terça-feira, 25 de setembro de 2012

AS ORIGENS DO CRRISTIANISMO NA ETIÓPIA

INTRODUÇÃO


África é um continente de esperança mundial no que concerne ao florescimento do cristianismo. Embora todo ele cicatrizado, em muitos dos seus países, pela pilhagem dos seus recursos tanto culturais como materiais. Hoje encontramos uma gama de diversidades e misturas de culturas, línguas, o próprio cristianismo nas suas variadas formas como marcas indeléveis da colonização.

No presente trabalho iremo-nos ocupar do tema do Cristianismo em direcçao ao coraçao de África. Sobretudo, As origens do Cristianismo na Etiópia. Decerto, o pluralismo religioso que se vive em África, é resultado dos vários contactos. Isto se nos atesta no artigo 6, da acta da navegação de 1884, no qual Brunschwig diz que aí mencionava-se a livre Navegação, liberdade religiosa, proteção dos missionários e dos viajantes nos territórios africanos .

Começaremos a falar do cristianismo a partir do Norte de África indo para o interior onde partiram as ditas “descobertas”. Aliás, desde a antiguidade os povos africanos contribuiram sobremaneira através das suas culturas e conhecimentos científicos sobretudo: artísticos, esportivos, astronómicos e outras ciências que foram úteis na educação dos gregos e romanos .

Assim também quando se refere a geografia do paraíso em Gn 2, 10-14, datada antes do ano 950 a.C., fala-se da mais antiga menção de Cuch ou Etiópia na bíblia. Assim, para os antigos, a África fazia parte do jardim do Éden .


1. ETIÓPIA

c) Localização geográfica da Etiópia.

Etiópia é um país africano que está no centro do coração da África, a sua capital é Adis Abeba. Este Estado africano, situa-se no leste do continente; tem uma área de 1 221 000 km2 e proximamente 57 000 000 de habitantes. No Este faz fronteira com o Sudão, a Norte com a Eritreia, a Este e Sudeste com a Somália e o Gjibuti, a Sul com o Quénia . Metade da população etíope é cristã e integra-se na igreja ortodoxa etíope monofisista (doutrina de uma seita herética, segundo a qual haveria em Cristo apenas uma natureza, a divina); no entanto, os muçulmanos constituem outro importante grupo religioso, existindo também judeus e animistas. Tem como a língua oficial o amarico e a unidade monetária é o Bir (ETB) .



d) A origem do império da Etíope

A origem do império da Etiópia perdeu-se na antiguidade. Porém, em 333 d.C., o cristianismo entrou na Etiópia, pregado por Florêncio, que foi sagrado bispo em Alexandria por Santo Atanásio, como primeiro bispo da igreja em Abexim com o mandado de evangelizar Etiópia. No século VI, o rei de Aksum, Caleb, acudindo os cristãos perseguidos no Iémene («república que ocupa a parte sul e Oeste da península arábica, com uma área de 536 869 km2 com uma população aproximada de 16 400 000 habitantes. Faz fronteira a Norte com Arábia Saudita e com Omã a Este o Golfo de Adém separa o país do Djibuti e da Somália, enquanto o mar Vermelho o separa da Etiópia. A capital é Samaa, a língua oficial é árabe e o islamismo é a religião de 98% da população» ), Conquistou as costas orientais do Mar Vermelho, a região mais rica da Arábia. Os etíopes expulsos do Iémen e maltratados subiram para as montanhas, perderam progressivamente o contacto com a cristandade . Depois os reinos seguintes foram assinalados por luta sem trégua contra as invasões dos vizinhos muçulmanos, cujas conquistas se prolongavam das costas do Mar Vermelho para o interior. Nessa altura “a Etiópia cristã achava-se como Ilha isolada no mar dos seus inimigos. Na época, só na Alexandria é que vinham os patriarcas da igreja nacional com Jerusalém, onde havia um pequeno convento de religiosos abexins .



