terça-feira, 30 de abril de 2013

PENTATEUCO II


1.3. O Contexto do Pentatêuco
O contexto do Pentatêuco é constituído pela história do povo de Deus, desde a vocação de Abraão até a morte de Moisés. Abrange um período de mais 600 anos, isto é, um período que vai desde 1900 aproximadamente até pelo ano de 1250 a.C., embora seja difícil indicar datas seguras nessa primeira etapa da história de Israel. Essa história divide-se em duas secções, a primeira das quais é denominada pelas quatro gerações dos patriarcas-Abraão, Isaac, Jacob e José (Gn 12-50) -enquanto a segunda é denominada pela figura majestosa de Moisés (Êxodo-Deuteronómio). Esse conjunto é precedido de um prólogo (Gn 1-11), que apresenta documentos e tradições antigas, que servem não só para introduzir os temas principais da narrativa subsequente, mas também para ligá-los com o plano de Deus num mundo de homens decaídos, de povos divididos e de uma ordem criada originariamente boa.

1.4. A Crítica literária
As tradições judaicas e cristã desde o período pré-cristão ao século XIX d.C., atribuíram o Pentatêuco a Moisés; algumas questões isoladas levantadas, por alguns escritores sugeriram que as origens do Pentatêuco eram mais complexas do que fazia crer essa atribuição, mas essas questões não prevaleceram por muito tempo e não puseram em sérias dúvidas essa atribuição. No NT, Moisés, a lei de Moisés ou o livro de Moisés são as denominações normais do Pentatêuco. Porém, aceitando essa denominação o NT não afronta a questão crítica e não pode ser empregado para resolvê-la.
A crítica começa após a observação de certos traços do Pentatêuco que remontam a existência de mais de um autor. Sobretudo quando observamos que há dois relatos da criação (Gn 1,1-2,4ª; 2,4b-24); dois relatos diferentes do dilúvio (Gn 6,5-9,18) podem ser reconstruídos do texto presente, que contém duas menções da maioria dos pormenores, algumas vezes separados e variantes entre eles (a entrada da arca, o número de animais levados para a arca); Ex 4,19 deveria seguir Ex 2,23ª; a rebelião de Datã e Abiram pode ser independente da história da rebelião de Coré (Nm 16); as duas genealogias dos patriarcas antediluvianos (Gn 4-5), em alguns casos, revelam os mesmos nomes; a expulsão de Agar (Gn 16 e 21); o chamado de Moisés (Ex 3 e 6); o milagre das codornizes e do maná (Ex 16; Nm 11) são relatados duas vezes, e a esposa de um patriarca é levada para o harém de um monarca estrangeiro três vezes (Gn 12; 20; 26); o decálogo aparece duas vezes (Ex 20; Dt 5). Quando essas partes de narrativa são colocadas uma ao lado da outra, torna-se evidente que certas características comuns do vocabulário e estilo aparecem em vários grupos. A divindade é chamada por diferentes nomes, o monte sagrado do Êxodo é chamado tanto de Sinai como de Horeb, os habitantes pré-israelitas de Canaã são chamados de amorreus e de cananeus. Reflectindo sobre essas características, os críticos reconstruíram diversas fontes do Pentatêuco; visto que essas fontes aparecem em todos os cinco livros, é impossível atribuí-las a um tempo anterior a Moisés.
A moderna teoria dos documentos foi proposta pela primeira vez na forma em que foi substancialmente fixada por Hupfeld (1853 d.C.). Hupfeld distinguiu, nas suas investigações, três fontes em Gn-Nm: a primeira, eloísta, a mais antiga; a Javista; a segunda eloísta, a mais recente. A Javista e a segunda eloísta foram combinadas antes da sua união com a primeira eloísta. Com o Dt, perfazem quatro documentos.
O passo decisivo foi dado por Graf (2865 a.C.). Aceitando os documentos como haviam sido analisados por Hupfeld, ele observou que o primeiro documento eloísta de Hupfeld deve ser o documento mais recente; ele é obra do sacerdócio pós-exílico de Jerusalém e revela interesses sacerdotais e legalistas. Ele o chamou de fonte Sacerdotal. Assim, a hipótese dos quatro documentos foi completada. Os documentos, geralmente, são simbolizados por siglas: J, o documento Javista (da grafia Jaweh por Iahweh); E, o Eloísta; D, o Deuteronomista; P, o Sacerdotal.
Os estudos mais recentes enfatizaram a forma literária e a tradição oral. O documento javista e o eloísta representam colecções de tradições que foram compostas e transmitidas oralmente.
Segundo o ponto de vista de muitos estudiosos, particularmente Von Rad e North, as tradições do Pentatêuco não devem ser vistas meramente como contos populares tribais; elas são “história da salvação”, profissão da fé feita de Israel. Mesmo quando sua origem é mais secular que religiosa, elas recebem sua forma e carácter de sua inserção na história da salvação. As tradições escritas são o resultado da transmissão oral de narrativas culturais ligadas a grandes festas e a Santuários; essas narrativas falam dos gestos salvíficos ou da bondade de Iahweh, de sua eleição e libertação de Israel, da instituição da aliança, das leis e do culto de Israel. A concepção da tradição oral e da forma literária, parecem explicar melhor do que quaisquer outros princípios, o conflito entre unidade e diversidade nas tradições mencionadas.
Muitos críticos modernos não falam de “documentos”, embora se deva levar em conta a obra de alguns que mais merecem o nome de autores do que de compiladores. Alguns falam de “escolas”, mais que de documentos ou escritos; outros ainda preferem chamá-las simplesmente de tradições, sem afirmar sua origem oral ou literária, e o termo parece preferível.
Os resultados razoavelmente seguros da crítica moderna podem ser resumidos na descrição das tradições acima feita.

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