terça-feira, 30 de abril de 2013

LIVROS HISTÓRICOS

OS LIVROS HISTÓRICOS E OS SEUS GÉNEROS LITERÁRIOS; COMPOSIÇÃO E TEOLOGIA
Os livros históricos tratam da doutrina e da história do povo de Israel. São 16 livros históricos. Estes mostram os diversos momentos da vida do povo de Israel na Terra Prometida e no exílio
Entre os vários géneros literários da Bíblia, a história, por sua extensão, ocupa o primeiro lugar. Este facto já prova quando a história fosse cultivada pelo antigo povo de Israel.
Rigorosamente falando, devia figurar entre os livros históricos grande parte do Pentatêuco, sobretudo o Génesis, devido à sua estreita relação com a legislação mosaica, formam um só corpo com o nome de lei.

2.1. Divisão dos livros históricos
Os livros históricos do AT, pela matéria e pelos caracteres internos, são divididos em três categorias:
a). Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis: estes livros relatam a história do povo de Israel desde a conquista da Palestina até o exílio da Babilónia (586 a.C.). Relatam que a história do povo de Israel depende da atitude que o povo toma na Aliança com Deus. Se o povo é fiel à Aliança, Deus lhe concede a bênção, que se concretiza no dom da Terra e na prosperidade. Se o povo é infiel atrai para si mesmo a maldição que se traduz em fracasso e perda da terra (exílio). Os seis livros, excepto de Rute, fazem parte da História Deuteronomista.
b). 1 e 2 Crónicas, Esdras e Neemias: estes retomam essa mesma história sob pontos de vista particulares desde o rei David (as idades precedentes, desde as origens do homem, estão, como que resumidas, no princípio 1Cr 1-9 em tábuas genealógicas) até à formação da sociedade judaica depois do retorno do exílio (cerca de 430 a.C.). Fazem memória de toda a trajectória do povo de Deus, a fim de fundamentar a vida da comunidade judaica e sua forma de governo, polarizada pelo culto no Templo de Jerusalém (1 e 2 Crónicas). A preocupação básica é fundamentar e organizar a comunidade depois do exílio na Babilónia (Esdras e Neemias).
c). Tobias, Judite e Ester: ilustram alguns episódios notáveis dos últimos séculos (VII-V a.C.), nos livros dos Macabeus narra-se a resistência dos judeus contra o jugo dos Selêucidas e a reconquista da soberania política (séc. II a.C.).
A série dos livros históricos Josué-Reis, considerados como grupo autónomo, os hebreus chamaram-nos “Profetas anteriores”, formando com os “Profetas posteriores” (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os Doze menores) a segunda classe (“os profetas”) da sua Bíblia tripartida. Os livros históricos contidos na série Crónicas-Macabeus recebem apreciações diversas dos hebreus. A maioria deles admitem no seu cânone as Crónicas, Esdras-Neemias e Ester, mas colocam-nos, como os restantes livros Sagrados, na terceira Classe dos “Escritos”.
Quase todos os livros históricos da Bíblia indicam uma ou mais fontes escritas donde tiraram o material e às quais nos remetem para maiores e mais amplas informações (cf. Nm 12,14: o livro das batalhas do Senhor; 27: os profetas). Tornam-se mais frequentes nos livros dos Reis e Crónicas. Desde os primeiros tempos da monarquia (2Sam 8,16), entre outros oficiais do rei encontramos um “monitor” ou “Chanceler” encarregado de registar os acontecimentos do reino (1Rs 11,41). Daí o encontrarem-se frequentemente alusões a tais memórias dos reis de Judá e de Israel desde 1Rs 14,19-29 até 2Rs 24,5. O autor das Crónicas cita escritos de vários profetas: Samuel, Natã, Gad (1Cr 29,29), Ala, Ado (2Cr 9,29), Semeia, Jeú, Hozai (2Cr 12,15; 20,34;33,19). O primeiro deles provavelmente é o livro canónico de Samuel; os outros se perderam, exceptuando-se, talvez, alguma parte incorporada aos livros canónicos dos Reis.
Comparando-se as passagens paralelas dos livros das Crónicas e dos Reis, quer os Reis tenham servido de fonte ao redactor das Crónicas ou quer ambos aurissem duma fonte comum, observamos que a fonte geralmente é transcrita literalmente conforme os hábitos da historiografia Semítica, numa época que não conhecia os direitos de propriedade literária. Nesse caso, o autor sagrado, apropriando-se das palavras da fonte torna-se expressão do seu próprio pensamento e, através, do carisma da inspiração divina, que não se opõe ao seu uso de fontes profanas, imprime-lhe o selo da sua infalibilidade.