2. RELIGIAO

Quanto a religião, «o judaísmo contava prosélitos entre os antigos etíopes, alguns dos quais, como o eunuco baptizado por Filipe em gaza (cf. Act 8, 26-39), foram os primeiros a pregar o evangelho nessas regiões» . Rufino no seu livro “História Eclésia” I, 9, conta-nos acerca do primeiro bispo de Aksum ( «cidade sacra da Abissídia, na provincia de Tigre, onde, conforme a tradição, a rainha de Sabá teve a corte. Até aos tempos modernos, os imperadores, de Etiópia coroavam-se em Abissínia com grande pompa e muitas cerimónias religiosas» ). Este bispo chamava-se Flumêncio, a quem os etíopes chamavam de Flumenato ou Abba Salama, é comemorado duas vezes na sua liturgia. Ora Flumêncio e Edésio chegaram a Etiópia na primeira metade do século IV e foram feitos prisioneiros. Santo Atanásio de Alexandria sagrara Flumêncio como bispo de Aksum em 328-356.



b) Origem do cristianismo na Etiópia

É de salientar que na tradição etíope, a monarquia e o sacerdócio etíope são uma continuação da dinastia salomónica e do sacerdócio aeropaco. Historicamente diz-se que «a rainha de Sabá teve um sólido fundamento no tempo de David ou Salomão, a tribo Hebesh do Sabá no sul da Arabia, atravessou o Mar Vermelho e estabeleceu-se na margem africana. Assim, teve origem o reino de Aksum, rico em cultura e tradição religiosa» . As suas crenças caracterizavam-se numa tríade divina: “deus Lua, a deusa Sol, e a deusa Estrela da manhã”; estes eram venerados em todos os templos duma só vez. Agora a “suprema autoridade religiosa era o rei, considerado como filho de um deus e exercia as funções de um sacerdote. Para isto, Baur diz que pode ser que esta herança religiosa de Sabá tenha um eco na veneração da santíssima trindade e na realeza sacerdotal da Etiópia cristã”. Num olhar mais profundo, encontra-se uma relação intrínseca entre os judeus imigrantes e os costumes do antigo testamento, que a igreja etíope observava. Pois, diz-se que muitos judeus se tornaram negros pelos casamentos mistos embora tivessem relações difíceis com os etíopes. No reinado de Kaleb, cerca do ano 500, os judeus da zona árabe do reino rebelaram-se e oprimiram os cristãos; no século X Judite, rainha judia, fez o mesmo no centro do reino; e em 1320, o grupo Falsha revoltou-se, mas foi cruelmente derrotado pela Amanda Syon .



3. ANTIGA ETIÓPIA E O CRISTIANISMO

Esta etapa segundo a tradição etíope, decorreu em três momentos principais nomeadamente:



b) Do eunuco de Filipe que trouxe a fé na Etiópia

O termo eunuco é «uma apropriação errada, devido mais a piedade etíope do que factos históricos, tal como o próprio nome da Etiópia, tanto um como outro pertencem a Núbia» . Apesar disso, há sempre uma evidência verossímil de que os primeiros cristãos chegaram por coragem ao reino de Aksum e estes eram helénicos da categoria dos comerciantes. Tendo chegado no reino de Aksum o rei autorizou-os a construírem os seus próprios lugares de oração.



b) Abuna Salama Flumêncio

Narra-se que a via comercial que ligava o Mediterrâneo à Etiópia e à Índia, através do Mar Vermelho foi o meio da conversão oficial ao cristianismo. Flumêncio e Edésio chegaram a Etiópia por motivação do filósofo, Sírio, na sua companhia a Índia tendo naufragado no território etíope. Estes dois sobreviveram do naufrágio e foram trazidos a Aksum onde foram confiados na educação dos dois príncipes (Ezana e Zazana). No final foram permitidos a regressar a terra natal. Quando chegaram Edésio relatou a história ao filósofo Rufino que pôs por escrito. Enquanto Flumêncio ardia-lhe o coração de voltar a Etiópia para fazer crescer o cristianismo. Daí «foi ter com Atanásio patriarca de Alexandria, e pediu um bispo para Aksum. Atanásio achou melhor ordenar o próprio Flumêncio como bispo, e depois regressou a Etiópia onde tornou-se o primeiro bispo» . Assim, foi Flumêncio que trouxe o sacerdócio na igreja Etíope, daí é chamado pelos etíopes “nosso pai de salvação”. Depois deste período houve, muitas guerras contra a fé começando com o rei Ezana que aceitou a fé quando era tarde.

