terça-feira, 25 de setembro de 2012

PAULO, O ESCRITOR

Introdução


Nas breves linhas que seguem tencionamos fazer o fichamento concernente ao género epistolas do apóstolo S. Paulo. Com efeito, iremos apresentar o género epistolar, as formas literárias particulares, as características do estilo, a autenticidade e unidade das cartas e, enfim, a colecção das cartas.



O GÉNERO EPISTOLAR

Paulo escreveu as suas cartas em plena actividade missionária e pastoral. O epistolário Paulino traz a marca do “aqui e agora”. São cartas de ocasião, no sentido de que foram ditadas pela urgência de dar resposta a problemas concretos e particulares das comunidades destinatárias, e pela necessidade do apóstolo de se comunicar com os fiéis de suas igrejas ou, como no caso dos romanos, com os que partilhavam da mesma fé (Rm 1,12).

Paulo escritor se mantém, de facto, sempre fiel à sua imagem de homem do evangelho. Na carta aos Gálatas, defende “a verdade do evangelho”, ameaçado pela tentativa desviacionista dos judaizantes (1,7). Na carta aos romanos, tematiza o evangelho com grande emprego de instrumentos teológicos, expositivos e demonstrativos: «Eu não me envergonho do evangelho: a força de Deus para a salvação de todo aquele que crê, em primeiro lugar do judeu, e depois do pagão. Sim, porque no evangelho se revela, em clima de fé, a justiça de Deus» (1,16-17). Nas cartas aos Tessalonicenses, aos Coríntios e aos Filipenses, o evangelho é assumido como a suprema instância à qual se deve recorrer para a solução dos problemas das igrejas nascentes (1Ts4,13-18; 1Cor15,1ss;2Cor11,4; 12,4; Fl2,6-11) (p. 39).

Em síntese, podemos definir as cartas apostólicas ou pastorais como substitutivos da viva voz do apóstolo, impossibilitado de ir visitar pessoalmente as comunidades (p. 40).

Hoje, é amplamente reconhecida a originalidade dos escritos de Paulo, como escritos nos quais se exprime com vigor a vida de Paulo e de suas comunidades. Foram escritas em papiros, material barato e, por isso, largamente utilizado, ao contrário do caríssimo pergaminho. O apóstolo as ditava a um escrevente como é o exemplo de Tércio (Rm 16,22), mas era do seu punho a saudação final (1Cor 16,21). Com excepção do bilhete a Filemon, as cartas paulinas eram endereçadas às igrejas (p. 40).



Formas literárias particulares

As cartas paulinas apresentam um esquema estrutural semelhante ao que era costume na época: o endereço, com os nomes do remetente e do destinatário, uma saudação e, frequentemente, um breve preâmbulo, introduziam o corpo da carta, que se concluía com augúrios e saudações (p. 40).

Em geral, o corpo epistolário é introduzido por um agradecimento a Deus pelo florescimento da vida cristã na comunidade destinatária. Excepto nas igrejas gálatas, onde estava para se concluir um processo involutivo considerado por Paulo uma verdadeira apostasia. Na 2Coríntios, o motivo eucarístico é substituído pelo eucológico: o apóstolo louva o pai, fonte de toda consolação, por tê-lo livrado do perigo mortal passado em Éfeso (p. 41).

Não é difícil destacar nas cartas uma rica variedade de formas de expressão e de verdadeiros géneros literários. Com bons resultados, a pesquisa bíblica histórico-morfológica passou, ultimamente, do âmbito dos evangelhos, especialmente dos sinópticos, para o epistolário paulino. Aí aparecem as expressões litúrgicas tradicionais: ámen, anathema, maranatha, abbá. Acrescenta-se a presença significativa do género hínico. À parte o hino cristológico de Fl 2,6-11, quase certamente pré-paulino, mas por ele utilizado, e o discutido capítulo 13 de 1Cor, que não pode ser propriamente chamado de um hino, deve ser citado, sem dúvida, Rm 11,33.35;8,31-39 – revelam um andamento hínico (p. 41).

Numerosos são os trechos autobiográficos. Põe as comunidades a par do que lhe aconteceu em outro lugar. Seu interesse, porém, não é nunca particular: trata-se sempre de autobiografia do apóstolo de Cristo. Pois, totalmente ocupado com a causa do evangelho, ele não tem tempo para uma vida privada. Tudo, em sua existência, assume dimensão missionária e pastoral. De outro lado, a apologia e a polémica ultrapassam o restrito âmbito dos trechos autobiográficos, cobrindo grande parte do epistolário. Exemplo, 2Cor 2,14-7,4 – carta apologética; 2Cor 10,1-13,13 - carta polémica (p. 42).