Para apreciar devidamente os livros históricos do AT é importante ter em conta a finalidade dos autores sagrados, bem como o espírito que os animava ao escreverem seus livros. Os escritores bíblicos não pretendem escrever história propriamente dita, nem narrar para satisfazer a sede do saber. Antes, eles querem evidenciar a mão de Deus no dirigir a sociedade humana segundo as altas finalidades de sua providência, especialmente de acordo com a religião e com a salvação do género humano. A sua historiografia é religiosa e não profana. Daí a escolha, sensível de modo especial nos livros dos Reis e das Crónicas, de poucos factos dentre a enorme quantidade de acontecimentos que, mesmo limitando-se à Palestina, decorreram nos largos tempos abrangidos pela sua narrativa; enquanto se atribui um papel importante aos profetas, ministros e porta-vozes de Deus, junto do seu povo, segue-se que não devemos esperar dos hagiógrafos um quadro completo da sociedade israelita da época.
Os livros de Josué, Juízes, 1 e 2Samuel e 1 e2Reis na Bíblia Hebraica estão inclusos entre os Livros Proféticos designando-se por Profetas Anteriores. Os mesmos livros são classificados nas Bíblias Cristãs entre os Livros Históricos. Também incluídos nos Livros Históricos estão os Livros de Rute, Ester, Esdras, Neemias e Crónicas (1 e 2), que na Bíblia Hebraica são inclusos nos “Escritos.” Finalmente, as Bíblias Católicas incluem entre os Livros Históricos de Judite, Tobias, 1 e 2 Macabeus. Estes fazem parte dos livros deuterocanónicos, porque estão incluídos no cânone Católico mas não no cânone hebraico nem no protestante.
Os livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis estão agrupados num conjunto que os especialistas designam por História Deuteronomista, visto ter influências do estilo do Deuteronómio. Este conjunto representa a compilação e edição final dos materiais mais recentes, quer escritos, quer orais, no período pós-exílio. Esta edição foi feita pelo grupo de escribas, também responsável pela edição final do livro do Deuteronómio. Juntamente com o Pentatêuco, fazem parte de uma história continuada que começa no Génesis e termina em 2Reis. O livro de Rute, por mais que não faça parte da História Deuteronomista, está colocado depois de Juízes, porque diz respeito a um antepassado do rei David cuja história é contada nos livros seguintes.
Nestes livros, a história do povo judeu começa com a conquista da terra e continua através do período em que os Juízes reinavam. A longa história de como Israel se tornou um reino é contada em 1 e 2 Samuel. 1 Rs fala dos dias grandiosos da monarquia, em que Salomão construiu o templo em Jerusalém. 1 e 2Reis continuam com a triste narrativa da divisão do reino e o declínio da monarquia como constituição. A História Deuteronomista termina com as boas notícias das reformas religiosas do rei Josias e com as notícias trágicas da destruição de Jerusalém e do templo e da deportação para a Babilónia. Ao longo do texto dos livros há uma tentativa de compreender o significado dos sofrimentos e retrocessos do povo que Deus escolheu.
Os outros livros históricos não fazem parte da História Deuteronomista. Os dois livros de Crónicas e os livros de Esdras e Neemias estão ligados por semelhanças de tema e estilo e habitualmente são tidos como escritos ou editados pelo mesmo Cronista. Esses livros datam de um período posterior ao da HD. Abarcam muito do mesmo material, mas também contém a história posterior para relembrar a restauração do culto no templo em Jerusalém no período posterior ao Exílio da Babilónia.
Os livros de Tobias, Judite e Ester podem ser considerados conjuntamente. O seu ponto de vista é diferente do dos outros livros históricos. Mais do que contar a história do povo como um todo, e em particular as acções dos líderes políticos, militares e religiosos, cada um destes livros conta a história de um ou mais indivíduos extraordinários. Estas palavras não são história no sentido moderno da palavra e contém o que poderíamos considerar imprecisões históricas, mas o seu objectivo é, em primeiro lugar, teológico, para ilustrar o caminho no qual Deus recompensa os que são fiéis.
Os dois livros de Macabeus chegaram através da Bíblia Grega ou Setenta, contém a história do povo judeu até cerca de século e meio antes do nascimento de Cristo. Eles contam a revolta do povo judeu contra os dirigentes gregos que conduziram à instauração da dinastia dos Hasmoneus quando, por um curto período, os judeus foram dirigidos novamente por judeus.

