sábado, 20 de abril de 2013

O CRISTIANISMO NO CORNO DE ÁFRICA

Introdução
A história do Cristianismo em África tem como ponto de partida o final do século I no Egipto, enquanto religião organizada não obstante a sua concorrência com o Islamismo, o qual constituiu o inimigo mais mordaz. No presente trabalho tencionamos falar do “Corno de África: a moderna Etiópia, Eritreia, Somália e Djibuti”. Estamos no decorrer do século XX. Depois de abordarmos a questão relativa ao cristianismo na moderna Etiópia seguiremos com a apresentação dos aspetos mais salientes sobre a Eritreia, a Somália e o Djibuti.

1.      O CORNO DE ÁFRICA
O Corno de África é também conhecido como Nordeste Africano e algumas vezes como península Somali é uma região nordeste do continente africano, que inclui a Somália, a Etiópia, o Djibuti e a Eritreia. A génese do nome “Corno de África” é associada à forma pontiaguda daquela parte do continente ou por uma mitologia incerta[1].

2.      A MODERNA ETIÓPIA
A origem do império da Etiópia perdeu-se na antiguidade. Porém, em 333 d.C., o cristianismo entrou na Etiópia, pregado por Florêncio, que foi sagrado bispo em Alexandria por Santo Atanásio, como primeiro bispo da Igreja em Abexim com o mandado de evangelizar a Etiópia. A capital é Samaa, a língua oficial é árabe e o islamismo é a religião de 98% da população»[2].
A moderna Etiópia e sua história cristã resulta como fruto de uma longa caminhada caraterizada por momentos de prosperidade como também os de turbulência. Uma tradição antiga aponta três períodos do advento do cristianismo[3]:
·  O primeiro período é atribuído ao eunuco etíope como aquele que trouxe a fé. No entanto, segundo John Baur este eunuco parece ser oriundo da Núbia. Depois ressalta-se a figura de Frumêncio (Abuna Salama – nosso pai na fé) como aquele que trouxe o sacerdócio. Este foi ordenado bispo por Atanásio que o enviou para evangelizar a Etiópia. Por isso é considerado o pai da Igreja etíope. Enfim, destacam-se nove santos como aqueles que trouxeram a vida monástica vindos do Egipto por volta dos anos 500.
Este advento foi seguido pela obscura (640-1270), período compreendido entre a chegada dos árabes (640) e a restauração da dinastia real salomónica (1270). Foi um tempo de isolamento com o resto do mundo e de expansão do cristianismo para o interior do continente africano. Importa salientar que os etíopes foram os únicos cristãos que, no início tiveram uma relação amistosa com os muçulmanos. Mas com a expansão do islão para o interior aumentaram também as tensões entre ambos grupos religiosos.
A fase obscura foi seguida por um período de triunfo do cristianismo etíope (1270-1530). A Igreja etíope mantém-se fiel ao patriarcado copto de Alexandria apreciando a sua apostolicidade seguindo a sua teologia ortodoxa e aceitando o seu Metropolita Abun. Isto serviu como garantia de continuidade do sacerdócio, da ortodoxia celebrando a sua liturgia própria de rito alexandrino etíope.

2.1.   O Cristianismo na moderna Etiópia
O alvorecer da moderna Etiópia emerge aquando da tomada de posse do Príncipe Ras Tafari Makonnen em 1916, ao mesmo tempo que “passou a ser imperador Hailé Selassié”[4]. Após a guerra com a Itália em 1935 a 1941 Hailé implementou na Etiópia um programa educacional e eclesiástico. Esta tarefa contou com a ajuda das missões ocidentais e foi encarregue aos jesuítas canadianos.
Neste período «Um dos grandes espinhos que sempre tinha feito sofrer o imperador tinha sido a baixa qualidade da educação do clero ortodoxo e o pobre cuidado pastoral que eles davam aos fiéis»[5]. Depois foram enviados cinco bispos coadjutores para auxiliar a pastoral em 1929.
Com a morte de abuna (bispo) Kyrillos (1929-1950), foi sagrado o primeiro bispo indígena Echage Basilios como metropolita da Etiópia. Daí que «A nova constituição do país, em 1955, previa uma Igreja independente, composta de doze dioceses, formando um Patriarcado Etíope»[6]. Em 1965 Hailé reconhece a Igreja etíope como “a única Igreja oficial” e convida todas as igrejas irmãs para uma conferência em Adiz Abeba – a primeira do género na história.
Contudo, a modernização do clero etíope era mais difícil. Senão vejamos: em 1970, havia entre 12 milhões de fiéis, 75000 padres e 67000 diáconos em cerca de 1500 paróquias, e uns 12000 monges, em 75000 mosteiros. O imperador tentou formar um clero moderno no Seminário Santíssima Trindade, e aceitou a cooperaçãp de mossionários anglicanos. Um certo número de candidatos foram autorizados a estudar num Seminário anglicano na Índia embora o resultado tenha sido exiguo por desvios de vocações.

