terça-feira, 30 de abril de 2013

CARTAS PASTORAIS


Cartas pastorais (1-2Timóteo e Tito)
São as cartas a Timóteo e Tito dirigidas a dois ou mais fiéis discípulos de Paulo. Dão linhas mestras da organização e conduta das comunidades aos pastores. É por isto que são chamadas “pastorais”. São muito divergentes doutras cartas de Paulo: no vocabulário, estilo e no modo de resolver problemas (aqui Paulo apenas condena o falso ensinamento sem recorrer à argumentação persuasiva). Entre elas há homogeneidade de vocabulário, estilo e perspectiva teológica-espiritual. Por isto formam um bloco bem definido.
A autenticidade é discutida:
- Uns defendem que são do Paulo já velho mas que deve ter dado espaço de acréscimos ao seu secretário-provavelmente Lucas (2Tim 1,4).
- Outros defendem que foram compostas por um discípulo de Paulo nos finais do séc. I, para tratar de problemas de uma Igreja.
- Outros ainda dizem que um leal seguidor de Paulo herdou três cartas de Paulo as conservou até à sua morte. Mais tarde acrescentou o que ele achou que Paulo diria face à então situação da Igreja. Nisto, elas não são do Apóstolo, mas contém seus fragmentos.
Exames minuciosos revelam que 1Timóteo é próxima de Tito que de 2Timóteo. Neste caso não haveria objecção da autoria de Paulo.
Contudo, actualmente quer católicos como não católicos admitem a autenticidade paulina.
Em relação ao destinatário, as cartas são enviadas a indivíduos, mas deve se entender no sentido amplo na medida em que tais instruções dadas aos pastores abarcam todos os sectores da vida eclesial, desde a oração até às relações interpessoais.
Tais orientações fundamentam-se geralmente em textos de catequese, liturgia, profissão de fé baseadas na tradição. Apresentam também uma especial documentação da catequese primitiva. A grande preocupação é transmitir pessoalmente o depósito da fé.
Destas cartas nasceram outros dois problemas:
- Os protestantes alemães dizem que sob ponto de vista teológico tornaram-se exemplos clássicos de um cristianismo burguês pela perda de tensão escatológica e fixação em tendências institucionalizantes. Os católicos procuraram mostrar a continuidade da tradição cristã primitiva nas cartas dizendo:
a) O estilo e vocabulário podem ser da participação activa do secretário (Rom 16,22) que não é simples copista. Aliás, estes dois elementos são determinados pelo espírito do autor e pelos destinatários directos.
b) A doutrina normativa-jurídica depende do objectivo do autor e das circunstâncias históricas em que se escrevem.
c) Os erros combatidos nas cartas não se apresentam como sistemas doutrinais bem definidos como o gnosticismo do séc. II. Talvez se trate do início da gnose ou de tendência agnóstica do judaismo (Tt 1,14 fala de fábulas judaicas). Aliás, as cartas supervalorizam o Antigo Testamento enquanto que o gnosticismo de marcião e Valentino rejeitavam-no.
As cartas pastorais são colocadas no período pós-libertação da primeira prisão de Paulo em Roma entre 65-67 d. C, depois do regresso da Espanha se é que chegou a ir como tensionava.
Teria viajado novamente a Ásia para rever as comunidades, e nessa altura deve ter deixado Timóteo como episcopo de Éfeso e Tito da Ilha de Creta.
Esteve também em Tróade (2Tim 4,13) e ali foi preso e deixou seu manto e seus pergaminhos. Em Macedónia, entre 65 a 66 escreveu a 1Timóteo e Tito, levado prisioneiro a Roma em 66, lá teria escrito a sua última carta, a 2Timóteo quando já pressentia o seu fim (2Tim 4,6-8). Foi decapitado em Roma em 67/68 d.C.
Timóteo (destinatário) – é natural de Listra, filho de pai grego e mãe judia (Act 16,1) de nome Eunice. Foi educado pela mãe e pela avó Lóide na fé judaica e no conhecimento da lei de Moisés (2Tim 3,15). Conheceu Paulo durante a segunda viagem deste.
Ficou conhecido na comunidade e recebeu muita estima dos cristãos. Paulo baptizou-o e tomou-o por colaborador. Por ser filho de um gentio não fora baptizado ao oitavo dia, mas para facilitar o relacionamento com os judeus Paulo fez com que ele fosse circuncidado (Act 16,1).
Esteve com Paulo quando este escreveu 1 e 2Tessalonicences, 2Coríntios, Romanos, Filipenses, Colossenses e Filémon. Acompanhou-o a Macedónia, a Corinto e a Éfeso.
Tinha uma saúde debilitada (1Tim 5,23) e um carácter tímido e indeciso (1Cor 4,17; 16,10-11).
A primeira Carta a ele destinada apresenta o como responsável da Igreja de Éfeso. Paulo escreve para o encorajar e alertá-lo contra doutrinas falsas (1,3-20; 4,1-5; 6,3-10).
Esteve com Paulo, provavelmente até à época do seu martírio e depois retornou a Éfeso onde segundo a tradição morreu mártir em 97 d. C.