2.2. Teologia e composição dos Livros Históricos
Os livros históricos da Bíblia são a lembrança escrita do relacionamento entre Deus e o seu povo durante muitas gerações. Desde muito cedo estas narrativas constituíram uma história oral.
Para o leitor de hoje, os livros históricos parecem estar frequentemente relacionados com insucesso, pecado e guerra. Contudo, são a história honesta de um povo humano, o povo escolhido por Deus, com todas as suas fraquezas mas também com o seu esforço para se manter fiel. Contrastando com as suas derrotas estão as notáveis bênçãos, paciência e fidelidade de Deus, ainda hoje disponíveis para nós.
Os livros históricos, embora contendo tradições do Século XIII a.C., foram escritos aproximadamente entre os Séculos V e I a.C.
Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis é um grupo de livros posto em conjunto e redigido nos anos a seguir à destruição de Jerusalém (586 a.C.).

2.3. Carácter literário da História Deuteronomista
O estilo e a fraseologia dos escritos deuteronomistas são facilmente identificáveis, por estar cheia de frase estereotipas e de repetições. Algumas das frases típicas são: “seguiram outros deuses”, “a cidade que o Senhor escolheu”, “oferecer sacrifícios e queimar incenso e sobre as alturas”, “conhecereis que somente o Senhor é Deus”, “caminhar nas vias do Senhor”, “observar todos os mandamentos”, “provocar a ira do Senhor”. Enfim, encontramos ao longo de toda esta história discursos ou reflexões muito parecidas entre elas quanto ao estilo, vocabulário e teologia.




2.4. A Teologia Deuteronomista
 A Teologia Deuteronomista obedece a seguinte dinâmica: se Israel obedece à lei do Senhor, tudo correrá bem; se pelo contrário desobedece, deverá sofrer o castigo.

2.5. Fontes usadas pelos escritores deuteronomistas
Os escritores Deuteronomistas usam algumas fontes para escrever a história. Algumas fontes são citadas na própria obra: “O livro do Justo” (Js 10,13; 2Sm1,18), “O livro dos gestos de Salomão” (1Rs 11,41); “O livro das Crónicas os reis de Judá” (1Rs 14,29 e mais 14x), “o livro das Crónicas dos reis de Israel” (1Rs 14,19 e mais 16x); (Js-2Rs).
Embora os escritores tenham dado às fontes uma unidade global, encontramos, no entanto, contradições, incoerências e duplicados nestes livros. Isto deve-se pelo facto que a HD não é obra de uma pessoa mas vários autores. Daí que os acréscimos e correcções sucessivas à obra geram por vezes contradições e incoerências.

2.6. Data e finalidade da HD
A forma final da HD é certamente do período pós-exílio, mas é bem possível que grande parte estivesse em forma escrita já ao tempo de Josias, rei de Judá (morto no ano de 609 a.C.).
Vista no seu conjunto, a HD quer demonstrar que Israel mereceu destruição por causa dos seus pecados. Deus repetiu os seus advertimentos e teve muitas vezes misericórdia, mas Israel não quis afastar-se dos seus pecados, por este motivo Deus deve castigar e destruir.
Nestes livros da HD há um esquema predominante: pecado-castigo-grito de ajuda-libertação (mais uma vez aberto à esperança).

2.7. Temáticas Teológicas da HD
Para o Dt a obediência à lei traz a bênção da Aliança (Dt 28,1-14); e a desobediência traz a maldição (Dt 28,15-68). O culto exclusivo a YHWH é para os Deuteronomistas importantíssimo, praticamente toda a história de Israel é narrada em termos de obediência ou desobediência a esta única lei. Também a preocupação pela centralização do culto em Jerusalém se funda no zelo pelo culto exclusivo a YHWH: o culto ao Senhor e exclusivamente ao Senhor.
O verdadeiro profeta é aquele que fala da Lei do Senhor e repreende o povo sobre as consequências da desobediência (Dt 18,9-12). O povo não pode desculpar-se com a ignorância da lei, porque os profetas dão testemunho da lei e sobre a sua base chamam o povo à conversão (2Rs 17,13).

Bibliografia
-Bíblia de Jerusalém, Nova edição revista e ampliada, Edições Paulinas, São Paulo, 2002.
-Bíblia Sagrada Africana, Instituto Missionário Filhas de S. Paulo, Edições Paulinas, Maputo, 2004.
-BROWN, Raymond E. et ali, Novo Comentário Bíblico São Jerónimo: Antigo Testamento, Editora Academia Cristã; Paulus, S. Paulo, 2007.
-MCKENZIE, John L., S.J., Dicionário Bíblico, Edições Paulinas, São Paulo, 19843
-MESTERS, Carlos, À Descoberta da Bíblia, Edições Paulistas, Lisboa, 19842
-TAYLOR, John, O mundo da Bíblia, Edições Paulinas, S. Paulo, 1986.
-WWW.fatheralexander.org./bíblia: 16.04.2010, 18:54h.
-WWW.Paulinos.org.br/blog: 22.04.2010, 08:50h.

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