quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O CRISTIANISMO NA ÁFRICA DO NORTE


INTRODUÇÃO
É a Igreja do Magrebe, ou seja, da Argélia, da Tunísia e do Marrocos, que forma uma pequena comunidade feita mais de estrangeiros, mas que quer ser um marco no diálogo com os muçulmanos. A presença do cristianismo nessa região do norte da África é antiga e de grandes santos e teólogos como Agostinho e Cipriano. grandes santos e teólogos como Agostinho e Cipriano.
Ela teve uma grande história de testemunhos e de martírios até que, a partir dos séculos XII e XIII, começou declinar diante das invasões islâmicas que destruíram qualquer vestígio do cristianismo. Este, praticamente, desapareceu e os poucos cristãos que ficaram eram estrangeiros de passagem ou diplomatas. Uma Igreja, portanto, que não tinha vez, somente marcava sua presença e se dedicava especialmente aos necessitados: uma presença para transmitir uma esperança aos necessitados.
Ainda hoje, essa Igreja, já provada pelo martírio de alguns membros, um bispo e monges, é chamada a sobreviver numa região marcada por conflitos étnicos e religiosos, com graves económicos que empurram milhares de pessoas a emigrarem, até clandestinamente, para a Europa. A Igreja é chamada a dar sua cooperação no plano social.

REGISTOS HISTÓRICOS DA RELIGIÃO NA REGIÃO DO MAGREBE
Na região do Magrebe mostra a sua inclusão gradual no Mundo Clássico, com colónias costeiras estabelecida primeiro por fenícios, alguns gregos, e mais tarde conquista extensa e colonização pelos romanos. No século II, a área tornou-se um centro de fenício de língua cristianismo, onde os bispos falaram e escreveram na Púnica, e até mesmo o imperador Septímio Severo foi notado por seu sotaque local. Ambos os colonos romanos e as populações romanizadas se converteram ao cristianismo. A região produziu figuras como Christian Church escritor Tertuliano (155 - +202); e mártires da Igreja cristã ou figuras importantes, como Perpétua e Felicidade (mártires, 200 d.C); São Cipriano de Cartago (+ 258); Stª Mónica, seu filho, o filósofo Stº. Agostinho, Bispo de Hipona (+ 430) (1) e Stª Júlia de Cartago (século L.)[1].
A dominação do cristianismo terminou quando as invasões árabes trouxeram o Islão em 647. Cartago caiu em 698, e o restante da região seguiram nas décadas posteriores. Islamização gradual prosseguiu, embora as letras sobreviventes apresentaram correspondência dos cristãos regionais a Roma até o século IX. O cristianismo ainda era uma fé viva. Bispados e dioceses Christian continuou a ser activo, com relações estreitas com Roma. Tão tarde quanto o Papa Bento VII (974-983) reinado, um novo arcebispo de Cartago foi consagrada. Evidência do cristianismo na região, em seguida, desapareceu durante o século X[2].
Durante o século VII, os povos da região iniciaram sua conversão quase total para o Islão. Existe uma comunidade pequena, mas próspera judaica, bem como uma pequena comunidade cristã. A maioria dos muçulmanos seguiam o sunita Maliki. A forte tradição de venerar marabus e tumbas de santos é encontrado em toda as regiões habitadas por berberes. Qualquer mapa da região demonstra a tradição pela proliferação de " Sidi "s, mostrando lugares nomeados após os marabus. Como algumas outras tradições religiosas, esta diminuiu substancialmente ao longo do século XX. Uma rede de zaouias tradicionalmente ajudou a proliferar alfabetização básica e conhecimento do Islão nas regiões rurais.
  
NA ÉPOCA DO IMPÉRIO ROMANO
No século I, a comunidade cresceu mais ainda em função de dois factores:
O primeiro e mais importante foi ter acolhido judeus que se refugiaram na região, vindos da Judeia, na época também parte do Império Romano. Fugiam à violência dos exércitos romanos que lutavam contra os judeus que se haviam rebelado contra o jugo de Roma. A primeira dessas levas de judeus rumo à África Setentrional ocorreu em 70 desta era, após as tropas romanas terem abafado a primeira revolta judaica e o exército de Tito ter tomado Jerusalém e destruído o Segundo Templo.[3] Flávio Josefo testemunha que durante o reinado do imperador romano Tito mais de 30 mil judeus da Terra de Israel foram levados pelos romanos para a Tunísia. Ainda que lhes fosse permitido pela lei romana seguir sua religião em relativa liberdade, a vida dos judeus na Tunísia foi muito dura nessa época, em particular durante o governo dos imperadores romanos Vespasiano e Adriano.
O segundo factor que contribuiu para o crescimento da comunidade judaica da Tunísia foi a conversão ao judaísmo de tribos berberes que viviam no norte da África. Muitas lendas da região relatam tais conversões.