c) Os nove santos que trouxeram a vida monástica e a acção dos monges

Depois de muito tempo sem ser evangelizada toda a Etiópia, os monges de vários grupos, cerca do ano 500, tanto como os ascetas vindos do Egipto mas não egípcios, levaram o trabalho da missionação. Alguns deles foram martirizados pelos pagãos. Dentre eles o nome mais conhecido foi do nobre de Roma que construiu muitas igrejas e conventos e traduziu o evangelho de S. Mateus para ge’ez, primeira na história de um livro bíblico na língua etíope. Também temos os famosos nove santos que são identificados com o monasticismo. Eles eram guias das comunidades num conjunto de irmãs e padres. Entre os nove sobressaiu S. Miguel Aregawi cuja igreja de Debre Damo existe até hoje. Foi a partir dessa igreja que o rei Gabra Maskal deu vastos lotes de terra por volta de 550 d.C., tendo começado assim a política de dotação de terras em vários séculos seguintes, que transformou a igreja no maior proprietário de terras na Etiópia. Com a presença dos monges, toda a literatura etíope se manteve por muito tempo uma literatura hagiográfica e ascética, também toda a educação começava nas igrejas e completada nos mosteiros .



4. ANOS DE OBSCURANTISMO NA ETIÓPIA (640-1270)

Denomina-se idade de obscurantismo etíope porque foi no tempo do advento do Islão sobretudo nos anos 640 e o ano da restauração da linha salomónica em 1270.



b) O contacto com o islamismo

Segundo Bruno, até nesta altura os etíopes eram os únicos cristãos que desde o princípio gozavam de uma relação amistosa com o Islão. Só que quando os primeiros seguidores de Maomé estavam sendo perseguidos em Meca foram refugiar-se na Etiópia. Por isso que o alcorão proibiu jihad contra os etíopes descrevendo-os como um povo humilde e de padres monges . Só que depois para contrastar as bondades etíopes, os árabes passaram a controlar a via comercial ao longo do Mar Vermelho, que constituía na altura linha vital da Etiópia na sua ligação com o exterior. Por conseguinte, era a mesma via que tinha feito entrar o cristianismo e os monges no império etíope.

Assim, foi o início do isolamento demorado etíope; desapareceram os bispos e padres. A seguir houve uma emancipação muçulmana na costa e este processo culminou com a perda de controle da zona comercial pois, antes permitia-os entrar cobrando tributos. As misturas constantes dos etíopes com os povos deram origem a um novo povo, os Amharas que falavam amharico . É claro que sob ponto de vista religioso, esta expansão também deu incorporação de alguns elementos pagãos que os modernos chamam de indigenização (autóctone ou dono do lugar) do cristianismo. Porque foram “construídas igrejas em antigos lugares de sacrifícios pagãos” que prolongam até hoje.



5. O CRISTIANISMO ETÍOPE NOS ANOS 1270-1530

Para além de ser no tempo em que a vizinha Núbia e o império Bizantino sofriam constantes ataques do islamismo, contribuíram três factores para este período como:



d) Restauração do reino salomónico

Que segundo a tradição em 1270 com a subida do trono de Yakunno Amlak, a cultura etíope alcançou máximo explendor mais sob Zara Yakob (1434-1468) .


e) Reforma religiosa

Foi ao início da idade de ouro etíope em que houve duas personalidades monásticas que conseguiram renovar e impulsionar a vida dos monges, que de facto eram líderes religiosos do país: São Taka Haymanot que entre 1215-1313, construiu Debre Libanos, o mosteiro piloto do país. Ele é considerado como o maior santo etíope, restaurador da dinastia salomónica e legislador monástico. O segundo líder foi Ewostatewos (Eustácio) em 1273-1352, cujo principal mosteiro era Debre Maryiam, o Tigre. Os mosteiros tiveram e têm uma grande influência sobre toda a vida do país .


