terça-feira, 30 de abril de 2013

CARTA AOS HEBREUS

1.                       Carta aos Hebreus
a)                       Autor
Por vários anos, esta carta aos hebreus foi atribuída a Paulo: desde o séc. II, na Igreja de Alexandria. Clemente a aceitou como sendo da autoria de Paulo. Porém algumas objecções apresentam-se neste campo da autenticidade paulina:
a)                       O estilo e o vocábulo não são de Paulo.
b)                       Nas citações da Escritura há certas diferenças.
Uma Cristologia diferente. «Hebreus» usa o termo sacerdote ou sacerdócio, ao passo que Paulo nunca se expressa dessa forma, isto é, ele nunca usou esse termo.
Quem seria então o autor?
A este respeito, colocaram-se várias hipóteses. Alguns atribuíram a autoria de Apolo, outros ainda de Clemente de Roma, Barnabé, Judas, mas nenhum destes tem fundamento.
Vários pesquisadores crêem que o autor seja um judeu -cristão, de influência helenista. Isso devido ao uso constante entre a esfera celeste e a terra, esta última vista como sombra de primeira. Além disso o autor demonstra um conhecimento dos recursos de retórica grega.
O enigma porém permanece insolúvel. Nós optamos por aceitar a hipótese de Apolo como autor da carta.

1.1 Contexto 
Este escrito estabelece uma relação entre o Antigo e Novo Testamento numa perspectiva cristológica. O tema central é o sacerdócio de Cristo e o culto cristão.
A novidade é grande: uma pessoa Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos homens, é sumo-sacerdote superior a Moisés e comparável à figura misteriosa de Melquisedec. Pela sua morte e glorificação, Ele é o mediador entre Deus e os homens; o seu sacrifício substitui todos os sacrifícios antigos, que já não têm capacidade para elevar o homem até Deus. Pela sua morte, Cristo realiza o perdão dos pecados uma vez por todas, estabelece uma aliança nova e eterna com a humanidade e inaugura um novo culto, imagem do culto celeste (Cfr. Sagrada Escritura, Ed. Difusora Bíblica).
O sacerdócio levítico é o termo de comparação para demonstrar a superioridade do sacerdócio de Cristo. O sacerdócio levítico exerciam-no homens necessitados, também eles, de  purificação (7,28), a sua duração limitava-se pela morte de cada um dos representantes (7,23), que se sucediam de geração em geração: sacerdócio, portanto, imperfeito, por ser transitório e não definitivo. Mas o sacerdócio de Cristo, pelo contrário, em virtude da sua divindade, possui uma dignidade infinitamente superior e é eterno (7,24), destinado à purificação dos outros, não de si mesmo; ele não precisa purificar-se, pois nada tem em comum com os pecadores (7,26), excepto a natureza humana com as suas fraquezas; é este o título pelo qual pode exercer legitimamente o sacerdócio em favor da humanidade (2,14-18;4,15).
Pode-se afirmar que o sacerdócio de Cristo dura eternamente porque a natureza humana que assumiu permanece nele também na glória, mas teve início apenas com a encarnação.

1.2 Conteúdo e articulações da Carta aos Hebreus
Não é fácil encontrar uma única estrutura para este livro. No entanto, propomos a seguinte:
Prólogo (1,1-4)
I.                        O Filho de Deus superior aos anjos (1,5-2,18): prova escriturística (1,5-14); exortação (2,1-4); Cristo, irmão dos homens (2,5-18).
II.  Jesus, Sumo-Sacerdote fiel e misericordioso (3,1-5,10): fidelidade de Moisés e fidelidade de Jesus (3,1-6); entrada no repouso de Deus, pela fé (3,7-4,13), Jesus, Sumo-Sacerdote misericordioso (4,14-5,10).
III.                  Sacerdócio de Jesus Cristo (5,11-10,18): normas de vida cristã (5,11-6,12); promessa e juramento de Deus (6,13-20).
1.    Cristo é superior aos sacerdotes levitas (7,1-28): Melquisedec (7,1-10); sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (7,11-28).
2.    Sumo-Sacerdote de uma nova aliança (8,1-9,28): o novo santuário e a nova aliança (8,1-13); insuficiência do culto antigo (9,1-10); o sacrifício de Cristo é definitivo (9,11-14);
Cristo, o mediador da nova aliança pelo seu sangue (9,15-22); O perdão dos pecados pelo sacrifício de Cristo (9,23-28).
3.    Recapitulação: sacrifício de Cristo superior ao de Moisés (10,1-18): ineficácia dos sacrifícios antigos (10,1-10); eficácia do sacrifício de Cristo (10,11-18).
IV.   A fé perseverante (10,19-12,29): o apelo a evitar a apostasia (10,19-39); a fé exemplar dos antepassados (11,1-40); o exemplo de Jesus (12,11-13); fidelidade à vocação cristã (12,14-29).
Apêndice (13, 1-25): últimas recomendações  (13,1-19), bênção e saudação final (13,20-25).