A Situação Dos Judeus No Império Romano
A situação dos judeus em todo o Império Romano piorou sensivelmente quando, em 392, o Cristianismo foi declarado religião do Estado e foram promulgadas as primeiras restrições legais aos judeus. A população judaica viu sua liberdade diminuir gradativamente, sendo excluída dos cargos públicos e proibida de construir novas sinagogas, entre outras medidas discriminatórias.
Uma prova concreta da mudança em relação aos judeus pode ser vista no trabalho Adversus Judaeorum, do legislador romano Tertuliano, nascido em Túnis e grande defensor do Cristianismo. Em seus textos, ele descreve os judeus como “fugitivos e vagabundos, condenados a viver espalhados pelo mundo como resultado do desrespeito que tiveram com o Salvador”. Sinagogas foram transformadas em Igrejas e se recorreu à tortura para obrigar os judeus a se converterem[4].
 Mas os dias do império Romano do Ocidente estavam chegando ao fim e o séc. V e VI são palco de profunda crise no mundo romano. Ondas de invasões de bárbaros na Europa e no norte da África levaram à queda do Império Romano do Ocidente, por volta do ano de 476.
Durante o século V, os reis bárbaros do norte da Europa, dividiram o antigo Império Romano do Ocidente em diversos reinos. Os vândalos – bárbaros de origem germânica – estabeleceram um reino na África do Norte. Durante a dominação destes últimos (439-533), todas as medidas discriminatórias contra os judeus foram revogadas e a comunidade judaica passou a viver um novo período de bonança.
Esse período de paz e tolerância durou pouco, pois quando os bizantinos (Império Romano do Oriente) retomaram a região, em 533, trouxeram de volta difíceis provações para os judeus. As autoridades cristãs do Império Bizantino aplicaram sobre a população judaica uma política de severa intolerância. Um édito promulgado em 535 pelo imperador Justiniano, além de proibir a prática da religião judaica, excluía os judeus de todos os serviços públicos e os coagia, novamente, a se converterem ao cristianismo.
Perseguidos nos territórios sob hegemonia bizantina, deixaram as cidades grandes e foram para as regiões montanhosas e para os confins do deserto, mesclando-se às populações berberes, muitas das quais se converteram ao judaísmo.

O ISLÃO CONQUISTA O MAGREBE
No séc. VII surge o Islão, como uma nova força político-militar, além de religiosa, que vai mudar a geopolítica do mundo. Em 632, após a morte do profeta Maomé, seus seguidores iniciam o processo da expansão muçulmana, conquistando a região do Magrebe em 642. Em certas regiões do norte da África, os exércitos árabes enfrentaram uma longa e feroz resistência por parte de tribos berberes judaizadas.
Segundo uma das tantas lendas da região, quem liderava uma dessas tribos em 693 era a rainha de Aures, conhecida como Kahena. Segundo o historiador árabe Ibn Khaldoun, Kahena era judia e seu nome derivaria da palavra hebraica Cohen.[5]
Após uma longa luta, os conquistadores árabes acabaram tomando o poder e obrigaram a população pagã a converter-se ao islamismo. No entanto, em todos os territórios dominados pelos muçulmanos, estes concederam aos “Povos do Livro”, adeptos do monoteísmo judeus e cristãos, o direito de praticar sua religião, sob a condição de pagarem uma taxa por “cabeça”, a djezia ou dhimma, em troca de protecção.[6] Neste caso, considerados cidadãos de segunda classe, seu status social era inferior ao dos muçulmanos e sua situação dependia muito dos governantes que estavam no poder. Conforme a interpretação que cada dinastia dava à legislação que governava os dhimmis, ou mesmo conforme o capricho de seus governantes, os judeus e os demais dhimmis eram submetidos a uma série de humilhações públicas. Entre estas, estava a “chtaka”, uma bofetada dada, em público, uma vez por ano, ao chefe da comunidade judaica.
Porém apesar de todos os possíveis perigos com a conquista árabe da região, a vida dos judeus melhorou gradativamente, à medida que os novos conquistadores sedimentavam sua presença na nova capital Kairouan, fundada em 670.