f) Aspetos característicos do cristianismo etíope

A igreja etíope permaneceu basicamente filha fiel ao patriarcado copto de Alexandria, apreciando a sua apostolicidade (S. Marcos), segundo a sua teologia ortodoxa e aceitando o seu metropolita (o abuna-patriarca). Os elementos especificamente indígenas estão presentes em todos os campos da vida da igreja etíope. Trata-se de uma igreja totalmente inculturada. Com uma liturgia muito comprida e rica em orações eucarísticas, era e é celebrada em greez, a antiga língua de Aksum. As misturas com esta rica liturgia, permaneceram alguns restos da religião tradicional a algumas práticas do Antigo Testamento .



6. DESENVOLVIMENTO DO CRISTIANISMO NA ETIÓPIA

Até mais ou menos no século VI fala-se da existência de um cristianismo já muito desenvolvido em Axum e em toda a área circundante. Desde os finais do século V, provavelmente por influência dos monges missionários sírios (os 9 santos), a igreja etíope aderiu o monoteísmo. Embora «a invasão árabe ter interrompido os contactos desta igreja com o resto da cristandade, mesmo com Egipto, no seculo VIII houve uma renovação espiritual por obra dos monges coptas» . Por isso mesmo cresceu na Etiópia a vida monacal e abundavam sacerdotes seculares. Mas por muito tempo só houve um bispo em Axum consagrado pelo patriarca de Alexandria. Como Igreja monofisista, a Etiópia está separada das bizantinas, nestoriana e da católica.


CONCLUSÃO

Por falta de escritos mais claros que relatam a história geral de África, torna difícil informar-se ou estudar o passado de África. Este factor foi impulsionado pelos colonos que não davam valor ou importância a história dos africanos. Africanos que viram as suas terras e bens a serem pilhados para beneficiar as outras culturas julgadas melhores. Aliás, a mentalidade vigente foi de que o africano não era civilizado pois religiosamente ele não tinha alma. Isto contribuiu negativamente para o desenvolvimento da história da África em geral e da afirmação do próprio africano que se via marginalizado e sem importância no seu próprio país. Apesar disso, colhemos algo importante para a vida e para a nossa história. É a história que nos chegou através dos homens de boa vontade dentro do colonialismo; os que registavam a história na sua maioria são os religiosos. Eles nos relataram o desenvolvimento do cristianismo iniciando no Norte de África. Principalmente indo para o interior da África, o cristianismo Etíope que tratamos neste trabalho. Nele ficamos percebendo que a Etiópia teve vários contactos com o cristianismo como também com islamismo os quais houve muitas colisões para além dos pagãos que se opunham ao cristianismo perante muito tempo. Neste sentido se o eunuco, termo pejorativo devido a piedade dos etíopes, trouxe a fé. Flumêncio trouxe o sacerdócio no território etíope, enquanto os monges e ascetas no conjunto de irmãs e padres dedicavam-se à formação das comunidades, na construção das igrejas e educação literária. Tudo isto, hoje faz parte das mais influentes religiões o cristianismo e o islamismo, judaísmo e animismo. Foi assim que em diferentes reinados floresceu o cristianismo na África ao longo dos séculos.


NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUR John, 2000 anos de cristianismo em África, Edições Paulinas, S. Paulo 2002.

Bíblia e Negritude, Pistas para uma leitura afro-descendente, Edição este, grupo Identidade, Moçambique 2005.

BRUNSCHW, Henri, A partilha de África, Lisboa 1972.

OLIVEIRA, J. M. Pereira de, Enciclopédia Verbo Luso-brasileira de cultura, Edição Século. XXI, Braga 1999.

SANCEAU, Eliane, Enciclopédia Verbo Luso-brasileira de Cultura, Etiópia, Edição Século XXI, São Paulo 1998.

SOTOMAYOR, M., Enciclopédia Verbo Luso-brasileira de Cultura, Etiópia, Edição Século XXI, S. Paulo 1998.

PIRES, B. Videira, Enciclopédia Verbo luso-brasileira de cultura, Iémene, Edição Século. XXI, Lisboa 2000.

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