográfica, a região apresenta clima equatorial, com áreas de savanas ao norte e densas florestas ao sul, onde os índices de pluviosidade são mais elevados.
Em virtude dessas características, a África Ocidental possui densidade demográfica maior que a da região do Sahara. A maior Concentração populacional se encontra na Nigéria com 60% da população a nível da região Ocidental. Esta população é composta por negros do grupo sudanês.
Todos os países são economicamente subdesenvolvidos, e têm como actividade predominante a agricultura. A lavoura de subsistência alterna-se com o cultivo de produtos tropicais destinado à exportação - café, cacau, amendoim, banana e borracha. Actualmente, os países mais desenvolvidos industrialmente são: Nigéria, Costa do Marfim e Senegal.

CAPÍTULO II: SERRA LEOA: TERRA NATAL DOS ESCRAVOS
Historicamente, o actual país da Serra Leoa, foi conhecido internacionalmente como terra natal dos escravos. Isto porque em «1787 chegou aqui um grupo de cerca de quatrocentos homens repatriados dos portos de Londres e Liverpool, na Inglaterra»[2]. Esta situação de repatriamento, foi devida a decisão do Tribunal Supremo Britânico, que vendo que na sua Constituição legal não previa «a detenção forçada de um escravo, decidira que todos os escravos que pusesse os pés em território britânico, ipso facto estava livre»[3].
Entretanto, esta decisão fez com que muitos escravos fossem libertos dos seus senhores. Devido ao grande número dos escravos libertos, em terras inglesas, surgiu um grupo de pessoas filantrópicas que se prontificou em repatriar os escravos libertos para a África Ocidental, como terra natal dos escravos. Portanto, foi no solo da Serra Leoa, que foram descarregados, em 1787, cerca de quatrocentos homens vindos da Inglaterra. E com este grupo, fundou-se o primeiro estabelecimento dos regressado das colónias britânicas.
Por conseguinte, devido ao «clima, da população indígena e dos comerciantes de escravos, este grupo de repatriados, muitos não conseguiram sobreviver»[4]. Uma vez fracassado este primeiro plano, em 1792 teve início o segundo plano, provavelmente mais planeado que culminou com a chamada Freetown (cidade livre), sob responsabilidade da British Sierra Leone Company (Companhia britânica para Serra Leoa). O número que incorporava esta nova colónia britânica foi de 1100 escravos vindos da Nova Escócia (Canadá). Todavia, devido às dificuldades anteriormente mencionadas, e a desconfiança das intenções da companhia, em 1808, o governo britânico assumiu a responsabilidade da Serra Leoa como colónia Coroa.


CAPÍTULO III: AS MISSÕES NA SERRA LEOA
As primeiras Missões fundadas na Serra Leoa, tinham missionários oriundos da Inglaterra e muitos deles eram Protestantes, Baptistas e Metodista.
III. 1. Church Missionary Society (CMS)
Esta foi uma sociedade britânica fundada em Dezembro de 1795, por dois missionários, com objectivo de Evangelizar a população nativa. Porém, este objectivo fracassou devido ao clima «que fazia da Serra Leoa a sepultura do homem branco»[5]. A outra razão do fracasso foi a falta de preparação dos missionários. Com forme os dados históricos, sobre a Serra Leoa, indicam que o maior número das missões que foram fundadas não prosperam. E o único estabelecimento que teve uma durabilidade considerável foi «uma escola para escravos, situada nas margens do rio Panga, fundada por Peter Greig»[6].

III. 2. Regent´s Town (Cidade do Regente)
Regent´s Town, foi um estabelecimento fundado por Willian Johson. Este foi um dos estabelecimentos que teve um espectacular progresso. O seu projecto de acção concebido por Johson, estava composto por quatro pontos:
  1. Evangelizar
  2. Alfabetizar
  3. Educar para o bem-estar social e,
  4. Ensinar a cada homem um ofício.
Para Johson, «evangelizar significava uma real conversão do coração»[7]. Por isso, na sociedade Regent´s Town, eram baptizados aqueles que completavam o período de instrução. O período estabelecido da instrução compreendia quatro a cinco meses. E estes instruendos deveriam transparecer uma vida espiritual clara. Entretanto, apesar da rigorosidade que esta sociedade impunha aos seus membros ela teve maior aceitação. E segundo dados estatísticos ela contava com 410 baptizados.

