terça-feira, 30 de abril de 2013

A TEOLOGIA DOS ESCRITOS JOANINOS


1) Evangelho
A teologia de João é a mais completa do N.T., porque é a única que tem a representação dos três carismas: Evangelista (Jo); doutor (1-3Jo) e profeta (Apocalipse). Pode-se falar de uma escola joanina, tendo em conta a diversidade das obras (um autor ou vários), mas há também semelhança. O Apocalipse, a nível do vocabulário é diferente, mas as três obras são semelhantes do que aquelas de Lucas (Lc e At).
A teologia de João parte da realidade humana de Jesus tornada na sua morte. Este é o facto central do evangelho: Jesus condenado à morte e executado por instituição que não o aceitou, por considerá-lo perigoso para seus interesses políticos, económicos e religiosos, defendidos por interpretação da lei na qual se apoiaram para dar-lhe a morte. De facto, o plano que estrutura o Evangelho de João é teológico. Não é biografia de Jesus (20,30), nem sequer resumo da sua vida, mas interpretação de sua pessoa e obra, feita por uma comunidade no seio da sua experiência de fé.
A partir da abertura constituída pelo prólogo são esboçados os temas de luz/trevas, Vida/morte, palavra e Glória. O simbolismo do Templo, que já despontava no prólogo com “ele amou sua Tenda” e “nós vimos sua Glória”, aparece claramente no capítulo 2 onde Jesus purifica o Templo; ele se exprime na cena da Samaritana, onde todos os lugares Sagrados são eliminados em benefício do único consagrado, o ungido, o Messias. Pode-se também descobri-lo em diversos outros episódios até cena do Calvário. Nas bodas de Canãa surgem motivos que se encontrarão pelo evangelho até o Calvário como: a Hora de Jesus, o vinho das núpcias messiânicas. O tema da Páscoa onde também pode ser seguido até a crucificação onde transparece a imagem do cordeiro Pascal. Vê-se já que um certo número de simbolismo converge para cena do Calvário, lugar da exaltação de Jesus na Cruz.
Ao longo de todo o Evangelho se entrelaçam temas diversos, nascem, desaparecem, tornam voltar, como os motivos de uma fuga musical. Esse estilo de composição, em que as correspondências exercem tão importante papel, evoca para um moderno estilo da poesia simbólica. Alias tudo é “sinal” no evangelho. Os milagres são chamados “sinais” (2,11;4,54;6,14;12,18): comportam um significado que ultrapassa o simples benefício material e levam a uma percepção de outra ordem sobre o modo de agir de Deus, sobre a origem divina de Jesus. Elementos como a água e o sangue (19,34) são sinais. Toda cena pode ser objecto de uma leitura.
Já que, de episódio a outros, os elementos simbólicos se esclarecem e se fortificam numa relação mútua de atracão e de resposta, o evangelho é como um tecido, cujos fios seria arbitrário cortar. Pode-se dizer que cada episódio contém virtualmente o evangelho todo. Daí a dificuldade de isolar uma cena, sempre atravessada por fibras que a ligam ao conjunto do corpo.
As linhas chaves da teologia de João são duas: o tema da criação e o da Páscoa-aliança. Em primeiro lugar, explica a série cronológica que aparece no início do evangelho (1,19: testemunho de João Baptista; 1,29: ao dia seguinte;1,35: ao dia seguinte; 2,1: ao terceiro dia), cujo objectivo é fazer coincidir o anúncio e início da obra de Jesus com o sexto dia, o dia da criação do homem; marca assim o sentido e o resultado da sua obra: terminar esta criação, a qual culminará com a sua morte na cruz (19,30: fica terminado), que ocorrerá também no sexto dia, como o recorda o evangelista com outra série de indicações (12,1: seis dias antes da Páscoa; 12,12: no dia seguinte; 13,1: antes da Páscoa; 19,14.31.42: preparação da Páscoa).
O tema da Páscoa-aliança leva em si o êxodo e, com ele, inclui todos os temas subordinados: a presença da glória na Tenda do Encontro ou Santuário (cfr. 1,14;2,19-21), o cordeiro (1,29;19,36), a lei (3,1ss), a passagem do mar (6,1), o monte (6,3), o maná (6,31), o caminho do seguimento de Jesus (8,12), a passagem da morte para a vida (5,24), a passagem de Jordão (10,40). Está intimamente relacionado com o tema do Messias (1,17), que, como outro Moisés, tinha de realizar o êxodo definitivo e, portanto, com o da realeza de Jesus (1,49;6,15;12,13ss;18,33-19,22). O tema pascal domina o esquema das seis festas que enquadram a actividade de Jesus. Desde, a primeira (2,13ss), a terceira ou central (6,4) e a última (11,55;55;12,1) são a própria festa da Páscoa.

Notar-se-á a insistência de João no número seis: sexto dia, sexta hora, seis dias antes da Páscoa, seis festas, seis talhas. Este número indica o incompleto, o preparativo, o período da actividade que visa a um resultado. O número sete aparece somente em uma ocasião designando a sétima hora (4,52) que segue à sexta e indica o fruto da obra consumada: vida que Jesus outorga. A designação de Jesus como o Homem (o filho do homem) pertence ao tema da criação, por designá-lo como o modelo de homem, o homem acabado. Também o título de “filho de Deus” (1,34), que indica a realização do projecto divino. A designação “o filho” abrange os dois e os une.

2) Cartas
a). A fidelidade ao que foi ouvido e ensinado desde o começo é um dos temas característicos da 1Jo. Não é desejo de voltar atrás por preocupação do tradicionalismo mal compreendido.

b). Temos uma Cristologia Trinitária e uma outra orientada para revelação de Deus aos Homens. Se há revelação de deus em Jesus, é que, daqui por diante, Deus está presente em nossa carne, em nossa história humana.

c). A articulação entre a cristologia e a ética é dimensão importante da epístola. A ética da qual se trata não é código moral, mas se exprime imperativamente no mandamento dado por Cristo aos discípulos, porque vivido primeiro por ele. A epístola de João não renuncia a esse vocabulário jurídico e sublinha os direitos e deveres daqueles que se dizem filhos de Deus.

d). A obrigação de amar o irmão porque ele nos amou primeiro, tornou-se o cerne da epístola, o centro de todo o seu movimento. Amar o irmão torna-se um acto de justiça, dever, para quem reconhece que Jesus veio na carne.

e). Em comparação com os outros escritos do N.T., o Espírito Santo aparece pouco nas epístolas de João. O joanismo dá um lugar preponderante ao Espírito junto aos discípulos depois da morte-ressurreição de Jesus. O autor apela para o discernimento do papel do espírito na Igreja.

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