terça-feira, 30 de abril de 2013

LIVROS SAPIENCIAIS


Os livros sapiências enquadram-se no conjunto do Antigo Testamento e são relativamente recentes (período pós-exílico, séculos VI-V), alguns são mesmo dos mais recentes da Bíblia, como o livro da Sabedoria[1].
As raízes dos textos sapiências mergulham e atingem os primórdios da história bíblica, os princípios da Monarquia.
A origem do pensamento sapiencial em Israel é tradicionalmente relacionada com a figura de Salomão (1Rs.3,4-15; 5,9-14), que se tornou protótipo de todos os sábios. Ele organizou a sua corte em conformidade com o modelo das cortes de outros países mais evoluídos, especialmente o Egipto; promoveu intensas relações políticas e comerciais com os vizinhos. Ora isso exigia uma preparação adequada dos funcionários de Israel, tanto a nível central como local, em escolas apropriadas de carácter sapiencial, também à semelhança do que já existia junto de outros povos. Foi Salomão que protagonizou toda essa dinâmica em Israel. Por isso, não é de admirar o facto de lhe terem sido atribuídas obras do género sapiencial muito recentes, que, efectivamente, nada têm a ver com ele. Era costume antigo da pseudo-epigrafia, que se verifica em muitos casos da Bíblia. (Bíblia Sagrada-Difusora biblíca-Franciscanos Capuchinhos p. 790).

1. O QUE SÃO LIVROS SAPIENCIAIS?
Os livros resultantes da compilação dos antigos provérbios e das novas reflexões sapiências recebem o nome de sapiências porque ensinam a sabedoria como arte de viver. Job, Salmos, Provérbios, Eclesiastes (ou Qohéllet), Cântico dos cânticos, Sabedoria e Ben Sira (ou Eclesiástico) constituem esse conjunto. Os Salmos são um livro de características especiais, embora integrado neste conjunto.

2. GÉNERO LITERÁRIO SAPIENCIAL
Para A. Schokel, sabedoria é um enclave tardio em território cultural grego com características literárias próprias.
Os livros de sabedoria invocam Salomão como seu autor.
Mashal é a forma literária exclusivamente sapiencial.
Ditos populares e cultos: os sapienciais são também ditos populares porque remontam à tradição oral e são o património de todas as culturas[2].
Sentenças e conselhos: são formas literárias características desta literatura.
Outros géneros literários sapiências: são os enigmas, diálogos, debates, discursos, narrações autobiográficas ou confissões, poemas didácticos, fábulas, alegorias, orações[3].
Outra característica dos textos da sabedoria é o cepticismo. Os textos de Qohélet e de Jó manifestam, por vezes, um cepticismo radical face ao governo e à política da época. Este cepticismo incide sobre a providência de Javé em relação ao mundo. Os sábios punham-se a seguinte pergunta: estará Deus disposta a intervir numa história cheia de injustiça?

3. O QUE É SABEDORIA?
O sábio é aquele que vivendo na vida real, tem os olhos abertos para distinguir o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o útil e o inútil.
O sábio, na perspectiva bíblica, é aquele que saboreia a vida e a história com o próprio "paladar de Deus", isto é com os seus critérios e horizontes. Por isso, o sábio é aquele que vive e testemunha a harmonia entre fé e vida, não dois blocos separados e ligados apenas pelo vínculo jurídico do cumprimento de leis religiosos, mas a fé como coração orientador da vida.
O sábio tira lições para uma correcta maneira de viver diante de Deus e dos homens. O seu estudo e a sua reflexão não prescindem da sua fé em Deus. A reflexão do sábio não exclui nenhum domínio do real: o mundo, a história, os grandes problemas de todas as culturas, etc. Portanto, não é fácil definir a sabedoria.
Mas, segundo von Rad, a sabedoria é um conhecimento prático das leis da vida e do universo baseado nas leis da experiência.
Para J. E. Crenshaw a sabedoria é a busca do próprio conhecimento em íntima relação com as coisas, as pessoas e o Criador.

4. A SABEDORIA HUMANA E SABEDORIA DIVINA
A sabedoria humana adquire-se por experiência. E segundo von Rad esta sabedoria chama-se conhecimento. A sabedoria humana adquire-se na escola que é uma instituição fundamental para a aprendizagem da sabedoria. Ainda von Rad diz que a partir do exílio a sabedoria passa a ser como que a mediadora da revelação divina.
A sabedoria na perspectiva divina é a forma como Deus e a sua salvação se aproximam do homem[4]. A sabedoria divina acompanha o Criador na obra da criação e identifica-se com o Espírito de YHWH (Gn 1,2).


[1] Cf. Frei Herculano Alves, Livro Sapienciais, Difusora Bíblica, Lisboa 1991, p.17.
[2] Idem, p. 39.
[3] Cf. frei Herculano Alves, Op. Cit., p. 40.
[4] Idem p. 64.

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