III. 3. Fourah Bay College
Foi uma magna infraestrutura educacional, criada pelos missionários em 1827, na Serra Leoa. E mais tarde foi associada à Universidade de Durah. Nesta universidade saíram grandes académicos superiores à escala britânica. Segundo a história foi nesta universidade onde foi formado Samuel Ajayi Crowthe, bispo da Nigéria.
CAPÍTULO IV: NIGÉRIA
O primeiro foco da presença missionária na Nigéria, teve início com a chegada da Sociedade Missionária da Igreja (Church Missionary Society). Esta sociedade se estalou logo à primeira na região de Abeokuta. Após esta sociedade, em 1846, a Nigéria foi visitada por um grupo de africanos, três ministros com suas esposas e quatro professores. Este grupo teve como representante Henry Townsend. Segundo as informações históricas também fazia parte deste grupo Samuel Crowther, que tempo mais tarde, veio a ser o bispo da Nigéria.

CAPÍTULO V: O MOVIMENTO MISSIONÁRIO AFRO-AMERICANO: LIBERIA
V. 1. Os negros americanos e África
Evangelizar a sua terra natal foi um dos sonhos dos negros americanos mesmo antes de serem emancipados. A primeira sociedade missionária americana em África, foi fundada em 1820, pelos Baptistas Richenord. Esta foi a primeira sociedade a mandar os primeiros missionários americanos para a pregação na África. «Lott Carey e Collin Teoque foram os que chegaram na Libéria em 1822»[8]. Depois destes Baptistas, em 1840 foi fundada uma outra sociedade composta por sete membros com designações cristãs.
No entanto, o grande fluxo de missionários negros americanos verificou-se mais no período entre 1877 a 1900. Nestas sociedades missionárias que floresciam, sobressaiu com grande relevo o Bispo Henry Turner fundador do Etiopismo[9]. Por conseguinte, o notável crescimento missionário negro – americano decaiu no tempo da pressão em vista às independências. E depois da época das independências africanas começou o ressurgimento das actividades, sobretudo a partir do processo de desenvolvimento da África Ocidental e Austral.

CAPÍTULO VI: LIBÉRIA
A Libéria à semelhança da Serra Leoa, ela foi criada como país a partir da implantação dos negro-americanos libertos. O primeiro grupo de negros repatriados chegou em 1820, chefiado pelos missionários da Freetown e escalaram a zona do Cabo Mezurado. Esta terra mais tarde passou a se chamar de Monrovia (nomenclatura proveniente do nome do presidente Monroe). Nos tempos modernos a Libéria ostenta o título de ser o primeiro país africano subsariano a alcançar a independência, a 26 de Junho de 1847.
A presença dos colonos negros americanos que de princípio tinham atraído aos missionários, tinha-se convertido em maior obstáculo para a evangelização. Os negros americanos não só se mantinham afastado da povoação local, fechado no seu modo de vida americana, como também iam se apoderando gradualmente das terras, convertendo-se numa ameaça para a povoação local.  
Após a emancipação nos Estados Unidos, novos grupos de afro-americanos atravessaram o Atlântico à procura de um futuro melhor na pátria ancestral. O maior número deste grupo orientou a sua actividade missionária na Libéria. Por isso mesmo, depois de 150 anos de evangelização pelo menos uma quinta parte da população da Libéria foi cristã protestante.