HISTÓRIA DE MARROCOS
Cerca de 278 AD romanos mudaram a sua capital regional para Tanger e Volubilis começou a perder importância. A região permaneceu como parte do Império Romano até 429 d.C. como vândalos invadiram a área administrativa e presença romana chegou ao fim.
De fato, no século V, a região caiu nos vândalos visigodos e depois gregos bizantinos em rápida sucessão. No entanto, durante este tempo, as altas montanhas da maioria da moderna Marrocos permaneceu indomada, e ficou nas mãos de seus habitantes Berberes.[7]
Marrocos é um país do Norte da África cujo nome é derivado de Marraquexe (vila imperial e capital de 1062 a 1269, e depois de 1524 a 1659). Habitado desde a Pré-história por populações berberes, o país conheceu povoamentos de fenícios, cartagineses, romanos, vândalos, bizantinos antes de ser islamizado pelos árabes. Foi em 788 que Idris I, fugindo as perseguições do Califado dos Abássidas, e exilado nesta região, deu origem ao nascimento dum estado neste Maghreb el-Aqça (Magrebe extremo ou extremo poente). Marrocos guardou sempre, a não ser uma independência absoluta, pelo menos uma grande autonomia.[8]

O Cristianismo em Marrocos
O cristianismo foi introduzido no século II e ganhou converte nas cidades e entre os escravos e os agricultores berberes. Até o final do século IV, as áreas Romanized tinha sido cristianizada, e incursões foram feitas também entre as tribos berberes, que, por vezes, convertidos em massa. Mas cismáticos e heréticos movimentos também desenvolveu, geralmente como formas de protesto político. A área teve um substancial judaica da população.
No Marrocos explica dom Landucci "temos mais ou menos 30 mil católicos, dos quais, 10 mil são idosos, estrangeiros que trabalham no país há várias gerações. Outros 10 mil são diplomatas e restantes são estudantes da África negra".[9]
A sua Independência
Marrocos teve a mais suave transição para a independência apoiada pela Igreja e o maior número dos cristãos permaneceu ai. Tinha tido a mais longa presença crista: desde 1630, altura em que foi criada a prefeitura Apostólica de Tânger. Quando teve a sua independência, o país estabeleceu relações diplomáticas com a Santa Sé.[10]

TUNÍSIA
A Tunísia situa-se entre a Líbia e a Argélia, na costa mediterrânea africana. Suas montanhas na região norte algumas com mais de 1.500 m de altitude são entremeadas por vales e planícies férteis. Caminhando em direcção ao sul do país, as montanhas dão lugar a um planalto que, gradualmente, perde altitude até alcançar uma série de lagos de água salgada. A metade sul do território tunisiano faz parte do deserto do Saara. O norte do país possui um clima mediterrâneo que se torna gradativamente mais quente e seco à medida que se caminha em direcção ao sul[11].
Praticamente todos os tunisianos são muçulmanos, a maioria de tradição sunita. Ainda assim, há minorias de judeus e de cristãos. Famosa por ser um importante centro islâmico, a cidade sagrada de Kairouan, no norte do país, costuma ser palco de peregrinações religiosas.

O Cristianismo na Tunísia
O Cristianismo chegou ao território da Tunísia no final do século I e foi profundamente marcado pelo cisma donatista, um importante movimento herético desencadeado pelo bispo Donato de Cartago no século IV. Embora o islamismo tenha varrido a Tunísia no século VII, o cristianismo ainda conseguiu sobreviver na região por mais 300 anos. No século XIII, uma nova igreja foi implantada no país por missionários franciscanos e dominicanos[12].
Por enquanto, os muçulmanos tunisianos convertidos são deixados em paz pelas autoridades, que passam a maior parte do tempo restringindo a influência dos muçulmanos fundamentalistas. Esta situação é favorável as cristãos de duas formas: distrai a atenção das autoridades e os muçulmanos fundamentalistas, que formam uma possível fonte de perseguição, são impedidos de perturbar os cristãos. Como a pressão internacional para suprimir o movimento islâmico é grande nestes dias, não parece que a situação na Tunísia venha a mudar de imprevisto.
 Na Tunísia, os católicos são aproximadamente 20 mil, a maioria dos quais são católicos franceses ou refugiados libaneses. Amedrontados e isolados, os cristãos de cidadania tunisiana somam apenas alguns milhares de pessoas e, por serem carentes de treinamento teológico, são presas fáceis para a perseguição. Sublinha mons. Martinelli que as celebrações "são ricas de elementos locais. Os muçulmanos daqui são altivos, mas tolerantes. Parece que não há lugar para o fundamentalismo. Existe um islão que quer o diálogo e não podemos fugir desse anseio"[13]. Uma pequena semente num ambiente difícil, mas esperançoso de um futuro melhor.