1.3 Teologia acerca do sacerdócio de Cristo
a) Sacrifício de Cristo
O acto essencial do sacerdócio do Filho encarnado é o sacrifício de si mesmo na morte aceite de livre vontade. O seu valor expiatório, ao qual já se aludem em 1,3 (feita a purificação dos pecados), acentua-se de novo em 9,12; 9,26; 12,24; 13,12.
Do sacrifício de Cristo acentua-se a absoluta eficácia. O sacrifício de Cristo, tendo diferentemente do antigo, a virtude de expiar, uma vez para sempre, todas as culpas da humanidade, não pode ser oferecido senão uma única vez. Cristo com uma só oblação na «plenitude dos séculos» (9,26), expiou os pecados de todos os tempos, e só deverá manifestar-se de novo para conduzir à salvação final aqueles que o esperam (9,28).
A razão intrínseca da eficácia do sacrifício oferecido por Cristo, é focalizada pela comparação com as vítimas prescritas pela lei: novilhos e cabritos (9,12; 10,4).
O sangue de Cristo, oferecido em virtude de «espírito eterno», purifica interiormente o homem e o capacita de servir a Deus (9,14).

b) Jesus e o Antigo sacerdócio
Jesus não enveredou pelo sacerdócio no sentido antigo, pois não optou pelos rituais. Ele veio opor-se aos rituais de separação. Rejeitou a antiga maneira de santificação (Mt 13; 12,7). Escolheu a oposição contrária, que procura servir a Deus, propagando a misericórdia que dele vem.
Ao invés de uma santificação obtida separando-se de outros, ele propunha uma santificação obtida escolhendo os outros. Em lugar de multiplicar as barreiras, tratava-se, muito mais, de suprimi-las. (cfr. A. VANHOYE, A mensagem da Epístola aos Hebreus, p. 1 ). Foi só mais tarde que os cristãos perceberam o verdadeiro sentido do sacerdócio de Cristo. Assim se compreende a longa omissão do tema, no NT. E o autor desta carta fez uma reflexão e uma abordagem do sacerdócio de Cristo.

c) Cristo Sumo-Sacerdote
Um dos maiores temas, senão dos tratados pela epístola aos Hebreus é, exactamente, o do Sacerdócio de Cristo. Com efeito, a originalidade desse escrito está em dar a Cristo o título de Sumo-Sacerdote, que nunca se encontra no NT. Ao menos referindo-se a Jesus Cristo. Mas Jesus Cristo é realmente sacerdote, pelo facto de ser o Filho de Deus, feito homem (1,1-4). Aliás, já no prólogo, esta exposição doutrinal-síntese, insiste na superioridade de Cristo sobretudo em relação aos anjos, ao mesmo tempo fala do nome, o nome que indica a oposição ou glória alcançada por Cristo.
O título de sacerdote é tirado do salmo 110,4, ao passo que o de sumo-sacerdote é herdado da prática cultual levítica, especialmente da festa da expiação, cuja simbologia permite o autor significar a função sacerdotal de Cristo. Porém, as duas expressões possuem o mesmo valor teológico (Heb 4, 14; 10,21). (Pe. Roberto Albuquerque, Apontamentos de Cartas Católicas e Carta aos Hebreus, 2009).

d) A mediação sacerdotal de Cristo
Logo no prólogo, pode-se notar que a palavra de Deus e a sua acção estão indissoluvelmente ligadas à mediação de Cristo. É em Cristo, que Deus nos fala, é em Cristo que Deus nos salva. Cristo realiza, na ordem das pessoas, a mediação (de benefícios, de perdão e de comunhão) que o sacerdote realizava. A comunidade cristã tem a consciência desse facto de mediação de Cristo. Ele é o modelo de ofertante, pois a sua vida pessoal toda foi entregue a Deus: - Na oração; na obediência; mas também viveu no interesse do próximo; por misericórdia com os pecadores; serviço contínuo: solidariedade, pregação, oração.
Essa mediação e esse sacrifício de Cristo vão ter o seu cume na cruz. Essa mediação perfeita para os homens (Heb 5,3; 5,27; 9,14-15; 10,12 e 12,13). Isto argumenta-se, na medida em que Cristo, como Sumo-Sacerdote, oferece-se pelos pecados do povo. Trata-se, pois, de uma redenção eterna (Heb 9,12 e 10,14). É uma mediação perfeita, com a ressurreição. (Pe. Roberto Albuquerque, Apontamentos de Cartas Católicas e Carta aos Hebreus, 2009).

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