CAPÍTULO VII: AS MISSÕES DE CALABAR
Em virtude da aprovação da lei da emancipação em 1833, a povoação negra das Índias Ocidentais tornou-se uma fonte de recrutamento para as missões em África. E estes recrutados deram origem a três sociedades a saber:

VII.1. A Missão Basileia
Em 1840, a Missão Basileia foi a primeira a evangelizar Calabar. Porém, «o seu empreendimento no Gana caiu por terra depois de uma aprovação de 12 anos, devido a febre»[10]. Os membros desta missão tinham sido convidados pelos comerciantes dinamarqueses para o seu castelo de Christianborg, próximo de Acra em 1828. O maior número de missionários de Basileia eram da Igreja Luterana Alemã, por isso, seguiam o ideal de Martinho Lutero, segundo o qual a Igreja deveria ser popular reservada a identidade cultural do povo. Ao lado desta estava a missão Alemã de Bremen, que deu origem à Igreja Evangélica Ewe. Os seus missionários chegaram em 1847. A sua decisão era de evangelizar os Ewe (principal tribo da Togolândia, que se expandia até ao rio Volta). Os missionários fiéis à sua tradição Luterana, desenvolveram um Cristianismo baseado na língua tribal, com escolas e literatura Ewe. Portanto, uma comunidade eclesiástica modelada pela tradição popular.

VII. 2. A Sociedade Missionária Baptista da Jamaica.
Esta foi a segunda missão fundada em Calabar. Estiveram na dianteira desta Missão dois missionários, que tinham chegado à Ilha de Fernando Pó, numa visita exploratória em Janeiro de 1841, e começaram a trabalhar entre escravos libertos em Porto Clarence (actual Malabo). Voltaram três anos mais tarde, acompanhados por algumas famílias que incluíam evangelizadores, professores e colonos. Em 1846, quando a Espanha recuperou a Ilha, os Missionários Baptistas foram expulsos. O principal contributo desta Missão foi a tradução da Bíblia em línguas locais.

VII. 3. Os Presbiterianos escoceses (1846-1878)
A terceira Missão em Calabar foi a dos Presbiterianos escoceses Estes trabalharam na Jamaica e foram compelidos pelos seus cristãos negros a levar o Evangelho aos seus irmãos em África. Para o sucesso da sua missão, as congregações tinham reunido fundos para os seus missionários. Uma vez que os missionários gozavam de licença na Inglaterra aceitaram o convite formulado pelo chefe dos Calabar. Portanto, em 1846, o primeiro grupo de missionários escoceses e jamaicanos chegou em Calabar. Os Jamaicanos deram boas provas de serem bons professores. É por isso que em 1920, algumas das melhores escolas eram geridas por eles.
Calabar naqueles tempos recebia o nome de Velho Calabar, isto para distinguir-se da Nova Calabar do delta do Níger. Era habitada pelos Efiks, um ramo da tribo Ibibio. Eles estavam estabelecidos em quatro cidades, que estavam em constante competição comercial. O desejo de ter missionários vinha-lhes do seu contacto com os comerciantes europeus e evocavam razões de obter a educação como afirmava o rei Eyo «os homens brancos são todos ensinados enquanto são jovens mas os nossos filhos crescem como cabras… uma escola na nossa cidade para ensinar os nossos filhos a ler livros como as pessoas brancas, será uma coisa boa»[11].
A outra razão deste rei, para convidar os missionários, é que ele esperava dos missionários receber apoio para aumentar o seu poder e estender as outras cidades. Quando os missionários chegaram, ele pôs à disposição o seu pátio para os serviços dominicais e servia-lhes de intérprete. Contudo, pensava que nem ele nem o seu povo deveriam aceitar o Cristianismo. Para ele o Cristianismo levaria ao desrespeito das leis e costumes dos Efiks. E isto poderia resultar, por fim, na ocupação britânica.
Como não bastasse, o rei admitia que os costumes dos Efiks continham algumas «coisas tontas»[12]. Portanto, deu ordens no sentido de lançar ao rio a estátua de Ekpeyong, o deus protector entre os Efiks e proibiu as imolações de escravos. As suas ordens foram executadas por meio de Egbo (uma instituição secreta que unia e governava toda a tribo). Face a esta actuação os missionários não tardaram em formar uma sociedade chamada «Sociedade para Abolição de Costumes Supersticiosos e Desumanos, e para a Promoção da Civilização no Velho Calabar»[13] .
Ainda os missionários defendiam a supressão de outros costumes tais como o infanticídio o ordálio com grãos venenosos de esere e a punição substitutiva (execução de um filho mais novo no lugar do mais velho). Contudo, o rei Eyo considerou isto como interferência em matéria de autoridade interna e planeou expulsá-los. Porém, teve medo pois, os missionários tinham o apoio do cônsul britânico e dos seus navios de guerra.