Paulo não aceita o princípio da simples substituição do mundo histórico pelo mundo futuro. Para ele, o novo mundo, graças a Cristo, já se antecipou na história e está em luta contra as forças do mal e da morte “portanto, quem vive da vida de Cristo é uma nova criatura. O velho mundo já se foi, e eis que surgiu o novo” (2Cor 5,17). Concentra os conteúdos da esperança cristã na expectativa da plena e indefectível comunhão com Cristo: “E assim estamos sempre com o Senhor” (1Ts 4,17; Fl 1,23), (p. 43).

Características do estilo

A teologia de Paulo se sustenta sobre a contraposição dos seguintes pólos: morte-vida ou morte-ressurreição; lei mosaica-fé ou graça; carne-espírito; perdição-salvação; desobediência-obediência; pecado-justiça ou graça; ira divina-justiça de Deus; escravidão-filiação ou liberdade; fraqueza-força; sabedoria humana-sabedoria divina; primeiro Adão-segundo Adão; trevas-luz e noite-dia; velho-novo, inimizade-paz; um todos; letra-espírito. Ele prefere os extremos da realidade e da situação humana, sem dar muita atenção aos estágios intermediários e às nuances. Frequentemente recorre aos expedientes da diatribe cínico-estóica da época. Depois, devem ser assinalados os frequentes anacolutos que interrompem o curso do pensamento (p. 44).



Autenticidade e unidade das cartas

Segundo uma antiguíssima tradição, o corpus epistolar Paulino compreende 14 cartas: 1-2 Ts, 1-2Cor; Gl, Rm, Fl, Fil, Col, Ef, as pastorais 1-2Tm e Tt, e a carta aos hebreus. A pesquisa histórico-crítica actual ilustra que a carta aos hebreus de nenhum modo pode ter sido escrita por Paulo. As pastorais são, sem dúvida, tardias, devendo ser atribuídas à escola dos seus discípulos, confrontados com novos desdobramentos da situação das igrejas paulinas. Muito debatida é a sustentabilidade da carta aos Efésios. Enfim, também a paternidade Paulina de Colossenses e da 2Ts é negada por críticos de prestígio; outros, porém, a aceitam (p. 45).

Por outro lado, um unânime consenso atribui a Paulo a 1Ts, as duas aos Coríntios, as cartas aos Gálatas, aos Romanos, aos Filipenses e a Filemon. À obra literária de Paulo pertencem à primeira categoria as 7 cartas já mencionadas. Quanto às demais, julgamos que são o resultado da pseudepigrafia, que consiste em divulgar escritos sob o prestigioso nome de tal ou qual personalidade, sobretudo quando nascidas em ambientes próximos. Não menos discutido é o problema da unidade das cartas paulinas. Em particular, isso se coloca para a 2Cor e para as cartas aos Romanos e aos Filipenses (p. 45).



A colecção das cartas

A história do epistolário Paulino não terminou com a composição dos escritos. Depois da morte do apóstolo, as comunidades guardaram zelosamente suas cartas. Algumas, porém, se perderam. As outras foram recolhidas e o complexo processo levou a fusões de cartas autênticas, como se disse a propósito de 2Cor e Fl, e à agregação de cartas pseudepígrafas. Nasceu assim, progressivamente, o corpus epistolar Paulino, que rapidamente atingiu um grau tão grande de autoridade, que passou a ser considerado Sagrada Escritura (p. 46).

Conclusão

Como viemos abordando, o corpus epistolar paulino surge para dar resposta a problemas concretos e particulares das comunidades destinatárias, e pela necessidade do apóstolo de se comunicar com os fiéis de suas igrejas. Estas cartas apresentam um estilo peculiar do apóstolo. Embora a sua unidade seja ainda discutida, há uma forte unanimidade em atribuir a 1Ts, as duas aos Coríntios, as cartas aos Gálatas, aos Romanos, aos Filipenses e a Filemon como autenticamente paulinas. O epistolário paulino é fruto de um complexo processo que levou a fusões de cartas autênticas e à agregação de cartas pseudepígrafas.

BIBLIOGRAFIA BARBAGLIO, G., As cartas de Paulo (I), Ed. Loyola, São Paulo 1996, pp. 39-46.

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