2.2.   As missões estrangeiras
A moderna Etiópia, como dissemos acima, é fruto de um longo percurso histórico. As divisões internas da Etiópia na primeira metade do século XIX facilitaram os novos empreendimentos missionários desde Europa. “Os primeiros missionários que chegaram eram protestantes alemães, educados na escola de magistério da Missão de Basileia. A sua intenção era de revitalizar as igrejas orientais para, através delas, evangelizar os muçulmanos e pagãos”[7]. Os seus esforços concentraram-se na Igreja copta e na filha desta, a Igreja etíope.
A missão da Etiópia recebeu o maior impulso mediante a tradução da Bíblia em amhárico feita por um monge e impressa pela Sociedade Bíblica Britânica em 1840. Parecia o meio ideal para a revitalização da Igreja etíope que apenas tinha manuscritos das Escrituras em gheez, que é a língua litúrgica, mas não é falada pelo povo.
O imperador Selassié sempre mostrou-se afável e aberto às missões e com o cuidado pastoral dos fiéis. A partir de 1917, ele permitiu aos padres da Cosolata, de Turim, partilhar o campo missionário dos Capuchinhos emboa “as áreas da Igreja Etíope permanecessem fechadas às missões. Nos anos 50 e 60, cerca de 20 novas missões receberam autorização para entrar na Etiópia, na sua maioria evangélicas. Infelizmente alguns missionários se mostraram muito rígidos nas suas atitudes protestantes e, depois de alguns protestos populares, foram expulsos.
A maior sociedade protestante era a Missão ao interior do Sudão, que tinha estado presente, desde 1927, e fundou a Igreja Evangélica da Palavra de Vida. Contudo, a comunidade protestante mais bem organizada é a Igreja Evangélica Mekane Yesus, um rebento da antiga missão sueca, com a cooperação de vários outros corpos luteranos. Essa Igreja gere um Seminário académico com todos os cursos, em Adis Abeba, e foi fundamental para a criação da Rádio “Voz do Evangelho” pela federação Mundial Luterana[8].
Neste instante a acção da Igreja Católica viu-se restrita. Pouco tempo depois da ocupação italiana (1936-1941) os missionários foram retirados e o imperador readmitiu-os em 1950. Internamente a Igreja consolidou-se sobremaneira, e ganhou, senão amor, pelo menos respeito. Por isso mesmo, em 1961, foi constituída como província eclesiástica autónoma, compreendendo a Sé Metropolitana de Adis Abeba e as sés sufragâneas de Adigrat e Asmara.
A moderna Etiópia forma um numeroso clero e florescente monasticismo, a Igreja tem um toque verdadeiramente etíope cuja ligação à Igreja Latina é, contudo, íntima: os religiosos pertencem todos a ordens e congregações europeias. A Etiópia tem um rito próprio levemente adaptado. O ramo missionário da Igreja Católica segue o rito latino, e compreende quatro vicariatos Apostólicos entre os Nilo-Cushitas no Sul e um em Asmara. Atualmente estima-se que o número dos convertidos seja de 200 000 em relação os das missões protestantes.

2.3.   A revolução
A revolução militar que derrubou o poder real de Hailé Selassié em 1974 foi antecedida pela insatisfação com o regime feudalizante do país. Como consequências: nos primeiros anos foi exercida uma pressão anti-religiosa sobre os funcionários e os chefes da Igreja. «O patriarcado e 8 bispos foram depostos e as extensas terras da Igreja foram nacionalizadas. Os sacerdotes tiveram de sofrer asperezas e privações, mas a maioria partilhou de novo a terra redistribuída entre as aldeias»[9]. Só mais tarde com a queda do regime de Mengistu Hailé Mariyam percebeu-se que o problema central do país não era a religião, mas uma justa partilha do poder.


[1] Cf. Pereira de OLIVEIRA, Enciclopédia Verbo luso-brasileira de cultura, Ed. Século XXI, Lisboa 1999, p. 241.
[2] B. Videira PIRES, Enciclopédia Verbo Luso-brasileira de cultura, Edição Século. XXI, Lisboa 2000, p. 393.
[3] John BAUR, 2000 anos de cristianismo em África, Edições Paulinas, S. Paulo 2002, p. 29.
[4] Ibidem, p. 303.
[5] Ibidem, p. 304.
[6] Locus citatus.
[7] Karl BIHLMEYER e Herman TUECHLE, História da Igreja, Vol. I, São Paulo: Edições Paulinas, 1986, p. 70.
[8] Ibidem, p. 305.
[9] Ibidem, p. 306.

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