CAPÍTULO VIII: A MISSÃO METODISTA NO GANA
Esta missão começou com o estabelecimento de uma escola, no Castelo da Costa do Cabo (Castle of Cape Coast). Esta escola funcionou depois do ano 1690. O responsável máximo desta escola foi o capelão-professor Tompson (1752-1756). Este distribui a literatura da Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristã (SPCK- Society of Promoting Christian Knowledge). Promoveu jovens e enviou alguns para Londres, para receberem instrução avançada. Entre eles estava o Philip Quaque, que foi ordenado ministro anglicano que continuou o trabalho de Thompson (1766-1816).
Philip juntamente com outros companheiros, «juntavam jovens em vários locais e formavam grupos bíblicos com uma regra de vida cristã»[14]. Portanto, num período de três anos a Igreja Metodista de Gana implantou cerca de 50 lugares de missionação.


CONCLUSÃO
Chegado ao fim desta nossa abordagem sobre África Ocidental: Serra Leoa terra Natal dos escravos, podemos concluir que o trabalho dos primeiros missionários na África Ocidental foi duro e exigia grande coragem da parte dos mesmos. Ou seja, a evangelização da África Ocidental foi realizada no meio de muitas dificuldades, umas ligadas com a língua e ao clima, outras relativas com a situação social. Nesta linha, muitas das vezes, os missionários não encontravam terreno fértil para a evangelização. Contudo, apesar dessas dificuldades, a evangelização teve êxitos. Pois, se actualmente na África Ocidental o Cristianismo floresce e os cristãos continuam firmes na sua fé, graças ao sangue derramado dos missionários. Por isso mesmo, não se pode negar do grande contributo dos missionários na formação espiritual e intelectual dos nativos. De outro lado, não se pode também se esquecer do modo como foi feita a evangelização nos primeiros séculos da descoberta. Muitas das vezes era feita de uma forma desumana e vergonhosa. Porque neste período não havia distinção entre o espiritual e o estado e vice-versa. Algo da fé era tinha sanções no estado. É o período do Cesar papismo. Contudo, era a situação do tempo.

BIBLIOGRAFIA
BAUR John, 2000 Anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo 2002.
CROEGAERT Luc, Premieres Afriques, Didier Hetier, Bruxelles 1985.
HARTINGS Adrian, The Church in Africa, Clarendon Paperbacks, United States 1996.
http//www. Wikipédia enciclopédia livre, África Ocidental, 12.03. 2012.


[1] http//www. Wikipedia enciclopédia livre, África Ocidental, 12.03. 2012.
[2] John BAUR, 2000 Anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo, 2002, 109.
[3]Idem, 109.
[4] John BAUR, 2000 Anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo 2002, 109.
[5]Ibidem, 110.
[6]Idem.
[7] John BAUR, 2000 Anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo 2002, 110.
[8]Ibidem, 112.
[9] Etiopianismo - foi um movimento não político, mas religioso que expressava aspirações nacionalistas dentro da Igreja. O movimento era mais sentimental e cultural e lutava para ter uma justa representação no governo e na Igreja.
[10] John BAUR, 2000 Anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo 2002, 114.
[11] John BAUR, 2000 Anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo 2002, 115.
[12]Idem.
[13]Idem.
[14] John BAUR, 2000 Anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo 2002, 117.
[15]Ibidem, 126.
[16]Idem, 126.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Ensinamento bíblico sobre a santidade

Ensinamento bíblico sobre a santidade A ideia da santidade não é exclusiva da Bíblia judeu-cristã mas, também se encontra em diversas c...