terça-feira, 30 de abril de 2013

REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO DIVINA


Revelação e inspiração da Sagrada Escritura à luz da Dei Verbum (Cc. I-III); formação do Canon; interpretação do texto.

Revelação
Literalmente a palavra revelação significa tirar véu que ocultava algo. Na linguagem religiosa quer dizer a manifestação que Deus faz aos homens do seu próprio ser e das verdades necessárias ou convenientes para a salvação. Deus dá-Se a conhecer ao homem de duas maneiras: uma é através das suas criaturas, a maneira como um artista através da sua obra; este é o nosso conhecimento natural de Deus, descrito com grande força poética no AT o livro da Sabedoria.[1]
Com efeito, pela grandeza e beleza das criaturas pode-se, por analogia, chegar ao conhecimento do seu Autor. Isto é o que o Apóstolo são Paulo recordava aos Romanos, quando escrevia as perfeições invisíveis de Deus, em concreto, o Seu eterno e a Sua divindade, se tornam visíveis a inteligência através das coisas criadas.[2] Mas Deus não Se contentou com esse conhecimento natural: Ele próprio deu-Se a conhecer de uma maneira directa.[3] Esta acção de Deus e a Revelação sobrenatural ou divina.
Com uma sábia pedagogia Deus escolheu o povo de Israel para se manifestar gradualmente, por meio dos profetas, no AT. Esta Revelação tem a sua plenitude em Jesus Cristo, o filho de Deus feito homem, que nos comunicou toda a verdade[4].
Assim a Igreja, junto a Sagrada Escritura, existe a Sagrada Tradição. Ambas constituem o deposito da Revelação de Deus relativa a fé e aos costumes, entregues por Cristo aos Apóstolos e por estes aos seus sucessores ate chegar a nos. Deste modo a ST e SE constitui o meio pelo qual nos chega a Revelação salvadora de Deus: a ST e SE, estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim[5].
Graças a Tradição, a Igreja conhece o cânon dos livros sagrados e compreende-os cada vez mais profundidade. Por este motivo a SE não pode ser compreendida sem a ST. Esta ST está contida principalmente nos ensinamentos do Magistério universal da Igreja, nos escritos dos santos Padres, e nas palavras e usos da Sagrada Liturgia.
Tanto a Tradição como Escritura foram confiadas a Igreja e, dentro gela, só o Magistério compete interpreta-las autenticamente e prega-las com autoridade. E assim, ambas devem ser recebidas e interpretadas com o mesmo espírito de devoção[6].

A Inspiração Divina
Como actua essa acção divina da inspiração sobre os autores humanos dos Livros Sagrados?
A inspiração divina ilustra a sua inteligência para que possam conceber com exactidão tudo aquilo e só aquilo que Deus quer que escrevam; e também uma moção infalível, ainda que sem menoscabo da liberdade do escritor sagrado, que move a vontade deste para escrever fielmente o que concebeu na sua inteligência; por último consiste também numa ajuda eficaz para que o hagiógrafo encontre a linguagem e os modos apropriados para exprimir aptamente e com infalível verdade tudo o que concebeu e quis escrever[7]. Deste modo Deus e o autor principal da SE, e os escritores sagrados (hagiógrafos) também são verdadeiros autores, ainda que subordinados, amaneira de instrumento inteligente e livre, nas mãos de Deus[8].
De acordo com isso o livro inspirado e o fruto de uma acção de Deus e hagiógrafo, de modo que todos os conceitos e todas as palavras do texto sagrado se devem simultaneamente a Deus e ao seu instrumento, o hagiógrafo. Nada há na SE, pois, que não esteja que não seja inspirado por Deus.


[1] Cfr. Sab 13,1-5. Eram insensatos por natureza todos os homens que conheciam a Deus, e que, é que pelos bens visíveis, não chegaram a conhecer aquele que e, nem, pela consideração das suas obras; reconheceram o artista. Pelo contrário tomaram fogo, ou vento, ou o ar agitável, ou o círculo dos astros, ou a água impetuosa, ou os luzeiros do céu, por deuses, governadores do mundo. Se, encantados pela beleza de tais coisas, as tomarem por deuses, deviam reconhecer quanto e melhor do que elas o seu Senhor, porque foi o criador da beleza que fez todas as coisas. Se o que impressionou foi a sua força e o seu poder, deviam compreender, por meios delas, que o seu Criador é muito mais poderoso. Pois na grandeza e na beleza das criaturas se contempla, por analogia, o seu Criador.
[2] CF. Rom 1,20.
[3] Cfr. Heb 1,1-2. Tendo Deus falado outrora aos nossos pais, muitas vezes e muitas maneiras, pelos profetas, agora falou-nos nestes últimos tempos pelo seu Filho, a Quem constituiu herdeiro de tudo e por Quem igualmente criou o mundo.
[4] Cfr.  Dei Verbum, n. 7. Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em quem toda a revelação do Deus altíssimo se consuma (cfr. 2 Cor. 1,20; 3,16-4,6), mandou aos Apóstolos que pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos profetas e por Ele cumprido e promulgado pessoalmente (1), comunicando-lhes assim os dons divinos. Isto foi realizado com fidelidade, tanto pelos Apóstolos que, na sua pregação oral, exemplos e instituições, transmitiram aquilo que tinham recebido dos lábios, trato e obras de Cristo, e o que tinham aprendido por inspiração do Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação.
[5] Dei Verbum, n. 9.
[6] Cfr. De libris sacris.
[7] Providentissimus Deus.
[8] Dei Verbum, n. 11.

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