1Timóteo
Escrita provavelmente na Macedónia por volta de 65/66. Visa alertar a Timóteo enquanto dirigente da comunidade/Igreja de Éfeso, a respeito dos falsos doutores (1,3-20; 4,1-11; 6,3-10). Admoesta também Timóteo e os que ocupam cargos directivos na comunidade sobre a vida interna da comunidade.

2Timóteo
Escrita durante a segunda prisão em Roma (“2Tm 1,8; 2,29) entre 66/67. Não se sabe qual é o motivo da prisão. Mas ele esperimentou uma serie de abandonos até traições (1,15; 4,14ss). Esteve apenas com Lucas em Roma. Outros colaboradores estavam longe dele por motivos pastorais ou outros (4,10).
Esta carta é um testamento espiritual de Paulo que vê a morte próxima (4,6). Daqui se entendem as recomendações a Timóteo para que se dedique com todas as forças ao serviço do Evangelho (1,6-2,13; 4,1-8), à defesa da verdadeira doutrina (3,10-17) e à luta contra os falsos doutores. Informa também a Timóteo a sua grave situação e lhe pede que vá imediatamente a Roma (4,9).

Tito (destinatário)
Filho de pais gregos (Gal 2,3) convertido por Paulo ao cristianismo (Tt 1,4; 1Tim 1,2; 2 Tim 1,2) que lho chamava “filho”. Não foi circuncidado. Sua conversão deve ter ocorrido na primeira viagem, pois no final desta foi com Paulo e Barnabé a Jerusalém para a assembleia em 49/50 (Gal 2,1-5; Act 15,2).
Acompanhou Paulo a Éfeso durante a terceira viagem. Daí foi enviado por Paulo a Corinto (2Cor 2, 12ss; 7,6ss; 12,18) e mais tarde outra vez para organizar a colecta em Corinto e nas Igrejas de Acaia (2Cor 8,6.23; Act 20,4; Rom 15,26).
Deve ter sido ele quem levou a carta perdida “Carta em lágrimas” até Corinto.
Quando Paulo foi liberto da primeira prisão em Roma, encarregou-o o governo da Igreja de Creta (Tt 1,5). Depois foi encontrar-se com Paulo em Nicópolis no Éfeso, sendo substituído por Artemas e Tíquico em Creta.
Não se sabe se de Nicópolis ou de Roma Paulo o tenha enviado a Dalmácia (2Tim 4,10), onde o seu culto é muito difundido ainda hoje.
Tito parece ter sido um homem forte, de intuito rápido e óptimo organizador. É possível que depois da morte de Paulo tenha regressado a Creta. Segundo uma antiga tradição, morreu com 93 anos.

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