A Perseguição
A constituição tunisiana declara o islamismo como a religião oficial do país e determina que o chefe de estado seja um muçulmano. Por outro lado, ela também assegura a liberdade de consciência e protege o livre exercício de culto. Essa postura tem sido administrada diante do crescente fundamentalismo islâmico no país e, embora haja tolerância ao culto cristão, o governo não é favorável à evangelização. O Islamismo tem se enraizado na sociedade e criado significativas barreiras culturais à conversão.
A importante estátua do cardeal Lavigerie foi relegada da praça da cidade de Tunes para o cemitério da catedral e a própria catedral, uma igualmente basílica, que dava à cidade a impressão de uma cidade cristã, foi transformada num museu. Num acordo com a Santa Sé, o pacto de amizade foi ratificado: de cerca de 70 Igrejas, todas, menos cinco, foram cedidas ao Estado para utilização pública; a Sé primacial de África, a arquidiocese de Cartago, foi reduzida a Prelatura de Tunes. De facto, a maioria dos Padres Brancos, tinam já chegado à conclusão do Islão ao Cristianismo dificilmente teria lugar. Daí que a sua verdadeira vocação em relação ao Islão seria o dialogo ecuménico, o qual foi cultivado por vários grupos , até ao nível universitário[14].

O Futuro da Igreja na Tunísia
A Igreja tunisiana desfruta de certa liberdade na Tunísia, o que permite seu crescimento. A tendência actual indica que a igreja tunisiana poderá dobrar de tamanho por volta de 2050 e que a participação dos cristãos na população deverá aumentar, pois a taxa de crescimento da igreja excede a taxa de crescimento demográfico do país. É provável que o crescimento da igreja leve a esmagadora maioria muçulmana a criar maiores restrições ao cristianismo. Talvez o maior desafio para o futuro da igreja na Tunísia seja o treinamento de líderes que apoiem o crescimento que está por vir.


CONCLUSÃO
Depois de uma leitura feita acerca do tema, Magrebe: presença cristã em Marrocos, Tunísia e Argélia, apesar de este último país não colocar no neste trabalho, quero acreditar que o Cristianismo no Norte de África é um desafio total, visto que o Islão tomou conta. Quando se diz que é um desafio e preocupante no sentido de ver por exemplo Tunísia que tem Islamismo 99% e Cristianismo 0,5%. A Igreja do Magrebe tem esperança que futuramente o Cristianismo retomará o seu lugar.


BIBLIOGRAFIA
AMAULD Dominique, História du Christianisme en Afrique,ed. Karthala, 2001.
BAUR John, 2000 anos de Cristianismo em África, Edições Paulinas, São Paulo,2002.
BERNET Anne, Les chrétientés d´Afrique, Éditions de Paris, 2006.
GONZÁLEZ J.L., Uma História do Pensamento Cristã, ed. Cultura Cristã, Vol. Lisboa, 2004.
LUGER B., Históire du Marroc, Édition de Paris, Paris, 1947.
PITERYS António, História geral da África Antiga, ed. A.O, 1947.


[1] Cf. ANTÓNIO Piter, História geral da África Antiga, ed. A.O, 19472, p. 247.
[2] Ibidem, 249.
[3] ANNE Bernet, Les chrétientés d´Afrique, Éditions de Paris, 2006, p.174.
[4] Ibidem, p.177.
[5] ANTÓNIO, Piter, Op cit, p. 251.
[6] Idem, p 253.
[7] B. Luger, Históire du Marroc, Édition de Paris, Paris, 1947, p. 15.
[8] Ibidem, p. 18.
[9] J. L. González, uma História do Pensamento Cristã, ed. Cultura Cristã, vol. Lisboa, 2004, p. 89.
[10] J. BAUR, 2000 anos de Cristianismo em África, edições Paulinas, São Paulo, 2002, p. 297.
[11] J. L. González, Op cit, p. 116.
[12] Dominique Amauld, História du Christianisme en Afrique,ed. Karthala, 2001, p. 21.
[13] Idem, p. 23.
[14] J. BAUR, Op cit, p. 298.

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